Havia chego o dia seguinte. Seria a segunda e última luta da semana, na minha vez, era contra a menina mal-humorada. Encontrei Mako e Bolin já na academia e os cumprimentei com animação, Bolin ficou todo animado e Mako foi... Bom, animado no estilo Mako.

Na entrada do vestiário parecia que os fãs haviam triplicado de tamanho. Agora a maioria estava em cima de Mako e a maioria eram garotas, pude ver de canto que Asami estava ligeiramente desconfortável com aquilo e me emburrei. Tá certo que eles namoraram por muito tempo e tal, ela poderia até ter um pouco de sentimentos guardados e que os dois pareciam que iriam superar isso mesmo assim, mas não impedia meu sangue de ferver, e eu só imaginava que era por ira de lembrar quão babaca Mako fora com Asami anteriormente. Negava para mim mesma que estava com ciúme sempre que eu podia. Ignorando isso e conseguindo passar pela legião de fãs, adentrei o vestiário e já fui me arrumando para a luta que iria acontecer em breve, até que uma voz quase arrancou minha alma pra fora da minha pele de susto.

– Oi!

Eu olhei para trás e dei de cara com uma garota, ela talvez nem tinha 16 anos ainda e me olhava com a cabeça meio baixa e um sorriso bobo e meio tímido, o corpo encolhido, parecia alguma fã.

– Olha se veio me fazer alguma pergunta ou pedir autógrafo, será melhor esperar tudo acabar, e...

– Tome cuidado.

– Huh?!

– Eu disse tome cuidado. Com sua próxima oponente.

Aquele aviso fez meu sangue ferver. Quem ela pensava que eu era para me subestimar assim?! Como se notasse minha raiva, ela soltou uma baixa risada e se aproximou, olhou em volta como se estivéssemos sendo vigiadas e sussurrou no meu ouvido.

– Ela é muito boa com facas, ninguém vê a escondendo, sequer vê ela as atirando, então tome cuidado. As lâminas estão carregadas de um remédio que relaxa os músculos e são mínimas, então além dela conseguir fazer parecer que sequer foi arranhado, ela pode inutilizar seus braços ou pernas.

Eu arqueei uma sobrancelha confusa enquanto ela me enviava um sorriso doce, se ela estava trapaceando, seria melhor denunciá-la, não?! E novamente, como se lesse minha mente, ela se afastou e encolheu os braços atrás do corpo.

– Não pense em denunciá-la, ela é protegida por alguns juízes, a maioria dessas garotas com quem você vai lutar serão, e eles podem te desclassificar por difamação.

Ótimo, eu estava encurralada nessa. Mas ao menos agora eu tinha um aviso e não seria pega de surpresa, eu era boa com ataques de armas brancas, havia treinado muito isso, então talvez eu me desse bem. Com isso em mente, eu sorri para a garota.

– Você provavelmente vai salvar minha luta, valeu.

– É um prazer. Eu me chamo Jinora, meu pai detesta essas lutas por sair totalmente da graça que ele ensina, por isso vivo aparecendo escondida, eu consegui ver sua última luta antes de você abandonar do nada e achei incrível. Meu pai iria gostar de te ver lutando.

E com essa fala e um sorriso maroto, ela se despediu e me desejou boa sorte, me deixando com uma sobrancelha arqueada em confusão até ouvir que já era minha vez.

No ringue, percebi que a garota era ainda mais assustadora de perto, era como se tivessem sugado toda a felicidade dela, parecia um fantoche. Ela se armava em posições muito conhecidas de lutas orientais, principalmente o kung-fu, e wow, ela era rápida! Mal vi o primeiro golpe dela e logo senti uma dor infernal no braço esquerdo. Olhei e havia um arranhão tão pequeno que sequer sangrava, mas ainda ardia e bom, ele estava quase inútil. Ela sorriu por uma fração de segundos e atacou de novo, me obrigando a pular no ringue para desviar. Ela era ágil, tornando bem difícil se aproximar dela, uma rápida olhada em volta e percebi que a plateia estava inteiramente confusa e Asami parecia preocupada. Então me lembrei do maior motivo pelo qual eu estava lutando e me levantei. Meu gancho de direita estava enferrujado, mas eu não desisti em atacar em apenas aproximações e manter minha defesa bem alta, isso, até o momento que ela percebeu que poderia facilmente atacar no meu lado esquerdo, onde a defesa estaria baixa já que eu mal movia o braço, o que me obrigou a ficar dançando com ela no ringue e desviando por uns bons minutos até o momento que ela usou outro golpe rápido no meu lado esquerdo mirando na minha perna e eu já vi ali um fim pra luta... Até eu perceber que eu tinha realmente conseguido agarrar o braço dela. E era com o braço esquerdo! Ela parecia tão surpresa quanto eu e essa era a minha chance de desferir um soco com força e nocauteá-la.

Mesmo ao fim da luta eu ainda estava surpresa, e eu estava tremendo. Não tinha certeza se eu estava enferrujada ou se, desde que saí, colocaram monstros no lugar, mas era certo que eu precisava treinar muito mais, afinal, aquela era apenas a segunda adversária. Assisti a plateia ir a loucura e me retirei pro vestiário, o braço formigando um pouco mas voltando ao normal aos poucos. Lá, dei de cara com Bolin, Mako e Asami, todos sorrindo para mim. E tinha Jinora também, que parecia extremamente animada, embora tivesse toda uma classe para disfarçar isso.

– Eu sabia que você iria conseguir, aquilo foi incrível.

Ela sussurrou e eu retribuí aquilo com um sorriso bobo, já indo me trocar novamente no vestiário e assistir o resto das lutas antes de ir embora.

Quando terminei, dei de cara com a senhora mau-humor novamente e me assustei, ela apenas levantou as mãos na defensiva e negou com a cabeça, dizendo logo em seguida, e juro pelos espíritos, a voz dela conseguia ser mais desanimada do que ela própria.

– Você fez bem em notar meu truque, e não sei como recuperou o braço tão rápido, mas bom trabalho. Vim só avisar que você não vai ter essa sorte com a Azula, então comemore bastante, pois daqui duas semanas você está fora.

E dito isso, ela saiu, me deixando extremamente confusa para trás. Asami entrou em seguida e arqueou uma sobrancelha interrogativa para a presença que acabou de sair, e eu apenas cocei a nuca com um sorriso bobo.

– Acho que ela veio me parabenizar pela vitória.

Logo o sorriso de Asami iluminou meu dia e ela já me arrastou dizendo que não tinha tempo a perder para a próxima recompensa, alguma coisa com muitos frutos do mar e ervas que fazia o estômago roncar só pela imaginação. No caminho, Jinora foi nos acompanhando até a saída, e lá agiu da mesma maneira do vestiário.

– Sabe... Não vai ser fácil assim vencer a Azula só com um aviso... Papai odeia esse tipo de luta, mas... Ele não precisa saber que é para luta! Então... Se você quiser, claro... Pode passar no templo para treinar, eu posso pedir uma ajuda disfarçada ao papai para te ensinar a lutar de uma forma mais equilibrada e menos furiosa.

Ela terminou a frase arrastando a ponta do pé no chão e eu bufei. Eu era totalmente equilibrada nas minhas lutas! ... Não era? Olhei para o lado e Asami estava com aquele sorriso que silenciosamente me dizia que era uma ótima ideia aceitar, e eu dei de ombros, eu precisava treinar com alguém, não precisava? Afinal, ainda estava meio enferrujada. Então sorri de volta para Jinora, que iluminou igual uma árvore de natal com as minhas próximas palavras.

– Parece que vamos nos ver bastante então nos próximos dias.