After the pain escrita por Neryn


Capítulo 28
Primeiro dia




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Acho que esta era a segunda feira que eu mais aguardava na história de todas as segundas da minha vida. Seria o meu primeiro dia de trabalho e tinha a oportunidade de trabalhar numa livraria onde estaria rodeada de livros!

Lyla e eu andávamos eufóricas pela escola e ninguém percebia o porquê de estarmos assim o que atraia as atenções de todos que deviam pensar que devíamos ter andado a fumar qualquer coisa.

Mais um dia que passou a correr e pouca atenção prestei às aulas por muito que me tentasse concentrar. Estava agitada e irrequieta e Lyla não estava muito diferente de mim.

Tivemos sorte em arranjarmos trabalhos em que estivéssemos perto uma da outra. Assim podíamos ir juntas até lá e nas pausas encontrarmo-nos para conversar.

Lyla no café estaria sujeita a ter que usar um uniforme e eu estava mortinha para a ver a usar um visto que ela não gostava de se vestir de maneira igual a outras pessoas e de usar a mesma roupa todos os dias .

Como Lyla estava numa pilha de nervos em relação ao seu primeiro dia decidi acompanhá-la até ao café e só saia após ela se ter arranjado para trabalhar. Entramos e fomos logo saudadas por um empregado sorridente:

– Boa tarde meninas! - diz Michael saindo do balcão e cumprimentou-nos com um beijo em cada face. Após ele se afastar de Lyla, reparei que ela estava um pouco corada... isso era algo que poderia usar mais tarde em meu favor!

– Olá! - respondemos em coro.

– Michael onde é que é o vestiário para me trocar? - pergunta Lyla.

– Hum... é só desceres as escadas e é a primeira porta à esquerda.

– Obrigada! Lá vou eu vestir este odioso uniforme - diz ela barafustando e afastando-se de nós. O uniforme não era mau de todo. Já vi piores: uns muito parolos e outros que quase não cobriam a pele às empregadas. Este consistia numa camisa branca com o logótipo do café (que era apenas uma chávena lascada visto que o nome do estabelecimento era "Chipped cup" que traduzido era exatamente no logótipo ) com calções pretos e por cima um avental branco e para calçar umas sapatilhas brancas devido a ser mais pratico para andar a servir às mesas sem doer os pés.

– Isto que eu saiba não é um vestiário... mas sim uma casa de banho. Ainda por cima também serve para clientes - ouvi Lyla berrar furiosa das escadas e não me contive e comecei a rir-me às gargalhadas e Michael juntou-se a mim.

–Ups... devo me ter confundido! Não volta a acontecer Lyla - diz ele num tom inocente mas todos sabíamos que ele tinha acabado de pregar uma partida a Lyla.

–Urrrr.... - Lyla resmunga.

Enquanto ela se trocava, Michael começou a meter conversa comigo. Inicialmente apresentamo-nos e depois ele começou a falar sobre o ambiente do café e por fim fez algumas perguntas sobre Lyla mas a que mais me intrigou foi ele querer saber se ela estava solteira.

Ouvimos uns passos e olhamos para a porta que ia dar às casas de banho.

– Ó meu Deus! Eu não quero sair e enfrentar o mundo! - berra Lyla desesperada.

– Vá lá! Nós não gozamos contigo! - respondo-lhe tentando não me rir do nervosismo dela. Viro-me para Michael e ele percebe o que queria que fizesse e assim começamos a bater com as mãos no balcão como se fossem tambores e a berrar "Ohhh". A porta mexesse e de lá sai a minha amiga.

– Uau! - eu e Michael dizemos ao mesmo tempo e ele assobia.

– Queridos... minha mãe me deu à luz e eu continuo a brilhar - e pisca o olho para nós os dois. Claro que Lyla tinha que fazer uma piada. Não seria ela se não o fizesse. E com isto caímos os três na risota.

A porta abre-se e ouve-se um sininho anunciando a entrada de alguém. Da porta entrou um senhor idoso e este senta-se numa mesa.

– Menina, queria um café com uma torrada e o jornal do dia!

– Meu Deus! O meu primeiro cliente! Age como uma profissional Lyla ou o teu rabo ainda vai para a rua! - diz Lyla num monólogo de motivação e eu e o Michael contemo-nos para não voltar a cair na risota. - É para já senhor - diz ela ao homem - Michael, ouviste o senhor! Tira um café que eu faço a torrada! - ela foi para o lado do Michael e liga a torradeira mas não encontrava o pão - Michael...onde é que está o pão? - sussurra no seu ouvido.

– Debaixo do balcão ainda deve haver algum. A manteiga está no frigorífico.

– Obrigada! - responde ela. Enquanto isto eu observava-os e tentava não me rir. Eu sai logo após ela ter servido o homem que ficou agradecido. Ao sair disse-lhe um "boa sorte" com os lábios e ela piscou-me o olho em resposta.

Hoje o tempo estava muito melhor que da última vez que cá estivemos. Não chovia nem havia aquele terrível vento e por isso muita mais gente e carros circulavam pelas ruas. A confusão e o barulho eram muito maiores enchendo assim a cidade da sua conhecida vida.

