De dentro da escuridão escrita por HellFromHeaven


Capítulo 4
Confronto




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Os Mortos Vivos nos cercaram e ficaram parados, aguardando ordens de seus mestres. Todos possuíam olhos inteiramente vermelhos e vazios, aparentemente famintos e alguns eram até mesmo desfigurados. O simples fato de pensar que eu era daquele jeito até pouco tempo atrás me causava um imenso desconforto, em conjunto com uma vontade tremenda de matar aqueles Necromantes que faziam sabe-se lá o que dentro daquela igreja. Eles pareciam nos ignorar, o que passou “despercebido” por Kate, que continuava a murmurar e deixou Ruby visivelmente irritada. A pequena mulher colocou sua escopeta no chão e juntou suas mãos à frente de seu rosto e, depois de sorrir maliciosamente, começou a falar com uma empolgação assustadora:

– Parece que subestimam seus inimigos, seus montes de carne podre! Não importa! Afinal, não serei eu a arrependida quando tudo terminar!

A provocação não surtiu efeito nenhum em nossos inimigos. Os dois pareciam estar arrumando o lugar ou preparando alguma coisa lá dentro, porém a distância e o fato de que havia alguns Mortos Vivos no caminho me impedia de ter certeza. Kate parou de murmurar e guardou os papéis em seus bolsos. Após isso, ela sentou-se no chão e fechou os olhos. Não entendi o motivo daquela atitude, mas sabia que deveria possuir algum propósito oculto que provavelmente se transformaria em uma nova “lição”. Ruby pareceu entender e sorriu novamente (na verdade acho que ela estava sorrindo daquele jeito bizarro o tempo todo) e suspirou profundamente.

– As Luas que iluminam a noite e impedem a escuridão de adentrar nossas almas já não podem mais cumprir suas tarefas. Apenas o som do vazio ecoa pelas florestas. A escuridão resolve se apropriar daquilo que a pertence neste momento oportuno. Porém, todo o fluxo se encontra em um local específico. E não há nada nem ninguém que possa impedir.

Aquelas palavras ecoaram de forma muito mais “brusca” do que o encantamento de Kate em minha mente, gerando uma leve tontura. Olhei atentamente para Ruby e percebi uma sutil aura negra se formando ao redor de suas pequenas mãos. Seu sorriso cresceu ainda mais e ela levou suas mãos para o alto, mais ou menos à altura de seu rosto, com as palmas abertas. Logo após esse gesto sutil, tive a impressão de sentir “algo” passando por mim e depois voltando para algum lugar. Estranhei e olhei ao meu redor.

Ao fazer isso, notei que todos os Mortos Vivos se contorciam, como se estivessem sendo sufocados. Voltei meu olhar novamente para Ruby e percebi que a aura que envolvia suas mãos estava crescendo. Kate continuava totalmente concentrada e eu tentava entender o que se passava. Porém, não havia tempo para minhas dúvidas, pois Ruby rapidamente começou a falar novamente.

– Escuridão que ronda a noite e cerca aqueles que temem a luz como um manto protetor. Quão negra pode ser sua essência? Se puderes algum dia se dissipar em uma forma diferente. Com certeza seria de maneira brusca e repentina. Assim como a natureza de quem a habita.

Assim que Ruby parou de falar, nossos inimigos começaram a se recompor. Ela então pegou sua faca e passou a lâmina em sua mão rapidamente fazendo com que seu sangue espirrasse no chão. Um doce e forte cheiro invadiu minhas narinas e adentrou meu cérebro numa velocidade absurda, fazendo com que eu salivasse. Consegui conter meus instintos, porém o mesmo não ocorreu com os outros Mortos Vivos do local. Todos começaram a se agitar e voltaram sua atenção para a pequena mulher. Esta, abriu seus braços e gritou o mais alto que pôde:

– O jantar está servido!

Como se tivessem entendido as palavras de Ruby, todos correram como cães famintos para cima dela. Ela, por sua vez, esperou calmamente ainda com os braços abertos e a faca em sua mão direita. Assim que o mais próximo chegou a cerca de um metro de distância, a garota arremessou sua faca contra ele, atingindo sua cabeça. O impacto foi forte e fez com que seu corpo mudasse bruscamente de direção, levando-o a “capotar”. Depois disso, ela apontou sua mão para os dois que estavam logo atrás do eu havia caído.

– Adeus, carnes podres! – gritou Ruby.

Uma massa de energia negra se formou ao redor da mão de Ruby e foi lançada contra os Mortos Vivos, causando uma explosão escura que os despedaçou. Confesso que fiquei igualmente impressionado e confuso.

Sem perder tempo, ela começou a disparar várias outras vezes contra os inimigos. Porém, um dos Mortos Vivos conseguiu se aproximar e mordeu o braço direito dela. Ruby rapidamente usou sua mão livre para disparar mais um amontoado de energia contra seu inimigo. A explosão acabou com o infeliz e com o braço da garota, fazendo-a voar alguns metros para trás. Eu estava muito próximo do local, mas não fui afetado. Olhei para Kate e esta segurava minha perna, ainda de olhos fechados. O que indicava que ela teria feito um encantamento de proteção ou algo do tipo.

Com uma maior quantidade de sangue sendo jorrado no chão, aquele cheiro absurdamente tentador ficou ainda mais forte, fazendo com que o restante dos inimigos se agitassem ainda mais. Os cinco restantes avançaram vorazmente contra a garota, que se levantava com um pouco de dificuldade devido a seu ferimento. Num impulso quase que involuntário chutei a escopeta para perto de Ruby e avancei contra os Mortos vivos.

