Paixões gregas - Um amor como vingança(Degustação) escrita por moni


Capítulo 2
Capitulo 2


Notas iniciais do capítulo

Oieee! Então como os dois primeiros são como uma introdução eu vou postar o segundo, mas o próximo só no fim de semana, agora vou lá escrever as outras fics né? Se não o povo briga comigo.



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Pov – Melissa

Escovo os cabelos enquanto encaro o pequeno espelho pendurado na parede ao lado da cama, solto a escova e começo a trançar os fios, soltos eles atrapalham nos afazeres da casa.

Escuto o som do helicóptero chegando a ilha, minha cabeça viaja para o mundo de imaginação, onde o príncipe tem um helicóptero ao invés de um cavalo branco e enfrenta o dragão para me resgatar. Tolices, apenas tolices, penso observando o gigante de aço pousar no topo da ilha.

A construção branca e imponente se destaca na pequena ilha de Kirus, tudo que conheço do mundo. Feito cinderela nunca sai da mansão, também nunca tive qualquer tratamento que se quer lembrasse que sou filha de Quiron Kalimontes, ele não me queria, não esconde isso.

Ninguém sabe, pelo menos ninguém além dos muros da mansão. Aqui sou apenas uma funcionária, sem pagamento é claro, não tenho nada que vá além de servir a mesa de meu pai e sua mulher.

Samara tem pouco mais que a minha idade, mas se comporta como uma rainha má, se diverte com as humilhações do meu pai, ri, exige, não tem nada que eu possa fazer, nenhum lugar para ir, ninguém que se importe.

E porque alguém se importaria? Se nem mesmo meu pai pode me amar, quem amaria? Quem enfrentaria o dragão?

─Você é boa em ocupar espaço Melissa, apenas isso. Conforme-se e vá logo servir o café.

Depois de servir a mesa do café sigo para o jardim, era uma linda manhã de sol e céu azul limpo. A melhor parte do dia, cuidar do jardim. Suspiro me dobrando para limpar as roseiras. Depois que a fortuna de meu pai começou a se deteriorar todo o trabalho terminava em minhas mãos.

Seis suítes, piscina, jardim, ala de empregados desativada, ou quase toda, ainda tinha o meu quarto e o quarto de Cirilo, o único funcionário que meu pai mantinha. Um idiota que se dobrava a suas vontades como se fosse assistente de Deus, orgulhoso por servir o que ele achava ser o homem mais importante da ilha.

Ele tinha sido um dia, mas agora Leon Stefanos estava de volta, ocupava a mansão principal e era como um ídolo de todos por aqui. Me ergo e sigo para as azaléas. Sempre fico curiosa sobre como seria esse homem, sei que odeia meu pai, mas isso nem é grande coisa, quem não o odeia? Ou teme? Como é meu caso.

Tem algo a ver com Helena, ainda me lembro vagamente dela. Linda, arrogante, largou os filhos para viver com meu pai, pelas histórias que ouvi dois dias depois de sua chegada eu fui retirada do quarto de bebê que ocupava no andar superior e levada para a ala dos empregados. Helena não suportava o choro de bebês.

Eu tinha sete anos quando o acidente de lancha feriu meu pai e matou Helena, depois disso um mundo de amantes entravam e saiam, até Samara chegar, estavam juntos há quatro anos, um recorde. A loira platinada de seios fartos gostava de luxo e poder, egoísta demais para enxergar qualquer coisa além de si mesma, o par perfeito para meu pai.

Deixo o jardim e retiro a mesa do café enquanto escuto a risada de Samara a beira da piscina.

Observo a dispensa tentando pensar em algo para cozinhar, sabia que com o que tinha ali eu ganharia alguns gritos e talvez algo como um prato ou copo voasse pela sala de jantar. Como se fosse minha culpa não ter mantimentos para preparar as refeições requintadas que estavam acostumados.

Nos bons tempos da mansão um mundo de chefs haviam trabalhado naquela cozinha. Desde pequena a cozinha era meu lugar, me lembro de tudo que pude aprender com todos eles, mas agora eu era a cozinheira, e meu trabalho era tentar agradar Quiron e sua exigente esposa.

