De dentro da escuridão escrita por HellFromHeaven


Capítulo 5
Descanso




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Fizemos todo o caminho de volta banhados pela luz proveniente das duas Luas e metade da terceira até a mansão de Margaret. Antes disso, Kate fez algumas inscrições nas paredes da igreja, antes ocupada pelos Necromantes, e realizou um ritual de purificação envolvendo sal, ervas e prata em pó. Observei atentamente todo o procedimento a pedido de minha mentora auxiliei no que foi possível (tocar em alguns ingredientes queimava minha pele). Todo o trajeto até o “covil” da vampira foi silencioso e estranhamente tranquilizador. Kate manteve uma expressão serena o tempo todo e um forte sentimento de paz parecia exalar da alma daquela mulher. Era realmente muito bom estar ao seu lado.

Fomos recepcionados pelo Sr. Vento novamente e nos dirigimos à presença da senhorita Margaret, que tomava tranquilamente algo em sua xícara (aparentava ser chá, mas provavelmente era algo mais “vermelho”). A “sacerdotisa negra” fez um relatório completo e extremamente detalhado sobre todo o ocorrido, enquanto nossa “empregadora” ouvia atenciosamente. A pequena vampira esperou educadamente até Kate terminar de falar para, então, levantar delicadamente seu dedo indicador da mão direita até a altura de seus lábios e fazer seus comentários:

– Interessante... Minhas fontes não haviam me informado sobre a atuação de mercenários nesta região.

– Também foi uma surpresa para mim, mas acabou sendo útil.

– Entendo. Mas de todos os poucos mercenários, justo Ruby Deviant... Os boatos sobre ela sua história são tão misteriosos quanto sua presença.

– Acho que “surtada” é uma palavra melhor para descrevê-la. – disse.

– Entendo. – respondeu Margaret, antes de tomar mais um gole do líquido em sua xícara.

– E quanto à mestiça? Tem alguma informação sobre ela? – perguntou Kate.

– Oh, sim. Pela sua descrição se trata de uma mestiça de Sombra que tem trabalhado ao lado do Nyarko há algum tempo.

– Sério? – indagou Kate, surpresa. – Quem diria que aquele Guia Soturno rabugento conseguiria uma ajudante.

– Também fiquei impressionada quando soube da notícia, mas tudo indica que esta parceria está gerando frutos, o que é bom para nós.

– Sim. Só espero que o Nyarko seja o único patrão daquela baixinha.

– Pedirei para que meus contatos investiguem tal informação. Porém, acredito que seja isso mesmo, uma vez que a reputação da senhorita Deviant sugere que ela quer apenas eliminar trevosos. Logo, teria tudo o que precisa trabalhando para nosso velho amigo.

– Oh, entendo. Bem, toda ajuda é bem vinda.

– Sim. Mais da metade da terceira Lua foi tomada.

– É verdade... Enfim, isso é apenas mais um motivo para continuarmos seguindo em frente.

– Sim... Nunca me canso desse seu jeito otimista de ser, Kate.

– Ainda bem, caso contrário não conseguiríamos nos dar bem. Afinal, só consigo ser assim.

– Desculpe interromper esse discurso de amizade antiga e tal, mas... O que você falou sobre a Lua? – perguntei na esperança de entender a situação.

– Ah, é verdade. – exclamou Kate. – Ainda não lhe contei sobre isso. Eu resolvo esse problema assim que chegarmos ao templo. Minha cama está implorando por minha presença.

– Tudo bem...

– Ótimo! Adeus, Margaret. Até semana que vem.

– Sim. Estarei aguardando vossas presenças.

Saímos da mansão e fomos direto para o templo. Ainda estava muito confuso, porém decidi deixar minhas dúvidas para o dia seguinte. Ao chegarmos, Kate rapidamente se livrou de suas roupas e foi até uma pequena fonte termal localizada atrás do templo. Ela pediu para que eu também o fizesse e... Bem, ordens são ordens. Tirei minhas roupas e me juntei a ela na fonte, seguido por Amom. Havia espaço suficiente para cerca de dez pessoas ali, então não houve problema nenhum.

