CIDADE DAS PEDRAS - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 28
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, chegamos a marca de 21 recomendações! Agradeço a todos vocês pelas recomendações. Fico super feliz que em quase todos os capítulos eu agradeço a alguém por uma recomendação. Muito obrigada especialmente as duas ultimas recomendações que recebi desde quarta-feira. Obrigada a MorganMalfoy pela 20º recomendação e a Chelly weasley potter pela 21º recomendação.

ATENÇÃO:
Recado importantíssimo nas notas finais! LEIAM!



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Capítulo 27

Hermione Malfoy

Hermione cruzava o átrio do salão principal e tinha o som, dos saltos de seu sapato contra o chão, abafados pelas conversas e por toda a movimentação ao seu redor. Carregava um pesado fichário que continha talvez umas cinquenta especificações de fitas e arranjos. Detestava estar ali fazendo parte da organização da Cerimônia de Inverno, quando seu grupo da Comissão trabalhava tão duro em solucionar os problemas que colocavam em jogo a segurança da guerra e consequentemente a de todos ali.

– Sra. Malfoy! – uma mulher veio contra ela a um passo apressado. – Estive a procurando nas câmaras para buscar o fichário.

– Aqui está. – Hermione o estendeu para ela. – Está me parecendo bastante ocupada hoje, vim até aqui trazê-lo a você.

A mulher pareceu surpresa e pegou o caderno.

– Até mim? - ela sorriu. – Obrigada.

Hermione retribuiu o sorriso e antes que pudesse dar as costas para voltar para a câmara de onde havia saído, seu nome foi exclamado em algum lugar ao seu lado. Ela virou-se e encontrou Astoria de pé, quase cercada por um grupo de organizadores. Hermione foi até ela.

– O que acha? – Astoria apontou para duas placas com diversas imagens de cadeiras expostas a frente delas. – Louis XIV ou Louis XV?

Hermione observou com atenção os modelos de mobiliário. Ela definitivamente era a favor do estilo de Louis XV, mas sabia que o Barroco mais rústico e tradicional de Louis XIV agradaria o gosto da maioria.

– Temo que Louis XV tornaria o ambiente muito romântico, não queremos isso. – comentou Hermione pensativa.

– Temo por isso também. – concordou Astoria, analisando as placas juntamente com Hermione. – Louis XIV, então?

Hermione pressionou os lábios e inclinou a cabeça de leve, enquanto unia as sobrancelhas.

– Também não me parece adequado. – ela disse. – Muito pesado. – pensou em voz alta. Suspirou e pensou mais um pouco. – O que acha de Queen Anne? – olhou para o grupo – Vocês têm Queen Anne? – Eles assentiram. – Ótimo. – ela voltou-se para Astoria. – Estilo Queen Anne: elegante simples e racional. Não muito pesado, não muito romântico e bastante patriótico.

Astoria ergueu as sobrancelhas, surpresa.

– Brilhante! – ela exclamou e voltou-se para o grupo. – Mande todos os mostruários de mobiliário Queen Anne que tiverem para Narcisa Malfoy, o mais rápido possível. – o grupo dispersou-se com rapidez e Astoria voltou-se para Hermione. – Céus, eu nunca teria pensado em Queen Anne! Acabei de voltar da América e há algumas variações do estilo lá. Estava tentando surpreender com algo bem europeu sem partir para o Renascimento. – ela fez uma careta. – Acho que acabei voltando muito no tempo. – seguiu Hermione quando ela começou a andar calmamente. – Estou tentando demais fazer isso certo. – soltou o ar frustrada. – Não sei o que há, costumo ser muito boa com isso.

– Sim, você é. Definitivamente. – encorajou Hermione. – Sua casa é absolutamente espetacular e devo confessar que depois do breve tour que você me deu, acabei até pensando em adquirir alguns bons quadros para minha sala de visitas. – não, ela não havia pensado.

Astoria se iluminou.

– Pensou? – ela pareceu se animar bastante com aquilo. – Se precisar de qualquer companhia para sua empreitada eu estou completamente disponível! Estou fascinada com essa galeria no Centro que vende originais dos maiores nomes bruxos da história da arte. Tenho certeza que já esteve lá, mas eu poderia te dar algumas boas ideias, se caso se interessar.

Hermione respirou fundo. Não sabia como sair daquela.

– Hum. – soltou forçando um sorriso. – É realmente péssimo que meus horários sejam tão apertados agora que tenho que administrar mais uma área de atuação com a Cerimônia de Inverno. – disse e escutou Astoria soltar um murmúrio claramente frustrado pela boca. Elas caminharam alguns passos em silêncio e Hermione se sentiu péssima. Narcisa havia reforçado a ela que os Bennett eram uma família próxima, que as coisas deveriam continuar assim e que ela tinha que fazer sua parte. Astoria parecia estar fazendo a dela. – Mas acredito que posso encontrar um bom intervalo para essa tarde. – acabou dizendo e se arrependeu logo em seguida, quando Astoria tornou a se iluminar. – Soube que foi você quem escolheu a paleta de cores e estampas. São absolutamente magníficas. – continuou Hermione, olhando os tecidos serem estendidos nas galerias superiores.

– Não são?! – animou-se Astoria ainda mais. – Sei que pode parecer bobo, mas fico tão animada de estar de volta. – ela sorriu. – Não que o forte da América seja ruim. Estávamos protegidos e era tudo que precisávamos para uma guerra. Mas me sinto de volta em casa. Estar no meio das pessoas que eu cresci vendo ao meu redor é muito reconfortante. - Hermione sorriu e não foi forçado. Ao menos Astoria tinha essa chance. – Espero que não esteja com nenhum ressentimento por Narcisa estar me passando alguma de suas tarefas.

– Não. De forma alguma. – apressou-se Hermione a responder. – Tenho absoluta certeza de que é melhor do que eu para desempenhá-las. Além do mais, estou bastante ocupada com outras coisas que ocupam o topo da minha lista de prioridades. – tentou ser discreta.

Astoria sorriu.

– Como trabalhar na guerra? – ela disse e Hermione se surpreendeu. As mulheres com as quais era obrigada a forçar um sorriso e desenvolver conversas sempre evitavam esses assuntos. – Eu imagino que deve pensar que todas nós não damos a mínima para os estragos do lado de fora da muralha, nem para o quanto podemos não estar realmente seguros como parece que estamos.

Hermione se viu desconcertada. Não havia sido abordada assim antes por uma mulher do status de Astoria.

– Eu acredito que aqui cada um tenha o direito de se preocupar com a guerra de sua própria maneira. – foi a melhor resposta que encontrou.

– Sensato. – Astoria disse. – Você é uma mulher muito inteligente. Cresceu com trouxas, sobreviveu como espiã por anos em um grupo decadente e agora é jogada dentro desse mundo insano carregando um título que qualquer um se mataria para ter. Imagino que deve pegar um pouco nos seus nervos de vez em quando.

Hermione sorriu, não sabendo ao certo se deveria.

– Certamente. – se limitou a dizer.

