''Se alguma vez o seu mundo começar a se desmanchar
Quando quer que o seu mundo comece a se desmanchar
Quando quer que o seu mundo comece a se desmanchar
É quando você me encontra''

Estava tarde. Muito tarde.

Mas de que lhe importava?

O mutante Gambit mirava com desinteresse as luzes da cidade de Nova York.

Os olhos escarlates não demonstravam emoção alguma. Vazios. Mortos.

Assim como sua alma.

Qualquer um diria que a morte seria melhor que aquele tipo de vida.

Um dia depois do outro; e todos os dias exatamente iguais.

Sempre escondido e fugindo das luzes, como um animal amendrontado, perseguido, ferido.

Dois meses vivendo entre cigarros, jogos e mulheres.

Tudo para esquecer.

Tudo para calar sua mente.

Só de porre a maldita o deixava em paz.

Paz? Em toda sua vida, Remy LeBeau nunca tivera paz. Alguns momentos de silêncio.

Solidão? Sempre.

Calma? Talvez.

Os sentimentos mais frequentes eram sempre os piores. Raiva, medo, frustração, auto-piedade, ódio, egoísmo, ciúmes, inveja.

E ele não saberia dizer qual deles era mais digno de desprezo.

Olhou ao redor.

A cama desfeita. O perfume doentio de mulher. Garrafas. Um maço de cigarros e um cinzeiro.

Escapara da morte para isso?

O jogo dava-lhe um objetivo.

Os cigarros, acalmavam.

E as mulheres o faziam esquecer.

Esquecer-se dela.

A mutante de mechas brancas. A sua menina. A mulher que nunca tivera.

Intocável. Inatingível.

Cada vez que lembrava-se de Vampira, um misto de ódio e saudade se apoderava dele.

E aquilo o enchia de medo e dor.

Ela o expulsara. Ela o abandonara.

E de certa forma, também o matara.

Há dois meses, Gambit havia sido julgado e condenado pelo Massacre dos Morlocks.

Se pudesse voltar atrás e mudar tudo... ele mudaria.

Morreria no lugar daqueles mutantes, mas não deixaria aquela carnificina acontecer.

Desculpas poderiam ser dadas pelo que fizera.

Era jovem, sozinho e confuso. Tinha sido manipulado e enganado pelo Senhor Sinistro.

Mas nem ele mesmo acreditava nisso.

Ele era culpado.

Sabia disso.

E também aceitava seu julgamento.

Fora por causa de todas aquelas alma perdidas que ele se tornara um X-Men.

E sem dúvida, foi a melhor decisão de sua vida.

Conseguia lembrar-se de seus amigos sem sofrer.

Ele não entendia por que.

E entendia menos ainda o fato de apenas Vampira lhe trazer tanta dor.

A razão de ter entrado para o lado dos mocinhos era completamente egoísta.

Remy queria se redimir. Queria se ver livre da culpa. Salvar uma vida para cada Morlock assassinado.

Não fora o suficiente para ser um X-Men.

Isso ele conseguia aceitar.

Não fora o suficiente para ter Vampira.

E isso o corroía por dentro.

Acendeu outro cigarro.

Queria acreditar que seus olhos ardiam por causa da fumaça, mas sabia que não era verdade.

Remy não sabia quanto tepo mais aguentaria.

Precisava reerguer-se, precisava lutar.

Pois até o Sol se levanta.

Gambit chorou naquela noite. E nunca soube que Vampira chorou também.