No fim, como se uma divindade atendesse meus pedidos insistentes, o dia terminou normalmente. Para meu desespero e para enfurecer ainda mais Mako, eu tive três aulas em comum com Korra, e todas essas, Mako não participava. Eles ainda não estavam se dando muito bem, porém, Bolin, pelo contrário, pareceu ter reconhecido Korra de alguma competição de luta bem famosa na cidade e rapidamente tornou-se fã. Eu não sabia dessa luta. Parei para pensar que, na verdade, nunca soube muito da garota, que, atualmente, está me seguindo desde que percebeu que Mako não iria mais vê-la. E ela falava, e como falava, mas eu me preocupava bem mais em admirar seus gestos exagerados quando se empolgava com algo, ou então simplesmente o som de sua voz e sua risada ao contar algo constrangedor ou engraçado que acontecera hoje enquanto estávamos separadas. No decorrer do caminho, comecei a ver minha casa se aproximar... E Korra também. Ao portão, arqueei uma sobrancelha interrogativa para ela, e ela apenas me encarou de forma pateta antes de finalmente se dar conta da minha confusão e sorrir novamente.

– Ah! Eu tinha esquecido essa parte. Seu pai comentou algo sobre estar temendo que os ataques partissem para a mansão, entãão...

–... Então?

– Boom... Tem um monte de quartos. Eu vou poder vigiá-la, e estar perto para protegê-la qualquer coisa! Minhas coisas devem ter chego hoje.

O destino aparentemente estava achando muito divertido pregar alguma peça em mim. Eu a encarei incrédula enquanto ela sorria como se fosse a coisa mais normal do mundo. Korra. Em minha casa. Pouco depois descobri que ela ainda estava muito perto do meu quarto, e eu realmente não sabia quanto tempo eu ia durar com aquilo.

Outra noite sem dormir bem. Eu já conseguia imaginar as olheiras se formando logo se eu não superasse logo isso. Naquele dia, eu teria aulas apenas na parte da tarde. Eu costumava passar esse tempo livre na biblioteca, mas naquele dia, eu estava desesperada. Precisava de Mako. Liguei para ele e combinei de tomarmos café da manhã na lanchonete perto da escola. O que eu não esperava era ser interceptada por Korra no meio do corredor, e, quando dei por mim, estava sendo seguida, como se fosse alguma maldição. Porém, quando cheguei até a lanchonete, também descobri que Bolin havia seguido Mako e fiquei mais aliviada. Bolin rapidamente se juntou com Korra para ter seus ataques histéricos de fã, e assim pude aproveitar meu tempo com Mako. Eu não sabia se era apenas minha imaginação, mas eu podia sentir algum olhar de Korra, aparentemente não muito feliz, a cada vez que nos aproximávamos muito, mas juntei todas as minhas forças para ignorar. Nossos pedidos na lanchonete chegaram rápido, e logo percebi que a garçonete havia ficado meio ansiosa, se remexendo, parecia querer dizer algo. Até o momento em que ela explodiu de uma vez, assustando a todos:

– Avatar! Eu sou sua fã número um!

De repente Korra se deu conta do que estava acontecendo e sorriu, levantando-se e indo conversar com a garçonete. Tentei não prestar muita atenção no assunto, embora realmente aquela fala houvesse me incomodado. Mas vez ou outra eu acabava espiando, e numa dessas vezes, notei que a garçonete estava apalpando os braços de Korra com um olhar quase apaixonado no rosto. E Korra estava gostando! Eu não podia suportar aquela visão. Empurrei rapidamente Mako, peguei minha bolsa e saí em passos furiosos da lanchonete, ignorando os protestos de todos atrás de mim, que apenas me incentivaram a andar mais rápido até a faculdade, decidida a me afastar de tudo... Principalmente daquela cena, que queimava fresca em minha mente.

Passei o dia todo evitando qualquer um dos três, principalmente Korra. Ela era insistente, sempre tentava me perseguir, gritar meu nome, enfim, a faculdade inteira acabou descobrindo minha pequena intriga com ela graças a seu glorioso escândalo ao me procurar. Passei uma boa parte do tempo vago escondida na biblioteca, e no fim do dia, corri sozinha para casa antes que ela tivesse qualquer chance de me seguir. Eu queria apenas me trancar no meu quarto, não tinha qualquer coragem de encará-la depois desse meu ato infantil de mais cedo, mas, é claro, ela aparentemente tinha outros planos. Depois de quase derrubar minha porta de tanto bater, finalmente cedi e a abri, olhando-a de forma inconsolável enquanto tentava me explicar.

– Olha Korra, eu...

– Asami! Tem ideia do quão preocupada eu fiquei!? Eu não sabia o que tinha feito de errado, eu... Eu... Estava em desespero! E...

– Me desculpe... Acho que exagerei um pouco quando vi aquela garçonete dizendo e fazendo aquelas coisas

Arregalei os olhos ao dizer aquilo e engasguei tentando reformular minha fala, porém, antes que eu pudesse arrumar alguma desculpa, fui sufocada por um par de braços firmes ao redor do meu pescoço em praticamente um abraço de morte enquanto ouvia um sussurro.

– Sua boba, quase me matar de preocupação por isso. Ela era uma fã, apenas uma fã muito curiosa, eu iria para-la se você não tivesse corrido! Não importa o que ela dissesse ou fizesse... Você ainda é minha fã número um não é? E a minha preferida, também.

Depois disso, eu tive certeza que eu só poderia ter muitas vidas, pois ainda me é um mistério saber como sobrevivi àquela confissão. Por outro lado, finalmente depois disso, eu consegui dormir tão bem como nunca dormi antes.