O despertador tocou cedo. Ao contrário do dia anterior, hoje as aulas começariam cedo e terminariam no meio da tarde, pouco depois do almoço. Como de costume, tomei um banho e me arrumei para o café da manhã, e estranhei encontrar apenas meu pai e os empregados na sala de jantar. Perguntei para qualquer um deles onde Korra se encontrava, todos deram de ombros e alegaram que não a viram sair do quarto. Será que ela saiu e me deixou? Estava brava por ontem? Não, impossível. Tínhamos nos resolvido, e ela não poderia me esquecer, ela tinha que me vigiar! Ignorei o café servido e caminhei de volta, agora indo até o quarto dela. Bati uma vez e não recebi resposta alguma. Na segunda, pude ouvir um murmuro por trás da porta, parecia um pedido para deixá-la em paz. Em uma mistura de preocupação e indignação, rapidamente abri a porta e vi uma bola enrolada no cobertor se encolher na cama, pensei que ela poderia estar passando mal, ou até doente, e me aproximei com cautela e toda a preocupação que pude reunir

– Korra? Está tudo bem?

– Mhmm... Deixe-me em paz, Asami! Manhãs são malignas, eu não vou sair hoje.

Aquela fala me enfureceu. Eu estava simplesmente morrendo de preocupação, e ela simplesmente estava se escondendo como um vampiro do sol por preguiça? Em meio a minha fúria, me aproximei em passos pesados e simplesmente puxei o cobertor de cima dela. Lógico que eu não esperava por uma Korra meio dormindo com uma blusa sem mangas e um shorts, extremamente curto em minha opinião, como pijama. Em meio ao susto, minhas pernas cederam e eu caí para trás juntamente com o cobertor e uma pequena fresta para espiar. O cheiro dela impregnado no cobertor e mais a visão dela se levantando e resmungando me fizeram querer morrer ali mesmo. Porém, apenas respirei fundo enquanto ela me olhava mortalmente, e, tentando ignorar as pernas musculosas muito convidativas para acariciar, eu a olhei nos olhos, afastei o cobertor e simulei minha expressão mais séria

– Você acabou de chegar à faculdade, e entrou depois das provas. Precisa retomar o tempo perdido e torcer pros céus para ter tempo suficiente para entender e fazer as provas. Isso não é hora de se esconder do sol como se fosse uma vampira, você precisa estudar, então vai levantar dessa cama, tem 5 minutos para se arrumar descer para tomar café comigo, e torcer para não chegarmos atrasadas para a primeira aula!

Aparentemente, minha iniciativa dera certo, pois rapidamente o olhar mortal foi substituído por uma face incrédula e boba, e logo ela estava se levantando e começando a retirar a blusa... Espere, retirar a blusa? Arregalei os olhos diante da cena em minha frente, e por instinto me levantei rapidamente, enrolei uma frase tentando dizer que esperaria ela na sala de jantar e saí correndo do quarto, com o rosto mais vermelho que meu batom.

Pouco tempo se passou e ela já aparecia arrumada, mas ainda não estava com o melhor dos humores. Ignorando isso, abri um sorriso radiante para ela, já bem mais calma, e assim tomamos café sozinhas, pois meu pai teve de verificar uma das fábricas e saiu apressado. Comi o mais rápido que pude e sai arrastando-a pelo pulso enquanto ela resmungava com uma torrada na boca e duas na mão. Com muita sorte, chegamos na faculdade a tempo, e fomos recebidas pelo sorriso radiante de Bolin e a face nada amigável de Mako, a qual ignorei, hoje era o dia em que eu não queria pensar nele, pela primeira vez, meus sentimentos por Korra não me deixaram desesperada para encontrá-lo, e eu precisava de um pouco de espaço.

Em uma das aulas, foi informado aos alunos que no dia seguinte não haveria aula, não prestei atenção ao resto da frase, pois minha mente vagou para o fato de que Korra poderia querer começar o treinamento mais cedo, e eu de fato não me sentia preparada para isso. Porém, ela demonstrou o contrário quando invadiu minha mesa na hora do almoço e saiu me arrastando para longe dela, ignorando o olhar flamejante de Mako e o resto dos olhares e sussurros curiosos não só da minha mesa, mas do refeitório inteiro. Paramos no meio do corredor e ela me deixou encostada em um dos armários, e se aproximou de repente fazendo meu coração saltar e minhas pernas quase cederem, mas logo ela estava abrindo aquele sorriso radiante que enchia meu coração de carinho e começou a falar muito rápido, ao ponto de eu quase não entender o que era dito

– ‘Sami! Eu ouvi de uns garotos na minha sala que estão planejando uma festa nas redondezas para hoje, já que amanhã não tem aula! Nosso treino só começará depois de amanhã, então podemos ir? Por favooor.

Eu geralmente não gosto de festas da faculdade. Alunos bêbados, música alta e bagunças nunca fizeram meu estilo, então eu só fui a poucas dessas a pedido de Bolin, em uma delas que ele me apresentou ao seu irmão Mako, um cara quieto que também não era muito chegado a essas festas, porém, por conta de sua frieza, ele era altamente popular nelas, e tornou-se popular na faculdade também. A atitude em comum de ficar de fora das festas nos uniu, e ajudou na hora de suportar os pedidos de Bolin, e o fato de ter que carregá-lo bêbado para casa depois facilitou muito com ambos dividindo essa tarefa. Pouco tempo depois começamos a namorar, e largamos a festa de vez. Eu estava pronta para recusar o pedido, mas aquele olhar, e... Ela estava fazendo beicinho! É, boa sorte para recusar agora, Asami.

–... Certo. Nós vamos. Mas ficaremos pouco tempo! E nada de voltar bêbada para casa, papai não pode saber disso.

O sorriso que recebi depois valeu totalmente a pena, e quando vi, eu estava sorrindo para ela também. Aquela garota iria ser minha ruína, e eu não parecia me importar com isso. Obviamente, na hora da saída, Bolin ficou sabendo que iríamos e imediatamente se convidou para ir junto, o que levaria Mako, e com certeza ele não sairia de perto, além de ficar bem de olho em Korra... E pela primeira vez, eu realmente detestei isso.