Caitlin saiu daquele hospital se condenando pelo que tinha acabado de fazer...Ou melhor, pelo que quase tinha feito. Ela havia preparado por tanto tempo a sua mascara de indiferença, erguido muros que a mantivessem o mais longe possível de Barry Allen, mas pra que? Para em menos de dois segundos ter ido parar em seus braços?

Se Harrison Wells não tivesse aparecido naquele momento, eles teriam se beijado e o que mais a deixava nervosa naquele momento, era o fato de desejar com todas as forças que ele não tivesse interrompido.

"Já chega" - Ela pensou consigo mesma, tentando afastar aqueles pensamentos de sua cabeça.

Aquilo foi algo que não iria se repetir, ela não iria deixar, pelo menos era isso que ela pretendia. O que fazer quando seu coração segue um caminho diferente de sua mente? Esse era o dilema de sua vida e por isso ela tinha medo. No final das contas -por mais racional que ela fosse - seu coração sempre ganhava.

...

Aquela era a primeira vez em meses que Dra. Snow pisava no Star Labs. Parte dela estava contente por voltar ali. Já a outra queria virar as costas e sair correndo. "Por Cisco" Foi o que pensou antes de respirar fundo e entrar naquele lugar.

Barry e Dr. Wells estavam conversando sobre a situação de Cisco, mas pararam quando a viram entrar. Cait ainda não havia decidido com que cara encararia os dois. Os dois homens a ficavam encarando e seguindo cada movimento seu, com o olhar. Por fim ela se cansou do silencio constrangedor e começou a falar.

— Estavam falando sobre Cisco?

— Sim. Dr. Wells estava cuidando das coisas pra transferência dele pra cá, mas ainda tem que dar um jeito de convencer a família a assinar os papeis. - Barry responde a ela.

— E por falar nisso eu já vou indo fazer isso. -Wells completa

O cientista já estava de saída, quando se vira para um último recado.

— Comportem-se!

Caitlin não podia ter ficado mais vermelha com o comentário. Será que aquilo seria lembrado para sempre? Então ela simplesmente se vira para arrumar alguns papeis em cima de uma das mesas, não tendo assim que fazer contado visual com nenhum dos dois homens.

— Cait... - Barry começa a dizer assim que Dr. Wells sai, mas é interrompido por ela.

— Eu não quero falar sobre isso! - Ela exclama antes que ele toque naquele assunto.

— Não era isso que eu iria dizer - Ele diz fazendo com que a dra. o encarasse.

Depois de um breve período de silencio, Barry finamente pergunta

— Por quê?

— Por quê? - Ela repete a pergunta por não entender seu significado.

— Por quê foi embora? - Ele completa.

Ela pensa por alguns segundos no que vai dizer, mas nada de útil vem a sua cabeça; então ela simplesmente responde.

— Barry...Eu...hum...É complicado.

— Cait, por favor. Essa pergunta fica rondando minha mente e eu só preciso de uma resposta. Eu entendo que depois do que aqueles dois fizeram, você provavelmente ficou com medo. Afinal eles te sequestraram, não consigo imaginar o pavor que deve ter sido. Foi por isso? - Ele pergunta, cerrando seus punhos com a memória de como se sentiu com a possibilidade de vê-la machucada ou até pior.

"Não Barry. Não foi o que eles fizeram a mim. Foi o que eu fiz a eles" Ela pensou em dizer. Seria tão mais simples se ela apenas dissesse a verdade. Ninguém sairia magoado, mas talvez machucado. Ela lembrou do que fez aquele dia. Lembrou de como os machucou. Os dois homens ainda levam marcas do que ela fez. Não que se sentisse culpada. Eles eram monstros, mereceram aquilo, mas Barry...Cisco...Ela ainda temia machuca-los. Temia ainda não ter o controle necessário. Não iria contar, pelo menos,não agora.

— Não Barry... Não foi por isso. - Disse em um tom que saiu mais arisco do que esperava.

— Você ira me contar?...Algum dia? - Ele fez sua ultima pergunta.

— Talvez - Caitlin se permitiu responder com a verdade.

Barry assentiu magoado. Sentindo- se triste pelo fato dela não confiar nele o suficiente para contar o motivo, porém aquela seria a única vez que ele perguntaria. A ultima vez que ele tentaria entender, que tentaria ultrapassar o muro que ela insistia em colocar. Se um dia Cait quisesse lhe contar a verdade a iniciativa teria que vir dela.

— Eu preferiria que não usasse essa palavra - Barry disse se referindo ao "talvez" - Ela pode se tornar um parasita capaz de corroer sua mente. Agora acho melhor ir trabalhar, antes que leve outra bronca por atrasos.

Depois de dizer isso, Barry simplesmente sai, deixando-a sozinha naquele lugar. A doutora então dá um soco na mesa, fazendo que se crie uma fina camada de gelo sobre todos os objetos presentes lá.

Caitlin sentia raiva. Não de Barry é claro, mas de si mesma. Aquilo era tão frustrante. Se ela realmente estivesse tomando a decisão certa, por quê parecia tão errado?

