Ver Peeta sair pela porta do nosso quarto acabou comigo, eu vi nos olhos dele o quanto eu tinha magoado ele e me senti a pior pessoa do mundo por isso. Levei alguns instantes para correr em direção ao andar de baixo e assim que abri a porta da sala pude ver ele saindo da garagem. Assim que fechei a porta deixei as lagrimas que havia segurado durante a nossa conversa cair, não era para ser assim não era para ele sair magoado dessa historia.

Peeta havia me dado um mundo novo nos últimos meses, olhei as fotos em cima da lareira da sala e observei atentamente cada uma delas uma foto do nosso ensaio antes do casamento, a ultima foto que tiramos naquele dia um de frente para o outro próximo ao lago. A outra era do dia da mudança uma selfie no sofá que ele tinha tirado, eu estava entre ele e Prim sendo amaçada pelos dois que riam com tanta naturalidade confesso que no primeiro momento eu não tinha gostado nada da foto, mas depois o sorriso da minha irmã me fez mudar de ideia, era tão natural quanto a foto. A foto com minha mãe no casamento e outra com os pais dele pequenos momentos que fizeram cada dia que passamos juntos únicos.

— Senhora – sequei minhas lagrimas com a mão antes de me virar para Lavinia que parecia muito sem graça, ela provavelmente não tinha ouvido nada já que não gritamos e eu sabia que ela não era de ouvir atrás das portas, mas estava claro que algo havia acontecido – O que eu faço para o jantar?

— Não precisa fazer nada Lavinia, não vou jantar, Prim saiu e provavelmente vai se encher de besteira fora e o Peeta precisou viajar hoje – as ultimas palavras saíram quase que como um sussurro – Um copo quebrou no escritório, você pode limpar, por favor – ela concordou com a cabeça – Depois você esta dispensada por hoje.

Segui de volta para o quarto e me deitei na cama e o perfume dele se fez presente no mesmo instante era como se ele estivesse impregnando em toda cama, eu não tinha ideia do que seria da minha vida a partir de agora, só sabia que as coisas deveriam ter acontecido de outra maneira, não tenho ideia do tempo que fiquei deitada perdida em pensamentos até ouvir batidas na porta.

— Katniss – Prim chamou do outro lado e me sentei tentando parecer normal antes de pedir para que ela entrasse.

— Oi patinha, como foi o passeio? – ela se aproximou se sentando na cama de frente para mim e sorri para minha irmã mais nova.

— Foi bom, o filme foi bem legal.

— Que bom, você já jantou?

— Sim, passamos na lanchonete na volta encontramos com o Thresh ai já viu – ela brincou e sorri de leve – Delly tentou ligar para avisar, mas você não atendeu.

— Estava com dor de cabeça, fiquei aqui deitada nem sei onde esta meu celular – menti e sei que ela notou, mas nada disse sobre isso.  

— Cadê o Peeta? – eu não sabia o que dizer a ela então menti novamente.

— Ele precisou adiantar a viagem ao Distrito 11. E eu achei melhor ficar, ele vai trabalhar bastante não quero atrapalhar sabe como é.

— Que pena, mas nas férias vamos viajar e vai ser bem legal – concordei com a cabeça – Peeta disse que se o Denis tirar boas notas ele pode ir com a gente, vai ser bem legal.

— Vai ser legal sim.

— Você esta bem mesmo Katniss?

— É só uma dor de cabeça Prim, vamos lá já passou da hora de você ir dormir mocinha – ela concordou e me deu um beijo antes sair em direção ao próprio quarto.

Desci para verificar se a casa estava fechada antes de passar um bom tempo no chuveiro pensando em tudo o que tinha acontecido naquele dia, tentei ligar para ele antes de me deitar, mas as três ligações que fiz caíram direto na caixa postal e comecei sentir um aperto no peito ainda maior pensando em onde ele estava. Ele havia saído com tanta pressa, ele estava tão magoado e eu sabia que ele estava com raiva e diversas coisas começaram a passar pela minha cabeça nenhuma dela era boa.

Acabei passando a noite em claro, deitada no escuro olhando constantemente para o celular em busca de qualquer sinal dele, sinal esse que não apareceu durante toda a noite. Me forcei a descer e tentei parecer bem enquanto tomava café com minha irmã, liguei para casa dos meus sogros avisando que tinha ficado e que eles não precisariam ficar com a Prim naquele final de semana. Peeta não atendeu nenhuma das minhas ligações durante o fim de semana inteiro, mas soube que ele estava bem quando ouvi Prim conversando com ele no sábado a tarde no telefone de casa.

Segunda feira eu não fui para o colégio, não estava bem para isso e no fundo esperava que ele voltasse, mas ele não voltou assim como não voltou na terça nem na quarta. Ele não atendeu nenhuma das minhas ligações e isso estava me deixando cada dia pior. Na terça-feira Gale estava na porta do colégio, mas eu fingi não vê-lo fazendo meu caminho para casa, por sorte não tinha como ele me seguir já que estava de carro. Na segunda pela manhã vieram trazer o carro dele que segundo o rapaz que entregou as chaves Peeta havia deixado no aeroporto e ligado naquela manhã no escritório  pedindo que me trouxessem. Mesmo com raiva ele ainda se preocupava com como as coisas iam ficar em casa e não pude deixar de pensar no homem incrível que tinha me casado. Na quarta o moreno  não estava lá, mas recebi diversas mensagens e ligações no meu celular, não sei como Gale conseguiu meu numero, mas não atendi ou respondi nenhuma delas eu precisava pensar e mesmo sabendo que ele estava preocupado mantive o silencio.