– Sei que a admiro bastante. Não é do tipo de mulher que senta em uma varanda à tarde para tomar chá e discutir sobre polêmicas bobas de um mundo fútil. Sei que deve considerar as coisas que fazemos bem fúteis. E não precisa ficar surpresa em me ver falando isso, tenho um marido que se incomoda com isso e não sabe ficar calado de vez em quando. Aprendi a entender que realmente são fúteis. – Astoria suspirou. – Fui criada para amar essas coisas e aprendi a amá-las e apreciá-las, não sou, nem nunca seria o tipo que teria coragem para estender uma varinha e enfrentar uma dúzia de comensais treinados. Nunca tive interesse em ser estratégica. Nunca estudei política com afinco, nem também nunca me interessei. Quando Draco e eu namoramos, eu sempre estive tão preocupada em mostrar ser a melhor para ocupar o cargo de Sra. Malfoy. Sempre procurava provar que ninguém organizaria um chá da tarde melhor do que eu, que ninguém poderia promover ações beneficentes melhor do que eu, que ninguém conseguia ser tão sociável, tão política e tão elegante quanto eu. Estive sempre tão focada em mostrar ser a Sra. Malfoy ideal que nem mesmo me dediquei a entender e ser o tipo de mulher que Draco realmente gostava. Por isso entendo que ele tenha tido qualquer coisa com você quando ainda estávamos juntos.

Hermione franziu o cenho e parou.

– Nós nunca tivemos.

Astoria também parou e a encarou.

– Sim, tiveram. Ao menos é o que os jornais dizem. Eles nunca me mencionaram, é claro, mas Draco e eu estávamos juntos quando ele começou a se interessar por você.

Hermione ergueu as sobrancelhas, puxou o ar e piscou. Nunca havia feito essa conexão antes.

– F-foi apenas um leve interesse, as coisas f-ficaram mais sérias bem depois que...

– Tudo bem, Hermione. – Astoria a cortou, rindo. – Eu não guardo mais ressentimentos de nada daquilo. Guardei por bastante tempo de Draco, acho que foi mais porque eu não acabei me tornando a poderosa Sra. Malfoy do que pelo fato de não ter sido amada por ele. Quando li as histórias nos jornais, confesso que um pouco desse ressentimento voltou. Fiquei intrigada querendo saber o porquê logo você. Eu entendo agora. Você é diferente de tudo que ele é acostumado e ele já teve todos os tipos de mulheres que você pode imaginar. Draco já experimentou das inteligentes, das elegantes, das dóceis, das sexys, das amorosas, das corajosas, das intelectuais, das sociáveis, das sensatas, das racionais, das sentimentais. – ela suspirou. – Você acaba sendo todas elas ao mesmo tempo. Ele jamais irá ficar entediado com você. Deveria ver o quanto ele se entediava comigo, às vezes. – ela riu. – Você é a pessoa perfeita para ele. Eu teria me tornado Narcisa dentro desse casamento. Você, mesmo que tivesse a chance de acabar se tornando Narcisa, seria forte para enfrentá-lo e seguir com sua vida mesmo que o amasse. – ela sorriu amavelmente e deu de ombros de leve. - Eu não seria. – concluiu.

Hermione se viu sem palavras. Astoria parecia ser muito mais do que ela havia imaginado. Nada de conversas exaustivas sobre a nova moda decorativa com tapeçarias orientais. Nada do que ela havia esperado.

– Lamento por... – acabou deixando sua voz morrer quando não soube realmente pelo que se lamentava.

Astoria apenas riu.

– Eu imaginei que você ficaria sem saber o que dizer quando eu acabasse lhe falando tudo isso. – ela sorriu muito honestamente. – Eu precisava falar tudo isso. A primeira vez que me encontrei com Draco, ele fez o favor de já me fazer entender que me enxergava como uma possível ameaça a paz dele e, consequentemente, a sua paz. A da relação de vocês, na verdade. Não acho que ele tenha acreditado que eu sou apenas uma Bennett agora, mas queria deixar claro para você e para ele que eu amo meu marido. Que os ressentimentos do passado foram superados. Que eu, de fato, me tornei uma Bennett e com muito mais orgulho do que eu acredito que me tornaria como uma Malfoy. – ela soltou o ar sentindo-se satisfeita por ter dito aquilo finalmente. - Sou imensamente grata por saber que tive a chance de ser feliz nessa vida, quando tudo poderia ter dado errado para mim. Todas as minhas relações eu me esforçava em ser perfeita ao invés de ser eu mesma. Quando a guerra começou e eu fui obrigada a me casar com Isaac para salvar minha família eu achei que minha vida tinha acabado. Estava com um homem que eu mal tinha trocado quatro ou cinco palavras na vida, indo para um continente que eu não conhecia ninguém, deixando minha família para trás e grávida de uma criança que ninguém sabia. – Astoria suspirou e desviou o olhar. Hermione se simpatizou muito com aquilo. – Foi tudo muito difícil. Principalmente quando acabei tendo um aborto espontâneo ainda no primeiro trimestre. Eu não havia contado a ninguém que estava grávida, mas aquela criança havia se tornado a única coisa boa que parecia estar acontecendo na minha vida naquele momento. Foi péssimo. – Hermione entendia aquilo tão bem. – Mas Isaac é um homem tão maravilhoso. Mesmo quando ele percebeu que o filho não era dele, ele ficou ao meu lado. Ele me entendeu, me colocou de pé e me provou que nós só tínhamos um ao outro e que deveríamos procurar nos fazer bem. Sempre. Porque essa seria nossa luta para sobreviver à guerra. Eu o amo como nunca amaria nenhum outro homem. Ele me fez enxergar o mundo de outra forma e eu consegui sair do casulo da vida perfeita que eu achava que tinha porque nasci e fui criada em uma família de boa linhagem e com dinheiro. Ele me fez ser alguém melhor.

De repente, Hermione se viu completamente confortável ali com ela. Se Astoria estivesse inventando tudo aquilo ela era muito boa porque até mesmo a dor que ela transpareceu nos olhos quando falou de seu aborto, Hermione conseguiu identificar como sendo tão real quanto à dela quando se lembrava de sua menina.

– Ele parece ser mesmo um bom homem. – disse sorrindo amavelmente. Desviou o olhar e soltou o ar. Astoria conhecia sua dor. – Também perdi um filho. – se viu dizer depois de alguns segundos. – Uma menina. – acrescentou.

– No segundo trimestre. Deve ter sido muito doloroso. – ela disse e Hermione levou seus olhos até ela imediatamente. – Draco me contou. – Astoria logo disse. – Há algumas semanas, no jantar em minha casa. Você estava com Elise.

– Ele contou? – Hermione estranhou e ao mesmo tempo se surpreendeu.

– Ele confirmou, na verdade. – ela disse. – Reconheci seu olhar assim que encarou Elise. Eu por muito tempo não conseguia olhar para crianças, me fazia lembrar o filho que eu havia perdido e era absurdamente doloroso. Quando comentei com Draco, ele parecia tão entretido em te ver com minha filha que confirmou, como se nem estivesse prestando atenção em mim direito.

Hermione nunca havia falado de sua filha com ninguém, além de Draco, depois que havia a perdido. Nem mesmo com Narcisa. A mulher era compreensiva o suficiente para apenas ignorar que um dia Hermione havia estado grávida. De alguma forma, Narcisa parecia ressentir por isso também e talvez por isso não comentasse.

– Apenas não diga a ninguém. As pessoas não sabiam que eu... – ela deixou sua voz morrer novamente. Estava fazendo isso com mais frequência do que gostaria naquela estranha conversa.

– Eu passei por isso, Hermione. Não é algo que você quer que as pessoas saibam. Minha própria família nunca nem soube que estava grávida e perdi um filho quando me casei com Isaac. Nunca contei nada a eles. – ela disse. – Lamento por sua filha.

– Também lamento pelo seu.

Elas ficaram em silêncio encarando uma a outra, enquanto os segundos passavam. Hermione não conseguia olhar com indiferença ou tédio. Nem mesmo receio ela se via ter permissão para sentir com Astoria. A mulher havia compartilhado com ela algo íntimo de sua vida e Hermione não tinha coragem de quebrar a conexão que ela havia feito ali.

