De dentro da escuridão escrita por HellFromHeaven


Capítulo 2
Iniciação




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Segui aquela mulher por toda a cidade enquanto as Luas iluminava nosso caminho em conjunto com as fracas e oscilantes luzes artificiais dos postes. Alguns sons de criaturas obscuras podiam ser ouvidos ao longe, mas sempre desapareciam quando nos aproximávamos. Provavelmente era devido à presença de minha “salvadora”, pois até mesmo eu sentia uma espécie de pressão ao acompanha-la. Porém, por mais que tal sensação fosse estranha e ligeiramente perturbadora, não se comparava nem um pouco à presença desprezível de meu “mestre”. Aliás, só lembrar por alguns segundos de como era estar ao lado daquele ser maldito era o suficiente para me causar náuseas.

Continuei acompanhando-a até que saímos da cidade e adentramos a floresta que circundava a mesma. Era composta principalmente por pinheiros e árvores grandes cuja altura das folhas mais baixas beirava dois metros de altura. Trilhamos uma estrada de pedras até chegar a um templo enorme. Sua fundação era feita da mesma pedra em que caminhávamos e toda sua estrutura (fora o telhado, pois era constituído de telhas de cerâmica) era de madeira. Não havia muita cor ali, apenas tons neutros. Mas ainda assim era uma bela visão. Admirei-a enquanto pude, pois logo senti minhas forças se esvaindo e caí sobre meus joelhos. Tentei me levantar, mas estava paralisado e minha visão começou a ficar turva. Obviamente entrei em desespero, mas logo fui amparado por minha “companheira”, que se abaixou ao meu lado e colocou uma de suas mãos em meu ombro.

– Oh... Parece que me esqueci de um detalhe muito importante. Preciso firmar um contrato com você para que minha energia vital positiva não lhe incomode... Ah, ela e a barreira do templo, claro.

– Contrato? Barreira? Espere... O que vai acontecer comigo se não fizermos isso?

– Bem, você morre. Ou melhor... Você vira cinzas e sua alma vai para o Plano Superior... Ou Inferior, dependendo de como você era antes de morrer.

– Droga! Então o que está esperando?

– Acalme-se! Ainda há tempo. Enfim, realmente é melhor acabar com seu sofrimento de uma vez. Apenas fique parado aí.

Ela levantou-se e mordeu seu dedo com força. Pude perceber isso, pois rapidamente vi uma gota de sangue escorrer por ele. Depois disso, a mulher usou seu sangue para escrever algo em minha testa, o que foi bizarro e me deixou extremamente confuso. Após algumas “pinceladas”, finalmente pareceu satisfeita e ergueu sua mão para o céu, fechando os olhos.

– Os céus sorriem enquanto minha mente vaga tranquilamente pelas colinas. Os ventos sopram com toda a força da natureza, porém mantenho meus pés no chão firmes como rochas. Seres divinos que acompanham meu caminhar, deem-me forças para que eu possa subjugar qualquer obstáculo. Àqueles abaixo de mim, apenas estendo minha mão, calmamente oferecendo uma chance e estabelecendo um laço. Luz que me acompanha desde que me tornei merecedora, nunca me abandone.

Ouvi todas aquelas palavras em silêncio por dois motivos: estava confuso e curioso sobre onde ela queria chegar e eu nem sequer conseguia falar. Não entendi o sentido daquilo, afinal pareciam apenas frases aleatórias. Mas assim que ela parou de falar, senti uma grande quantidade de energia fluindo ao redor dela e parte disto entrou em mim. Doeu... Digo, queimou bastante, mas logo a queimação se transformou em algo suave e... Bem, não sei explicar o que era aquilo. Resumindo, comecei a me sentir bem e toda a pressão que esmagava meu corpo desapareceu pouco a pouco.

Depois de alguns minutos, estava me sentindo melhor do que nunca. Estiquei minhas costas e braços facilmente e era quase como se corresse sangue em minha veias... Quase. Enquanto me divertia com meu corpo, a mulher apenas me observava sorrindo. Fiquei extravasando minha felicidade por alguns minutos e finalmente voltei à razão. Olhei diretamente para minha salvadora, que se divertia com minha cena ridícula e perguntei a única coisa que martelava meu cérebro parcialmente decomposto:

– Como você fez isso? Aliás, o que você fez?

– Hehehe. Então o jovem morto vivo está curioso sobre os misteriosos poderes de uma mulher misteriosa como eu?

– Bem... De certa forma.

– Vamos! Você precisar melhorar esse senso de humor se pretende ficar por aqui.

– E no que isso me ajudaria? Não disse que queria ajuda para exterminar... Digo, purificar os trevosos?

– Sim! E vejo que está na hora de sua primeira lição. Algo vital para combater as forças das trevas é manter a energia vital positiva alta. E um bom senso de humor ajuda bastante nisso.

– Oh... Sim... Energia... Entendo...

– Segunda lição! – gritou me interrompendo enquanto apontava sua mão para mim com dois dedos. – O que acabei de fazer com você se chama “Ligação Espiritual”. A maioria das pessoas hoje em dia se refere a isso simplesmente como “Contrato”, e eu estou inclusa nisso. Antes que pergunte qualquer coisa, conhecimento nunca é demais. Esse foi o meu motivo para dizer um nome arcaico. Alguma dúvida?

– Bem, o que você escreveu na minha testa?

– Meu nome. Faz parte do procedimento. Aliás, qual é o seu?

– Hiro. Hiro Quispiam. E o seu?

– Eu não disse?

– Não.

