O Código Bruxo escrita por Igor Feijó


Capítulo 10
A Cidade Sem Nome




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Desmontei do equino levando-o até os estábulos, as ruas antes iluminadas e com belas canções agora era tomada por lampiões fracos e dedilhados tristes.

“Mas o que aconteceu por aqui? ”

Me perguntava a cada passo no chão de pedras cinzentas, o animal reclamou com um relinchar característico, não podia reprimi-lo, no íntimo ele parecia sentir tanto quanto eu a energia do local. Chegando ao estábulo pude notar que não havia outros animais por perto, no canto sentado em uma cadeira velha um idoso esculpia em madeira sem levantar os olhos para averiguar minha chegada.

– Senhor? – Chamei-o mantendo a distância de seis côvados.

– Amarre o animal onde quiser, não cobrarei nada – comentou com a voz pesada anunciando uma tosse que não veio.

Joguei o saco de moedas próximo a seus pés.

– Isto é um serviço, não um favor, aceite o dinheiro.

– Tanto faz – completou levantando os olhos rapidamente para depois abaixa-los para e escultura.

Anunciei alguns passos quando resolvi fazer uma última pergunta.

– Me responda homem, estou em Papyria?

Um silêncio se estendeu sendo cortado apenas pelo som da navalha raspando o toco de madeira nas mãos do velho. Ele soltou o ar como se não aguentasse mais dar este tipo de informação.

– Um dia talvez, mas hoje é apenas um lugar sem nomes.

Caminhei pelas ruas entre as casas de pedra bruta e telhados de madeira, os becos fediam a cerveja barata e vômito, nas tavernas pouca música se fazia presente e dentre estas somente a tristeza se propagava, os instrumentos pareciam chorar por seus músicos. A cidade não possuía grandes construções, tudo era nivelado para não precisar ter mais do que dois andares, com menos de um dia era possível conhecer todas as ruas. Enquanto estudava a procura de uma taverna que pudesse me esclarecer o acontecido uma jovem cruzou meu caminho caindo a minha frente enquanto saía de um beco. Tinha os cabelos encaracolados que um dia foram castanhos, seu vestido estava sujo de lama assim como partes de seu corpo.

– Vocês está bem – fiz menção de ajuda-la.

– Não toque em mim – fez um movimento espantando minha aproximação ao mesmo tempo que tentava se levantar – não preciso de sua piedade forasteiro – cuspiu algo amarelado.

– O que aconteceu com você? – Ignorei sua grosseria.

– Já disse que estou bem! – Gritou parando a poucos centímetros do meu rosto, pude sentir a baba, tão bem quanto, o bafo podre de bebida barata.

– Não perderei meu tempo, passar bem - desviei para continuar meu caminho.

– Espere – ela arfou tentando me seduzir – Não quer se divertir um pouco? – Tossiu escarrando uma gosma amarela ao final.

– Não, obrigado – saí a passos apressados entrando em uma taverna próxima.

Ao mesmo tempo em que eu entrava um homem cruzava a janela em direção à rua indo se estatelar de cara no chão lamacento. Seu corpo não reproduziu a vontade de levantar e por lá ele ficou. No interior um taverneiro corpulento com poucos cabelos na cabeça batia as mãos limpando-as de uma sujeira que não existia.

– Malditos, acham que podem vir aqui e beber as minhas custas – resmungava enquanto se dirigia ao balcão.

Minha entrada fez com que sua raiva fosse redirecionada.

– Se vai beber, mostre o dinheiro antes.

– Acalme-se, não vim beber – espalmei as mãos num gesto passivo.

– Se não vai beber, veio fazer o que então? Não temos quartos.

– Posso pagar por informações – afastei a capa mostrando o saquinho de moedas.

Ele parou por um instante analisando o volume, mesmo não vendo o interior parecia contar mentalmente o conteúdo do mesmo.

– Está bem, aproxime-se forasteiro.

Acomodei-me em dos bancos altos, retirei uma moeda e a empurrei em sua direção.

– O que pode me dizer sobre este local? Como Papyria se tornou este tipo de cidade, aqui não era o berço das histórias, das belas histórias?

– Isto foi há muito tempo rapaz – esfregou o balcão com um pano sujo e maltrapilho – Esta cidade que procura não existe mais, os tempos são outros.

– Mas, pra onde foram as Contadores?

– Para o inferno – e não parecia haver brincadeiras em seu tom – Sumiram do dia para a noite como se nunca houvessem existido. Alguns tentaram continuar com o legado, mas como você mesmo viu a única coisa que conseguiram foi o repertório de uma balada triste e sem fim.

– Isso é muito estranho, não houve nenhum acontecimento antes? Nada que indicasse o desaparecimento em massa?

– Apenas o cheiro constante da morte a pairar por este local – olhou para entrada com os olhos perdidos, como se vagasse entre as lembranças a procura de algo.

– Aceito sua bebida agora – disse quebrando o silencio.

O homem virou não dando continuidade a seus movimentos.

– Você não deveria estar aqui – as palavras soaram com um toque arrastado como se houvesse arranhado sua garganta.

Na mesma hora e com velocidade assombrosa o taverneiro virou desferindo um golpe de cima para baixo mirando minha cabeça, desviei caindo no chão enquanto via o cutelo preso no balcão pela pancada fortemente aplicada. O paquiderme deu a volta indo ao meu encontro, seus olhos estavam encobertos por uma camada leitosa esbranquiçada e os dentes transformaram-se em navalhas pontudas prontas para desfiar e mastigar minha carne. Concentrei-me em uma cadeira próxima e com um movimento de mão arremessei-a contra seu corpo grande.

– Levilignum!

A pesada estrutura de madeira chocou-se contra o homem jogando-o para o outro lado do balcão. Corri para fora, a fim de, ganhar espaço. Nas ruas nenhum sinal de que alguém iria aparecer, a cidade permanecia calma tendo como pano de fundo a melodia triste das tavernas. O homem gritou de raiva com sua voz arranhada, investiu contra mim ignorando o chão lamacento, aproveitei sua falta de cuidado e usei um feitiço pra faze-lo escorregar.

– Cadent!

Algo invisível bateu contra suas pernas fazendo-o desabar de costas, o baque surdo veio acompanhado de um estalo, algo se partira no contato com o chão. Mesmo ferido não parecia sentir dor, ele tentava se levantar atrapalhado pela gordura ao mesmo tempo que sofria pela fratura.

– Droga, parece que eu não consigo ter uma simples conversa.

Aos poucos o grito do homem reverberou entre os becos da cidade, de lá outros gritos entraram em comunhão, seres da mesma linha se aproximavam envolvidos pelo chamado, minha sorte parecia ter aumentado.

Não era possível enfrentar tantos, além do número eu não conhecia a cidade tão bem, não poderia traçar rotas de fuga. Foi quando uma mão aveludada tapou minha boca me puxando para dentro de um dos becos, não pude reagir pois meu agressor me acertara na cabeça fazendo assim com que eu perdesse a consciência.


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