Quando Peeta me falou sobre ir a inauguração do restaurante não dei muita atenção, afinal a possibilidade disso acontecer era quase nula, na minha cabeça Snow nunca me deixaria viajar com ele antes do casamento, afinal não íamos sozinhos a praticamente nenhum lugar, era como se ele de certa forma temesse que eu falasse demais ou que Peeta descobrisse sobre Gale. Mas para minha surpresa ao invés de ir para o colégio na sexta feira eu embarquei bem cedo  junto com  Prim, Mags e os três Mellark em um jatinho particular para o Distrito 2. Não tenho a menor ideia de como Peeta conseguiu convencer meu avô a permitir isso não sei se ele realmente era persuasivo, se meu avô estava tão desesperado com essa união que faria qualquer coisa que ele pedisse, ou na pior das hipóteses ele ganhou algum dinheiro para permitir que fossemos.   

Chegamos ao nosso destino no meio da tarde e fiquei impressionada com a diferença entre os Distritos, o Distrito 12 era cercado pela floresta e mesmo no centro podíamos ver árvores espalhadas em praças, era possível ver jardins de tamanhos diversos dividindo as casas e o maior prédio tinha no máximo cinco andares. O Distrito 2 por outro lado tinha um hidroelétrica enorme que foi a primeira coisa que avistei enquanto sobrevoávamos em direção ao aeroporto, e durante o trajeto de carro até o hotel pude ver que o verde não era frequente por aqui, prédios de tamanhos diversos ocupavam grande parte das ruas, o numero de veículos era no mínimo dez vezes maior do que no 12 o que me fez ver de perto pela primeira vez o que é transito de verdade.

Prim estava animadíssima em conhecer tudo sobre o 2, e acabou pegando Effie para responder suas curiosidades, durante as ultimas semanas com todos o preparativos as duas vinham se dando muito bem, minha irmã adorava o jeito singular e animado da matriarca dos Mellark que parecia apreciar a empolgação dela. Assim que chegamos no hotel não tivemos nem tempo de desfazer as malas, já que Effie havia marcado hora no salão do hotel para todas nós o que deixou Mags um pouco sem jeito, assim que terminamos tivemos tempo apenas de trocarmos de roupa e seguirmos direto para o restaurante que ficava a algumas quadras do hotel, Haymitch e Peeta haviam ido na frente, mas assim que o carro encostou ambos foram nos receber na porta.   

Entramos no restaurante de braços dados e me surpreendi com o que vi. O Mellarks era um estabelecimento de muito bom gosto, simples mais elegante com certeza podia receber um publico variado. Me mantive ao lado do Peeta o tempo todo circulando pelo local e recebendo os convidados, ele sem duvida havia nascido para isso se comunicava muito bem com todos sempre sorrindo e sendo simpático era o anfitrião perfeito, mais tarde nos sentamos com os outros em uma das mesas e confesso que a comida era fantástica.

Peeta falou que o chef trabalhava com eles no restaurante do Distrito 11 como sous chef a alguns anos e depois de muita insistência dele aceitou vir comandar a cozinha do novo restaurante. Chaff foi aplaudido por todos após a sobremesa e pelo que vi enquanto ele era solicitado pra receber os parabéns na maioria das mesas era conhecido de muitos convidados naquela noite.

Haymitch foi embora junto com boa parte dos convidados levando Effie, Prim e Mags e acabei ficando com Peeta até o ultimo convidado ir embora, o que foi sem duvida divertido já assim que a porta do restaurante se fechou ouve uma pequena comemoração da equipe pelo sucesso da noite, o que me permitiu apreciar outra sobremesa e brindar com todos após um pequeno discurso de agradecimento feito pelo Peeta que fez questão de ressaltar que nada daquilo seria possível sem a colaboração de todos eles. Confesso que ali no meio de toda a equipe com os primeiros botões da camisa abertos, sem a gravata conversando animadamente com todos ele não parecia ser o chefe, talvez fosse a pouca idade para um cargo tão alto ou pela simplicidade que demostrava dentro daquela cozinha era difícil associa-lo a tal posição.

— Aqui é sempre essa loucura? – perguntei enquanto ele estacionava o carro no hotel, após um passarmos cerca de dez minutos parados em um farol.

— Na maioria das vezes, é um Distrito grande e cheio é muito urbano, muitos prédios comerciais e como é sexta muita gente indo para bares e boates – ele comentou – Hoje foi uma loucura, mas amanhã levo vocês para conhecer um pouco daqui, acho que Prim vai adorar um parque de diversões que funciona aos sábados.

— Ela já esta adorando tudo isso – seguimos para o saguão quase vazio do hotel onde ele parou por alguns instantes para uma rápida conversa com o gerente – Você já se hospedou aqui? – perguntei enquanto esperávamos o elevador, as pessoas pareciam conhece-lo.

— Eu praticamente morei aqui no verão, eram muitas coisas para resolver então após a formatura acabei ficando aqui no verão – eu nunca havia pensado em onde ele tinha estado no verão após a formatura – Se importa se te mostra um lugar? – não fazia ideia de onde ele queria me levar, aquela era a primeira vez que ficávamos tanto tempo sozinhos, mas acabei aceitando.

