Mesmo não fazendo ideia do que os meninos poderiam estar fazendo na vila, mesmo assim elas resolveram ir lá pra conferir.

–E se eles não estiverem lá?- perguntou Margarida.

–Bom, eles podem ter ficado na casa deles.- disse Carmen.

Mesmo assim, as meninas foram e ao entrarem, ficaram paralisadas, vendo os meninos jogando ping pong no primeiro pátio da vila, mas o mais impressionante foi ver Marcelina ali. Lógico que era normal que Alícia estivesse ali com eles, mas a Marcelina já era bem estranho.

–Marcelina, o que está fazendo aqui?- perguntou Helena.

–Eu vim jogar com os meninos.- respondeu ela.

–Mas você não é como a Alícia, ela sim que gosta de esportes.

–Ah desculpa professora, mas eu realmente não estava a fim.

Enquanto isso, Valéria dá uma bronca enorme em Davi e Paulo, que quase a fizeram passar vergonha.

–Paulo, que história é esse de me deixar que nem uma boba lá na escola? Eu quase passei vergonha viu? E você Davi, por quê não foi lá pelo menos pra me assistir?- dizia ela, mas nem Paulo e nem Davi prestavam atenção, eles estavam tão concentrados no jogo que não ouviram nada, somente os gritos de torcida dos meninos.

–Davi, está me escutando?- insistiu ela.

–Só um minutinho, já vou acabar.- disse Davi, que estava jogando contra Quico.

Furiosa, Valéria empurrou Davi e pegou a raquete de sua mão, depois soltou um grito que fez todo mundo parar e olhar pra ela.

–Meninos, vocês não podiam ter feito isso, as meninas quase passaram vergonha lá na escola, sorte que eu consegui cancelar tudo a tempo. Como puderam fazer isso?- perguntou Helena.

Os meninos ficaram sem fala.

–Eu já esperava por essa resposta.- concluiu Helena.

–Desculpe professora, eu juro que eu não sabia que ia ter esse tal evento na escola que vocês estão dizendo.- disse Seu Brancelha.

–Tudo bem, o senhor não teve culpa. Mas na verdade eu já sabia que eles não gostaram dos pares, mas eu não imaginei que eles levariam tão à sério que deixassem as meninas passarem vergonha daquele jeito.

–Professora, nós não fizemos isso porque não gostamos dos nossos pares. - disse Paulo - Quer dizer, foi por isso também, mas o motivo principal é porque a gente não gosta dessas coisas, você sabe muito bem disso.

Então a professora finalmente percebeu que mesmo que os meninos tivessem gostado dos pares que iam dançar, eles não dançariam. Muito machista o que o Paulo falou, o pior é que todos os meninos assentiram com a cabeça, concordando com o que ele disse.

–Ainda dá tempo de ir para o concurso professora?- perguntou Maria Joaquina.

–Não. Não dá mais.

–O Davi e o Paulo vão ver só amanhã.- pensou Valéria, furiosa, sem saber que Davi está agora morrendo de medo do que Valéria possa fazer com ele no dia seguinte, enquanto Paulo nem liga pro que a menina vai fazer com ele.

Maria Joaquina foi outra que saiu de lá triste, porque isso que Cirilo fez foi mais uma prova que ele não gosta mais dela. E o pior é que ele está tratando ela do mesmo jeito que ela o tratava. Agora ela sabe como é ruim ser maltratado por alguém que você gosta tanto.

As meninas ficaram furiosas com os meninos, os vestidos foram muito caros, a maquiagem demorou muito pra fazer, o cabelo também foi um esforço, tudo isso pra nada. Esse esforço para caprichar no visual foi em vão. Mas os meninos também ficaram mal por isso, pois quando eles viram o quanto as meninas saíram de lá furiosas com eles, sem dúvida nenhuma elas nunca mais falariam com eles. Embora eles parecessem não se importar, no fundo eles ficariam muito tristes se isso acontecesse, menos Alícia e Marcelina que toparam ficar do lado deles, mas será que isso vai gerar confusão?

No dia seguinte, logo de manhã, os meninos nem quiseram tocar no assunto do campeonato depois do ocorrido, embora eles tivessem ido até o final, as meninas terem descoberto que eles fugiram do concurso deixou eles meio preocupados com a reação da professora se comentassem algo sobre ele durante a aula. Por isso, toda aula foi feita em silêncio, a única voz que era ouvida era da professora Helena, que explicava a matéria, e também quando respondiam à chamada.

No recreio, Maria Joaquina está sozinha, pensativa e ao mesmo tempo chateada com o que aconteceu, Daniel está passando pelo pátio e quando a vê triste e sozinha, decide ir até ela.

–Maria Joaquina.- chamou ele.

–Oi Daniel.

–Posso sentar aí?

–Pode.

–Tá triste por causa do que aconteceu ontem?

Ela apenas assentiu.

–Eu já tinha percebido que o Cirilo não gostava mais de mim, mas não imaginei que ele ia preferir jogar com os meninos. Ainda mais porque da outra vez que teve uma dança em dupla ele não foi sorteado pra dançar comigo e ficou bem chateado, mas agora ele ficou chateado porque foi sorteado. E isso me deixa triste.

O garoto aproveitou para lhe dar um abraço de lado, mas apenas um abraço de amigo.

–Eu sei Maria Joaquina, os tempos mudam, as pessoas também.

–Você não mudou de lá pra cá. Só na aparência.

–Você acha?

–Acho. Mas eu gosto assim.

Os dois riram.

–Tirando a aparência, você também não mudou em nada de lá pra cá.- disse Daniel.

–É mesmo?

–Eu acho que não.

–Então estamos quites.

–É mesmo.

Voltaram a rir.

–Mas tem uma coisa que não vai mudar nunca. - disse Daniel - A amizade que eu tenho por você.

Ele queria muito dizer que a amava muito, mas quando começou a falar percebeu que não era o momento certo. Tinha que ser aos poucos, por isso ele se arrependeu e preferiu dizer outra coisa.

–É verdade.- disse Maria Joaquina, dessa vez o abraçando de verdade. E forte, um abraço que ela precisava ter recebido desde o dia anterior. Ficaram naquele abraço por um longo tempo até que o sinal tocou, quando se soltaram e voltaram a caminhar pra sala, Maria Joaquina ficou se perguntando se o abraço de Daniel significava que ele sentia algo mais por ela. Será que ele sente mesmo?