Chihiro to Sen no Kamikakushi escrita por Delvith


Capítulo 2
"É o poder do amor"


Notas iniciais do capítulo

Yo, mais um capítulo para vocês (o primeiro foi mais um prólogo, mas enfim)
Peço que me perdoem sobre os acentos graves e possivelmente alguns outros, mas a configuração do meu notebook é meio doida e eu não sei como fazer ~noob~



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“Recomponha-se, Chihiro. Esqueça.”

Mesmo que se esforçasse para fazer o que dizia a si mesma, Chihiro não conseguia. Principalmente naquela semana, a semana de seu aniversário. Todo aniversário ela sonhava acordada, imaginando a campainha tocando e, quando fosse atender, Kohaku estaria a sua espera.

Ela não conseguia deixar de filosofar sobre a aparência dele. O menino dragão jamais havia lhe dito sua idade, mas Chihiro supusera que ele teria aproximadamente 15 anos naquela época. Agora que Chihiro iria completar 20, ele teria 25. Provavelmente estava mais alto e pelo estilo dele, teria deixado o cabelo crescer.

“Dez anos, né... parece que foi ontem...”

Penteou o cabelo e amarrou as fitas de seu vestido. Sua mãe a criticava o tempo inteiro sobre suas roupas. Talvez a saudade tenha afetado o senso de moda da menina, mas agora suas roupas eram bem parecidas com as que ela vira no mundo dos deuses. A cor predominante era rosa, a cor que ela e Lin usavam para trabalhar. A garota era realmente incapaz de esquecer.

Ela não queria esquecer.

Forçou-se a se recompor. Não podia mais chorar sempre que lembrasse de seus amigos do mundo dos deuses, precisava, se não esquecer, ao menos superar. Terminou os preparativos e foi encontrar sua mãe. Com sua festa de aniversário tão próxima, sua casa estava uma loucura. Por algum motivo, sua mãe decidira fazer uma festa enorme.

–Chihiro! Por que demora tanto? Vamos nos atrasar, ande logo! – a irritação era perceptível no tom de sua mãe. Ela era bem o tipo de pessoa que não gosta de esperar.

“O jeito é entrar no clima.”

Aquela semana passou para Chihiro em uma velocidade absurda e logo já era sábado. Como todos os anos, comemorou com seus pais e amigos e, durante esse período, foi capaz de esquecer todas as suas tristezas e preocupações. Quando a noite caiu e a festa começou, a jovem se divertiu como não fazia há anos e acabou se sentindo grata pela preocupação de sua mãe em festejar aquela data.

~*v*~

Como sempre, a alegria de Chihiro não perdurou muito. Um mês havia se passado e agora a comemoração era outra: a família Ogino comemorava os dez anos que viviam naquela cidade, naquela casa azul no topo do morro. Era o dia da mudança.

O dia que Chihiro conhecera Haku.

Como todos os anos, preparou uma mochila e se despediu dos pais. Percorreu, a pé, um longo percurso, até chegar na entrada da pequena estradinha. Reverenciou as casinhas ao longo do caminho, saudando os espíritos ali morando e seguiu seu caminho. Não parecia tão longe quando seu pai a levara ali dirigindo a alta velocidade, mas quando caminhava, levava pelo menos meia hora para chegar ao portal de entrada.

Quando alcançou a estranha estátua de pedra, não foi mais capaz de conter a excitação e nervosismo e acabou correndo. O som de seus passos apressados ecoando naquele corredor trazia mais e mais memórias. Lembrava-se de pedir para ir embora, de agarrar o braço de sua mãe, de ficar maravilhada com a estrutura daquele prédio.

Lembrava-se também do som do trem. Era estranho, mas o som do trem era o que ela mais sentia falta quando voltava aquele lugar. Sem ele, parecia que o mundo havia murchado, desfragmentado e morrido. Desaparecido. E era disso que ela mais tinha medo. O trem também a fazia recordar de seus amigos Zeniba e Sem Face, o que tornava tudo mais doloroso.