– Bom, acredito que logo vocês poderão ter mais filhos. – Astoria tornou a caminhar e Hermione a seguiu dessa vez. – Sei que não substitui aquela que perdeu, mas trás bastante alegria.

Hermione sorriu.

– Sua menina é linda. – ela queria tanto um filho. Perder sua filha havia esvaziado um espaço que ela mesma havia criado dentro de si quando soube que estava grávida. Não conseguia se livrar dele.

– Obrigada. – Astoria foi tão gentil que Hermione se viu na necessidade de apreciar da companhia dela por mais tempo.

Ela nunca se sentia confortável na companhia de ninguém ali. Absolutamente ninguém. Narcisa era o mais próximo de uma boa companhia que tinha. Draco também. Eventualmente.

– Não tenho companhia para o almoço. Narcisa vai estar em uma reunião com Pansy sobre os assuntos da cerimônia e eu prefiro evitar. – fez uma careta e Astoria riu.

– Entendo perfeitamente. – Astoria disse num espírito de cumplicidade, mostrando que também já havia passado pelo mesmo. Hermione se viu rir juntamente com ela. – E estou adorando uma cafeteria excelente próximo àquela galeria do qual mencionei a você. O que acha?

Hermione sorriu. Tinha mil coisas para fazer, mas acabou respondendo:

– Claro.

**

Deu alguns passos para trás, onde pôde ter uma melhor visão de sua parede. Sussurrou um palavrão e sacou a varinha. Estavam todos tortos. Todos os seus quadros. Fez uma magia para alinhá-los e assim que estavam todos equilibrados belamente, pôde analisar a composição.

Mordeu o lábio inferior.

Péssimo.

Soltou o ar de uma vez. Aquilo era exaustivo e muito, muito, muito entediante. Subiu em uma cadeira e ficou na ponta dos pés para conseguir alcançar o quadro mais alto. No mesmo momento, a porta da sala de visitas abriu e virou o rosto para ver Draco passar para o lado de dentro. Sorriu. Ele ainda estava inteiro.

– Aí está você. – ele anunciou sua presença.

– Chegou cedo. – Hermione rebateu e voltou sua atenção para o quadro. – Pensei que fosse chegar só para o jantar.

– O quartel estava vazio. – ele disse e pelo som parecia estar enchendo algum copo com bebida.

– Isso sim é um milagre. – ela comentou, conseguindo finalmente tirar o quadro.

Desceu e o viu rapidamente se sentar num dos sofás com seu copo de bebida, antes de se voltar novamente para sua parede. Draco havia retornado a Brampton Fort, mas Hermione não tivera a chance de se encontrar com ele aquela manhã. Cerrou os olhos vendo todos aqueles quadros e repensou numa nova organização, enquanto mastigava o canto da boca.

– Que diabos está fazendo? – ele perguntou quebrando o silêncio.

– Tentando colocar alguma vida na nossa sala de visitas, querido. – Hermione respondeu estendendo a mão, fechando um olho e tentando medir com o polegar um novo espaço.

– Mais vida?

– Eu sei. – ela também acreditava que sua sala de visitas era fantástica, até Astoria visitá-la e sair vomitando mil ideias. – Mas parece que aparentemente nossa sala de visitas não tem um tema.

– Aparentemente? – ele ergueu uma sobrancelha, duvidoso.

– Astoria deu uma breve passada aqui, antes de voltar para casa para checar se Elise está se dando bem com a nova babá. Passei a tarde com ela no centro. Comprei quadros numa das galerias, encomendei alguns móveis e comprei chapéus novos. – contou e não demorou a escutar uma longa risada de Draco. – Não ria! – ela exclamou num tom falsamente irritado e tentou fazer uma imitação barata da voz de Astoria para continuar: - Deveria saber que os móveis são de um artesão italiano muito reconhecido que trabalha com ébano verdadeiro e usa técnicas do século XVIII. E o mais importante de tudo: sem magia! Isso que é paixão pela arte, não acha?

– Deus do céu! Quem é você e o que fez com a minha mulher? – ele soltou.

Hermione riu.

– É, eu sei. – soltou o ar pesadamente, movendo-se até a cadeira para arrastá-la para a outra extremidade da parede. – Ela é uma boa companhia. – acabou por dizer.

– Astoria?

– Sim. – respondeu, subindo na cadeira novamente. – Se ela tiver algum receio de mim por ter me casado com você, ela com certeza sabe disfarçar muito bem. E ela foi gentil. Me senti na obrigação de ser um pouco mais do que política. Atar laços, aproximar nossas relações, criar algum vínculo. É saudável para a nossa imagem diante da imprensa, visto que vocês já tiveram um relacionamento público no passado e aparentemente as datas coincidem com quando, supostamente, começamos a nos interessar um pelo outro. – Draco não poderia contrariar aquilo. Hermione conseguiu pendurar o quadro e tentava alinhá-lo com seu melhor senso de percepção tendo que ficar na ponta dos pés para conseguir tocar ar bordas do quadro. – E não vai nem acreditar no momento épico que vivi, assim que voltamos para a Catedral. Apenas visualize, eu, Astoria, sua mãe e Pansy Parkinson enclausuradas numa mesma sala discutindo sobre os pratos para o jantar pós-cerimônia. – ela riu somente de se lembrar. – Juro que teve um momento em que elas pareciam querer competir de uma maneira bem educada sobre quem te conhecia melhor. – cerrou os olhos para analisar melhor seu trabalho.

– Você está falando tanto, Hermione, que acho que estou começando a ter dor de cabeça. – Draco comentou.

Ela revirou os olhos e desceu da cadeira. Visualizou-o novamente no sofá com seu copo de álcool folheando o que parecia ser uma pasta. Afastou-se para encarar a parede de longe e soltou o ar frustrada ao ver o quadro torto. Foi vencida novamente pela varinha quando fez com que ele se alinhasse com apenas um movimento dela e colocou as mãos nos quadris. Parecia bem melhor assim.

– Pronto. – soltou satisfeita. – O que acha?

Draco ergueu os olhos sem interesse dos papéis que analisava e encarou a parede logo à frente por alguns poucos segundos, antes de se voltar novamente para o arquivo.

– Horrível. – foi a declaração dele.

Hermione ergueu as sobrancelhas, surpresa.

– Foi o melhor lugar que eu encontrei! – ela se defendeu.

– Não é o lugar, Hermione. É o quadro.

Viu-se abrir a boca ainda mais incrédula.

– Isso é um legítimo...

– Deggah, eu sei. – ele a cortou e ergueu os olhos para Hermione. – Não sou fã do trabalho dele. – deu de ombros.

Ela riu.

– E você sabe sobre história da arte bruxa.

– Tem praticamente um museu dentro dos cofres da minha família. Não acha que eu deveria ter ao menos uma mínima noção das coisas que vou herdar?

Hermione soltou o ar e lutou contra a vontade de revirar os olhos novamente.

– Bem, vai acabar se acostumando eventualmente. – disse indo para trás do sofá, servir-se de um drinque.

– Não, não vou. Quero isso fora da minha parede até amanhã. – Ele disse, voltando-se para seus papéis.

– Vai ficar exatamente ali, até eu me enjoar. – ela decretou. – Além do mais, foi um bom investimento. Arte é um dos raros investimentos que não perde valor, pelo contrário. – observou a bela arte contra a parede e bebeu um gole do whisky diluído. Sorriu satisfeita e enterrou os dedos do pé no tapete macio. Ela não sabia que era tão macio. – Agora, por Merlin, me fale sobre algo realmente interessante.

– Novas estratégias para York. – Draco fechou a pasta e a ergueu.