– Oh... Pode me chamar de mestra, bela senhorita, dona da minha mente, rainha suprema pela qual eu daria a vida fácil, e por aí vai.

– Acho que vou ficar com “mestra” mesmo.

– Imaginei e...

Ela rapidamente se aproximou de mim e deu um tapa na minha testa. Aquilo doei bastante e eu nem tive chances de me defender.

– O que foi isso?

– Lição número um! Melhore seu maldito senso de humor.

– Tudo bem, tudo bem rainha suprema dona da minha vida ou sei lá. Não precisava me bater.

– Eu sei. Só queria ver sua reação. E à propósito, pode me chamar de Kate.

– Dessa vez é seu nome de verdade ou uma palavra que significa “deusa” ou algo do tipo.

– É claro que é meu nome, seu idiota. Enfim, este é o Templo Sagrado dos Ares Gélidos.

– Mas o quê?

– Sou a décima primeira sacerdotisa a tomar conta daqui, então estou bem longe de quem deu esse nome, cronologicamente falando. Aliás, você entenderá o porquê dele quando começar a nevar.

– Tudo bem... Espere, você disse sacerdotisa?

– Sim, algo errado?

Analisei a pessoa que estava à minha frente de cima a baixo e antes que pudesse chegar a qualquer conclusão, meus pensamentos foram interrompidos por ela.

– Não é só porque sou uma sacerdotisa e enfrento as “forças do mal” que eu devo me vestir feito uma santa. Não está escrito em nenhum lugar que nós não podemos usar preto.

– Ah... Entendo.

– Deveria tomar mais cuidado com o que fala, moleque. – disse alguém com uma voz rouca e quase inaudível.

Virei-me para a direção de onde vinha estranha voz e me deparei com uma... Coisa que parecia um cachorro me encarando com desconfiança. Era grade demais para ser um cachorro normal, seus olhos eram completamente vermelhos e levemente brilhosos e ao invés de pelo, havia algo como uma camada de energia negra cobrindo sua pele. Fora isso, parecia um cachorro.

– Sei o que está pensando, mas eu juro que te mato se me chamar de cachorro!

– Mata nada. – interrompeu Kate. – Seres Inferiores não são páreo para mortos vivos. E ele é bem mais velho do que você, Amom.

– Ah, então realmente não é um cachorro. – pensei alto.

– Seu filho da puta!

Amom me mordeu. Ou pelo menos tentou, porém não senti dor alguma vindo do local. Isso era algo normal, uma vez que eu já não estava vivo. Depois de um minuto, aquele “animal” percebeu que sua tentativa de me machucar fora em vão e apenas se escondeu atrás de Kate, que tentava segurar o riso.

– Eu tentei te avisar, mas você não me escutou...

– Desculpa...

– Enfim, ele é outro “contratado” meu e tal. Ah! Lição número três! Amom é o que chamamos de “Ser Inferior”, a espécie de trevosos mais fraca que existe. Geralmente possuem formas “animais” e se alimentam de energia vital negativa que... Hoje em dia paira no ar o dia inteiro.

– Hm... Interessante.

– Enfim, ele é útil para rastrear outros trevosos, então seria bom que vocês se dessem bem. Afinal, vamos todos trabalhar juntos.

– Por mim, tudo bem. – disse.

– Tudo bem... – disse Amom, tão baixo que mal pude ouvir.

– Isso nos leva à sua última lição de hoje! Siga-me!

Acompanhei Kate até o interior do templo. As instalações não pareciam diferentes de uma casa normal. Na verdade, a única diferença entre elas e minha antiga casa era que os móveis eram antigos. Descemos algumas escadas, o que significava que havíamos entrado no subsolo. Lá, o chão era de pedra e a pouca iluminação era irradiada por alguns lampiões distribuídos simetricamente em colunas de madeira. Seria macabro se eu não fosse um maldito Morto Vivo. Enfim, no final daquele corredor havia um “trono” simples de madeira onde repousava uma... Raposa cujo pelo apresentava uma tonalidade de branco que eu nunca havia visto. Era algo como o “branco mais branco” que poderia existir. Seus olhos eram cinzas e todo seu corpo parecia emitir uma luz tranquilizadora (que na verdade queimava um pouco).

– Este é Sahaac, meu mentor.

– Olá, jovem alma perdida.

Sua voz era grave, mas, ao mesmo tempo, estranhamente tranquilizante.

– Olá, mentor da minha mestra.

– Bem, a lição aqui é a seguinte: todo servente da luz, seja sacerdote, exorcista ou monge possui um mentor. Aliás, acho que os monges têm s esquecido disso, mas não importa. Ele é um ser que veio do Plano Superior para poder aconselhar e guiar os humanos numa tentativa de recuperar o equilíbrio deste mundo.

– Entendo.

– É bom que entenda mesmo. Nossa missão é recuperar o equilíbrio entre trevas e luz e isso não é o sinônimo de exterminar trevosos. Sempre que houver a possibilidade de uma redenção, nós devemos apoiá-la. Você e o Amom são exemplos disso.

– Oh... Entendo.

– Então, você vai morar aqui, seguir os conselhos da raposa brilhosa, cooperar com o cachorro que não é cachorro e me ajudar a “limpar” o máximo que pudermos desse mundo. Essa é sua última chance. Quer libertar sua alma desse corpo corrompido, ou prefere “viver” ao nosso lado, podendo salvar algumas almas como a sua?

– Bem, escolha difícil essa? Acho que vou ficar com a segunda, afinal... Preciso mostrar que eu tenho senso de humor.

– Heh. Esperarei ansiosamente por isso.


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