Ela decidiu deixar seu monologo interior de lado, para limpar a bagunça que fez com sua pequena explosão. Afinal das contas, seria muito difícil explicar o por que uma mesa dos Star Labs estava simplesmente congelada.

...

Aquele era mais um dia calmo. Cait odiava aqueles dias. Sempre lhe disseram que depois da tempestade vem a calmaria, porém para ela era justamete o contrario. Quando as coisas estavam bem demais, já podia se preparar porque algo ruim viria logo em seguida. Assim ela estava, lutando para acalmar a inquietação que esse mal pressentimento lhe causava.

Normalmente quando se sentia assim, Cisco a ajudava. O simples fato de conversar com aquele rapaz engraçadinho, que é dono de uma das personalidades mais únicas que ela já viu, fazia aquela sensação se amenizar. Francisco Ramon era seu melhor amigo em todo o mundo e saber que ele não estava ali a afligia. Por isso ela decidiu visita-lo. Ele podia não ouvi-la, mas ela ainda precisava vê-lo. As coisas com Barry , como ela pode perceber mais cedo, estavam um pouco tensas. Ela não queria magoa-lo e ver nos olhos dele que já havia feito isso, só iria piorar o seu dia.

Ela estava andando pelos corredores do hospital e por algum motivo sentia pressa. Suas mãos estava geladas e ela quase podia senti-las se tornando uma firme estrutura de gelo. Seja sexto sentido ou qualquer outra coisa que queira chamar, de alguma forma ela sentia que algo não estava certo. Suas suspeitas foram confirmadas antes mesmo de entrar no quarto onde seu amigo repousava.

A voz que ela ouvia saindo de lá era bastante conhecida pela mulher. Aquelas cordas vocais aceleradas era algo que muitas vezes havia visto Barry usar. Ele fazia isso para esconder sua própria voz, porém aquilo não soava como Barry. Além disso ele não teria motivos para usa-la aqui. Então se não era Barry, só lhe restava uma única opção e ela não era nada boa.

A doutora apenas deixou que seu poder tomasse conta de seu corpo. Se manifestando assim na forma de gelo maciça, que podia transformar seu corpo. uma camada de gelo se formou também por cima de suas roupas, fazendo com que essas se colassem ao seu corpo e assumissem um tom esbranquiçado que se mesclava com sua pele.

Ela não tinha chance contra o reverso, não era suficientemente ingênua para acreditar nisso. Não tinha poder para derrotado, mas talvez tivesse para fazê-lo recuar. O elemento surpresa seria sua única vantagem.

— Pra mim você já estava morto a séculos - Ela o ouviu dizer antes de acerta-lo com a maior raja de gelo que conseguiu.

O ataque foi suficientemente forte para lança-lo sobre o criado mudo, partindo o mesmo em pedaços. A parede atrás do local onde o reverso foi derrubado carregava consigo os sinais da explosão de gelo que ocorreu a poucos segundo. O corpo do velocista amarelo estava parecendo com uma estatua congelada, mas aquilo ainda não era o suficiente.

O reverso emergiu da casca de gelo com uma facilidade assustadora. Correu até Caitlin prensou-a contra a parede e a ergueu pelo pescoço. Isso tudo em uma velocidade tão grande que a mesma só conseguiu ver um borrão.

Dr. Wells ou Eobard Thawne -se formos o chamar por seu verdadeiro nome- apertava o pescoço da mulher a sua frente com um misto de preocupação e curiosidade. Ele não podia deixar uma testemunha. Ele veio para cometer um homicídio, agora teria que fazer dois.

— Você pode me matar agora... - Cait começou desejando que sua voz não soasse tão assustada como ela estava naquele momento.

Aquela ara a primeira vez que a morena falava naquela forma e a mesma tinha que admitir que sua voz estava assustadora. O som era semelhante ao barulho de gelo se trincando, mesmo assim soava alto e claro.

Ela se concentrou em suas mãos e fez com que o gelo nelas se tornasse mais espesso e assumisse uma determinada forma. A ponta de seus dedos agora era semelhante a estalactites. Finas e afiadas.

— Mas não vai sair daqui inteiro. - Ela disse antes de cravas aquelas "garras" no rosto de seu inimigo.

O cheiro metálico de sangue tomou conta do lugar. A dor fez com que Wells a soltasse e a mesma caísse sentada no chão. o mesmo estava pronto a mata-la quando ouviu o barulho de passos se aproximando.

"Quantas pessoas iriam interromper aquele momento" Ele pensou irritado, antes de correr para fora dali.

Quando a enfermeira que estava vindo conferir o estado de Cisco entrou no quarto, soltou um grito para logo depois sair correndo. Cait admitia que a cena devia ser no mínimo alarmante. Se você encontra uma criatura congelada, com uma mão ensanguentada, nada mais normal do que correr.

