Quem pensa que os treinadores da academia já eram chatos e exigentes demais, não conheceu aquele tal Tenzin. Eu já estava muito irritada com o fato de ter de me separar de Asami, pois seria muito mais fácil treinar estando hospedada no templo, eu pensei que era pelo templo ser muito longe, triste ilusão. Tenzin me fazia acordar cedo, coisa que já odeio, e eu carregava pesos, corria voltas e voltas pelo templo, sinceramente, eu não sabia se estava recebendo treinamento de luta ou do exército. De noite, eu escapava com Jinora para treinar alguma técnica de luta que ela aprendera, e eu devia dizer, ela era muito boa naquilo! Nada agressivo, ela esperava eu atacar e lia meus movimentos, desviava com facilidade e logo eu estava no chão, eu não conseguia compreender aquilo. Um dia, na metade da primeira semana, sentei no chão para descansar e a encarei com curiosidade

– Sabe, você é muito boa no que faz. Por que nunca tentou algum torneio da academia?

– Uh... Você já viu meu pai? Eu te disse que ele odeia esse tipo de luta. Se eu aparecer lá para lutar, ele me deixa por lá na academia mesmo!

Eu soltei uma baixa risada e ela acompanhou em seguida. Ele não poderia continuar com esse pensamento para sempre, eu queria fazê-lo mudar de ideia.

Na manhã seguinte, ele parecia com os nervos a flor da pele e realmente tirou o dia para me atazanar.

– Korra! O que pensa estar fazendo?! Se posicionando assim, nunca encontrará o equilíbrio necessário e será apenas um alvo fácil!

– Mas... Meelo também não está fazendo!

O garoto se surpreendeu a princípio pela acusação, mas logo abriu um sorriso presunçoso e apontou para si mesmo.

–Eu já aprendi tudo isso, irmãzona. Ninguém é melhor que o Meelo aqui no equilíbrio da defesa.

Eu apenas rolei os olhos para ele, obviamente não caindo nessa.

– Pois então prove.

– Está duvidando da minha capacidade?

Ele me olhou ofendido e eu mostrei a língua para ele, gesto que ele retribuiu e logo Tenzin estava entre nós dois.

– Lamentável. Meelo terá que acompanhar o treinamento também. E Korra... Eu pensei que você possuísse alguma maturidade a mais.

Então ele saiu e me deixou rangendo os dentes. Ele iria ver do que eu era capaz!

No fim do dia eu já estava exausta e nenhum treinamento de luta da parte de Tenzin, Jinora me disse para ter paciência, ao menos ela me ensinava as coisas também e isso estava segurando a minha paciência. Asami fora me visitar e ficou encantada com o templo, que fiz questão de mostrar todo para ela. Eu nunca vi Tenzin tão gentil e de repente bom anfitrião, nem comigo ele fora assim, e isso me fez rolar os olhos, o que arrancou uma risada divertida de Asami e ela passou o resto da noite dizendo que eu estava com inveja. Ela pôde jantar por lá e ficou toda encantada com a comida, o que eu concordava ser uma delícia, mesmo se tratando de comida vegetariana. No fim da noite, ganhei um beijinho na bochecha e uma despedida antes que ela fosse para casa, e me senti flutuando enquanto eu escapava para treinar com Jinora nos jardins. Ela, estranhando, arqueou uma sobrancelha a me ver, mas era uma garota muito esperta, logo ligou os pontos e alargou um sorriso sugestivo.

– Então... Eu estava certa em pensar que aquela moça bonita... Asami Sato, não é? Era sua namorada.

Espere, o quê?

– O que?!

– Ohh, já vi tudo! Que sortuda... Namorando a, possivelmente, garota mais rica e famosa da cidade.

– Espere, não é nada disso! Vamos começar logo com o treino!

Ela riu do meu embaraço, porém, para minha sorte, começamos a treinar normalmente.