Hermione apressou-se, tomou-a dele e sentou-se sobre as pernas no sofá bem ao lado dele. Adorava ficar sem os sapatos, sentia-se tão mais confortável, tão mais livre, mesmo que ainda estivesse usando um rodado de musseline de seda italiana estampado, conseguia se imaginar de moletom. Abriu a pasta e analisou os papéis. Alguns eram mapas entulhados de desenhos de setas, círculos e marcações em “x”.

– Isso é tão mais interessante. – comentou mais para si mesma do que para ele, enquanto lia as anotações em outros pedaços de papéis. Deveria ter se ocupado com a Comissão aquela tarde, e não com Astoria, Narcisa e a tão cheia de indiretas Pansy Parkinson. – Não entendo o porquê mudam com tanta frequência as estratégias para York.

– É um dos povoados mais importantes, Hermione. – Draco disse. – A Ordem tem o domínio deles agora. Precisamos ser cautelosos para consegui-los de volta. Estamos recebendo informações de que todos os esforços da Ordem estão concentrados em York, já que não conseguiram manter suas outras conquistas.

– Não havia me dito que estão conseguindo informantes. – ela ergueu os olhos para o marido.

– Alguns residentes têm conseguido passar informações. Querem a Marca Negra e abrigo seguro em troca. Sabem que os protegidos do mestre residem em um lugar intocável, só não sabem da existência dos fortes. – explicou ele.

– E está mesmo confiando nessas informações? – Hermione questionou um tanto desconfiada.

Draco riu e bebeu de seu whisky.

– Diz isso, como se não me conhecesse. – deixou seu copo na mesa de canto ao lado do sofá. Tomou o copo da mão dela, virou a bebida e o deixou junto com o seu. Aproximou-se dela. – Não confio em ninguém. Sabe disso. – usou aquele tom denso, com um sorriso no rosto que exalava perigo. Hermione se viu sorrir, sabendo o que aquilo significava. Deixou-se ser conduzida quando uma mão dele tocou sua cintura e a outra deslizou pela bainha de seu vestido tentadoramente. – Apenas uso as informações que são passadas a mim para conseguir sondar o campo em que estou trabalhando. – ele continuou a usar aquela terrível voz e Hermione não viu alternativa a não ser deixar que ele, cuidadosamente e sedutoramente, afastasse suas pernas e a deitasse no sofá contra dela.

– Presumo que esteja confuso então, visto o número de vezes que interfere nos planos para York. – ela ergueu uma sobrancelha com um sorriso no rosto.

Draco soltou um riso que foi abafado quando chegou ao seu pescoço.

– Acha que é esperta, não é Hermione? Deixe-me lembrá-la que ficamos em guerra por muito tempo, eu e você, e quem venceu foi eu. Sei o que estou fazendo. – desceu a boca por seu colo, enquanto o toque expressivo de sua mão deslizava para dentro do vestido que usava.

Ela tinha palavras para retrucar, mas não conseguiu externá-las quando sentiu a respiração quente dele contra seu seio por cima do vestido. Sentiu os pelos de sua nuca eriçar. Draco apertou uma nádega sua com aqueles dedos poderosos e pressionou seu quadril contra o dela, deixando-a sentir o volume dele que ela bem conhecia. Puxou o ar, sorriu e fechou os olhos, largando a pasta para enfiar seus dedos contra os cabelos loiros e macios.

– Estou realmente me esforçando para não ficar grávida com todas as contas e todo o calendário, mas com o número de vezes que praticamos sexo juro que as coisas nos colocam em uma situação apertada. – ela acabou dizendo com uma voz fraca.

Draco parou quase que imediatamente e se afastou minimamente para encarar os olhos dela. Havia um ar de preocupação no olhar dele.

– Não me diga que se fizermos sexo agora, você pode engravidar. – e uma leve irritação do tom de voz dele.

Hermione encarou a expectativa nos olhos dele de que ela dissesse que não. Suspirou.

– Talvez eu possa. – disse.

Ele soltou o ar irritado, saindo de cima dela e tornando a sentar-se. Passou as mãos pelo cabelo.

– Isso está começando a me irritar. – seu tom sério alertou que ele, definitivamente, não estava contente.

Hermione se sentou e mordeu o canto da boca para evitar deixar transparecer qualquer sorriso. Ele não demorou a olhá-la. Ela, por sua vez, tentava conter a vontade de rir. Draco estreitou os olhos e Hermione se deixou abrir um sorriso. Passou as pernas por cima dele, sentando-se em seu colo.

– Não estou. – colocou sua boca bem próxima ao ouvido dele. – E veja só, quem acabou de te fazer de tolo agora. – sussurrou e sorriu. – Se acha esperto, não é? – riu.

– Me lembre de nunca mais confiar em você, Hermione. – Draco disse com um ar ainda nada contente, cravou os dedos em suas coxas e a trouxe para ele de modo agressivo, fazendo-a puxar o ar surpresa. Sorriu sabendo que havia tido êxito em sua provocação.

Hermione tirou as mãos do abdômen dele e as ergueu para tocar a nuca. Draco as deteve no meio do caminho e as prendeu às suas costas com brutalidade. Uma mão dele entrou por seus cabelos e os segurou com muita propriedade, obrigando-a a se afastar para encará-lo. Mostrou com orgulho seu sorriso satisfeito, aproximou sua boca da dele e deixou que o calor de sua respiração o envolvesse. Seus lábios se roçaram e ela moveu o quadril tentadoramente contra o dele. A respiração de Draco pesou instantaneamente.

Quando ele se cansou da provocação, dando-se por vencido, avançou para beijá-la, mas Hermione se afastou. Ele cerrou os olhos no mesmo instante, cravou as mãos uma de cada lado de seu quadril e a lançou contra o sofá. Em menos de um segundo, ele estava por cima dela e tomava sua boca como se nunca mais fosse ter a chance para isso. Hermione respondeu à urgência, tanto do beijo quanto de seus corpos.

Ela sentia uma imensa falta dele. Tivera os homens com quem havia se envolvido em relações íntimas ao longo da vida, entretanto, todos eles se limitavam a um número de vezes com o qual Hermione havia se permitido estar. Exceto Draco. Draco havia passado o número de vezes de todos eles, até mesmo de Harry, com quem ela estivera em repetidas vezes durante os anos na Ordem da Fênix. E ninguém, absolutamente ninguém havia a tocado como Draco. Ele sabia fazer aquilo como se fosse um mestre e Hermione não se recordava de nenhuma vez que não tivesse perdido as forças com ele. Seu marido sabia fazê-la aproveitar até mesmo durante aquelas vezes rápidas, simples e preguiçosas de quando ele acordava e se esgueirava silenciosamente para o lado dela fazendo-a acordar com um toque nada discreto. Às vezes, sentia que um simples pensamento dele era o suficiente para fazê-la desejá-lo. Sentia-se tão absurdamente livre com Draco e ela nunca, nunca, havia se sentido livre com nenhum outro homem na cama. Era íntima dele como nunca havia sido com mais ninguém e às vezes tinha a impressão que conhecia cada pequeno centímetro do corpo dele, assim como ele conhecia cada um dela.

Naquele momento em que suas línguas dançavam e eles brigavam pelo mesmo ar, ofegando quando podiam, seu corpo gritava em agonia e desespero pela falta do toque dele. Qualquer um que fosse, calmo, possessivo, agressivo, sedutor, qualquer um! Ela apenas precisava. A última vez que havia o visto, fora quando eles haviam comparecido ao jantar na casa dos Bennett. Draco disse que deveria ter ficado mais dias, mas precisou deixar a cidade logo no dia seguinte por um chamado de urgência em um país bem distante. Eles não tiveram a chance de irem para a cama como gostariam aquela vez, porque ela poderia engravidar e se contasse o número de dias que não sentia o toque dele poderia com facilidade decretar que nunca haviam ficado tanto tempo sem praticar sexo antes, nem nunca precisara tanto quanto antes. Isso lhe fazia crescer uma imensa necessidade e ao mesmo tempo lhe gerava tanta culpa, mas mesmo assim não a parava. Nunca havia a parado antes e Hermione se sentia mal por saber que nem mesmo sua culpa tinha poder o suficiente para pará-la.

