O Código Bruxo escrita por Igor Feijó


Capítulo 12
A Torre Perdida




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Os olhos do pequeno ser marejaram, ele precisou se apoiar na mesa perante a notícia, sua expressão era de pura consternação. Parece que mais uma vez eu era o portador da desgraça, o arauto da morte, aquele com a mensagem que todos esperam, mas nunca teriam a coragem de abrir.

– Lamento pequeno – coloquei a mão em seu ombro.

Os olhos brilhavam com as lágrimas prestes a cair, destacavam ainda mais a delicadeza purpura de sua cor. A cabeça virou pesadamente em minha direção.

– Não pode ser – disse desolado – Como isso pode ser verdade?

– Há muitas coisas neste mundo que não sabemos, parte delas nos acertam com toda a força possível, como a lança de um cavaleiro na justa. Temos que nos manter em pé, independente do golpe.

Como quem acorda de um transe ele se dirigiu rapidamente ao travesseiro pegando algo embaixo que estava enrolado. Retirou de lá um molho de chaves, cada uma com um símbolo e formato diferente.

– A Rainha, precisamos ver a Rainha Purppa!

– Acalme-se, que rainha é esta?

– Não há tempo a perder, vamos, segure em meu braço.

Pela urgência da situação deixei a cautela de lado, estava começando a confiar naquele ser, algo dentro de mim dizia ser o correto. Meu pessimismo era embasado nos percalços vividos ao longo de minha vida, o mundo em que vivíamos não criava espaço para confianças, isto era como um tesouro raro de um pirata morto.

Ao tocar o antebraço ele segurou uma das chaves firmemente, depois disto tudo aconteceu muito rápido.

Senti como se estivesse sido sugado por uma força estranha, meu corpo reduzira a nada para depois se materializar em outro local, a viagem durara menos do que segundos. De súbito um enjoo tomou conta de mim a visão turvou e abaixei-me para regurgitar o líquido que havia tomado anteriormente, Dorinn deu leves tapas em minhas costas como consolo.

– Isto é normal, vai se sentir melhor ao longo da caminhada.

– Que tipo de magia é essa? - consegui dizer recompondo-me devagar.

– Chamamos de aparatar, é um recurso muito útil para viajar entre os níveis de Homora. Escolhe-se uma das chaves e elas o levam até onde pertencem. Alguns conseguem realizar isto sem as chaves, mas o grau de estudo precisa ser muito maior.

Enquanto ele falava minha visão era direcionada ao local, a simples visão do cenário a minha frente petrificou meus sentidos com tamanha beleza. Estávamos no alto de uma montanha com pequenos córregos, ao longe uma torre flutuava suspensa por um pedaço de rocha gigantesco, acima deste complexo de rochas fulgurava uma luz azulada, não podia se enxergar a fonte.

– Como isto pode existir dentro de uma montanha? – Indaguei maravilhado.

– Mágica – respondeu-me com um sorriso enquanto iniciava a caminhada – a propósito – virou a cabeça – Como se chama?

– Lumor, me chamo Lumor. Desculpe não ter me apresentado antes.

– Eu entendo, não se preocupe. Desculpe por não ter perguntado – sorriu.

– O que é esta rainha? Por acaso ela é a sua rainha?

– Sim, Rainha Purppa lidera todos os complexos de Homora.

– Como assim todos? Existe mais lugares como esse aqui dentro?

Ele riu da expressão que surgiu em meu rosto.

– Muito maiores se quer saber.

– E eu que pensava que não viveria para ver isto.

– Sou um de seus conselheiros, mas ao contrário do que acontece lá em cima, nós não moramos no mesmo local. Todos os conselheiros têm sua própria morada.

– E ela vive sozinha naquela torre – apontei para o local indicado.

– Ela sabe se cuidar melhor do que nós.

Paramos sobre uma pedra arredonda com musgos saltando pelas laterais.

– Porque paramos a torre ainda está muito distante?

– E nós estamos indo para lá – dito isto o chão abaixo de nós tremeu, o pequeno monólito flutuou e então fomos deslocados para cima em velocidade mediana.

– Isto é incrível!

– Agora sabe em parte porque nosso povo vive às escondidas. Se este tipo de magia cai em mãos erradas, será um caos.

– Tenho que concordar com você.

O pedregulho encaixou-se em um aglomerado de rochas pequenas e assim nós paramos.

A nossa frente um ser da mesma estatura de constituição frágil trajava um manto de tecido transparente, porém em determinados ângulos refletia um espectro de cores belíssimo. Em sua cabeça uma tiara prateada trazia uma pequena pedra azul de formato irregular. Ela virou para nos receber, não precisava viver ali para entender que era a rainha que Dorinn havia falado.