─Sirva o almoço em vinte minutos Melissa. – A voz afetada de Samara invade a cozinha quando terminava a sopa de legumes. Afirmo em silencio.

Ponho a mesa, aguardo as ordens, os dois se aproximam com aquele ar despreocupado, fingem até entre eles mesmos que ainda são os poderosos, aquilo é patético.

─Sopa? Qual é seu problema? – Meu pai questiona irritado.

─A dispensa está vazia pai. – Comunico meio tremula, evito seu olhar porque ele sempre me assusta. O copo de uísque vazio a seu lado deixa claro que já passou dos limites e isso é sempre um problema para mim.

─A dispensa está vazia, a dispensa está vazia. É só isso que sabe dizer? O que faz com tudo que compro?

─Passa o dia enfiada naquela cozinha querido, o que acha que ela faz? Come tudo, é claro. – Samara me acusa. Não me pronuncio, permaneço ali, de pé ao lado da mesa, olhos baixos e mãos tremulas.

─Me sirva mais uma dose. – Ele chacoalha o copo. Obedeço. – Querida eu vou precisar do anel de esmeralda.

─Não! – Samara o encara chocada. – É tudo que restou, vendeu os diamantes dois meses atrás e jurou que não tocaria no meu bebê.

─O sheik adiou a visita. – Me sinto aliviada, aquele homem asqueroso tinha passado vinte dias na ilha na temporada de turistas, os olhos sempre sobre mim, me assustava, me deixava tensa. – Sabe que o negócio que temos com ele está praticamente acertado, o dinheiro será muito bom, vamos nos reerguer de uma vez.

─E se ele desistir? É a segunda vez que adia a visita.

─Desistir? Sabe como ele está cego por seu objetivo, ele não vai desistir.

Não sei do que se trata, tenho medo de pensar a respeito, me assusta a ideia de que tem algo a ver comigo, mas nunca perguntaria, de qualquer modo ele nunca me diria.

─Melissa troque nossos lençóis, feche as janelas, vamos descansar um pouco depois de comer essa porcaria que chama de refeição. – Samara me exige e no fundo sei que querem apenas conversar longe de mim.

Obedeço adorando me livrar do constrangimento que é ficar de pé, ao lado da mesa, muda enquanto meu pai e sua esposa comem.

Faço o que me pede, depois quando retorno a mesa estava vazia, retiro os pratos, lavo a louça e posso ter algum tempo livre, ando pelo jardim, me apoio na mureta de cimento branco e descascado, encaro o mar, as ondas quebram suaves criando aquela espuma branca.

Me dá paz olhar para aquilo, se pudesse até sorriria. Sinto vontade de caminhar pela beira da praia, mas não faço, não poderia mesmo que quisesse, eu nunca posso ir lá fora, quando vou, sempre para atender alguma ordem, comprar algo ou buscar alguma coisa no cais tenho ordens expressas de não falar com ninguém.

Obedeço, as pessoas não gostam mesmo de mim, são hostis, talvez por conta de Quiron, ou apenas porque sou eu e nunca recebi mais do que isso.

─Tenho um recado importante para seu pai Melissa, onde ele está?

─Dormindo, não vou acorda-lo, faça isso você. – O cão de guarda se aproxima. Ele me encara irritado, Cirilo tem mais respeito de meu pai que eu, ao menos ele não será tratado como lixo ou pior.

─Imprestável. – Ele diz antes de sumir para dentro da casa. O que quer que seja não quero estar perto para descobrir e vou para meu quarto. Não tinha nada ali, apenas a cama, um móvel velho onde guardo uns poucos vestidos, uma foto amarelada de minha mãe num porta-retratos quebrado.

Quiron havia atirado em mim num dia de fúria, tinha uma pequena cicatriz no braço que me lembrava sua irritação. Escuto o motor do carro roncar um pouco mais tarde, me encolho na cama, tinha sido uma péssima noite de sono, mas ainda havia muito a ser feito, só depois de servir o jantar é que poderia finalmente se recolher.

