No recreio, Chaves e Chiquinha se sentaram no pátio com a turma da vila e logo aparecem Paulo e Mário:

–Fala aí sem-nome, tá gostoso o lanche?- perguntou Paulo, dando um tapinha na cabeça do Chaves.

–Falou comigo?- perguntou o Chaves, disfarçadamente.

–Quem mais aqui no colégio não tem nome?- ironizou Mário.

–Olha, se eu não disse meu nome pra vocês é porque eu fui interrompido. Mas se vocês querem mesmo saber, eu não tenho nome porque sou órfão e fugi de um orfanato quando era pequeno, nunca soube meu verdadeiro nome. Entenderam ou eu vou ter que soletrar?- disse Chaves, com raiva, mas sem alterar a voz.

Paulo e Mário ficaram tão impressionados com a firmeza que ele falou que simplesmente ficaram sem fala, mas Chaves, que não gostou do modo como foi intimidado, se levantou da mesa e foi até a sala e Chiquinha foi atrás dele.

Depois de um tempo, o recreio acabou e todos os alunos voltaram pra sala, a primeira aula depois do recreio seria de História, ou seja, o Professor Girafales.

–Gente, vamos ficar quietinhos e comportados durante a aula do Professor Girafales, porque nós já fomos alunos dele uma vez e sabemos que ele é um pouco bravo e impaciente.- disse Chaves e os outros confirmaram.

–Esses aí são só preguiçosos galera, não gostam de barulho e querem ficar no silêncio.- disse Paulo.

–O Paulo tem razão, isso é uma fraude deles.- disse Mário.

Então, todos começaram a vaiar o pessoal da vila achando que eles eram apenas aquelas pessoas certinhas que não gostavam de barulho ou gostavam de seguir regras e tacaram bolinhas de papel neles, enquanto os outros apenas se defendiam. Em poucos segundos o professor Girafales chegou e todos viram, mas não deram a mínima, continuaram fazendo algazarra, até que o professor percebeu que eles não iam parar e deu um murro na mesa.

–Tá tá tá tá tá!! Isso são modos de receberem um professor?- gritou ele e todos abaixaram a cabeça. Quando estavam indo se sentar, Chaves murmurou apenas para quem estava na sua frente ouvir:

–A gente avisou.

Depois, o professor começou a aula e os alunos antigos da escola começaram a perceber que os alunos novos eram mesmo honestos. Estavam só querendo ajudar na hora da aula começar, Paulo e Mário ficaram até arrependidos de terem chamado Chaves de sem-nome e caçoado dele por isso. As aulas iam passando e os professores iam trocando. Já tinham dado aula a professora Helena, Suzana, Renê e Matilde, mas cadê o Seu Madruga? Quando todos já estavam começando a pensar que o Seu Madruga havia mentido sobre o emprego como professor. tocou o sinal da última aula: Educação Física.

–Argh, eu odeio essa aula.- resmungou Maria Joaquina.

–Por quê? - quis saber Chiquinha.

–Porque a gente fica toda suada, põe as mãos no chão quando perdemos o equilíbrio. Será que não podia ser no meio da semana ou no fim ao invés de ser no início?

–Não liga não. Ela que é vaidosa mesmo. Além de fresca e metida. Mas Educação Física é a minha aula favorita.- disse Alícia.

–A minha também. Então somos dois.- disse Paulo.

–Já é.- concordou Alícia e logo Chiquinha sentiu uma ligação entre os dois.

Quando todos entraram na quadra de Educação Física, Chaves, Chiquinha, Nhonho e Quico tiveram uma surpresa: Seu Madruga estava lá, uniformizado, ele era o professor de Educação Física da escola.

–Papai!!- disse Chiquinha, correndo em sua direção.

–Chiquinha, por favor, não me chame de papai aqui na escola, só em casa.- disse Seu Madruga.

–Parabéns Seu Madruga, já vi que...- Chaves ia dizendo, mas Seu Madruga o interrompeu.

–Seu Madruga uma ova! É SENHOR PROFESSOR!!!- berrou ele.

Esse grito fez os alunos recuarem, mas logo depois ele se recompôs e conseguiu dar aula calmamente.

Na saída da escola, Nhonho vê que Seu Barriga foi buscá-lo na escola e logo foi avisando:

–Papai, o Seu Madruga está dando aulas aqui na escola. Agora ele não terá problemas com o aluguel atrasado.- disse ele.

–Não brinca comigo Nhonho.- disse Seu Barriga.

–É sério papai, entre lá e veja.

–É isso que vou fazer.

Logo depois, quando Seu Barriga entrou na escola, ele viu Seu Madruga guardar todas as coisas que ele usou na aula e ir para o banheiro tomar banho. Impressionado, ele sorriu como nunca sorriu antes e voltou ao carro, onde levou Nhonho pra casa e ficou esperando Seu Madruga chegar pra cobrar-lhe o aluguel.

E de fato, quando Seu Madruga chegou no portão da vila, ele já foi logo dizendo:

–Muito boa tarde Seu Madruga.- ele disse com a mão estendida como sempre faz.

–Não tenho dinheiro!!- disse Seu Madruga entrando em casa.

–Não me venha com essa Seu Madruga, eu já sei que você está trabalhando agora.

–Sim Seu Barriga, mas acontece que hoje foi só meu primeiro dia e os professores não recebem logo em seu primeiro dia.

–Como não Seu Madruga?

–É sim. Se quiser, vá até a escola e pergunte isso para os outros professores.

Seu Barriga ficou pensando, até que disse por fim:

–Está bem Seu Madruga, espero até o final desse mês para que você tenha o dinheiro. Agora eu vou cobrar os outros aluguéis, com licença.

–Toda Seu Barriga.

E por fim, Seu Madruga respirou aliviado, realmente ele gostaria muito de pagar o aluguel agora que tem condições, mas ele ficou com medo de ser despejado agora justamente porque ele ainda não tinha recebido, mas pelo menos o Seu Barriga decidiu esperar até que ele tivesse o dinheiro. Aliviado, respirou fundo e entrou em casa.