Enquanto as crianças se preocupavam com a Dona Florinda e a Dona Clotilde desmaiadas no pátio da vila, Seu Jurandir está em um enrosco danado com Rafael.

–Jurandir, cadê o Jaime? - perguntou Rafael.

–Foi dormir na casa de um dos novos amiguinhos dele chefe.- falou Jurandir.

–E ele não contou nada.

–Por isso mandou eu vir aqui falar pra você.

–Tá bom, olha só, preciso de um favor seu, já terminamos tudo por aqui e acabou sobrando essa lata de graxa aqui. Então, guarde lá na sua casa enquanto eu arrumo o resto do carro.

–Pode deixar.

–E fique de olho no Jaime por mim tá?

–Pode ficar tranquilo, ele não vai fazer nada.

E assim, Jurandir levou aquela lata de quase uma tonelada de graxa nos braços, chegando no primeiro pátio da vila, ele não aguenta mais e decide respirar um pouco.

–Ufa, como pode ser tão pesada assim?-pensou ele.- Já sei, acho que tem um carrinho no outro pátio, vou lá pegar e levar a lata pra casa.

E realmente ele estava certo, havia mesmo um carrinho daqueles que os pedreiros usam pra carregar sacos de cimento, mesmo sabendo que provavelmente já pertencia a alguém, ele pegou e decidiu que se o dono se encontrasse com ele, explicaria tudo depois, afinal, achado não é roubado.

Mas enquanto ele estava no outro pátio, Chaves está voltando da vila após ter ido á mercearia do Seu Brancelha pra comprar mais refrigerantes e quando viu a lata de graxa ali, sozinha, pensou em fazer uma brincadeira com os amigos usando ela, colocaria a lata em cima da porta do quarto onde eles estavam e aí, quando o primeiro abrisse, a graxa ia cair toda em cima dela, mas na hora em que ele pegou, viu que teria muita dificuldade em carregar o refrigerante de três litros e a lata ao mesmo tempo. Foi nessa hora que Jurandir chegou e viu o que Chaves estava fazendo.

–O que está fazendo Chaves?- perguntou ele.

–Vou fazer uma brincadeira com meus amigos.- respondeu Chaves.

–Nada disso, eu preciso dela, me dá aqui!

Só que Jurandir puxou a lata com tanta força que o menino não conseguiu segurar, devido ao desespero de Chaves fazer alguma besteira, mas a besteira que fez foi ele, que na hora de puxar a lata pra trás, fez com que toda a graxa voasse junto e atingiu Dona Florinda, que estava indo pendurar umas roupas no varal e foi atingida da cintura pra cima de graxa. Com cuidado, ela esfregou os olhos e os abriu, Jurandir tentou correr antes que ela o visse, mas não adiantou.

–Volta aqui seu mentecapto, volta aqui!!- gritou Dona Florinda, correndo atrás dele, enquanto Chaves e sua turma, que espiavam pela janela pelos gritos, rachavam de rir. Mas isso mudou quando eles perceberam que Dona Florinda estava mesmo arrebentando Jurandir.

De fato, assim que ela retornou à sua casa pra se limpar, todos viram Jurandir arrebentado e mancando até a casa dele, todos ficaram sérios, a coisa havia mesmo ficado muito pior do que eles imaginavam, principalmente para Jaime, afinal, Jurandir era patrão de seu pai.

Depois que toda aquela confusão passou, que Jurandir entrou em casa e o pátio ficou normal novamente, todos voltaram pra dentro e ficaram completamente chocados com o que aconteceu. Ninguém falou nada por um instante, um longo instante.

Que tal uma briga de travesseiro?- perguntou Alícia, tentando quebrar o silêncio.

–Vamos nessa!- todos gritaram e logo foram pro quarto, onde pegaram os travesseiros e batiam um no outro.

–Espera aí, ao invés de fazermos uma guerra contra cada um, que tal fazermos assim: meninas com meninas e meninos com meninos? Assim ninguém machuca ninguém.- disse Daniel, se referindo à força que tinham os garotos como Paulo e Jaime por exemplo, que poderiam machucar as meninas.

–Acho uma boa.- concordou Paulo.

E assim foi, todos no quarto batendo-se um no outro com os travesseiros, as penas que tinham dentro deles saíam pra tudo quanto é lado do quarto, deixando o chão branco, não mais escuro como sempre foi.

–Ufa, deu pra cansar.- disse Jaime, pouco depois que a guerra acabou.

–É, mas agora vamos me ajudar a limpar essa bagunça, meu pai vai me matar se ver o chão cheio de penas assim.- disse Chiquinha e todos concordaram, pelo menos até o final do dia, estaria tudo limpo.

Eles passaram horas limpando tudo, tirando penas e arrumando no lugar tudo que havia caído, quando acabaram, se sentaram no chão, exaustos.

–Ufa, estou exausto.- disse Paulo.

–Que tal a gente começar logo a estourar a pipoca pra ver o jogo?- disse Alícia.

–Vamos nessa.- ele respondeu.

Na sala, ficaram só Daniel, Maria Joaquina e Cirilo, já que os demais estavam espalhados pela casa, foi quando Maria Joaquina chegou à Cirilo, pra tirar suas dúvidas.

–Cirilo, preciso falar sério com você.- ela disse.

–Sobre o quê?- perguntou Cirilo.

–Você se afastou de mim, nunca mais falou comigo, o que houve?

–Não houve nada Maria Joaquina, tô bem.

–Não Cirilo, não está nada bem, você não parece aquele garoto perdidamente apaixonado pela Maria Joaquina. Antes, você olhava pra ela com uma cara de bobo, hoje olha com uma cara fechada. O que houve?- dessa vez falou Daniel.

–Tudo bem, já que insistem tanto eu vou falar. Acontece que mesmo depois de todos esses anos, mesmo que você tenha chegado a ser minha amiga, você preferiu a amizade do Jorge, só que ele ainda não vai com a minha cara, então eu preferi ficar longe.

–Eu não preferi a amizade do Jorge não Cirilo. Por mim, vocês dois podiam ser meus amigos.- se defendeu Maria Joaquina.

–Mas você vive grudada nele, ou pelo menos, vivia. E quando estava com ele nem ouvia o que eu te falava, só o que ele falava.

–Ah Cirilo, desculpa, mas é que o Jorge é uma boa pessoa e não merece ficar assim, falando sozinho.

–Sim, exatamente por isso, se você prefere ser amiga dele, é melhor me afastar de você.

E Cirilo se afastou, claro que tudo que ele falou para Maria Joaquina não foi com grosseria, ele falou tudo normalmente como alguém que fala com frieza, porém, ainda assim, foi o suficiente pra deixar a menina triste, ela percebeu que precisava mostrar para Cirilo que já não era mais tão amiga de Jorge como antes, pois ele está passando cada momento que pode com Quico e os outros meninos esnobes, mas ela não ficou triste com isso, pois assim podia voltar a se aproximar de Cirilo, também sentia falta dele, mas como recuperar a confiança e a amizade dele agora?