Chihiro to Sen no Kamikakushi escrita por Delvith


Capítulo 3
Sei que encontrarei você


Notas iniciais do capítulo

*A música "Itsumo nando demo", não me pertence, sendo composição de Kimura Yumi
Eu fiquei bem confusa sobre como colocar certas coisas e dividir esse capítulo, mas espero que gostem



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/610161/chapter/3

Chihiro percorreu as ruas mal iluminadas de sua pequena cidade, sem o menor desejo de retornar a casa. A menina adoraria dormir na ponte, porém, acreditava que aquilo seria extrema falta de consideração para com seus pais. Os dois já não tinham ideia do que acontecia com ela e, mesmo assim, deram permissão para que fizesse esse passeio todos os anos. O mínimo que podia fazer era não preocupa-los ainda mais. Mesmo que pensasse isso, porém, seu corpo não obedecia o que seu cérebro dizia, conduzindo Chihiro a qualquer lugar em qualquer direção, exceto a que levaria a menina para casa.

A jovem caminhou pelas ruas mal iluminadas sem medo ou apreensão. A cidade era pequena, “um fim de mundo”, como sua mãe a definia. Todos se conheciam e respeitavam, portanto, os índices de assalto eram quase zero. Os únicos casos ocorriam na estrada, onde alguns criminosos ocasionalmente tentavam saquear algum caminhão cheio de carga. Então seus pensamentos não precisavam divergir para analisar sua situação atual. Estava segura.

E, em sua segurança, sentiu fome. Tudo o que havia comido era uma espécia de bolo, receita que ela inventou para simular a comida que Lin arrumava para que elas pudessem jantar. Entretanto, não era algo que realmente a saciasse quando a fome aparecia, então decidiu ir comprar comida. Essa seria uma ótima desculpa para o tempo extra e evitaria perguntas por parte de seus pais. Como todos os fatores eram favoráveis para que não houvesse preocupação com ela, como a segurança da cidade, a sua responsabilidade e a cópia da chave que sempre carregava consigo, Chihiro sempre rezava para que seus pais dormissem sem esperar por ela. Mas isso nunca acontecia.

Optou por comer algo como pão ou bolo, então se dirigiu ansiosamente a padaria mais próxima. Além de mais próxima, essa padaria continha um relógio na entrada, o que permitiu que a menina constatasse, assustada, que já passava da meia noite. Sua sorte era que aquele estabelecimento só fechava dali há uma hora. Entrou sob os olhares curiosos dos funcionários e alguns poucos clientes. Ignorou o constrangimento, cumprimentou a todos, pegou o que desejava e saiu. Já estava na porta quando percebeu que estava indo embora sem pagar, então correu para o caixa, de cabeça baixa, e entregou o dinheiro para a gentil moça da caixa registradora.

– Não se preocupe, Chihiro, essas coisas acontecem. – Quando ouviu essas palavras, Chihiro foi capaz de erguer a cabeça e seus olhos castanhos miraram os azuis profundos daquela senhorita ruiva, Himawari.

– Às vezes a vida fica um pouco difícil, é natural. Mas seja forte, sim? Tome, para te animar um pouco. – Junto com às compras, Himawari colocou duas barras de chocolates, as preferidas de Ogino. Confusa com o gesto, demorou um instante para perceber que era cliente regular daquele estabelecimento e, em todas as suas compras, levava aquelas barras. Estava tão avoada hoje que acabara se esquecendo.

Sem saber muito bem como agradecer um gesto tão bonito, afinal, Himawari estava se preocupando com ela e ainda dando produtos, Chihiro só foi capaz de gaguejar palavras desconexas e confusas. Seus olhos estavam marejados. Himawari soltou uma risada.

– Chocolate é muito bom quando se está triste. Coragem, Chihiro.

A menina se inclinou em reverência, abraçou a sacola com os dois braços e saiu correndo, de volta para sua casa.

Seus pais foram dormir depois de uma explicação quase monossilábica, dada apenas para manter a relação filha e pais onde a filha tem de explicar para onde estava e o que fez.

Chihiro colocou a sacola na mesa da cozinha e guardou as coisas. Preparou um lanche chamado “cachorro-quente”, uma comida basicamente de pão e salsicha que ela havia visto em um blog na internet, cortou algumas fatias de bolo e levou tudo para o seu quarto, junto com um copo de leite e os chocolates. Sem saber muito o que fazer, resolveu escrever. Sempre fora boa com histórias fantasiosas, então ela usava seu tempo livre para criar contos. Servia como uma espécie de terapia, já que, ao criar novas aventuras fantásticas, não pensava nas que já viveu. Sua mente ficava ocupada e viajava para longe, longe o suficiente para as lembranças não serem capazes de alcança-la.

A menina, porém, esqueceu que a madrugada já havia chegado. O sono roubou suas forças e Chihiro acabou dormindo sobre sua escrivaninha, em cima de seus rascunhos de histórias e personagens. Em seus sonhos, viu Haku.

– Yubaba, cumpri minha promessa e trouxe seu filho de volta. Me liberte do contrato.

– Por que eu faria isso? Você não é ninguém sem mim, seu ingrato! Um aprendiz de feiticeira como você, que só sabe realizar os serviços sujos dos outros, não achará espaço no mundo dela. Já cumpri minha parte, permiti que a garota e seus pais partissem mas, como disse antes, sua libertação não estava inclusa. Desista, Haku.

A sala que Yubaba estava com Haku era um pouco diferente do escritório que Chihiro conhecia. Ao mesmo tempo que parecia o mesmo cômodo, algo fazia o ambiente ser algo completamente distinto do original. Talvez fossem as cores ou a posição dos móveis.