A Dra então se levanta e põe-se a correr pra fora dali. Ela se sente um pouco culpada por deixar Cisco, mas se explicar para a policia não estava na sua lista de metas do dia. Além disso, ela tinha praticamente certeza de que aquele homem não iria voltar. Pelo menos não agora. Haveria muita atenção em cima de seu amigo naquele momento. Então ela correu...Correu antes que aqueles corredores estivessem repletos de pessoas.

No meio do caminho sua pele retomou a forma original. Cait estava se dirigindo a saída dos fundos. Ela teria que dar uma maior volta, mas era a coisa mais inteligente a se fazer no momento. Assim que ela pôs a mão sobre a maçaneta da saída, pode perceber que a mesma ainda estava ensanguentada. Sua luva, que antes era de um tom cinza claro, agora estava rubra.

A primeira coisa que fez ao entrar no seu carro foi tira-las de sua mão e taca-las no porta luvas. Ela se sentia expostas sem elas, mas era melhor do que sair por ai com sua mão manchada de sangue.

Caitlin ficou por alguns minutos parada dentro do carro, na tentativa de se acalmar. A Dra pegou seu celular e mandou uma mensagem para que Barry a encontrasse no Star Labs urgentemente. O mesmo precisava saber que o acidente de Cisco, provavelmente não foi um acidente.

Em menos de vinte minutos ela já havia chegado ao estabelecimento. Com certeza iria receber uma multa por excesso de velocidade.

Barry já estava lá e ao vê-la entrar, pode perceber instantaneamente o estado de nervos que sua parceira se encontrava.

— Cait, o que houve? -Ele pergunta preocupado

Ela ia começar a contar sobre o reverso quando sua atenção foi atraída para Dr Wells. O homem estava entrando naquele momento e exibia um grande curativo no lado direito de seu rosto.

— O que aconteceu? - Barry perguntou de novo, só que desta vez para o homem.

— Cisco foi atacado no hospital. Eu estava fazendo uma visita a ele e fui atacado também - Ele respondeu em um tom controlado.

— Não... - Cait falou, depois de processar o que tinha ouvido, mas logo que notou o olhar inquisitivo de ambos os homens, tratou de disfarçar. - Ele esta bem? - perguntou.

— Sim. A meta-humana foi interrompida antes que pudesse machuca-lo.- Respondeu Wells.

— Meta-humana? - Barry perguntou apreensivo.

— Ela tem poderes de criogênicos. Bem poderosa ao que parece... -Ele começou a contar a Barry.

A partir de um momento Cait parou de ouvir o que os dois falavam. A verdade lhe atingira como um soco no estomago. Era ele... Harrison Wells, o homem em que confiou todo esse tempo...Era ele. Ele era o Flash reverso e ele tentou matar seu amigo. Não existia um jeito fácil de lidar com aquilo, mas a prova estava ali, literalmente estampada em seu rosto.

— Cait! - Ela saiu do transe com a voz de Barry lhe chamando.

— Tudo bem? estávamos falando em como conseguiremos capturar a assassina congelada e você parece que estava em outra dimensão. - Wells lhe disse

” Assassina congelada, como se eu fosse a assassina por aqui?" foi o que pensou em responder, porém seria bastante imprudente.

— Desculpe, é que isso me abalou um pouco. - Ele respondeu tentando soar amigável.

— Entendo, mas temos que nos concentrar. Se ela o quis ferir agora, pode ser que também tenha sido a responsável pelo acidente. Ela é perigosa. - Ele completou.

— Temos que pegá-la antes que machuque Cisco de novo. - Barry disse decidido.

Caitlin Snow estava ferrada. Wells havia arranjado um jeito de culpa-la. Claro que não sabiam que era ela, mas quanto tempo levariam pra descobrir. Ela teria que fingir muito bem. Estava tão perto de seu inimigo e não podia deixar que ele soubesse. Quanto a Barry. Ele realmente tinha acreditado e quem poderia culpa-lo? Pela primeira vez notou o quão idiota foi em manter seus poderes em segredo, mas agora teria que ser cuidadosa. Barry iria caça-la e se Wells era o reverso, isso significa que ele também havia matado Nora Allen. Ela precisava de provas. Por que se não, seria sua palavra contra a dele e uma parte dela temia que Barry não fosse confiar nela.

— Então temos trabalho a fazer. - ela diz firmemente.

...

Agora Cait estava parada na frente da casa de Barry. O velocista ainda estava no Star Labs, com Harrison Wells. Ele estava apavorada por ter que deixa-lo lá, mas se Wells ainda não fez nada contra ele, não seria agora que faria. Pelo menos era isso que se convenceu.

Ao bater na porta foi atendida por Joe West.

— Barry não esta. - Ele disse antes que ela pronunciasse uma única palavra.

— Eu sei. E Iris? - ela perguntou.

— Também não esta. - O homem respondeu desconfiado.

— Ótimo! Eu preciso da sua ajuda! - Ela foi direto ao assunto.

— Por que? - O moreno perguntou.

— Porque Harrison Wells é o Flash Reverso.