O Código Bruxo escrita por Igor Feijó
Acordo em um local estranho e úmido.
A cabeça lateja pela pancada levada pouco tempo atrás, parece que isto já estava se tornando constante em minha vida. Estranhamente eu não estava amarrado e permaneci deitado sobre um travesseiro macio, provavelmente preenchido com penas de alguma ave. O local era escuro iluminado apenas por um lampião central repousado sobre a mesa, o cômodo não possuia mais do que três móveis e todos eram muito simples. Um ser de estatura baixa vestindo roupas parte elegantes, parte farrapos, enchia uma cuia de agua que jorrava por uma pequena fenda na parede.
– Deve estar com sede – ele disse com a voz delicadamente melodiosa.
– Ah, um pouco – pude esboçar.
O pequeno girou nos calcanhares vindo em minha direção, seus olhos emitiam um brilho purpura suave, as orelhas eram pontudas e alongadas, por baixo do tecido podia se notar uma extrema magreza, apesar do jeito estranho aquele ser produzia certo fascínio.
– Tome, vai se sentir melhor – estendeu-me a cuia de madeira agora preenchida com agua limpa.
– Onde estou? – Perguntei antes de segurar o objeto.
– Suas perguntas precisam de respostas, mas antes seu corpo precisa de água – sorriu fazendo um gesto para que eu bebesse.
Por um momento desconfiei do ato, estava em um local estranho – apesar de meu captor apresentar boa índole – havia sido desacordado para estar ali, alguma coisa não me cheirava bem. Peguei o pote com uma das mãos e o levei até o nariz, dei uma longa fungada perto do líquido, era só agua.
Sorvi o líquido em duas goladas, a boca seca rapidamente umedeceu e pude sentir o alívio que acompanha a saciedade. Parte do que se derramara fora engolida pela barba.
– Obrigado – disse entregando o recipiente.
Ele não disse nada, apenas limpou o interior com um pano e o colocou em uma prateleira onde havia mais dois iguais. Voltou seu olhar para mim e indagou.
– Por que estava visitando aquela cidade?
– Não estava, acabei parando ali por ironia do destino – ri de canto.
– Era uma bela cidade – abaixou a cabeça como quem sente a dor de todos os que lá viviam – Com belas músicas e pessoas bonitas – quando levantou novamente para me olhar o brilho que passeava por seus olhos gerou em meu íntimo algo parecido com pena, embora ele não quisesse isso – Desculpe pela pancada na cabeça, não pretendia machuca-lo – fez um gesto parecendo que ia tocar minha nuca, mas se afastou.
– Tudo bem pequeno, ossos do ofício. Diga-me, que lugar é este?
– Em seu íntimo você desejava encontrar uma passagem, estes túneis apenas se abrem quando se está perdido, você estava confuso aqui – colocou o dedo em sua cabeça – mas jamais esteve confuso aqui – levou o dedo ao coração.
– Está me dizendo que este local é Homora?
Ele fez um meneio acompanhado de um sorriso.
– Essas são as Cavernas de Homora e você está no meu quarto, me chamo Dorinn.
Um sorriso largo preencheu meus lábios, não imaginava que a encontraria tão rápido assim.
– Parece que minha sorte está mudando. Terei que abusar um pouco de sua hospitalidade e perguntar sobre os pergaminhos secretos de Adrava.
Sua expressão foi tomada pelo terror, rapidamente se afastou como se eu fosse a própria escuridão.
– O que quer com isto? Nada de bom pode surgir destes escritos, todos que o tocam acabam perecendo de forma tortuosa e macabra.
– Não é para mim, veja – coloquei-me de pé inclinando-me para não bater a cabeça no teto baixo – Eu tenho um amigo que está sob o fio da vida, se eu não voltar com estes pergaminhos ele será morto.
– Mas que desgraça – fez uma expressão de espanto – o que aconteceu com ele?
– A mão de ferro nos emboscou em uma cidade, supostamente pensaram que os pergaminhos estavam em minha posse.
– Mas por que pensariam tal desgraça?
– Porque eu os protegi uma vez, não sabia o que estava levando nem a quem estava protegendo, apenas fiz o meu trabalho.
– Eu entendo a sua dor, mas não encontrará nada destes registros aqui.
– Nesta parte eu preciso descordar de você.
Ele não entendeu e se aproximou a passos cuidadosos.
– Porque?
– Porque o protegido era um Homora.
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