Acordei com uma dor de cabeça terrível. Encolhi-me desconfortavelmente na cama e desejei nunca sair dali. Obviamente, Bolin tinha outros planos. Aparentemente, ele não sabia o que era ressaca, e, aliás, eu não tenho ideia de como nós dois chegamos em casa, em primeiro lugar.

– E aí bro. Vai ficar dormindo o dia todo aí? Porque eu super tenho que te contar a noite incrível que eu tive... A parte que eu me lembro dela, claro. Er... Cê tá de boa? Parece que foi atropelado! Agora entendi porque você nunca bebe.

Apertei a mão na cabeça como se isso fosse aliviar a dor e levantei, começando a me trocar. Antes que Bolin pudesse protestar, eu o encarei e o silenciei com apenas um olhar para que eu pudesse me explicar.

– Eu sinto fiz muita burrada ontem. Preciso ver Asami.

– Errr... Quaaanto a isso acho que é melhor você não ir...

Arqueei uma sobrancelha interrogativa e ele se encolheu, logo cruzei os braços, sério, e ele finalmente soltou.

– Ontem você meio que surtou pra cima da Asami, Korra veio fula da vida pra cima de você e quase chutou sua bunda pra longe, ela levou a Asami embora e você quis correr atrás delas e arrumar briga, então fui obrigado a te trazer pra casa. Opal quem me contou isso, e tinha me ajudado a te trazer, eu estava tão bêbado quanto você, bro!

– Quem é... Ah, esqueça. Se isso aconteceu, eu preciso me desculpar.

E saí ignorando os avisos dele. A mansão de Asami não era muito longe, e com certeza o senhor Sato iria me receber a qualquer momento, ele me adorava desde que Asami me trouxe para conhecê-lo, e acabamos virando muito amigos a partir daí, ele tinha total confiança da segurança de Asami para mim. Mas não fora ele quem me atendeu quando bati. Como Bolin disse fora uma Korra fula da vida me olhando com um olhar de morte e me empurrando... Acho que eu conheço essa sensação.

– Veio aqui para fazer ela chorar até dormir de novo!? Dessa vez, entre aqui e eu juro pelos espíritos que quebro sua cara!

Ela estava decidida. Embora fosse mais baixa, era óbvio que ela parecia mais forte e mais bem treinada que eu, arriscar uma luta inútil com ela seria perda de tempo. Eu não sei o que ela estava fazendo aqui, mas com certeza o senhor Sato permitiu isso, e julgando por seu pijama, não foi de ontem que ela resolveu ficar.

– Eu preciso falar com Asami, é importante! Prometo não surtar e não dar nenhum motivo para você surtar também.

Ela pareceu considerar, olhou-me com olhos julgadores por um tempo e logo saiu da frente da porta, ainda nada feliz.

– Ela está na sala de jantar. O pai dela está em uma fábrica e os empregados estão na cozinha. Mas não pense que estarão sozinhos, eu estarei vigiando-os, e uma lágrima dela, e sua cara estará no chão, literalmente!

Ela logo me fez um gesto estranho, como se sinalizasse que estava de olho em mim, mas era um gesto bem cômico, na verdade. Penso que se eu não fosse um idiota ciumento desde o começo, talvez conseguíssemos ser bons amigos. Respirei fundo e entrei. Conhecia a mansão muito bem, então foi fácil chegar à sala de jantar. Ela não estava usando maquiagem. Eu já a vi sem a maquiagem diversas vezes, e sabia que ela era linda sem ela. Mas não era o caso atual. Ela parecia mais pálida, olhos inchados de tanto chorar e um nó logo se formou na minha garganta. Eu não sou o tipo de cara que sabe lidar com isso. Ela me olhou e logo um fogo surgiu por trás dos olhos esverdeados. Eu pensei que ela iria me empurrar como Korra fez, mas agiu naturalmente diante da situação, o que fora bem surpreendente.

– O que faz aqui?

– Eu vim te ver...

– Eu não quero ver você.

– Eu sei droga, Bolin me contou tudo. Eu perdi minha cabeça, sinto muito.

Ela me olhou com o mesmo olhar julgador de Korra e logo cruzou os braços.

– O que te faz pensar que vou perdoá-lo?

Certo, isso doeu. Respirei fundo e puxei uma cadeira para mim, com uma distância segura, é claro. Apoiei os braços em cima das pernas e tive coragem para olhá-la em seguida.

– Tudo bem, não vou pedir para tudo voltar ao que era antes como se nada tivesse acontecido, apenas... Não me olhe assim. Você começou a namorar comigo pois eu a deixava segura, não é? Sei que depois de ontem não estou mais apto para isso, não sou mais seu protetor... Mas eu ainda quero muito ser seu amigo.

– Mako...

– Não Asami! Eu também já percebi que não estou tão no clima para um namoro, acho que agora só quero que tudo volte ao que era antes de começarmos a namorar. Eu, você, Bolin, amigos pra qualquer hora. Com duas novas integrantes, é claro.

– Duas!?

– Bom aparentemente, Bolin arrumou alguém para te substituir em me ajudar a levá-lo bêbado para casa. Normalmente isso é sinônimo de amizade para ele.

Eu dei de ombros e ela soltou uma baixa risada, fazendo-me sorrir em seguida e logo arqueei uma das sobrancelhas, com um sorriso.

– E também, acho que você arrumou uma pessoa mais protetora do que eu.

Quando ela ia questionar, aparentemente, ela entendeu o caso. E ficou rapidamente vermelha como eu nunca tinha a visto ficar. Ela sussurrou alguma coisa que eu estava dizendo besteira e eu apenas ri em seguida. Eu tinha reparado desde o começo qual era a da Korra. Asami enviando olhares apaixonados, aparentemente ela não percebia que Korra sabia deles e se orgulhava deles. Elas não pareciam ter nada a mais, mas isso nunca deixou de me incomodar, não por ciúmes, mas por achar que Korra era apenas uma garota bruta que iria apenas magoar Asami. Quão irônica é essa situação, na verdade... Levantei-me rapidamente, eu precisava ir, senão Bolin viria correndo e faria um escândalo sobre isso... E o olhar mortal de Korra estava começando a me dar arrepios. Despedi-me de Asami e Korra me acompanhou até a porta, aparentemente, seria difícil ganhar sua confiança de novo, ainda sim, toquei seu ombro e a olhei profundamente.

– Cuide dela por mim.

Ela me olhou com total confusão enquanto eu saía. Pelo canto do olho, consegui pegar um vestígio de Asami correndo para abraçá-la antes que Korra fechasse a porta e sorri. Não posso dizer que eu estava triste em perder minha garota para outra... Pois eu sei que essa outra iria protegê-la bem mais do que eu fiz.