Pouco mais de uma hora depois o carro volta, a tarde já ia longe, me sento apressada, aguardo para saber se ele vai gritar por mim, a porta principal bate em um estrondo assustador, sinto sua fúria e estremeço.

Uns minutos depois minha porta se abre com violência, meu pai me encara cheio de irritação, os olhos ardem de raiva por mim, tento pensar em algo que possa ter feito para irrita-lo, não consigo pensar em nada. Me ponho de pé.

─Pai! – Quiron Kalimontes não frequenta a ala dos empregados, nunca, sua presença ali é assustadora. – Fiz algo errado? – Tento controlar minhas lágrimas que já brotam.

─Podemos começar a lista pelo seu nascimento. – Ele grita. – Arrume suas coisas, vai para casa de Leon Stefanos.

O que ele disse? Leon Stefanos, seu inimigo? Era isso mesmo?

─Como? – Pergunto meio atordoada.

─Sempre foi burra, mas surda é novidade, é isso mesmo que ouviu, vai para casa de Leon Stefanos, acabo de me livrar de você, vai servi-lo da maneira que ele achar melhor.

─Eu não... Eu... Não pode fazer isso, sou sua filha.

─Exato, é minha filha e por isso posso fazer o que quiser. – O riso cínico é como um termômetro para mim, eu sei que aquilo significa não brincar com fogo. – Ande logo! – Ele grita, está furioso, contrariado. – Você tem cinco minutos!

─Pai por favor, eu...

Ele me aperta o braço, me encara com olhos faiscantes.

─Pare de implorar! Não vê o quanto me envergonha? Puxou sua mãe em tudo! – Ele me empurra, caio sobre a cama. – Ande, arrume tudo e siga para mansão, é lá que vai viver.

Com dedos trêmulos abro uma pequena mala, são apenas umas poucas roupas, dois pares de sapatos, a foto de minha mãe e nada mais. As lagrimas rolavam livres, minhas pernas fraquejavam a cada movimento. Fecho a mala e ele me arrasta para fora do quarto.

Passamos pela sala, Samara nos encara com ar entediado, não se importa com nada, aquilo não tem nenhum significado para ela.

─Preste atenção, não tente dar uma de espertinha, entendeu bem? – Ele abre o portão principal, olho para Cirilo, meus olhos imploram por uma reação, ele me dá as costas, todos me dão as costas. – Vá agora para a mansão, você tem até as seis da tarde para chegar lá. Se fugir, se tentar qualquer idiotice... Você já sabe, não preciso dizer.

Meu pai fecha o portão de ferro antigo do que até aquele momento tinha sido minha casa, me dá as costas e caminha para longe, fico um longo minuto ali, de pé, sozinha, perdida.

O que posso fazer? Onde posso ir? Aquilo é afinal uma ilha, não tem como fugir, não tem como ir a qualquer lugar, só me resta obedecer. O que Leon Stefanos espera de mim? Era rico, jovem, poderoso, o que ele iria querer com alguém que tinha o sangue Kalimontes?

Começo a subir pela alameda principal, vinte e dois anos vivendo aqui e é a primeira vez que caminho para essa direção.

A alameda era cercada por oliveiras, ao longo da rua de pedra, casas brancas com suas venezianas pintadas de azul.

As pessoas me observavam sem nada dizer, sou uma Kalimontes e isso já é motivo de sobra para ser odiada. Seco minhas lagrimas, é inútil, baixo a cabeça, não tenho forças para encarar ninguém. A mansão cada vez mais próxima, não sei o que me aguarda.

Me volto uma vez mais para olhar o horizonte, não podia haver lugar mais bonito, o azul celeste do céu contrastava com o azul brilhante do oceano tranquilo, Kirus era de um azul sem fim, a paisagem se opunha em completo a meus sentimentos, dentro de mim tudo era escuridão e dor. Podia correr em direção ao mar, me atirar nas aguas tranquilas do mar mediterrâneo, me deixar consumir por elas, deixar as aguas tranquilas acariciarem minha pele como sempre sonhei e então ser engolida pela imensidão. Mas sou covarde, nem mesmo para isso eu presto.

