Quatro longos e agonizantes dias havia se passado deste do acidente e eu ainda continuava me sentido entorpecida pelo medo, o Thiago simplesmente parecia uma estatua deitado imóvel naquela cama, sem reagir.

Nos meus momentos de desespero eu o chegava a culpá-lo por isso. Ele simplesmente não podia ficar lá imerte como se o mundo não existisse enquanto meu coração não parava de sangrar, mas eu sabia que era inteiro egoísmo meu pensar assim, o Thiago nunca iria desistir da vida, não se ele pudesse evitar.

Eu já havia voltado para escola, e ninguém exceto o Beto tinha autorização para visitar o Thiago, a Amanda havia desaparecido completamente da escola, mas ela era a única pessoa que eu não me preocuparia naquele momento.

—Parece um pesadelo?—O Pedro disse se sentando ao meu lado no degrau da escada. Aquela havia se tornado minha rotina. Toda final da tarde eu me sentava ali para esperar pelo Beto que retornava do hospital.

—Você já pensou o que vai fazer em relação ao Thiago quando ele sair do hospital.

Eu não havia pensado nisso, eu nem sei se conseguia imaginar uma cena dessas. Eu estava tão entorpecida pelo medo de perde-lo que meu cérebro havia congelado.

—Tem a Amanda e a suposta gravidez...

Eu fechei meus olhos, enquanto meu coração se retorcia produzindo uma dor estridente. Eu sabia que aquela noite havia roubado o Thiago para sempre de mim, mesmo que tudo acabasse bem ele nunca mais me pertenceria.

—Ele vai ser pai. —Eu silabei cada palavra tornando minha dor maior. —Pai. —Eu precisava me convencer a encarar a minha cruel e dura realidade.

—Isso não impede...

—Não Pedro você não entende, eu não vou ficar entre o Thiago e o seu filho...—Eu sussurrei aquelas palavras mas para mim mesmo do que para o Pedro, essa era uma verdade ao qual eu iria ter que me habituar.

— Sarah quem tem que decidir isso é o Thiago.

—Não Pedro.—Eu descordei enquanto uma dor me atingia, era uma dor bem maior do que dor física.—Você estava lá, você ouviu todas as ameaças da Amanda, eu não quero fazer ele escolher... isso é injusto demais.

Ou será que era egoísta demais. Eu não sabia se era por princípios ou por medo do Thiago não me escolher, seja como for um filho sempre seria mais importante.

—A única coisa que me importa agora é que ele fique bem, afinal de contas ele só esta assim por minha causa.

Eu engoli um nó de choro que se formou em minha garganta porque tinha que doer tanto assim.

—Acho que essa foi uma pela prova de amor. —Porque o Pedro estava me torturando dizendo aquilo, seria difícil demais esquecer o Thiago e sabendo que ele me ama parecia impossível.

Eu não queria uma prova assim, eu não me importava se ele tivesse deixado o carro passar e repassar em cima de mim, contudo que ele ficasse bem. Porque o Thiago tinha fazer isso, porque...

O Beto chegou naquele momento sua expressão estava cansada, e não diferia das do outros dias.

—E ai como ele esta?—O Pedro perguntou desnecessariamente.

—Na mesma. —O Beto respondeu sentando ao meu lado no degrau.

Ficamos os três em silencio, até o Beto falar.

—Os pais do Thiago já sabem.

Eu ergui minha cabeça confusa.Saber o que?

—Eles estão se agarrando a isso como se fosse um consolo para aliviar o medo ou a dor.

Os pais do Thiago estavam completamente desesperados, o Thiago era filho único o que tornava tudo ainda pior.

—To que você esta falando?—O Pedro perguntou como se lesse meus pensamentos.

—Da gravidez da Amanda.

Eu senti como se tivesse levado um soco no estomago.

—Então como eles reagiram?—O Pedro era o único que falava eu não conseguia assimilar as palavras, eu mal conseguia respirar, era como se aquela conversa acontecesse a quilômetros e quilômetros de distancia de mim.

—Primeiro duvidaram... vieram até mim e me perguntaram se isso era realmente possível.—O Beto parou de falar e olhou para mim preocupado.—Eu não podia negar.—Ele falou como se pedisse desculpa.—Depois se agarram nisso para poder suportar a dor.

Minha cabeça rodava, eu fechei lentamente meus olhos tentando não desmaiar. Eu podia jurar que alguém havia arrancado o meu coração de tanta dor que eu sentia.

—Eles só estão tentando alivia a dor.—O Pedro disse segurando o meu ombros, aquelas palavras não me ajudariam apesar disso eu balancei minha cabeça inconscientemente para frente e para trás.

—Mas não é só isso.—O Beto olhou novamente para mim... Será que eu ainda iria conseguir sentir dor maior que essa.

—A Amanda falou que era namorada do Thiago.

