Alguns dizem que o mundo acabará em fogo, outros dizem que em gelo. Pelo que já provei do desejo, fico com quem prefere o fogo...

Se pararmos para analisar nossas vidas costumamos tomar decisões o tempo todo, varias vezes ao dia desde o momento em que abrimos os olhos pela manhã até quando os fechamos a noite, são pequenas decisões que decidiram o trajeto do nosso dia, seja a ordem das coisas, o que você vai usar, comer, o caminho que vai fazer. Até mesmo aqueles movimentos repetitivos da rotina são uma decisão sua. À primeira vista essas escolhas parecem pequenas, mas em se pensarmos em um todo elas acabando sendo grande parte das nossas vidas.

Pequenas decisões a parte existe sempre um momento em que temos que fazer uma escolha um pouco maior que vai causar uma consequência maior. Essas são as escolhas que mudam as nossas vidas e as vezes mudam a de outras pessoas também. E esse era um desses momentos. Verdade seja dita a alguns meses eu jamais cogitaria escolher passar minha vida com alguém que não fosse Gale, eu teria escolhido ficar com ele sem pensar duas vezes, porém a vida me mostrou diversas vezes que as coisas mudam e os últimos meses com Peeta haviam mudado isso.  Mas eu não poderia continuar com isso não podia mais continuar dividida entre Gale e Peeta, e embora eu tenha pensado muito na noite passada no fim não havia um critério de escolha, no fim eu escolhi de uma maneira um tanto egoísta, escolhi aquele que julguei não conseguir viver sem. 

Já passava do meio dia quando ouvi o barulho de um carro, olhei pela janela do quarto e vi Peeta descendo de um taxi sem olhar para nenhuma direção ele fez o caminho pelo jardim arrastando a mala, me sentei na ponta da cama olhando a porta do quarto com atenção e não demorou para que eu escutasse os passos dele subindo as escadas. Ele parou surpreso na porta no momento em que me viu, provavelmente o plano era chegar enquanto eu estivesse no colégio.

Ele estava ligeiramente abatido e me senti péssima por isso, a barba estava por fazer embora não estivesse grande demais, algumas olheiras estavam nítidas em seus olhos, a camisa social estava ligeiramente amarotada e dobrada até o antebraço.

— Peeta – comecei enquanto ele deixava a mala no canto – Precisamos conversar – ele não olhou para mim, apenas pegou a pasta que estava em cima da mala e foi em direção ao closet.

— Mais tarde Katniss – a voz dele estava cansada, fui ate a porta do closet e o vi sentado no puff no centro a pasta jogada ao lado.

— Já adiamos essa conversa o suficiente Peeta – eu precisava acabar com aquela agonia de uma vez – Por favor – ele suspirou e se levantou, voltei para o quarto e me sentei na cama esperando por ele.

— Não quero transformar isso na discussão do século Katniss então, vamos direto ao ponto – ele estava com um envelope em mãos quando voltou para o quarto – Eu não quero brigar então a melhor coisa e manter isso de forma civilizada se não for por nos que seja pela Prim, sua irmã não merece assistir um furacão na vida da irmã mais velha – ele me olhou por um instante antes de estender o envelope.

— O que é isso?

— Os papeis do divorcio, como disse não vou te prender a mim você não vai precisar partir para o litigioso. Nosso casamento foi realizado em separação de bens como todos os casamentos tradicionais já que supostamente a palavra deveria valer mais do que um papel - eu sabia que essa era uma simbologia que começou em uma época onde as famílias não queriam perder seus patrimônios e sempre funcionou desde então – Estou deixando a casa para você com tudo que esta aqui, vou levar só meus pertences pessoais, assim que os documentos do seu carro ficar pronto ele será seu, nossa conta conjunta será fechada, mas vou abrir uma em seu nome onde depositarei um valor determinado até o fim do processo, vou continuar responsável pelo pagamento da clinica onde sua mãe esta assim como o colégio da Prim mantendo assim meu acordo verbal com seu avô. A guarda da Prim continua com você e se seu avô quiser de volta eu mesmo faço questão de providenciar um advogado para você então não se preocupe com isso.

— Peeta... – olhei o envelope na minha mão, mas não o abri.

— Acho um acordo justo, mas estou aberto a negociação consulte um advogado e pede para que ele me procure eu mesmo vou me representar. Ainda hoje eu volto para casa dos meus pais – ele estava tendo um monologo e evitava olhar em meus olhos e no momento em que ele se virou em direção a porta fui mais rápida passando por ele e fechando a mesma com força, ele precisava me ouvir.

— Você disse o que tinha que dizer, agora é a minha vez – tranquei a porta e tirei a chave em uma atitude um tanto infantil, mas pelo menos me daria a certeza de que ele me ouviria até o final – Pelo jeito vamos ter que partir para o litigioso sim – ele me olhou confuso – Porque eu não quero e não vou assinar esses papeis Peeta então se você vai querer seguir com isso se prepare um longo processo judicial que vai ser realmente longo levando em conta que estou disposta a usar todas brechas possíveis que a tradição tem para impedir isso - rasguei o envelope no meio jogando ele no chão de qualquer jeito.

— Por que você quer dificultar Katniss? – ele cruzou os braços me olhando nos olhos pela primeira vez desde que chegou.

