''Perdido até ser encontrado
Nadando até se afogar
Saiba que nós todos caímos
Ame até odiar
Forte até se quebrar
Saiba que nós todos caímos''

Estava frio. Muito frio.

Mas de que lhe importava?

A mutante Vampira mirava com tristeza o lago congelado do Instituto Xavier para Estudos Avançados. Sua casa.

Os olhos esverdeados demonstravam tudo. Medo. Dor. Angústia.

Talvez arrependimento.

A garota de mechas brancas abraçou o próprio corpo, tentando se aquecer.

Fora naquele frio cortante que ela abandonara Gambit.

O seu cajun. Seu francês metido e arrogante. Seu conquistador de cantadas baratas.

Simplesmente seu.

Ao menos, era nisso que ela acreditava.

Ninguém nunca lhe fizera tão bem, e tão mal ao mesmo tempo, quanto ele.

Remy fora sempre o dono de seus sonhos.

Antes, sonhava em tocá-lo.

Só isso. Era tudo o que queria.

Tudo o que precisava.

Agora, sonhava que ele estava simplesmente vivo.

Não saber se o homem que se ama ainda respira ou não é, provavelmente, a dúvida mais angustiante de uma mulher.

Não saber se o homem que amava já não respira por sua culpa, estava matando Vampira.

–Foi tudo um jogo.

As duras palavras dela ecoaram na solidão daquela manhã de inverno.

Para ela havia sido real.

Cada olhar, cada flerte, cada frase.

Toda vez que fechava os olhos, era como se ele estivesse ali, com ela.

Podia quase ouvir sua voz, sentir seu perfume e o calor de seu corpo contra o dela.

Nunca daria certo.

Vampira considerava-se amaldiçoada, de todas as maneiras.

Sua mutação nada mais era que um terrível castigo divino.

Nunca ser tocada.

Jamais tocar alguém.

Um único beijo fora necessário para que ela arruinasse não só a própria vida, mas também a vida dele.

Uma vida cercada de mistérios, assassinos, ladrões e mentiras.

Vampira já não deveria mais se surpreender com o passado de Gambit.

Ele já lhe escondera uma fraude, um casamento e duas mortes.

Mas ela não estava pronta para aceitar o fato de que ele havia liderado um massacre.

Quantas teriam sido as vidas perdidas e arruinadas por culpa dele?

No fundo, ela realmente preferiria não saber.

Mas... seria este um motivo válido para expulsá-lo dos X-Men? Para abandoná-lo em meio ao frio e ao gelo? Para deixá-lo para morrer?

Sua consciência não parava de acusar-lhe: ‘‘Não’’.

Ela imaginava se algum dia o veria de novo. E se o visse, se seria com vida.

Desceu do píer, pondo-se a andar sobre o gelo.

Vampira sabia que era uma mulher impulsiva, geniosa e muitas vezes, injusta em seus julgamentos prévios sobre as pessoas e suas ações.

Só esperava não ter causado a morte de alguém com isso.

Sabia que não seria capaz de conviver com o fato de que havia matado o homem que amava.

Ao chegar ao centro do lago, sentou-se sobre o gelo, tentando conter as lágrimas que teimavam em cair.

Foi quando uma conhecida carta do Ás de Espadas caiu sobre o gelo, a poucos centímetros dela.

‘‘Gambit?’’ – chamou-o baixinho.

Houve uma explosão. E a última lembrança de Vampira foi a de afundar na água fria do lago congelado.