Ainda naquela tarde, logo depois que foram liberados mais cedo, Mário aproveitou e esperou o momento certo para ir ao encontro com Marcelina, como ele estava disposto a não desperdiçar a chance que ela lhe deu, queria sair o mais cedo possível para não atrasar, chegar lá o mais cedo possível. Enquanto ele caminhava tranquilamente pela rua em direção à praça, ele acabou passando em frente à loja do Seu Brancelha, que estava varrendo a calçada.

–E aí senhor, tudo bem?- ele perguntou enquanto passava por ele.

–Ah Mário, já que você está aqui, pode me fazer um favor?- perguntou Seu Brancelha.

–Agora eu não posso, tenho que ir à um encontro.

–É rapidinho, não vai demorar nada. E eu também vou te dar uma grana, você pode usar ela para o encontro.

–Tá bom então. O que eu faço?

–Primeiro preciso que você arrume essas fileiras aqui ó. As coisas estão no lugar errado e eu preciso que você conserte tudo, coloque as latas no lugar certo.

–Tá bom, faço isso num instante.

E de fato, Mário conseguiu terminar tudo, mas quando ele terminou, o relógio marcava três horas em ponto, a hora em que ele marcou com Marcelina, um frio percorreu em sua barriga com o medo de se atrasar.

–Terminei, posso ir?- perguntou ele.

–Não, agora preciso que você entregue umas coisas para o Seu Madruga. Fiquei sabendo que vai ter uma festa do pijama lá.

–Ah sim, vai sim.

–Pois então, aí o Seu Madruga veio até aqui e me pediu para que eu lhe entregasse umas coisas que serão úteis para usar na festa, e já vou te dar o dinheiro viu.

–Entendi, vamos então.

Mário entregou tudo que foi necessário, ele ainda tinha que ir ao encontro com Marcelina e pensou que iria conseguir terminar a tempo. Quando ele entregou a última mercadoria para o Seu Madruga, ele viu que estava bem atrasado.

Assim que ele estava saindo da vila, Chaves apareceu correndo na porta.

–Mário, o que está fazendo aqui?

–Vim fazer uns favores para o Seu Brancelha em troca de um dinheirinho, por quê?

–É que a Marcelina estava lá na praça e eu e os meninos a encontramos lá, ela está furiosa pensando que você esqueceu do encontro e tá te procurando como uma louca.

–Meu deus, eu vou atrás dela!

–Eu acho que você não vai precisar ir atrás dela não, porque ela já está vindo correndo pra cá. Olha só.- disse Chaves, apontando para a direção onde Marcelina vinha andando em passos apressados, com uma cara de poucos amigos, mesmo que ele soubesse que era feio apontar. Ao vê-la, Mário não se conteve e logo tentou se explicar:

–MARCELINA!!- ele gritou e a menina não parou de andar, continuou ainda com a cara emburrada, parou de frente pra ele e Chaves se afastou para deixá-los mais à vontade.

–Mário, como pôde esquecer do nosso encontro?- ela perguntou, furiosa.

–Calma Marcelina, eu não esqueci, só estava ocupado ajudando o Seu Brancelha com umas mercadorias que ele tinha que levar pra vila.

–E por acaso você trabalha para o Seu Brancelha? Não, então o que você estava fazendo lá?

–Acabei de falar que estava o ajudando.

–Não Mário, você não trabalha como ajudante dele, aliás, não trabalha em nada. Não me venha com desculpas, agora me dê licença.

–Espera Marcelina.

–Me solta Mário. Acabou.

Mário ficou tão chocado com as palavras dela, pra ele, aquilo foi como um soco no estômago, imediatamente seus olhos se encheram de lágrimas. Chaves, como um amigo de Mário, tentou ajudá-lo consertando a situação.

–Marcelina, por favor, acredita nele, ele tá falando a verdade.- disse ele.

–Pára de mentir, não sabe que é feio acobertar mentiras dos outros?- respondeu Marcelina.

–Não estou mentindo, eu mesmo vi o Mário saindo da mercearia do Seu Brancelha.

–Como se ele não estava lá?

–Ah não estava? Então vem comigo que eu te mostro!

Chaves puxou Marcelina pela mão e a levou até a mercearia do Seu Brancelha, ele havia sentido que, como amigo do Mário, tinha que ajudá-lo a consertar esse erro.

–Seu Brancelha!- gritou ele.

–Sim Chaves, o que deseja?- perguntou Seu Brancelha.

–Não é verdade que o Mário estava aqui ajudando o senhor mesmo que ele não trabalhasse aqui?