Suas mãos puxaram a blusa dele para o lado de fora com pressa, e ela enfiou as mãos por dentro do tecido para sentir a pele quente e os músculos firmes de suas costas. Draco afastou suas mãos para longe agilmente, e espremeu seu seio com sua mão massiva por cima do tecido do vestido. Hermione cercou o corpo dele com as pernas, movendo-se de modo provocador. Puxou o ar e ofegou quando ele libertou sua boca e ocupou-se com sua pele. A saliva dele parecia fogo, assim como seu toque. Fez seus dedos procurarem a fivela do cinto dele e começou a desatá-la com agilidade quando cogitou que as mãos de Draco passeando por seu corpo, por baixo do vestido, talvez fosse suficiente para fazê-la atingir seu clímax. Abaixou o zíper da calça dele e enfiou sua mão por dentro dos tecidos para poder senti-lo.

O gemido dele em sua orelha a fez se arrepiar junto com calor da respiração que ele deixava ali. Seus dedos moveram-se pelo membro já bem acordado de seu marido. Sabia exatamente onde ele gostava de ser tocado ali e como. Aquilo fora o suficiente para fazê-lo gemer novamente, enquanto provava com voracidade o sabor de sua pele. Draco a mordeu fazendo-a arquear as costas. Ofegou. Precisava tê-lo dentro dela.

Ele tomou sua boca novamente e tirou a mão dela de dentro de sua calça. Hermione tocou sua nuca e Draco novamente tirou a mão dela. Travou os joelhos contra o corpo dele e girou o seu, fazendo-os caírem no tapete com ela por cima. Hermione sentou-se e o encarou ofegante. Seus dedos passaram a abrir os botões da camisa dele e ela rebolou para sentir o volume do membro dele e se deixar ainda mais molhada. Tocou diretamente o tórax quando afastou a camisa. Desceu as mãos pelo abdômen, depois as subiu rapidamente sentindo os mamilos dele contra a palma de sua mão. Draco a segurou pelo pulso e a girou, ficando novamente por cima. Suas mãos foram presas acima de sua cabeça.

A boca dele beijou-a novamente. Hermione não queria desfazer o contato de seus quadris. As mãos dele soltaram-na e entraram por dentro de seu vestido, novamente arrancando sua peça debaixo bruscamente. A língua dele foi faminta para o seu seio e ela gemeu, sentindo-se ser estimulada. O vestido pareceu incomodá-lo. Draco segurou o decote e o puxou bruscamente, fazendo os pequenos botões que fechavam a frente voarem e se espalharem pelo tapete. Dessa vez sentiu o calor da boca dele e aquela língua poderosa diretamente contra seu mamilo rígido.

Arqueou as costas, colocou os pés no chão e ergueu o quadril para pressioná-lo contra o dele. Enfiou os dedos em seus cabelos e Draco afastou as mãos dela novamente. Aquilo estava a incomodando. Ele tornou a tomar sua boca e Hermione tentou colocar ar mãos por dentro da camisa para cercá-lo pelo tronco. Ele afastou suas mãos bruscamente, dessa vez. O que ele estava fazendo? Tentou colocar suas mãos uma em cada um dos ombros dele e, no mesmo segundo, as mãos dele agarraram seu pulso e prenderam seus braços acima de sua cabeça.

Hermione gemeu, dessa vez em protesto, contra a boca dele. Draco não parou. Suas mãos continuavam presas. A língua dele seguiu por seu queixo e sua garganta e ela ofegou o ar de volta para os pulmões primeiramente assim que se viu livre da boca dele.

– Draco! – o chamou. Sua voz estava fraca. Moveu-se incomodada. Ofegou. – Draco! – sua voz foi bem mais alta do que havia pretendido dessa vez e o parou imediatamente. Ele afastou-se e a encarou confuso. A boca inchada e a respiração acelerada. – Não está me deixando te tocar. – ela disse com o peito subindo e descendo.

A primeira reação dele foi unir as sobrancelhas, como se não soubesse do que Hermione estava falando, mas não bastaram dois segundos para que aqueles olhos cinzas se movessem para as mãos que prendiam o pulso dela contra o tapete. O olhar dele se suavizou, mas sua expressão continuou confusa. Aos poucos, ela sentiu os dedos dele afrouxarem e deixarem seu pulso um a um até que ela se visse livre.

– Draco. – tornou a chamá-lo com a voz suave dessa vez e os olhos dele caíram sobre os dela no mesmo segundo. – O que há de errado? – questionou também confusa. Ele ficou em silêncio. Hermione não entendeu. Ergueu uma mão para tocar o rosto dele e talvez tornar a fazer a mesma pergunta, mas os olhos de seu marido se moveram para sua mão no mesmo segundo, e então, ela recuou imediatamente, principalmente por ver que ele havia afastado o rosto quase que imperceptivelmente. Hermione uniu as sobrancelhas, ainda mais confusa. – Desculpe, eu não quis deixá-lo realmente com raiva, fiz apenas uma provocação boba. – se referiu a tê-lo enganado quando estavam no sofá.

Ele negou com a cabeça quase que imediatamente.

– Não foi isso. Não estava prestando atenção no que eu estava fazendo. – Draco soltou. Aproximou-se dela novamente, deixando-se parar a centímetros de seu rosto.

Seus olhos se fitaram tão próximos que Hermione se viu mergulhar dentro dos dele. Moveu cuidadosamente suas mãos e as colocou uma de cada lado de seu rosto. Ele não afastou as mãos dela dessa vez. Ela queria ter certeza de que podia tocá-lo. Passou uma mão por seus cabelos loiros, sem tirar os olhos dos dele. Tocou seu pescoço e deixou o polegar passar pela barba que lhe crescia no fim do maxilar. Desceu a outra mão por seu peito, abdômen, cercou sua cintura e subiu por suas costas. Draco não a impediu, nem desviou o olhar do dela. Hermione sabia que ele prestava atenção e sentia com cuidado cada centímetro de pele que ela tocava como se procurasse por algo errado ali.

Hermione juntou as mãos no cós da calça dele e a empurrou até onde pôde, libertando o membro vivo que pulsava enclausurado. Havia um leve toque de tensão entre eles que tentava ser ignorado. A melhor maneira era continuar o que eles haviam começado.

Sem desgrudarem os olhos um do outro, se ajustaram confortavelmente e ele deslizou para dentro dela. O volume que foi a ocupando aos poucos fez com que seu corpo formigasse, adormecesse e estremecesse ao mesmo tempo. Sua garganta não conteve o som que lhe escapou. Draco começou a se movimentar devagar. Hermione contorceu debaixo do corpo dele. Toda aquela agonia contida em seu corpo durante o tempo que não o tivera, queimou.

Ofegou e sentiu a boca seca. Logo os movimentos dele não eram o suficiente. Sussurrou para que ele acelerasse. Draco ainda a deixou desejar por mais por um tempo, antes de dar a ela o que queria. Hermione pediu para que ele fosse fundo. Ele foi. Seus dedos se fecharam nos cabelos da nuca dele quando toda aquela urgência lhe informou que ainda estava ali.