— Katniss – Prim entrou no meu quarto devagarinho e se sentou do meu lado na cama – Você esta bem?

— Estou – menti estava claro que eu não estava, eu mau dormi nas ultimas noites eu tinha me acostumado a presença dele ao meu lado, e nas ultimas semanas havia dormido abraçada a ele todas as noites – Acho que foi todo o stress da mudança, das provas nova rotina.

— Posso ficar aqui com você hoje? – concordei com a cabeça e ela deitou no lugar do Peeta me abraçando, ficamos em silencio por um momento – Vocês brigaram não é?

— Prim ...

— Não sei porque vocês insistem em mentir para mim, os dois são péssimos mentirosos – acabei rindo – Não sei o que aconteceu, mas sei que vocês vão resolver as coisas, todo casal briga Katniss, mas vocês se amam – senti um nó se formar na minha garganta ouvindo minha pequena grande adulta.

— É mesmo, como você sabe disso? – nem eu sabia direito meus próprios sentimentos e minha irmã estava denominando eles pra mim.

— Eu moro com vocês se esqueceu, acha que eu não vejo como vocês se olham e você sorri de um jeito diferente quando esta com ele, eu nunca te vi tão leve Katniss e ele. Bom Peeta olha para você como se estivesse vendo a coisa mais preciosa do mundo, e da pra notar que ele não esta bem também pela voz dele no telefone – ele falava com ela todos os dias.

— É complicado.

— Não acho, sei que os dois não estão se falando o que soa um pouco infantil, mas sei que querem se falar porque toda vez que pergunto para ele se quer que eu passe o telefone para você ele hesita antes de negar e você fica rodeando esperando ele pedir para falar com você – abracei ela um pouco mais.

— Melhor a gente dormir esta tarde.

— Ok, boa noite Katniss.

— Boa noite patinha – ficamos em silencio por um tempo enquanto pensava no que ela tinha acabado de dizer.

— Ele volta amanhã – a voz dela estava sonolenta – Sei que não perguntou nem nada e ele não pediu para avisar, mas ele volta amanhã porque ele disse ontem que precisava estar aqui até sexta para uma reunião.   

Passei a maior parte da noite pensando no que fazer, a volta dele significa que precisava conversar com ele, eu precisava saber o que dizer o que fazer eu sabia que não poderia ficar fugindo do Gale também eu precisava me resolver com os dois então acabei pensando em cada um deles. Duas partes distintas da minha vida.

Gale era como o fogo, o que sentia era intenso e sem controle, eu não costumava pensar quando estávamos juntos era como se não conseguisse me controlar como se tudo que importasse fosse aquele momento e nada mais. Peeta era a água do mar me passava calma tranquilidade estar com ele me dava a sensação de ter todo o tempo do mundo, como se pudesse me dar ao luxo de aproveitar cada instante.

Mas em meio ao fogo Gale era meu pequeno paraíso em meio a minha vida conturbada, ele havia sido minha paz quando minha vida parecia que desmoronaria ele era minha fuga e ao mesmo tempo minha rebeldia. Juntos criamos um mundo nosso e nele dividimos sonhos incríveis que se tivessem se tornado reais seriam meu paraíso. Foi pouco mais de um ano, mas sempre senti que vivi uma vida com toda a intensidade que dividíamos naquelas pequenos momentos no nosso refugio. Eu o amei tanto e tão imensamente que ouve momentos que pensei que ele era meu oxigênio.   

Peeta em meio a calmaria do oceano consegui em determinados momentos me levar a loucura, me fazia perder o sentido com um simples toque ele me fazia esquecer tudo em volta, nesses momentos era como enfrentar uma tempestade de emoções e sensações juntas.  Ele era uma das melhores pessoas que conheci, carinhoso, amoroso nos últimos meses tinha sido tudo que eu precisava, ele havia feito por mim mais do que eu merecia e confesso que gostava de estar com ele, gostava de como ele me tratava, éramos íntimos de um jeito que não era do Gale, de um jeito que não tive a oportunidade de ser porque o que vivi com Peeta era totalmente diferente do que vivi com Gale, não era escondido ou com tempo limitado não precisava ser intenso o tempo todo era calmo a maior parte do tempo embora fosse intenso em outros.

O dia amanheceu mais rápido do que esperava, e quando o relógio despertou me levantei decidida eu não podia continuar vivendo dessa forma, nenhum de nos merecia então quando desci as escadas naquela quinta-feira após mandar uma mensagem de texto estava decidida. Prim pediu para faltar a aula de etiqueta e ir a passar a tarde com Denis na casa dos meus sogros e não fiz objeção, no fundo eu sabia que ela queria me dar espaço para conversar com Peeta. Dei folga a Lavinia pelo resto da tarde e assim que deixei minha irmã na porta do colégio senti meu celular vibrar.

“Estarei lá, eu te amo. G”  

Respirei fundo antes de seguir em direção a floresta determinada, ironicamente me lembrei de um poema que o professor leu na aula acho que era de um tal de Frost não sei ao certo ele viveu em outro tempo, mas pensar no dilema de Fogo e Gelo fez meus pensamentos da noite anterior se encaixarem de uma maneira um tanto disfuncional. Estacionei o carro e fiz o caminho conhecido pela floresta e assim que cheguei ao nosso lugar de encontro não encontrei ninguém.

Me encostei em uma das arvores e esperei ansiosa olhando o relógio algumas vezes, ele estava atrasado. Alguns minutos depois ouvi alguns galhos quebrando e como um déjà-vu o vi chegando com um sorriso enorme.