Admirou o grande espaço que havia dentro no prédio, constituindo uma sala que dividia o grande corredor em dois. Viu a pequena fonte, o banco, as janelas com vidros belamente desenhados, os vitrais mais ricos e belos que já vira em vida. Sua coragem sempre se esvaia quando chegava neste salão. Pensava que ainda dava tempo de voltar sem se decepcionar mais uma vez, que já havia visto e lembrado o suficiente. Mas então o som do trem ressoava em sua memória e ela se forçava a continuar.

Mais alguns minutos foram necessários para que finalmente saísse do prédio. Avistou a sua frente o enorme campo. Viu a estátua de pedra que outrora jorrou a água que constituiria o imenso mar que aparecia com o anoitecer, mas que agora estava seca. Tirou os tênis amarelos e as meias para sentir a grama em seus pés e continuou.

Quando os restaurantes começaram a aparecer, o coração da menina se apertou fortemente, o que a obrigou a parar para recuperar a calma. Seguiu e sentou-se no banquinho onde seus pais haviam sentado. Tudo começara por causa daqueles restaurantes, aqueles cheiros, aquelas comidas. Foi uma experiência traumatizante e com certeza nada agradável para seus pais (que, felizmente, não se lembram de nada), mas Chihiro agradecia pelas coisas terem ocorrido daquele jeito. Fora capaz de ter experiências maravilhosas –ou não- e ainda pôde salvar seus pais. Não se arrependia de nada.

Calculando estar emocionalmente preparada, a jovem avançou a passo lento até a base da escada. Não tinha coragem de andar na velocidade normal, sentia como se tudo e ela mesma estivesse em câmera lenta. Lentamente, subiu os degraus, cada passo iniciado somente quando o anterior se completava. E assim sentiu como se horas tivessem passado só enquanto subia aqueles poucos degraus, mas enfim chegou até o topo. A alta estrutura que acendia-se quando a noite começava a cair e, logo atrás dela, a ponte.

Sempre que chegava ali, forçava-se a piscar o mínimo possível. Sonhava acordada com Haku estando ali quando ela abrisse os olhos e doía muito perceber a impossibilidade disto. Correu até o corrimão e jogou seu peso para cima, simulando a posição que fizera ao correr para ver o trem passar. Já que não era capaz de passar daquele ponto, na metade da ponte, ela sempre ficava ali, o ponto máximo que podia chegar. O ponto mais próximo de seu segundo mundo. Pegou um bolinho branco para comer enquanto observava os trilhos abandonados, o enorme campo, a cidade ao longe para onde Lin um dia desejara ir. E assim ficou até depois do anoitecer. Só se forçou a sair dali quando percebera o quão tarde era. Seus pais já haviam desistido de entender o que ela fazia e brigar com ela por chegar tão tarde nesse dia, todos os anos, então não havia problema. Se Chihiro se retirava do local era pura e simplesmente porque não conseguiria permanecer até o dia seguinte.

Como muitas vezes antes, Ogino caminhou até o início da ponte e largou a mochila no chão. Amarrou as mangas em um ato inútil, mas automático. E correu. Correu em busca de seu outro mundo, em busca de Haku, em busca de Lin e Kamaji, em busca até mesmo de Yubaba. Apenas correu.

E como muitas vezes antes, a magia interrompeu sua corrida, barrando seu caminho e jogando-a longe.

Como já esperava a rejeição, Chihiro pegou a bolsa térmica cheia de gelo e retirou dali uma bolsa com água, usada para não haver inchaço na região onde bateu contra o chão. Juntou suas coisas e fez o caminho inverso de algumas horas antes, mas agora já não via nada. Via apenas borrões e manchas, pois as lágrimas turvavam sua visão. Não sabia porque ainda fazia aquilo consigo mesma todos os anos, mas a menina se via incapaz de parar.

Seu último ritual era observar o prédio. Ficava alguns minutos observando sua base, para garantir que não se mexia. E então, voltava para casa, sentindo-se frustrada e cansada e, por algum estranho motivo, esperançosa. Voltar ali sempre destruía uma parte dela e renovava outra. Sua vontade desmoronava, mas sua esperança era rejuvenescida.

Por dez anos, essa foi a vida de Chihiro. Ilusões quebradas, sonhos desmanchados. Memórias revividas, esperanças rejuvenescidas.

Amor fortalecido.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que tá bem dramático, desculpem haha
Mas espero que estejam gostando



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