Atravesso a estrada e entro na livraria:

– Boa tarde Riley! - diz o meu novo patrão sorridente.

– Boa tarde Sr. O'Donnell ! - respondo.

– Por favor, chama-me Charles. "Sr. O'Donnell" faz-me sentir velho. - diz ele sorrindo para mim.

– Bem... o que é que tenho que fazer?

– Por agora vais ajudar-me a desempacotar o resto das caixas que trouxeste da última vez que cá vieste. Nem o meu filho, nem o meu neto me puderam vir ajudar e não consegui tratar de tudo. Depois disso vais distribuir os livros pela categoria. Por exemplo, este livro - o livro que ele tinha na mão era "A rapariga que roubava livros" - vai para a parte de "Romances históricos". Percebeste?

– Sim, percebi! - e com isto comecei a ajudar-lo. Ao início ainda demorei um pouco à procura das prateleiras para colocar mas rapidamente apanhei-lhe o jeito e arrumava caixotes num instante.

Quando fui a dar conta já não havia pacotes nem livros para arrumar.

– O que faço agora? - pergunto.

– Importaste de levar o lixo que fizemos ao contentor? - nego com a cabeça e começo a juntar os caixotes - o contentor é já no virar daquela esquina.

– Ok! Obrigada e já volto - saio da livraria com um monte de caixotes a tapar-me a visão. Teria que ter muito cuidado pois não conseguia ver nada à minha frente além dos caixotes e podia sem querer chocar com alguém na rua. Começo a andar cuidadosamente pelo passeio tentando desviar-me de todos os obstáculos e as pessoas ao verem-me também se desviavam até que sinto um embate e vou parar ao chão e ouço a outra pessoa a cair juntamente com o que acho que seria o seu telemóvel. Só podia ser alguém super distraído para não ver um monte de caixas de cartão andantes.

– Peço imensa desculpa - diz o rapaz. Olho para ele e... não pode ser! Era o que mais me faltava ter caído por causa de uma pessoa distraída, mas pior ainda era essa pessoa ser um dos capangas do Valentine e ainda por cima o seu braço direito, o Caleb. E acho que ele me reconheceu...

– Não tem mal! - levanto-me apressadamente e recolho o que deixei cair e desato a desaparecer da sua vista. Consigo encontrar facilmente o contentor pois estava onde o Charles tinha dito. Deixei-o lá e comecei a andar lentamente em direção à livraria. No meu caminho de regresso só esperava que não voltasse a encontrar Caleb e rezava para que ele não visse também Lyla e que não contasse a Valentine que eu andava por estes lados. Entro na livraria e lá me esperava Charles.

– Minha querida, como agora não há mais nada para arrumar e como não te quero sobrecarregar logo no teu primeiro dia, agora podes ir para o balcão no caso de entrar algum cliente. - vou para trás do balcão e ouço a porta a abrir. Boa, o meu primeiro cliente!

Ó meu Deus! É claro que ia estar tudo contra mim menos o azar. Quem entrara por aquela porta era nem mais nem menos que Caleb!

– Boa tarde! - cumprimenta ele. Já estava a ficar farta de ouvir tanto "Boa tarde"!

– Boa tarde! - digo - Bem vindo à "Livraria Mágica" onde pode encontrar uma enorme variedade de livros. - digo conforme o meu chefe me tinha ensinado.

– Caleb, meu pequeno! Sempre me vieste visitar - diz Charles O'Donnell a Caleb deixando surpreendida.

– Olá avô! Eu disse que o iria visitar!

– Riley, queria te apresentar o meu neto Caleb! - diz ele todo sorridente.

– Já nos conhecíamos da escola - diz Caleb olhando para mim.

– Que bom! Assim já não são desconhecidos quando vieres cá ajudar - diz Charles retirando-se e Caleb seguindo-o mas sem antes me mandar um olhar matador.

Estava completamente surpresa e espantada! Como é que um senhor tão bondoso e simpático como Charles podia ter um neto tão ruim como Caleb. Porém aposto que ele não deve conhecer essa sua faceta do neto, mas mais tarde ou mais cedo vai descobrir porque com as companhias dele ainda se vai meter em sarilhos dos graves. Passado algum tempo, quase na minha hora de sair eles voltam.

– Avô, o Valentine vem aqui ter e depois vamos fazer um trabalho para a escola - diz Caleb. É claro que aqueles dois iam "fazer um trabalho". Iam era arranjar problemas. A porta abre-se novamente e de lá sai Valentine. Nunca pensei que ele viesse tão cedo.

– Uh... olha quem está aqui. Bons olhos te vejam, Riley - diz ele inclinando-se sobre o balcão.

– Presumo que também se conheçam da escola - diz Charles.

– E presumiu bem Sr. O'Donnell - olho para as horas e já eram 19:30h, ou seja, hora de me pirar daqui.

– Até amanhã Charles - me despeço sem esperar pela resposta dele e vou a correr para o café onde Lyla trabalha.

– Tu nem acreditas em quem acabou de sair daqui após comer uma tosta mista e beber um sumo! - diz Lyla assim que entro às pressas.


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