— Porque não quero me separar de você Peeta – dei um passo em direção a ele e mantive nosso contato visual – Eu fiz um juramento Peeta, um juramento que na época não queria, mas que agora é tudo que eu mais quero. Sem mentiras, sem segredos eu estou aqui parada na sua frente disposta a abrir meu coração pra você – respirei fundo sem saber ao certo como começar – Nos últimos dias eu pensei muito, e eu sei que não fui justa com você, que escondi coisas importantes e mereço sua raiva e sua magoa, mas eu quero a oportunidade de compensar você a oportunidade de me desculpar. Você fez por mim coisas incríveis que eu nunca esperei.

— Katniss eu não quero a sua gratidão.

— Não é gratidão Peeta – e de fato não era – Talvez eu não seja boa em amar, eu amei tão pouco nos últimos anos que não sou a melhor pessoa em demostrar isso, e sei menos ainda ser amada, mas eu sei que quando você ama alguém você tem medo de perder porque viver sem esse alguém e quase impossível e os dias sem você aqui foram terríveis eu me senti miserável sem você porque eu demorei a ver, mas é nos seus braços que quero estar a cada fim do dia, são seus olhos que me acalmam e me dão sentido – dei mais um passo – Eu não quero mais segredos então eu preciso dizer que hoje eu fui encontrar o Gale porque eu precisava falar com ele – ele desviou o olhar, mas eu continuei – Precisávamos por um ponto final na nossa historia.

— Katniss ...

— Me escuta, por favor – pedi – Eu conheci Gale a uns dois anos e acabamos nos envolvendo eu me apaixone por ele, mas como você pode imaginar ele não era o que meu avô considerava um bom partido e havia todo o acordo para o nosso casamento, então começamos a namorar escondidos ou pelo menos eu achava que era já que no fim eu descobri que meu vô sempre soube. Quando você voltou ao Distrito eu combinei de fugir com ele, iriamos fugir uma noite após a oficialização do nosso noivado, eu não conhecia você eu amava ele e não podíamos ficar juntos porque meu avô ameaçou me proibir de ver a Prim e de providenciar um marido pra ela – ele me olhou com atenção novamente – Então eu decidi que ia pegar minha irmã e fugir com ele um dia depois de conhecer você. Eu confesso que quando eu te conheci, quando você pediu minha mão eu pensei esse cara não merece isso, eu pensei que seria mais fácil se você fosse um ogro, mas ainda sim sem qualquer explicação eu peguei Prim na noite seguinte e fui para estação de trem. Mas ele não apareceu e eu tive que voltar pra casa e arrumar uma desculpa pra minha irmã. Eu não consegui falar com Gale depois disso já que meu avô colocou Seneca para me vigiar. Na festa da estação eu o vi indo embora ele tinha aceito entrar para corporação e foi por isso que fiquei naquele estado. Então eu comecei a conhecer você e você foi sempre incrível comigo e eu pensei que no fundo eu tinha sorte afinal quantas pessoas tem a sorte de ter alguém como você por perto. Eu encontrei Gale no Distrito 2 no parque pra ser mais exata, mas não houve como conversarmos e depois eu o vi só naquele dia em frente a doceria e depois no jantar, mas nos mau nos falamos você viu. Eu queria fazer nosso casamento dar certo eu queria ser feliz com você, Gale era meu passado ele tinha ido embora eu achei que ele não sentia mais nada e eu comecei a deixar você entrar.  A algumas semanas ele me procurou pediu pra conversar comigo então eu o encontrei na floresta e ele me explicou os motivos dele, basicamente ele escolheu a família dele assim como eu e confesso que fiquei mexida com isso porque eu achava que o que tínhamos vivido era uma mentira.

— Foi o dia da visita a faculdade não é? – confirmei com a cabeça

— Eu não sabia o que fazer, estava tudo confuso, mas eu juro que nada aconteceu e depois eu só fui encontra-lo aquele dia, ele apareceu na porta do colégio e eu fui falar com ele e ele propôs que eu pedisse o divorcio, mas a ideia não veio de mim.

— Ainda sim é a solução perfeita para vocês ficarem juntos.

— Como eu disse antes minha semana foi miserável sem você, ainda sim eu tive tempo para pensar e hoje eu fui vê-lo para deixar as coisas claras entre a gente e devolver a pulseira. Não vou mentir pra você, Gale foi importante demais na minha vida e eu não me arrependo do que vivemos e de certa forma ele sempre vai ser, mas foi você que esteva ao meu lado quando ele me magoou, você me fez feliz quando eu achei que não conseguiria sorrir de novo. E de alguma forma que nem eu entendo no momento que você saiu pela porta eu senti uma dor muito maior e agora eu sei que Gale é meu passado, você é meu presente e quero que seja o meu futuro  – coloquei a mão em seu rosto com carinho – Eu acho que não consigo viver sem você Peeta Abernathy  Mellark, eu não sei quando, mas eu passei a amar você de uma maneira que eu não consigo explicar e quero passar minha vida com você se você ainda quiser porque eu escolho você só você.  

Olhei naquela imensidão azul que eu descobri amar tanto esperando uma resposta, um gesto qualquer coisa que acalmasse meu coração.

...Mas se tivesse que perecer duas vezes. Acho que conheço o suficiente do ódio para saber que para a ruína o gelo também é ótimo e bastaria.