Me volto e sigo com minha caminhada, penso em Leon. O que ele espera de mim? Que tipo de pessoa ele é? Não pode ser melhor que meu pai ou não tomaria parte em algo sujo como aquilo. Para que estava indo viver lá, seriam apenas os serviços domésticos eu ele exigiria mais?

Tantas vezes meu pai insinuou que eu devia ser mais receptiva as investidas de seus amigos milionários. Fui vendida? É isso, Leon Stefanos me comprou como fez com a mansão ou seu helicóptero?

Como seria se entregar a um homem que nem conhecia? Os sonhos com o príncipe encantado atirados ao lixo, tinha me guardado para o sonho adolescente de ser amada, tinha me mantido intocada, para agora terminar nas mãos de um desconhecido que me usaria como um objeto apenas?

Tinha vivido uma vida de rejeição, odiada pelo meu próprio pai, ignorada pelos empregados e amigos dele, jogada num canto sem valor, sobrevivi aquilo, podia sobreviver a isso também. Apenas não queria sobreviver, estou cansada.

Chego aos grandes e imponentes portões de ferro pintados de branco, observo o jardim que cercava a casa toda com suas flores campestres bem tratadas que davam a mansão um colorido leve. A grama verde contrastava com a elegante construção branca, com sua porta de madeira maciça e seus degraus de mármore. Meu coração se aperta numa angustia que mal podia controlar.

Lagrimas escorrem e as seco, respiro controlando o choro, afasto o medo do futuro para algum lugar escondido dentro de mim, puxo a longa trança para o lado, o sol ainda brilhava e tento secar o suor da caminhada. Aperto a pequena mala que carrego. Então será aqui meu novo cativeiro?

A porta principal se abre e uma senhora de cabelos grisalhos presos a um coque caminha em minha direção, tem um ar severo e não parece nada contente. Os portões começam a abrir de modo eletrônico, dou um passo para trás assustada com o barulho. Um homem grisalho usando jeans se aproxima, tem um rosto firme, confiável, não esboça qualquer reação com a minha presença.

─Boa tarde! – Arrisco num fio de foz que sai com muito esforço.

─Senhorita Kalimontes? – Ele me questiona e sinto a repulsa em pronunciar meu sobrenome. Afirmo. Tremula demais para dizer qualquer coisa. A mulher finalmente chega até nós.

─Então Cristus, é ela? - Ela me ignora.

─Sim Ariana, essa é Melissa Kalimontes, o senhor Stefanos a aguarda, você a acompanha?

A mulher me estuda um longo momento, não decifro seu olhar, engulo em seco, me esforço para manter o choro longe.

─Venha menina. – Ela parte na frente, eu a sigo no mais completo silencio. – Chegou no horário e pelo visto veio sozinha. – Afirmo, ela se cala.

Subo os degraus, cinco apenas, a porta ainda está aberta e passo logo depois dela. Chegamos a uma grande sala. A decoração é deslumbrante em estilo grego, repleta de branco, com objetos elegantes e piso de mármore, uma vidraça ocupava toda uma parede dando uma visão da ilha e o mar além, uma varanda com espreguiçadeiras e uma mesa eram como um balsamo para meus olhos.

Por um momento me esqueço da dor, encaro a longa escada de mármore que ao meio se divide em duas, uma para cada lado da casa.

O ambiente era encantador, tranquilo, o inferno fantasiado de paraíso.

─Vou avisa-lo de sua chegada. – Ariana me diz deixando a sala.

Fico ali, de pé, apertando minha mala na mão, os olhos baixos, o coração batendo a mil, vou conhecer o novo monstro que vai dominar minha vida, sinto medo, vergonha e humilhação, como meu pai costuma dizer, nascer foi meu grande pecado, pago por ele todos os dias.

Ele me comprou. Meu pai me vendeu como eu sempre soube que faria, a ideia de me atirar ao mar agora me parece mais aceitável, devia ter feito, não fiz, nunca tive forças e sei que não vou fazer.


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Notas finais do capítulo

No próximo vamos ter o encontro dos dois. BEijos!!!!!!!!!!!!!!