Assim que o elevador chegou ele apertou o vigésimo andar ao invés do decimo segundo onde todos estávamos hospedados e assim que chegamos ele me conduziu pela mão para as escadas, subimos dois lances para chegar em uma porta contra fogo. Assim que ele abriu a porta pude ver que estávamos no terraço, os espaço era amplo e tinha um heliporto no centro e assim que nos aproximamos da grade de proteção pude ver um vista belíssima do Distrito.

— É lindo – comentei

— Eu adoro essa vista, a hidroelétrica fica para lá – disse apontando para a outra direção onde era possível ver um pouco mais afastado a hidroelétrica que vimos do avião – Eu vinha aqui quase todas as noites – ele se sentou no degrau que levava para o heliporto e me sentei ao lado dele, o vento ali estava bem forte e mesmo com meu casaquinho senti a baixa temperatura e ele gentilmente me entregou seu terno, então ficamos ali conversando sobre a inauguração e olhando as estrelas.

— Eles são incríveis – comentei após ouvir Peeta falando mais sobre a equipe

— São sim, e muito talentosos também, temos sorte em ter todos eles não só aqui, mas em todas as filiais do Mellarks não conseguiríamos sem eles – me surpreendi com a sinceridade dele ali longe de todos eu soube que o discurso dele não era da boca pra fora, ele realmente era grato por poder contar com a equipe – Agora é ó esperar para ver a opinião do publico.

— Você fez um bom trabalho, o restaurante é lindo e tudo estava perfeito.

— Obrigado por estar ao meu lado essa noite, foi realmente importante. Muita gente acha minha mãe excêntrica – ele comentou sorrindo – Uma socialite sem tradição ou nome, é de certo modo ela é e não nega, mas ela tem um coração enorme e embora muitas pessoas falem maldades sobre o casamento dos meus pais eles não sabem o que eles sentem, eles não fazem ideia do quanto ela é importante para tudo isso, do quanto ela é importante para ele. Não parece mais meus pais tem uma parceria de mais de vinte e cinco anos e ele não estaria aqui agora sem ela.

Eu nunca me interessei muito pela família Mellark, mas nas últimas semanas acabei prestando atenção ao que diziam sobre eles, e pude ouvir alguns comentários maldosos pelo Distrito sobre a diferença de idade entre os pais dele, sobre a excentricidade da Effie, sobre ela levar a família para uma suposta falência.       

— As pessoas falam demais – disse e ele concordou com a cabeça.

— Eu não quero ser só o herdeiro Haymitch Abernathy Mellark, não quero viver na sombra das conquistas do meu pai, ou estragar o que ele construiu. Eu quero fazer por merecer, quero que ele tenha orgulho e quero fazer minha parte, quero contribuir e eu gostaria muito de ter você ao meu lado nisso – ele olhou nos meus olhos naquele momento e não soube o que dizer – Eu não sei o que você espera dessa união, e você não precisa me contar se não quiser, mas eu quero que acima de tudo sejamos parceiros eu estou disposto a construir uma família com você onde eu não me importo com o que digam sobre nós contando que a nossa realidade seja clara e que possamos contar um com o outro.

— E se você se apaixonar por alguém - a pergunta saiu quase sem querer e ele não pareceu se importar com ela – Quer dizer nosso casamento não é do tipo convencional, pelo que eu sei a sua família não costuma se casar assim.

— Não acho que isso vá acontecer, mas prometo ser sincero com você e não é a tradição que fara nosso casamento, somos nós e eu prometo fazer meu melhor para sermos felizes – sentados lado a lado ali no terraço eu pude ver sinceridade nos olhos dele. Peeta era muito mais do que eu imaginei nos últimos anos quando eu nem ao menos tinha feito questão de saber seu nome, e ele merecia muito mais do que eu, mais do que alguém com o coração em pedaços, ele merecia ser feliz e naquele momento eu quis ser sincera com ele. Dizer que amava outro que estava sendo obrigada a casar com ele pelo meu avô, dizer que ele merecia alguém melhor do que eu, mas eu não podia, o futuro da Prim dependia daquele casamento.

Estávamos realmente próximos e ele acariciou meu rosto com carinho enquanto me fitava atentamente,  eu sabia exatamente o que ele faria a seguir, e podia ter impedido com facilidade se quisesse, mas eu não o fiz e no instante seguinte ele se aproximou deixando a distancia entre nós mínima, não me afastei e ao notar que eu não iria a lugar nenhum ele encostou seus lábios no meu em um beijo delicado do qual eu correspondi, meu coração acelerou por um instante quanto ele aprofundou um pouco mais o beijo e confesso que a sensação de estar ali com ele era boa, ele se afastou lentamente com alguns selinhos e ainda com o polegar acariciando meu rosto sorriu.  

E naquele momento eu decidi que mesmo que eu não fosse feliz naquele casamento arranjado, mesmo que eu não amasse Peeta como amava Gale eu faria o possível para fazer dar certo e para pelo menos estar ao lado dele.