–Sim. Bom, no começo ele recusou pois tinha um encontro, mas depois que eu ofereci uma gorjeta pra ele para usar no tal encontro, ele aceitou e fez tudo o mais rápido que pôde para chegar na hora certa.

–E ele recebeu o dinheiro mesmo?

–Sim, eu já entreguei pra ele.

–Viu Marcelina? Eu disse que eu mesmo o vi aqui, ajudando o Seu Brancelha.

Dessa vez foi Marcelina que ficou com lágrimas nos olhos, ela tinha terminado seu relacionamento com Mário à toa, por falta de confiança nele. Que tipo de namorada duvida do namorado? Tudo bem que Mário quebrou uma promessa que fez, mas ele estava disposto a consertar aquilo.

–Eu... eu preciso me acertar com ele.- disse ela, saindo correndo da mercearia.

Ela procurou Mário na pracinha, mas não encontrou. Depois foi em direção à vila pensando que ele pudesse estar lá, mas não estava. Quando todas as suas esperanças foram perdidas, ela estava voltando para casa quando o viu sentado parado na beira da calçada. Imediatamente ela correu até ele e pôs a mão em seu ombro.

Ele ficou surpreso quando se virou e seus olhos brilharam ao encontrá-la. A única coisa que ela conseguiu fazer, foi abraçá-lo.

–Desculpa Mário. Prometo que nunca mais vou duvidar de você. O Chaves me levou ao armazém do Seu Brancelha quando eu fui embora e ele me contou tudo. Desculpa mesmo viu?- ela disse sem se desvencilhar dele.

–Puxa, o Chaves fez isso?- perguntou Mário.

–Fez, mas quero é o seu perdão.

–Claro que eu te perdoo amor.

E eles se beijam apaixonadamente, para mostrar o quanto sentiam falta um do outro. Depois que eles se soltaram, foram até a sorveteria para tomar sorvete com o dinheiro que Seu Brancelha deu à ele. Quando voltaram, foram direto à casa do Seu Madruga, já que eles tinham que ajudar nos últimos detalhes da festa.

–Amor, essa noite vamos ficar distantes por causa das festas diferentes, mas amanhã estaremos juntos de novo tá?- disse Marcelina.

–Tudo bem amor. Tenho que aguentar. Vamos fazer a nossa festa na casa do Jaiminho.- respondeu Mário.

Quando Marcelina entrou em casa, Mário foi até a casa de Jaiminho, mas quando chegou na porta, Jaime foi até ele:

–Ei Mário, encontramos essa carta do Jaiminho dizendo que ele foi visitar os parentes e volta na parte de sábado. Mas tá na cara que é por causa da confusão que aconteceu com a Olívia, ele tá com muito medo dela.

–Verdade, aquilo realmente mexeu com ele.- disse Mário, rindo.

–Mas isso quer dizer que não vamos poder fazer a festa na casa dele.

–Por quê não?

–Porque a porta está trancada.- disse Paulo.

–O que faremos agora?- falou Mário, aflito.

–Esperem aqui.- Paulo desceu as escadas enquanto falava. Ele foi até a janela da casa do Seu Madruga e viu que Alícia estava sentada no sofá, assistindo televisão com as outras meninas.

–Alícia.- chamou Paulo.

–O que foi?- perguntou ela.

–Será que podemos fazer nossa festa do pijama aí dentro?

–Por quê? O que houve?

–O Jaiminho deixou uma carta dizendo que foi viajar pra casa de uns parentes e só volta sábado, mas só que ele deixou a porta trancada e pelo visto, trancou com chave.

–Ai meu deus, e agora?

–O que houve Alícia?- perguntou Valéria.

–Os meninos não poderão fazer a festa deles na casa do Jaiminho porque ele viajou e deixou a porta trancada sem a chave.

–Chame eles aqui.- pediu Valéria e Paulo obedeceu.

Por fim, depois de uma longa conversa com Chiquinha, que era a organizadora da festa das meninas, todos decidiram que seria uma festa do pijama dupla, os meninos iria usar o quarto do Seu Madruga e as meninas iriam usar o quarto da Chiquinha.

–Mas e o seu pai Chiquinha, não vai brigar?- perguntou Davi.

–Não. Ele contou ao Seu Brancelha sobre a festa e combinou de dormir na casa dele.- respondeu Chiquinha.

–Eu acho uma boa ideia dividir a festa.- disse Alícia.

–Eu também acho.- respondeu Paulo.

Os outros meninos também concordaram, então decidiu ser isso mesmo.

–Rapazes, essa festa vai bombar!!- disse ele, certo de que essa festa do pijama seria inesquecível.