A bruxa estava sentada em uma cadeira simples, mas muito bela, próxima a lareira. Seus dedos cruzavam-se e seus cotovelos se apoiavam nos braços da cadeira. Suas feições estavam marcadas pela fúria e irritação.

Haku, porém, permanecia na sua posição calma e serena de sempre.

– Meu nome não é Haku.

O corpo de Chihiro teve um espasmo, fazendo-a cair no chão. Pulou e girou em volta de si mesma, com os braços em posição defensiva, como se o mal estivesse ali, no seu quarto. A expressão de Yubaba que Chihiro viu um milésimo de segundo antes de acordar fora simplesmente assustadora.

Perturbada, a menina sentou-se na borda da cama e apoiou a cabeça nas mãos. Nunca tivera aquele sonho antes e não sabia porque isso aconteceu logo agora. A cena provavelmente não era real, mas se fosse, parecia ter ocorrido logo após sua partida. Não fazia sentido só ter sonhado com ela agora.

Estaria Haku em perigo?

Por alguns minutos, Chihiro foi incapaz de se mexer. Gotículas de suor começaram a nascer em seu corpo trêmulo e paralisado por conta do medo. Durante todos esses anos, perguntou-se o que havia acontecido, mas agora percebia que nunca havia ponderado a possibilidade de Haku estar em apuros.

Em um ato instintivo, pegou sua mochila e abriu a janela de seu quarto. Chihiro dormia no segundo andar, mas havia uma árvore cujos galhos ficavam próximos o suficiente para que pudesse descer escalando. Quando precisava sair urgentemente, aquela era sua rota de fuga.

De pijamas e descalça, Chihiro disparou em direção ao prédio abandonado. Todos os rituais que realizava quando ia ali agora foram simplesmente esquecidos, vistos como idiotices sem importância. Tudo se resumia em encontrar Haku.

Subiu os degraus aos pulos, indo de dois em dois, e avançou para a ponte. Lembrou-se da magia tarde demais para interromper a corrida. Fechou os olhos e colocou os braços em frente ao rosto, protegendo-se do impacto que viria. Dessa vez, a magia foi tão forte que arremessou Chihiro até a base da escada. Mesmo com dor, porém, ela não podia se dar ao luxo de parar.

Continuou a correr e ser repelida, várias e várias vezes, a ponto de seu corpo estar tão machucado que ela já não era mais capaz de sentir dor. Desistiu desse método e começou a bater na parede invisível, os olhos turvos e o chão encharcado com as lágrimas que não paravam de cair. Socou e chutou durante muito tempo, até que resolveu usar sua mochila de arma. Nenhum esforço era frutífero.

Sem mais forças, sentou-se no chão, com as costas apoiadas na parede mágica e chorou.

E quando as lágrimas não eram mais capazes de aliviar o aperto em seu coração, cantou.

“Em algum lugar, uma voz chama do fundo do meu coração
Que eu possa sempre sonhar os sonhos que tocam meu coração
Tantas lágrimas de tristeza, incontáveis lágrimas rolaram
Mas sei que do outro lado encontrarei você
Toda vez que caímos no chão, olhamos para o céu lá no alto
E acordamos para a sua imensidão azul, como se fosse a primeira vez
Como o caminho é longo e solitário e não enxergamos o fim
Posso abraçar a luz com meus dois braços

Quando digo adeus, meu coração pára, com ternura eu sinto
Que meu corpo silencioso passa a ouvir o que é real
O milagre da vida, O milagre da morte
O vento, a cidade, as flores, todos nós dançamos em união

Em algum lugar uma voz chama, do fundo do meu coração
Continue sonhando seus sonhos, nunca os deixe morrer
Por que falar de sua melancolia ou dos tristes pesares da vida?
Deixe seus lábios cantarem uma linda canção para você
Não esqueceremos a voz sussurrante, em cada lembrança ela ficará
Para sempre, para guiar você
Quando um espelho se quebra, estilhaços se espalham pelo chão
Lampejos de uma vida nova refletem-se por toda parte

Janela de um recomeço, silêncio, nova luz da aurora
Deixe que meu corpo vazio e silente seja preenchido e nasça outra vez,
Não é preciso procurar lá fora nem velejar através do mar
Porque brilha aqui dentro de mim, está bem aqui dentro de mim
Encontrei uma luz que está sempre comigo”

A música “Itsumo nando demo” não parava de ressoar em sua mente, então Chihiro continuou cantando, sua voz unindo-se a voz da cantora.

"Mas sei que do outro lado encontrarei você...“

Uma energia renovada se apoderou da menina. Determinada, Chihiro voltou a jogar-se contra a magia. Parava por alguns instantes e cantava para recuperar as forças. Desceu as escadas, se preparou e correu.

Por algum motivo, a lembrança de que seria interrompida fez com que, no último instante, Chihiro vacilasse na corrida, como se quisesse parar. Mas já era tarde demais. Preparou-se, desajeitada, para o doloroso encontro.

Mas a colisão não ocorreu.

A ausência da barreira mágica não estava nos planos de Chihiro, então a garota se descontrolou e caiu escorregando.

Pela primeira vez em dez anos, Chihiro ultrapassou a ponte. Era finalmente capaz de entrar na casa de Yubaba. Era finalmente capaz de descobrir o que aconteceu.

Era finalmente capaz de encontrar Haku.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem ^^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Chihiro to Sen no Kamikakushi" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.