Winner escrita por Alice


Capítulo 5
It's Fucking Valentines Day


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, mas quando você tenta explicar para a sua família que veio te visitar que você tem uma fanfic feminista e que tem que escrever, bem, eles não entendem muito bem.
Enfim, sorry.



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Lembrem-se: Rose é uma garotinha – rebelde, vaidosa, furiosa, independente –, e como todas as garotinhas ela se permite quebrar. Rose apenas quebrava na presença de uma pessoa, pessoa que ela sabia que iria juntar os cacos mesmo que fosse se cortar. Essa pessoa vem a seguir.

James Sirius Potter era o único familiar com quem Rose Narcisa Weasley ainda se comunicava. Ele ia visitá-la uma vez por ano, sempre no mesmo dia: quatorze de fevereiro – dia dos namorados. Era uma tradição. Rose buscava ele no JFK no dia treze, chamava-o de Sirius e levava a mala de mão dele: ele sempre estava zonzo de alívio por sair do avião. No taxi, depois que ele se recuperava, os dois brigavam por quem iria pagar pela corrida e um James emburrado tirava a carteira do bolso.

Então, eles faziam pipoca, chocolate quente com marshmallows e ficavam no colchão que havia na sala vendo filmes B no vídeo cacete, falando das novidades que guardavam apenas para si durante o ano, esperando para compartilhar pessoalmente e não por ligações a cada duas semana.

Normalmente, pelas três da manhã eles adormeciam abraçados um no outro.

O que o Potter não sabia era que, no meio da noite, Rose acordava e chorava, acariciando o rosto dele. E dizia que o amava. E pedia para ele ficar. E fingia que nada disso havia acontecido no outro dia. Por quê ele iria embora e ela jamais namoraria ele. Ela o amava como o irmão mais velho que sempre fora, mas o queria ali, com ela. Rose nunca conseguiria pedir isso à ele, para abandonar tudo como ela fizera. Ela sabia que era dor demais. E ficou com tudo para si – de novo e de novo e de novo.

Eles passeavam por New York, riam e corriam pelo Central Park e, por fim, paravam num karaokê a noite. Rose cantava primeiro. Depois James. Os dois choravam e se abraçavam (ele teria que ir embora), todos em volta olhavam abismados: It’s Valentines Day. Mas as músicas tinham significados.

Dia doze de fevereiro do ano seguinte, James Sirius Potter morreu e Rose Narcisa Weasley ficou a deriva. Todo o dia catorze de fevereiro, desde os dezesseis anos, ela suspirava contra seus cabelos que o amava. O que ela faria? Estava frio lá fora. Ela estava quebrava e ele não juntaria mais seus pedaços – mesmo que não fosse se cortar.

On a point in time-present undefined

And it's getting cold outside

Situations statical-for reasons you don't know

Just short of indecision

And it's getting cold outside

And it's getting cold outside

O enterro foi em Londres. (Sim, exatamente: merda!). Rose não contou que iria. Ela apareceu lá com o rosto inchado de tanto chorar havia dois dias, os cabelos soltos ao vento cortante e selvagem e com um sobretudo negro acinturado – como todas as suas roupas.

Seus lábios também estavam negros, como quando chutara o porteiro. James rira tanto quando contara a história por tele-fone. Foi com eles que sorriu para sua mãe quando passou pela família em direção ao caixão. Queria ver Sirius uma ultima vez: chamá-lo de Sirius uma última vez. E depois desapareceria novamente, como um fantasma.

Os passos se apressaram e então, oh, seus cabelos estavam na altura dos ombros, rebeldes e ruivos – como os dela – e ela apostaria que eles estariam presos quando ele chegasse em New York. Bosta, seu olhos verdes oliva estavam fechados e ela jamais os veria novamente. Rose olhou para o lado e viu Ginny e Harry em pé, contemplando o filho morto também pela última vez, e resistiu à vontade de abraçá-los.

Ela olhou para o céu, vendo a chuva cair em sua direção: o vento aumentara. Sirius, é dia dos namorados, Sirius. E está frio aqui fora.

James? James Sirius?

Sirius?

Meus pedaços estão pelo chão – e você está em cima deles.