Eles estavam tão concentrados no cheiro do sangue que nem notaram minha presença, o que facilitou minha aproximação. Alcancei um deles, pulei e chutei sua cabeça. Vínhamos em direções opostas, então o impacto foi bem forte. Quando cai no chão novamente, ouvi um disparo seguido de uma forte brisa que passou por mim e me virei. Ruby estava de pé com sua escopeta em mãos. Olhei para o outro lado e encontrei um corpo com sem metade do rosto ao lado do Morto Vivo que eu tinha atingido. Este parecia ter quebrado o pescoço, pois estava caído de bruços com o rosto voltado para cima.

Distrai-me por um segundo e foi surpreendido por um forte impacto em minhas costas que fez com que eu caísse de joelhos. Uma queimação intensa se espalhou pela região atingida e ouvi mais um disparo e me virei com dificuldade. Restavam apenas dois Mortos Vivos, que estavam parados ao lado da porta da igreja. Os dois Necromantes saíram lentamente da construção, aparentemente irritados. Um deles se apoiava em uma espécie de bengala feita de vértebras com um crânio na ponta, que exalava uma fumaça negra. Ruby começou a recarregar sua arma apressadamente enquanto eu tentava me levantar.

– Já estava na hora de vocês entrarem na festa. – disse Ruby

Suas palavras foram retribuídas de grunhidos vindos dos dois seres bizarros com várias partes do corpo em aparente decomposição. Ambos levantaram as mãos e fizeram barulhos estranhos, como se tentasse falar com as cordas vocais dilaceradas. Uma esfera negra instável começou a se formar acima deles. Ruby rapidamente atirou contra os dois, mas um dos Mortos Vivos entrou na frente e os defendeu, recebendo um grande buraco no peito como recompensa e caindo no chão logo em seguida.

Ainda não conseguia me levantar, o que gerou uma grande raiva dentro de mim, já que podia apenas observar aquela cena. Ruby tentou recarregar mais uma vez sua arma enquanto a esfera crescia e perdia sua forma esférica, se transformando em uma massa disforme de energia negra que irradiava pequenas correntes elétricas visíveis. O Morto Vivo remanescente se jogou contra a garota, imobilizando-a. Ela nada pôde fazer para se livrar, pois o trevoso segurava seu único braço com força enquanto mordia seu pescoço.

Pensei que tudo estava perdido, porém Amom surgiu do nada e pulou contra o ser que devorava Ruby, arremessando-o para perto dos Necromantes. Ele rapidamente se levantou, mas não foi capaz de revidar. Senti uma onda intensa de energia percorrendo o local, seguida de um clarão e um forte estrondo. Fechei meus olhos pouco depois do começo do clarão e os abri novamente apenas quando o silêncio voltou a reinar.

Kate estava de pé próxima a onde os Necromantes estavam com uma de suas mãos apontada para a igreja. O local onde os trevosos estavam se transformou em uma grande cratera de onde saia uma fumaça negra. A queimação nas minhas costas havia desaparecido e pude finalmente me levantar. Olhei ao meu redor e notei que todos os corpos estavam se desfazendo numa velocidade absurda, tornando-se cinzas.

Ruby também levantou-se, porém com dificuldade e encarou Kate por algum tempo. Amom juntou-se a nós como se nada tivesse acontecido e apenas ficou observando o horizonte. Voltei meu olhar para a garota sem um braço com o pescoço dilacerado que não aparentava sentir dor alguma e não resisti em perguntar:

– Então... Não acha que precisa de cuidados médicos?

Ela me olhou com desdém e depois virou-se para a igreja.

– Não há com o que se preocupar. Ele vai crescer de novo. Pode ficar com os restos do antigo se quiser.

– Acha mesmo que iria querer isso?

– Claro! Meu corpo foi modificado para ser extremamente atrativo para cadáveres ambulantes como você.

– Isso explica este cheiro forte... Aliás, com isso é possível?

– Magia. – disse uma voz feminina desconhecida.

Virei-me rapidamente e encontrei uma garota de estatura mediana, muito pálida com cabelos negros amarrados em dois e olhos totalmente negros. Aliás, isso era mera especulação, uma vez que um tapa olho branco impedia minha visão de seu olho direito.

– Já estava me perguntando onde você estava, Alaw. – disse Ruby. – Aliás, não gosto quando fica comentando coisas da minha vida para os outros.

– Não aja como se isso você um segredo de estado, senhorita Deviant.

– Pois é. – interrompeu Kate. – Sua reputação é consideravelmente famosa por aqui.

– Meh, que seja! Apenas me ajude a sair daqui, Alaw.

– Tudo bem. – respondeu a garota. – Mas não machuca ser educada de vez em quando.

Ficamos observando as duas figuras se distanciarem até chegarem perto de uma das casa. Lá, ambas “entraram” na sombra da construção e desapareceram. Era muita informação para se digerir apenas em um dia, então resolvi simplesmente ignorar tudo até chegar ao templo. Kate pareceu perceber meu estado terminal de confusão mental e colocou uma de suas mãos em meu ombro esquerdo.

– Lição número oito. Dias intensos como esse são extremamente comuns na vida daqueles que buscam restaurar o equilíbrio deste mundo. Então é melhor ir se acostumando.

– Entendo... Bem, vou trabalhar nisso. Porém, como ainda sou um novato nisso vou aproveitar para dizer que... Esse dia foi louco...


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Notas finais do capítulo

Esse aqui demorou muito mais do que eu esperava para sair, mas meh... antes tarde duke nukem (vou ali me matar e já volto) -qn
Enfim, está tarde então serei breve... desculpem~
Agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até a próxima =D



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