Ela contorceu-se. Não demorou e seus quadris já estavam se movimentando quase que em desespero. Seus olhos não desgrudavam. A respiração dele escapava por entre os dentes, ela se via precisar de oxigênio cada vez mais rápido. Havia sentido falta daquilo, da sensação, da agonia, da busca por alívio. Sentia que estava sentindo tudo em dobro. Curvou-se e puxou os cabelos dele. Informou que estava muito perto de ter seu coração explodindo para fora do peito e Draco não parou, ao contrário, foi ainda mais fundo, ainda mais rápido. Parecia estar precisando daquilo tanto quanto ela.

Soltou um longo gemido cortado quando sua visão escureceu, como se ela tivesse entrado nas pupilas dele. Seu corpo estremeceu, contraiu-se e relaxou quando atingiu aquele tão prazeroso alívio. Draco veio logo em seguida, quase no mesmo segundo e eles relaxaram os músculos. Ainda ofegantes se encararam por longos minutos em silêncio, até que Draco saísse de cima dela para deitar ao seu lado no tapete.

Encararam o teto em silêncio. Hermione havia tido o que queria. Havia conseguido atingir o seu clímax, havia delirado com o toque dele, havia gemido de prazer e agonia. Suspirou. Mas sua cabeça latejava com a lembrança da rispidez que Draco usou algumas vezes para afastar sua mão. Como se não quisesse o toque dela, como se tivesse aversão a ele. Hermione quem deveria ter tido aversão ao toque dele desde a primeira vez que haviam feito sexo, mas não teve. Ele nunca havia permitido que ela tivesse.

– É sempre assim? – procurou usar a voz mais calma e neutra que conseguiu.

– O que? – Draco perguntou confuso.

– Tem que se concentrar sempre que fazemos sexo para não abominar que eu te toque. – disse ela. – Deveria ter dito que não gostava que eu te tocasse bem antes. Eu teria encontrado uma forma de parar. Pensei que fossemos completamente honestos com relação a sexo.

– Não. – ele disse quase que instantaneamente. – Não é isso. Não é sempre assim, Hermione. Eu gosto do seu toque, dos seus sons, do seu corpo. Não há nada de errado com isso.

– Você inconscientemente me afastava. – ela o lembrou.

– Acredito que a forma como me tocou, me fez lembrar que gosto quando me toca quando estamos fazendo sexo. Isso deve ter me feito reagir contra. Não é tão simples assim ficar tanto tempo longe de casa, voltar e perceber que a mulher que eu sempre odiei está me recebendo com um sorriso educado.

Hermione levou alguns poucos segundos para processar aquilo. Virou o rosto para ele.

– Nós temos uma história diferente agora. – ela usou sua voz mais calma para lembrá-lo disso.

– Sim. – Draco concordou. – Creio que minha cabeça, sem me informar, se apegou ao pensamento de como isso é estranho. – virou-se para ela. - Creio que ela estava tentando me informar sobre o que costumávamos ser antes.

Hermione acabou sorrindo.

– Acha que mudamos tanto assim? Ainda acredito que estamos sendo apenas civilizados um com o outro.

Ele sorriu em resposta e tornou a encarar o teto.

– Talvez no seu mundo de afeto em excesso ainda estejamos sendo apenas civilizados. No meu, nós já passamos dos limites do aceitável faz um bom tempo.

Ela acabou rindo. Suspirou e tornou a encarar o teto, assim como ele.

– O fato de termos perdido uma filha o faz aceitar que passamos do limite do aceitável?

Draco riu, embora aquilo não tivesse tanta graça.

– Esse e mais alguns fatores. – respondeu ele.

– Como? – ela quis saber.

– Como perceber que você é bem mais tolerável quando tem um sorriso sincero no rosto. – ele pareceu nem mesmo perceber o impacto do que dissera.

Hermione uniu as sobrancelhas, um tanto confusa. Virou-se novamente para ele.

– Isso soa bem romântico. – disse.

Ele riu novamente.

– Você e o seu mundo de afetos novamente. – Draco sentou. – Para mim é apenas um fato. Vai preferir encarar dessa forma, porque tenho absoluta certeza que não quer me olhar de um modo romântico. Temos muitos problemas obscuros na nossa relação para querer isso. – a olhou por cima dos ombros e ela se apoiou sobre os cotovelos para conseguir observá-lo melhor. – Quando não estamos tentando arrumar conflitos um com o outro é só uma questão de tempo para ver você sorrir em algum momento. – ela sorriu ao ouvir aquilo. - Viu?! – ela riu.

Quis muito tocá-lo, dizer algo que o fizesse sorrir também, mas no momento em que se deslocou tomando ar para dizer qualquer coisa, ele se levantou e ambos tiveram suas atenções voltadas para a janela mais próxima, onde uma coruja negra de olhos vermelhos usava o bico para bater insistentemente no vidro. Era a coruja de Voldemort.

Draco foi quem abriu a janela para que o animal passasse para o lado de dentro e soltasse nas mãos dele um pedaço de pergaminho, cuidadosamente dobrado. Hermione se levantou tentando segurar o tecido da frente de seu vestido da melhor maneira possível, enquanto observava a coruja se descolar para o espaldar de uma cadeira, onde se acomodou e esperou pela resposta que deveria receber.

– Algum problema? – ela perguntou quando não o viu falar por muito tempo.

– Ele quer nos ver amanhã. – Draco disse sem se voltar para ela.

O coração de Hermione acelerou. A última vez que haviam recebido aquela coruja com uma mensagem de que Voldemort estava os intimando para um encontro, ela acabara tento a filha arrancada de si.

– O que ele quer com nós dois juntos? – ela engoliu em seco.

– Não seja ingênua, Hermione. Sabe bem o que ele quer conosco. – foi o que Draco respondeu, amassando o papel e lançando-o dentro da lareira.

Ela puxou o ar buscando energizar algum estado de paz.

– Diga a ele que estamos tentando. Acabamos de tentar. – ela disse e Draco soltou um riso fraco e forçado.

– Nós não estamos realmente tentando, sabe disse. – ele voltou-se para ela.

– Você está sempre longe. Chegou essa manhã e só fui te ver agora. Ficou semanas fora da cidade. Ele não pode esperar que eu engravide estando com você durante uma noite aleatória a cada mês. – Hermione disse, Draco assentiu e se aproximou dela.

– E essa será a justificativa de amanhã. – ele falou muito calmamente, encarando a expressão em seu rosto que ela sabia que não havia sido capaz de neutralizar. – O que há de errado?

– Eu não quero ir. – Hermione declarou.

Draco franziu o cenho como se fosse argumentar contra aquilo, mas suavizou sua expressão logo depois, como se considerasse justa a declaração dela.

– Não existe outra opção. – ele disse. – Apenas o encare como sempre o encara. Como se fosse uma rainha.

Ela sorriu ainda um tanto angustiada. Encostou-se em um dos pilares decorativos da lateral da lareira e o encarou.

– Nós estamos no caminho certo. Não quero mais problemas e parece que todas as vezes que me encontro com Voldemort, sou obrigada a pagar alguma consequência. – soltou o ar. – Precisa vencer logo essa guerra. Eu temo pelo momento em que vou descobrir que estou grávida sem ser o momento certo. O que estamos fazendo tem dado certo até agora, mas ainda assim é incerto, é arriscado. Posso engravidar mesmo achando que isso seria impossível.

Draco absorveu aquilo em silêncio, considerando cada palavra e imergindo em seus próprios pensamentos.

– Se ao menos alguém além de você conseguisse dominar aquela magia. – ele disse enfiando as mãos no bolso.