– Seja bem-vindo, forasteiro – sorriu caminhando até uma planta em formato de bastão que em intervalos pequenos lançava seu pólen arroxeado no ar.

– Rainha – ajoelhei-me em respeito acompanhado por Dorinn.

– Minha rainha, precisamos conversar, o forasteiro traz notícias calamitosas.

– Gostaria de não as ter trazido.

Seu semblante pouco se alterou diante de uma notícia que parecia ser preocupante, ela fazia movimentos calmos e graciosos mesmo quando empregava um simples caminhar.

– Pois, diga-me o que trazes a mim?

– Temo que um dos nossos tenha nos traído, majestade – disse Dorin adiantando-se.

– E porque isso aconteceria, Dorinn?

– Porque ele se apoderou dos escritos de Adrava e os trouxe para nossa casa.

Ela pareceu estudar meu semblante, embora Dorinn fosse o participante do diálogo.

– Se o que dizes é verdade, então já estamos condenados.

– Majestade, perdoei-me a intromissão, mas como assim estão condenados? Seu reino ainda continua de pé. – Disse sem entender o que se passava.

– A profecia – Dorinn disse cabisbaixo.

– Profecia?

– Sim. O povo da luz cairá, sob a sombra de um feitiço tudo desmoronará e pelas páginas de Adrava a todos condenará – narrou a princesa como se repetisse o verso para si dia e noite.

– Deve haver algo que possamos fazer, profecias podem ser quebradas – ataquei incrédulo não aceitando a inercia.

O silencio encobriu o vale rochoso tendo como pano de fundo somente o corre das aguas.

– Talvez haja uma forma – ela disse quebrando a quietude.

– Então me diga como e eu a ajudarei. Mas peço que em troca a senhora também me ajude.

– Diga, como posso ajudá-lo?

– Meu amigo está sob o cárcere da Mão de Ferro, iriam solta-lo apenas se eu levasse até eles estas páginas, estes escritos de Adrava. Já não sei mais se ele vive, mas minha esperança ainda arde em algum lugar do meu peito.

– Eu posso traze-lo, isso não será problema.

Esperei o silencio que antecede o, “mas”.

– Mas, ele não poderá acordar até que retorne de sua tarefa – pequena pausa – digo isto porque o feitiço que utilizaremos para resgata-lo esgota a energia vital do ser que é transportado e para isso precisa de um longo repouso, cuidaremos deles nesse período.

– Eu não tenho palavras para expressar minha gratidão, meus atos falarão por mim.

– Tenho certeza que posso contar com você, forasteiro – Deslocou-se até mim pegando em minhas mãos. Seu toque era delicado, sua mão pequenina e macia perdia-se dentro do complexo de calos e rudeza que eram as minhas – Não será uma jornada fácil.

– Não se preocupe, nunca conheci esta palavra.

– Terás que destruir os pergaminhos com o fogo de Ovalir, somente assim aquelas páginas podem ser desintegradas. Ovalir era um bruxo como você que espalhou artefatos pelo mundo, dizem que a chama extraída de um Dragão fora condensada em um pedaço de carvalho juntamente com o sangue da fera. Ela pode reproduzir um fogo mágico capaz de consumir qualquer coisa.

– Isso parece muito poderoso, mas onde se encontra tal artefato?

– Dizem que ele o escondeu nas Terras Negras, no Vale dos Ossos Vermelhos.

Dorinn interviu de maneira abrupta.

– Mas minha rainha não podemos atravessar estas terras, todas as chaves foram destruídas.

– Nem todas, meu fiel conselheiro – sorriu de maneira indulgente – Ainda tenho a cópia de meu pai.

– O único problema é que terás somente um meio de entrada, depois de adentrar o plano, precisará encontrar uma maneira de sair por si só.

– Não se preocupe, eu dou um jeito – balancei a cabeça afirmando minhas palavras – Quando posso partir?

– Hoje à noite teremos uma convergência da lua, irei preparar a passagem, o chamo assim que estiver pronta – e se afastou desaparecendo torre a dentro.

– Você está assumindo um grande risco – disse Dorin com pesar.

– Apenas me importa a vida de meus amigos, por minha causa sofreram intempéries diversas, seu eu puder salvar alguém eu o farei. Já fiz coisas nessa vida pelas quais não meu orgulho Dorinn, considere isto um jeito de corrigi-las.

– A esperança do nosso povo está em você.

– E eu não deixarei que ela se apague.


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