As águas quentes eram incrivelmente relaxantes e geravam um profundo desejo de permanecer ali para sempre. Ficamos aproveitando aquela benção da natureza em silêncio enquanto comtemplávamos o céu estrelado. Depois de algum tempo, o silêncio foi quebrado por um longo bocejo de Kate, seguido de um comentário num tom extremamente amigável:

– Essa semana tem sido turbulenta para você, não é?

– Nem me fale... Morrer, reviver, ser controlado por um cara em estado de decomposição, deixar de ser controlado e ajudar minha salvadora a derrotar outras coisas em decomposição... É como se tudo o que eu sabia antes não serve mais para nada.

– Nesse ponto eu tenho o desprazer em dizer que você está certo. A maioria das pessoas sabe apenas superficialmente a situação em que o mundo se encontra e como humanos comuns não podem fazer quase nada contra os trevosos, acabam se isolando por medo.

– É... Confesso que nunca tinha visto um trevoso antes de ser morto por aquele Necromante. Só sabia que eles existiam por causa das notícias nos jornais. Até fazia aulas de defesa pessoal e artes marciais para me sentir mais seguro. E pensar que acabe morrendo sem nem saber como. Quando me dei conta, já era um Morto Vivo.

– Tem sorte de não se lembrar de nada. Esse tipo de coisa é bastante traumática para humanos normais. E se acha que não sinto medo quando vou enfrentar os trevosos, está enganado. Porém, existem coisas muito mais importantes do que a minha vida em jogo, então eu simplesmente não posso ceder ao medo.

– Entendo. Você é uma pessoa forte.

– Eu tenho que ser. O mundo precisa de pessoas fortes para restaurar seu equilíbrio e que estejam dispostas a morrer tentando.

– Entendo...

– Você deve estar muito confuso sobre... Tudo, não é?

– Sim... Muito mais do que eu gostaria.

– Bem, vou tentar esclarecer algumas coisas. Não dá pra explicar tudo agora, mas conforme o tempo for passando você pegará o jeito. Existem três grandes vertentes de iluminados, chamadas de Ordens. Elas são compostas por seres humanos com uma grande quantidade de energia vital. As três Ordens são os Sacerdotes, os Exorcistas e os Monges. Cada uma possui uma filosofia e buscam o equilíbrio da sua forma. Isso é apenas para você ter uma noção básica, então entrarei em mais detalhes outro dia.

– Entendo... Então essa energia vital... Qual é a dela?

– Todo ser vivo possui energia vital positiva e negativa em sua alma. Ela aumenta de acordo com suas atitudes estilo de vida. Ou seja, quanto melhor você for como pessoa, mais energia positiva e por aí vai. Porém, é bom saber que uma não anula a outra instantaneamente. Se você possuir uma quantidade de energia vital positiva muito superior à negativa, a segunda diminuirá lentamente, podendo quase ser extinta.

– Então é possível se tornar um ser totalmente positivo ou negativo?

– Não. Lição número nove! É impossível para um ser humano extinguir sua energia negativa ou positiva. Apenas trevosos e seres iluminados são assim. Isso porque nunca foram humanos, pra começo de conversa. Aliás, é bom que você saiba que trevosos que já foram humanos ainda caem nessa regra e possuem uma quantidade miserável, porém existente, de energia vital positiva.

– Isso quer dizer que se eu começar a fazer boas ações minha energia positiva vai aumentar?

– Sim, mas chega a um ponto em que isso se torna prejudicial aos trevosos. Daí existem dois caminhos a se tomar: aumentar sua energia negativa ou se arriscar e tentar se tornar um mestiço.

– Isso significa que aquela garota passou por esse processo?

– Talvez. Há casos em que humanos e trevosos se relacionaram e... Bem, você pode imaginar o resultado.

– Oh, entendo.

– O ritual para se transformar em mestiço é perigoso e tem altas chances de dar errado, fazendo com que o trevoso simplesmente desapareça. Porém, se tudo ocorrer bem, ele terá a capacidade de recitar encantamentos da luz e das trevas. Eles são mais fortes que sua forma trevosa original por este detalhe, mas possuem um limite para suas energias que depende de como essa pessoa era como humana e quando trevosa.

– Entendo... Eu acho. Isso significa que eu tenho uma chance de recuperar parte da minha humanidade?