Hermione fechou os olhos, soltando novamente o ar ao se lembrar de que aquele era um problema que ela deveria ter se dedicado a solucionar durante aquele dia e não sair passeando no Centro. Havia tentado ensinar, havia simplificado os passos da melhor maneira possível e mesmo com tudo sendo seguido e executado da forma como deveria ser, apenas ela conseguia se impor sobre a magia para conseguir domá-la.

– Me leve para o campo de batalha. – ela abriu os olhos para encará-lo.

Draco levou um segundo para processar aquilo e no seguinte riu.

– Nem mesmo nos seus sonhos mais loucos, Hermione. – deu as costas, conjurou um pergaminho e uma pena. Rabiscou qualquer coisa e devolveu para a coruja que saiu sem nem mesmo hesitar.

Hermione ficou apenas calada o observando. Assim que a janela foi fechada novamente ela se pronunciou.

– Acha que não estou pronta?

– Acho que nunca irá estar. – ele buscou seu copo e tornou a enchê-lo.

– Eu sei cada fraqueza da Ordem, poderia derrubá-los em minutos! – insistiu ela.

– Me informe sobre a fraqueza deles e eu mesmo os derrubarei.

– Não, Draco. Não está entendendo que eu também poderia ser a fraqueza deles. Como acha que a Ordem iria reagir se me visse lutando ao seu lado?

Ele tomou um longo gole de sua bebida ainda de costas, encarou no copo como se o analisasse e somente depois abriu a boca:

– Está pensando neles quando na verdade deveria pensar em você.

Hermione franziu o cenho, confusa com o que ele queria dizer.

– Estou pensando em mim! – contrapôs. – Estou pensando no filho que eu quero. Estou pensando no trabalho que estamos desenvolvendo contra o império.

– Sim. Essas são suas motivações. – voltou-se para ela - Agora me diga se essas motivações seriam o suficiente para te fazer apontar uma varinha contra a Ordem? Entenda, Hermione, que você irá encará-los cara a cara. Não é o mesmo que estar aqui com a Comissão e o meu grupo de estrategistas trabalhando dentro de uma sala fechada contra um lado do qual foi aliada por anos.

Não, Draco quem não entendia.

– Onde você estava quando eles tiraram minha filha de dentro de mim? – ela se aproximou calmamente. – Você simplesmente havia voltado aos seus afazeres do dia, enquanto eles me carregavam para uma sala cheia de apetrechos médicos e me fizeram sentir tudo. Absolutamente tudo. Cada milímetro da dor que eu deveria sentir eles me deixaram sentir e tudo em mim doía mais do que qualquer dor que eu já havia sentido, porque não era só físico. Eu estava destruída. A única pessoa que eu tinha era sua mãe e tudo que ela pôde fazer foi assistir. – suas vistas embaçaram e sua garganta queimou ao se lembrar de como ela havia sentido que sua vida estava acabando naquele dia. - Eu não fui preparada para isso. Fui preparada parar suportar maldições de tortura e interrogatórios e eu não sabia que existiam coisas piores do que isso. – cerrou os dentes lutando contra o nó em sua garganta, o engoliu com força e lutou para refazer seu orgulho. - Você não sabe o que eu senti, nem o que eu vivi aquele dia. Posso muitas vezes entrar em conflito comigo mesma quando vejo no que estou me tornando, mas entenda que a imagem daquele dia, a dor que eu senti e que ainda sinto quando me lembro que eu poderia estar contando os dias para segurar minha menina agora é a motivação mais forte que eu tenho para acabar com a vida de quem ameaçar me fazer passar por isso novamente. – concluiu muito confiante de suas próprias palavras.

Draco não pronunciou sequer uma palavra por um bom tempo. Eles se encararam em silêncio até que ele se aproximou ainda mais e perguntou:

– Você quer vingança?

Ela negou com a cabeça.

– Eu quero paz. E me parece que o preço por ela é bem alto.

Ele pareceu pensar sobre algo por alguns segundos, encarando fundo em seus olhos.

– Amanhã. Eu e você. Sala de simulação. Antes de o sol nascer. – ele disse e as informações fizeram bastante sentido para ela.

– O que pretende fazer? – perguntou confusa.

– Vou te treinar.

As palavras dele pegaram-na de surpresa. Não tinha a mínima ideia de como Draco pretendia fazer aquilo, mas com toda a certeza não iria declinar. Se ela soubesse lutar como uma verdadeira comensal e ainda por cima ser capaz de usar a magia que sabia, iria se sentir bastante invencível.

– Então vamos ter que ir para cama mais cedo. – foi o que Hermione disse em resposta e dessa vez ele sorriu se aproximando bem mais, fazendo a ponta dos dedos deslizarem por sua perna e levantarem a barra de seu vestindo.

– Essa é uma excelente ideia. – Draco usou aquela voz que a fazia arrepiar. Puxou o ar sentindo-se já fraca e quis muito rosnar. Ele tinha que parar de ter aquele poder sobre ela.

**

– É uma honra poder recebê-la, Sra. Malfoy. – o entrevistador disse, apontando a poltrona em que Hermione sentaria. – Devo confessar que ninguém poderia competir com o vestido que escolheu. Está absurdamente encantadora.

– Obrigada e, por favor, me chame de Hermione. – foi o que ela disse, enquanto se sentava em sua poltrona e respirava fundo incorporando a personagem que deveria fazer ali. – Espero não ter causado muitos problemas trazendo sua equipe aqui na noite da Cerimônia de Inverno. Entendam que estou tentando apenas otimizar o meu tempo.

– De forma alguma. Como já disse. É uma honra. – o entrevistador disse. – E sem dúvidas torna ainda tudo mais especial. Agradeço que tenha considerado o pedido. Sabe que estamos tentando uma entrevista faz bastante tempo e o seu silêncio torna os rumores cada vez mais absurdos.

– Por isso mesmo decidi que estava na hora de dar uma oportunidade à imprensa. Se as pessoas vêem tanto interesse em mim ou em minha relação com Draco, elas merecem respostas. – sorriu educadamente como deveria.

O homem devolveu o sorriso bastante satisfeito pela oportunidade que estava tendo.

– Certo. Vamos começar. – ele ajeitou-se em sua poltrona, colocou o caderno e a pena sobre a mesa entre eles, limpou a garganta e começou. – Primeiramente, há rumores de que desde que expôs as corrupções do governador Theodoro Nott, a família Nott cortou todo o qualquer vínculo com os Malfoy e que não conseguem nem mesmo permanecer no mesmo ambiente por muito tempo. Gostaria de saber o que tem a dizer sobre isso.

Hermione sorriu calmamente, sabendo que iriam começar exatamente com aquele assunto.

– O relacionamento que desenvolvi com Theodoro Nott é inteiramente profissional. Ele levou para o pessoal quando ignorou meu trabalho e devolvi na mesma moeda, é assim que as coisas funcionam e ele entende isso. E a família Nott jamais cortaria relações com os Malfoy. Dentro de círculos de famílias como as nossas, há altos e baixos todo o momento. Nossas famílias têm laços profissionais que beneficiam os dois lados, dessa forma, seria bastante insensato pensar que daríamos as costas por um conflito pequeno que já foi resolvido.

O homem assentiu concordando.

– Há grandes rumores de que agora está trabalhando dentro do departamento do seu marido. O que a fez a decidir trabalhar na guerra?

– Primeiramente, eu sempre estive envolvida com a guerra e nunca dei as costas a ela. Draco e eu trabalhamos juntos a muito mais tempo do que todos imaginam. Quando nos casamos, ele quis que eu aproveitasse a estabilidade da guerra para ter a chance de me envolver com uma área que eu já tive interesse de trabalhar antes. Mas mesmo quando eu parecia não estar envolvida, sempre discutíamos em casa sobre tudo que acontecia no mundo fora das muralhas. Agora que me desliguei do departamento de Nott e a guerra intensificou um pouco, me senti novamente atraída a estar mais presente. Acreditamos que fazemos um bom time juntos.