Aquelas palavras ecoaram em mim como trovoes em noite de tempestade, aquilo não podia esta acontecendo.

—Eu sei que devia ter desmentido.—O Beto se apressou em explicar, e eu senti raiva dele por isso, uma raiva infantil e egoísta, mas meus nervos estavam a flor da pele eu não conseguia mais me controla.—Mas ela me pediu, suplicou desesperada para que eu não a desmentisse, bom ela só não sabia como explicar aos pais que estava grávida de um rapaz comprometido então mentiu... eu não tive coragem de desmenti-la.

O Beto falava rápido demais estudando atentamente minhas reações, eu podia gritar, chorar, mas eu não tinha forças para isso e nem acreditei que isso realmente fosse importante eu e o Thiago já não estavam mas juntos...

—Eu sei que agi mal, mas quando o Thiago acordar, essa historia vai se resolver eu não acreditei que isso realmente fosse um problema.

—Tudo bem Beto.—Eu forcei a minha cordas vocais a trabalharem.—Eu e o Thiago não somos namorados, e a Amanda é que a mãe do filho dele.

—Mas é você que ele quer.

—Isso não é suficiente.—Eu disse tentando convencer a mim mesma.

—Sarah você sabe...

—Não adianta discutir isso agora.—Eu me levantei, eu não suportava mais aquela conversa.—Ele vai ser pai sabe o que essa palavra significa? Eu sou apenas uma paixonite aguda, algo que vai passar, enquanto o filho dele vai ser para a vida inteira e agora eu não quero mais falar sobre isso.

Eu corri para o meu quarto e me jogue na cama, lágrimas logo começaram a escorrer sobre o meu rosto, então dei vazão a minha dor e chorei até a exaustão.

Eu acordei com alguém me balançando.

—Sarah acorda.

Eu abri minhas pesadas pálpebras, aquilo não podia estar acontecendo. A Bell pulava na minha cama feliz.

—Temos boa noticias. —Ela disse puxando a minha coberta.

—Pode me deixar em paz.

—O Thiago acordou. —Ela gritou feliz enquanto eu levantava da cama. Ela não podia estar brincando... Aquilo não é brincadeira de se fazer.

—Ele abriu os olhos ontem à tarde. —Ela disse ainda rindo.

Meu coração começou a disparar dentro do peito.

—Como ele esta?—Eu perguntei ainda sem acreditar.

—Não sabemos, o Beto acabou de sair para ir para o Hospital, a única coisa é que ontem à tarde depois que o Beto saiu de lá ele saiu do coma.

Eu não sabia o que dizer nem o que fazer então eu comecei a chorar.

—Você esta chorando?—A Bell perguntou espantada.

—De felicidade. —Eu disse secando as lagrimas e começando a rir.

Eu fui obrigada a ir para a aula, o que realmente foi uma tortura já que cada segundo para mim pareceria horas, eu não conseguia me concentrar em absolutamente nada. Então a Sra. Fátima falava sem parar e para mim era como se ela não disse nada. Aquela foi à aula mais longa e tortuosa que eu tive na vida.

Assim que o sinal tocou eu sai correndo a procura do Beto provavelmente ele já havia voltado, eu o encontrei no salão comunal e subitamente eu senti um arrepio percorrer todo o meu corpo enquanto um mal pressentimento me invadia.

—Como ele esta?—Eu perguntei ainda sem fôlego.

—Ele acordou. —O Beto disse abrindo o enorme sorriso.

—Falou com ele?—O Pedro perguntou parando atrás de mim.

—Sim.

—Conta logo. —A Bell pediu impaciente.

—O Thiago teve uma melhora surpreendente, nem os médicos acreditaram que ele se recuperaria tão rápido.

Eu senti meu coração pular de felicidade dentro do peito.

—Ele esta completamente fora de risco mas ...—Seu sorriso muchou naquele momento.

—Mas o que?—Eu perguntei sentindo um súbito medo.

—A pancada na cabeça foi muito forte ele não consegue se lembrar de algumas coisa.—O Beto disse e seus olhos pousaram em mim.

Meus joelhos tremeram violentamente enquanto uma estranha sensação me invadia.

—Como assim?—Alguém perguntou enquanto eu me concentrar para me manter em pé.

—Quando ele acordou ontem ele não conseguia se lembrar absolutamente de nada. —Alguém me segurou pelos ombros.—Mas tudo indica que isso não era definitivo, aos poucos ele esta recuperando a memória, a tendência é só melhorar.

Novamente eu senti minha mente vagar pelo vazio, eu não conseguia definir o quanto aquilo me afetava, eu parecia presa num pesadelo sem fim.

—A Amanda estava lá.—O Beto murmurou no meu ouvido.—Você precisa ir até lá.

Eu neguei com a cabeça, primeiro eu não tinha autorização depois, eu tinha muito medo de encarar o Thiago novamente, eu preferia me manter longe o suficiente para não destruir o meu coração.