All year

Time out for good behavior

Adds up to what you want it to

What you wanna

What you wanna do

Naquele momento, encarando um James sem vida – morto em uma bosta de assalto sem sentido, apenas por quê tinha que ter morrido ali –, Rose surtou pela primeira vez. Ela caiu em cima do caixão, tocando a pele gelada que sempre fora gelada de seu primo e irmão mais velhos, rindo. Ela não sabia o que James queria fazer se ainda estivesse vivo. Ele continuaria em sua carreira de professor de faculdade, dada à ele por ser um gênio em Física? Ou ele gostaria de jogar toda aquela merda de menininho responsável que ela não era?

Foda-se o bom comportamento.

A garotinha com nome de duas flores urrou simplesmente pelo fato de que tinha dor de mais dentro dela. A única pessoa que eu amo além de eu mesma morreu. Morreu. Voltou a ser a porra de poeira estelar. E quando recuperou o fôlego se virou para a família e urrou de novo. E então xingou todo mundo. Ela disse verdades e mais verdades, que Hugo era um sociopata, que Lucy deveria falar que não queria ser médica e sim escritora, que Luna e Severus deveriam falar que eram gays, que sua mãe deveria se separar da bosta de seu pai machista E QUE TODOS ELES DEVERIAM RESPEITAR ROSE E ACREDITAR NELA PORQUÊ HAVIA SIDO ELA QUEM LEVARA A PORCARIA DE UMA FACADA NO ÚTERO E QUE NÃO FORA UM LADRÃO QUEM TIRARA A CHANCE DE ELA TER FILHOS, MESMO QUE ELA ACHASSE QUE ADOTAR ERA MELHOR.

Ela gritou tudo isso e foi embora. Havia sido uma manhã muito, muito bem aproveitada. Agora ela pegaria um avião e voltaria para casa. Ela deixaria sua família novamente. Pensou em dar um beijo em sua mãe, mas foda-se o bom comportamento.

James Sirius Potter estava morto.

E ela ainda tinha que cantar uma música para ele.

Suspending all your future plans

Wait for you outside

If this false started motion

Believes it's own propulsion

Tran-sending space and time

Then I'll wait for you outside

Then I'll wait for you outside

Ninguém entendeu, naquele dia dos namorados em que nevou, como uma menina conseguiu chorar tanto, mas ainda assim cantar uma música alegre no palco daquele karaokê. Ninguém entendeu o agradecimento que ela deu quando a música acabou e ninguém nunca entenderia. Afinal, ela cantara “Let’s Dance” do David Bowie e dissera que cantara para alguém eterno aquela música eterna.

A Weasley não precisava que ninguém a entendesse. Ela apenas cantou e comprou seda numa loja de conveniência na esquina, fez o maior back da vida dela e leu todas as cartas que James Sirius Potter mandara para ela. E chorou muito mais do que chorara no enterro, no avião e no karaokê juntos. Ela engoliu o grito de sofrimento. Ela releu as cartas novamente e parou de chorar. Ela jurou para si mesma que jamais seria quebrada assim novamente.

Por quê é isso que garotinhas quebradas fazem: elas juntam seus próprios cacos e não se cortam de novo. Elas guardam a dor dentro delas e só voltam para ver o estado muito tempo depois, quando sabem que a dor não existe mais. Ela nunca quebrou a promessa sobre jamais ser quebrada novamente. Sim, ela amou. Porém, sempre controlou este amor e nunca se cortou.

Rose Narcisa Weasley sempre coloca dois cobertores a mais no dia catorze de fevereiro e sai com um casaco extra, um gorro na cabeça e com um par de luvas de emergência na bolsa. Afinal, ela sabe que está frio lá fora. E que James Sirius Potter a está esperando: seus cabelos continuam presos em um rabo de cavalo, a pele branca e com sarda, e os olhos verdes olivas ainda estão sorrindo para ela. Ele continua chamando Rose de Narcisa. No dia dos namorados, parece que nada mudou.

Oh, ele ainda está esperando por ela do lado de fora. Narcisa está sempre atrasada.

Been so long since I've seen you

So much has changed, you sound the same

We're meeting at this place I wanna see you

See your face again

We're all waiting

We're all waiting her


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Notas finais do capítulo

Por mais fortes que sejamos, nós sempre somos quebrados. Homens ou mulheres. Nestes momentos somos frágeis e falamos as maiores verdades. Somos muito mais humanos.
Sofrer sozinho é melhor, mas tudo bem contar por que você está em sofrimento.