Era muita sorte minha próxima luta ser apenas daqui duas semanas, pois eu realmente estava tendo péssimos momentos com Tenzin. Ele se recusava a me treinar com lutas, por mais que eu implorasse tudo o que ele dizia era um discurso sobre paciência que já estava me enjoando. Dois dias antes do fim de semana, Tenzin recebeu algum tipo de visita surpresa de seus irmãos, os quais ele não parecia gostar muito. Eu particularmente os achei incríveis, e eles me tratavam como se eu fosse da família. O mais velho, Bumi, contava muitas histórias de quando participava de guerras, e eu ria enquanto estava a ouvi-lo, ele contava histórias como se estas houvessem se passado ontem, e era muito bom ouvi-lo. Kya também sabia lutar e era muito inteligente, por isso, no dia em que chegou ali mesmo, soube que eu e Jinora estávamos planejando alguma coisa e nos descobriu fugindo de noite, mas muito diferente de Tenzin, ela sorriu e ofereceu ajuda. E ela também lutava muito bem! Usava um estilo de luta que conseguia ser gracioso e quase selvagem ao mesmo tempo, e era muito rápida. Eu contei sobre Tenzin e ela riu, dizendo que era normal do irmão e eu teria que ter a tão sagrada paciência que todos acabavam me pedindo, e eu, bufando, concordei. Passamos os dois dias treinando e conversando, além de rirmos muito. Era bom ter Kya e Bumi por perto, eu me perguntava o motivo de Tenzin não se dar bem com os irmãos. Finalmente chegou o fim de semana e eu arrumei uma desculpa para Tenzin sobre ser convocada pelo pai de Asami e corri para a academia, mesmo que eu não fosse lutar esse fim de semana, ainda tinha que assistir a luta de Mako e Bolin. Encontrei ambos com Asami por lá e abracei-a apertado enquanto ouvia algumas provocações de Bolin que fiz questão de ignorar. Não sei o que todos falavam, eu não gostava de Asami desta maneira... Eu acho. E mesmo que eu gostasse, ela nunca gostaria de volta, e ela tinha acabado de romper com Mako praticamente, devia ainda estar muito abalada. Ignorando isso, fui com Asami para a plateia e assisti Mako dar uma surra em um cara que não fiz questão de saber o nome. Eu vibrava de animação e Asami ria de tudo isso. Logo as lutas pararam e um juiz magricela subiu ao ringue com um megafone. Quando percebeu toda a atenção para ele, ele pronunciou em seguida.

– Para a decepção de muitos fãs aqui hoje, infelizmente, nosso grande lutador Wan se feriu misteriosamente essa semana e foi desclassificado. Porém, Noatak ainda se mantém no espírito da luta, então colocaremos A Avatar no lugar de Wan. Sabemos que é algo bem de última hora e será uma surpresa uma luta mista tão cedo, porém a Avatar tem habilidades que se sobressaem muito em questão da maioria dos que compareceram a luta hoje, fora que sua forma de lutar é muito semelhante à de Wan, por isso, será uma bela substituição ao nosso temido Amon. Avatar, não se preocupe, o resultado desta luta não influenciará nas suas futuras, a avaliação será feita apenas para Amon.

Eu sorri toda confiante e fui me trocar. Asami parecia preocupada, ou talvez apenas assustada pela máscara ridícula que aquele cara estava usando. Logo que saí do vestiário, encontrei o tal cara já em cima do ringue e estalei os ossos enquanto caminhava para enfrentá-lo. Ele era grande e tinha um ar meio misterioso, de perto eu tinha de admitir que fosse um pouco assustador... Mas eu estava bem! Sabia que os tremores eram apenas de emoção de poder testar o que aprendi. Logo a luta começou e ele... Sumiu?! Senti uma dor forte no meu braço esquerdo e me afastei, ele estava do meu lado, quando foi que aparecera ali? Fui tentar acertá-lo, mas... Meu braço não se movia, era como o ataque daquela garota das facas, mas ele havia utilizado apenas as mãos. Logo ouvi um sussurro que me fez gelar a espinha.

– Está com medo, Avatar Korra? É inútil mover seu braço esquerdo agora, acertei um ponto de pressão, você não vai movê-lo por um tempo, junto de seu braço direito.