– Sim. É um longo e tortuoso caminho, mas não é impossível. Agora... Tenho uns contatos que me arrumarão um pouco de carne humana para você.

– Ué... Mas e o lance dos porcos?

– Isso só será possível depois que sua energia positiva tiver aumentado um pouco. Lembre-se do que eu disse. Isso será a lição número 10. Quanto maior a diferença entre os polos da energia vital, mais difícil é aumentar a em menor quantidade. Sua sorte é que passou apenas três dias no controle daquele Necromante, então deve demorar algo em torno de um mês e alguns dias.

– Isso é desanimador e animador ao mesmo tempo. Pelo menos não terei mais que matar ninguém.

– Sim. Aliás, a partir de amanhã você vai treinar com Sahaac. Isso o ajudará e encarar situações como a que enfrentamos hoje mais tranquilamente. E, diferente do Amom, você será útil em batalha.

– Hey! – exclamou Amom. – Eu sou uma ótima distração.

– É. Isso não posso negar. – respondeu Kate após abafar algumas risadas. – Mas como já disse anteriormente, você é um ótimo farejador.

– Falando em farejar. – disse. – O cheiro do sangue daquela garota era quase irresistível. Sei que não sou um especialista nisso, mas não parecia algo normal.

– Isso porque não era mesmo. Ela mesma falou quando se apresentou. É uma pessoa amaldiçoada. Lição número onze! Maldições são magias permanentes de cunho trevoso que exigem uma quantidade absurda de energia negativa e só podem ser desfeitas por aqueles que detêm o conhecimento de como aplicá-las. Os milagres são o equivalente a elas, só que do lado da luz.

– Então o lance de ela não morrer depois daqueles ferimentos todos é por causa de uma maldição?

– Sim. Podem ser mais de uma, aliás. A lição número doze será uma das mais importantes, se não a mais importante, de todas, então ouça atentamente.

– Ouvirei.

– A magia é uma ferramenta capaz de distorcer a realidade. Você pode fazer o que quiser com ela, desde que consiga criar um encantamento forte e possua energia vital o suficiente para tal feito. E a diferença entre uma magia das trevas e uma da luz é a intenção por trás da pessoa que a executa pela primeira vez.

– Oh... Entendi. Então nem todo trevoso é capaz de criar uma maldição.

– Exatamente. Criar uma magia é um ato que só pode ser executado por seres com um grande conhecimento e experiência em encantamentos, materiais e coisas do tipo. As ordens possuem alguns pesquisadores que se especializam nisso, mas raramente geram resultados.

– Entendo. Acho que agora minha mente está bem menos confusa, embora várias novas perguntas tenham surgido.

– Isso é bom. Um pouco de conhecimento e curiosidade não fazem mal a ninguém. Aliás, muito pelo contrário. Podem até mesmo ser o motivo para que algumas pessoas continuem vivas.

– Heh, isso é verdade.

Olhei para as Luas com uma nova concepção de mundo formada em minha mente. Não via o desconhecido como uma massa negra da qual eu deveria fugir e me esconder. Aquela conversa me fez perceber que eu só precisava de uma tocha e um pouco de coragem para descobrir que existia uma imensidão de informações além daquela massa e que a mesma não era tão espessa ou perigosa. Confesso que estava em dúvidas se tinha feito o certo ao aceitar a proposta de Kate, mas ela acabou se tornando essa “tocha” que tanto precisava. Então decidi que dedicaria o resto dos meus dias de “vida” para ajudar aquela sacerdotisa a alcançar seu objetivo, não importando o que viesse a acontecer.


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Notas finais do capítulo

Nem vou mais comentar o período entre as postagens porque o semestre está acabando e isso significa provas e trabalhos e... nada de tempo x.x Só posso garantir que não desistirei deste projeto ='D
Farei mais capítulos como esse que servirão para que o leitor possa ter uma pausa do sangue e talz e também para explicar coisas que não podem ser esclarecidas durantes lutas (não é um anime/filme onde o vilão explica seus planos maléficos e o pessoa discute como funcionam os poderes no meio do quebra pau porque né, isso não faz sentido)
Enfim, agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até a próxima =D



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