Não deu tempo de me afastar e senti a mesma dor no braço direito. Desespero líquido corria pelas minhas veias e eu ainda não entendia como ele podia ser tão rápido. Sem meus braços, mesmo quando eu aprendi a acompanhar sua velocidade, meus ataques eram inúteis apenas com as pernas. Ele parecia brincar comigo e isso estava me irritando. O tempo se estendeu e parecia que meus braços estavam voltando ao normal, oportunidade perfeita para enganá-lo, fazendo-o pensar que ainda estou debilitada e esperá-lo se aproximar para acertá-lo de surpresa. Sorri quando ele sumiu novamente e já me virei para acertá-lo, mas ele segurou meu ataque facilmente e acertou um lado que parecia perto da minha cintura que me fez ver estrelas e eu caí, porém, ele me segurou e voltou a sussurrar.

– Esta foi apenas uma amostra da minha força. Quando a luta for pra valer, irei te destruir, Avatar. Tenha medo.

E logo eu caí no ringue. Devo ter desacordado por alguns segundos, pois a próxima coisa que me lembro era Bolin tentando me carregar no colo e Asami parecendo extremamente preocupada.

– Asami... Não chore...

Consegui a atenção de ambos e Bolin me deixou andar sozinha. Era difícil, mas eu estava conseguindo. Ambos me abraçaram, pareceram realmente preocupados, mas eu me sentia bem, só... Não entendia o que havia acontecido.

– Eu... Perdi?

Perguntei cabisbaixa pra ambos e eles desviaram o olhar, sorte que havia o senhor frieza total para responder no lugar dos dois.

– Sim, você pegou um cara barra pesada cujo, com sorte, enfrentaríamos apenas nas finais que destruiu os outros lutadores com quem ele lutou e você nem se preocupou em saber disso. Sorte que isso não influencia na sua classificação, Korra.

Rolei os olhos, Mako era um doce. Mas ele estava certo, por sorte, perdendo ou ganhando eu ainda estava no jogo, porém... Isso significava que futuramente eu teria que enfrentar aquele cara de novo, e imaginar isso me fez engolir a seco. Asami, parecendo perceber minha aflição, abriu um sorriso bobo.

– V-Vamos voltar, Tenzin deve estar preocupado.

Eu concordei e caminhamos para fora da academia, porém, logo do lado de fora, havia um Tenzin muito irritado, uma Jinora muito triste e uma Kya muito impaciente.

– Então é para isso que você estava querendo tanto treinar comigo? Para manchar as belas artes que eu iria ensiná-la com essas barbaridades?

– Oh Tenzin, por favor... A menina é extremamente habilidosa e não há barbaridade nenhuma aqui.

– Kya, eu não me lembro de tê-la chamado para este assunto. Você me seguiu por vontade própria, porém isso não te deu direito de se intrometer na minha forma de ensinar!

Os dois começaram a discutir feio e eu, no meu pavor, não consegui proferir sequer uma palavra. Enquanto isso, Jinora escapou para meu lado com o rosto lavado de lágrimas de uma forma que partia o coração.

– Korra, eu sinto muito. Eu tentei segurá-lo ao máximo, mas ele estava muito desconfiado da sua demora. Então ele descobriu que a luta da academia estava passando na televisão, e...

Ela não conseguiu continuar e eu terminei abraçando-a. Ela também não tinha culpa nisso, afinal. Ele continuou esbravejando com Kya por um tempo e saiu dizendo que não iria me ensinar mais e me queria fora do templo, iria até conversar com a minha faculdade e dizer que as duas semanas de folga que eu tiraria foram canceladas. Eu respirei fundo sem saber como reagir, Jinora ainda estava chateada, assim como eu, Asami e Bolin. Porém logo Kya veio ao meu encontro e colocou uma mão em meu ombro, abrindo um sorriso reconfortante.

– Meu irmão é um cabeça dura, mas quando a irritação dele passar, será mais fácil convencê-lo. Até lá, eu e Jinora iremos te ajudar com o treino. Você está na mansão Sato, não é? Senhorita Sato, se importaria se fôssemos visitar Korra todos os dias?

Asami sorriu brilhante em seguida e negou com a cabeça.

– Seria ótimo tê-las como visita.

E então, estava tudo planejando. Kya me ajudaria até conseguir convencer Tenzin. Então meu medo dissipou e minha confiança voltou ao normal. Agora eu teria chance de enfrentar a tal Azula e o Amon, com certeza.