– Definitivamente. – disse o homem. – Sabemos que trabalharam juntos para estabilizar a guerra antes, quando estava entre os rebeldes agindo em nosso favor. Também acreditamos que vocês são um bom time juntos. Poderia nos contar algo sobre a guerra?

Hermione sorriu.

– Sinto muito, mas Draco é o general. Somente ele pode prestar comunicados oficiais sobre a guerra.

O homem riu fracamente como se pedisse desculpas, mas desse a entender que havia valido a tentativa.

– Obviamente que não podemos ignorar as críticas sobre seu constante envolvimento com cargos e posições de muita influência na Catedral. Por ser de uma família tradicional, é esperado que se envolva com outras atividades. O que tem a dizer sobre isso?

Hermione suspirou. Sabia que aquela também viria.

– As pessoas devem estar esperando que eu venha me defender. – sorriu. – A verdade é que eu organizei o sistema das Casas de Justiça dessa cidade e agora estou trabalhando para salvar o mundo que eles vivem, de uma guerra. Eu não deveria me defender por isso. É verdade que por ser de uma família tradicional tenho outros deveres, mas todos sabem que tenho conseguido conciliar isso para satisfazer ambos os lados.

O homem pareceu satisfeito com o que ouviu.

– Bem, ultimamente tem sido vista com frequência na companhia de Astoria Bennett. Algumas fontes nos informaram que seu marido e a Sra. Bennett estavam envolvidos em um relacionamento sério exatamente quando começou a se envolver com ele. Parece que existem pessoas frustradas por terem esperado algum tipo de rivalidade. Essas informações procedem? Como se tornaram próximas?

– Sim, Draco e Astoria estavam juntos quando ele e eu começamos a nos aproximar, mas entenda, Draco e eu não começamos a nos amar da noite para o dia. Eu não tive nenhum tipo de culpa pelo fim do relacionamento deles até porque, naquele ponto, ele e eu mais nos odiávamos do que nos aturávamos. As coisas foram acontecendo devagar e com o passar dos anos. Astoria, por outro lado, é feliz com a família que tem. Draco e Isaac têm um bom relacionamento e por isso, eventualmente, acabamos nos aproximando. Ela tem sido uma amiga honesta e sincera. Sou grata por isso. – concluiu.

– Isaac e Astoria Bennett têm uma filha que por sinal tem se tornado uma celebridade e tanto devido ao bom gosto para as roupas que usa. Você e seu marido acabaram de fazer um ano de casados e devo parabenizá-los por isso. – Hermione sorriu e agradeceu educadamente. – Vocês dois não se sentem inspirados?

– Você quer dizer se pensamos ou não sobre filhos? – ela quis ter certeza de que estavam entrando mesmo naquele campo.

– Sim. – ele confirmou. – Todos sabem que um herdeiro deverá vir em algum momento.

Hermione respirou fundo. Sentiu-se imensamente tentada em expressar o quanto queria um filho.

– Sim, sim. – concordou com o homem. – Nós também sabemos, mas terá que concordar comigo quando digo que agora não é exatamente o momento perfeito para uma criança. Estamos no meio de uma guerra em que eu e ele estamos envolvidos ativamente. Gostaríamos de esperar por um momento mais apropriado embora, caso aconteça, não deixará de ser bem vindo.

– Certo. – sorriu o homem e logo puxou ar para continuar. – Como o número de perguntas foi pré-determinado visto o pouco tempo que temos, gostaria de usar essa última pergunta para satisfazer a curiosidade dos muitos fãs do casal Malfoy. Vocês dois tem uma história bastante romântica que chama muita atenção e são extremamente reservados. Sua voz nunca está tão presente na mídia como muitas pessoas acharam que iria estar e Draco Malfoy se pronuncia sempre a comunicados oficiais e nada mais. As pessoas gostariam de saber sobre sua vida com ele, como tem sido, se tem suprido as expectativas. Como exatamente é Draco e Hermione Malfoy.

Hermione ergueu as sobrancelhas surpresa por escutar aquela. Não havia esperado que aquilo fosse interessante. Previra todos os questionamentos anteriores, mas não aquele. Parecia bobo e sua expressão talvez a denunciou, porque o entrevistador se desculpou por ser invasivo, o que a obrigou a sorrir e dizer que não havia nenhum tipo de problema.

– Você sabe o que eles dizem sobre nunca se conhecer uma pessoa verdadeiramente até ir morar com ela. Não me entenda mal, não quero dizer que Draco não era bem o que eu esperava que ele fosse. – suspirou um tanto frustrada, mas sorriu. – A verdade é que realmente ele não é quem eu esperava que ele fosse. – Não havia se preparado para aquela pergunta. – As pessoas se sentem atraídas por ele por toda a beleza física que ele tem, talvez pelo ar um tanto misterioso e também pelo poder que tem, mas Draco é bem mais do que tudo isso. Eu pensei que o conhecia quando me casei com ele, mas a verdade é que ele parece ter uma surpresa para revelar todos os dias. Ele é um homem muito interessante, muito profundo e às vezes tenho a impressão de que mesmo ficando com ele para o resto da vida, nunca vou chegar a conhecê-lo realmente. - foi exatamente ali que Hermione percebeu que não estava mentindo, nem omitindo como fizera com as outras perguntas. – A vida com ele é um desafio. Eu não teria o desafio que tenho com meu marido todos os dias com nenhum outro homem. E talvez ele também se sinta da mesma forma com relação a mim. Nós dois temos nossas divergências, claro, mas aprendemos um com o outro. Acredito que esse é o processo que temos que passar para nos tornarmos realmente uma família.

– E você o ama?

Hermione sorriu.

– Definitivamente. – mentiu.

– Então nós terminamos por aqui. – concluiu o homem satisfeito, pegou sua pena e fechou o caderno. – Mais uma vez obrigado e é uma honra. – se levantou e estendeu a mão. Hermione a apertou. – A matéria sairá essa próxima semana junto com a cobertura de todo o evento.

Hermione assentiu e sorriu amavelmente.

– Se ousar mudar uma vírgula do que quer que tenha sido dito aqui, pode dar adeus a carreira que construiu. – ela usou seu tom mais educado.

O homem apenas engoliu em seco e ela deu as costas, seguindo pela larga galeria onde estava. Desceu os poucos degraus que davam para o hall central da entrada do salão principal e não demorou para encontrar Draco, não muito distante, discutindo com um grupo de homens. Nenhum deles usava os trajes para a Cerimônia de Inverno, o que indicava que ele já estava resolvendo problemas antes mesmo de conseguir entrar no salão. Os olhos cinzas dele se encontraram com os dela, cruzando a distancia que estavam, enquanto ele parecia comentar sobre algo não muito agradável com um dos homens que carregava um rolo grande de pergaminho.

Ela balançou a cabeça em sinal de que aquele não era um bom momento para trabalhar. Ele apenas ergueu de leve as sobrancelhas, encolheu os ombros quase que imperceptivelmente avisando que não tinha muita escolha e tornou a dar atenção ao grupo.

Olhou para os lados e quando notou todos entretidos com algo, virou-se para alcançar a saída mais próxima. Não era um bom sinal Draco ter notado sua presença no hall. Ela esperara que ele já tivesse conseguido entrar no salão àquela altura, embora o evento ainda estivesse no início. Não queria que ele soubesse que sua breve ausência tinha outro motivo além da entrevista que havia dado.

Eles quase não haviam conseguido chegar a tempo. Em várias noites, Draco acabava não voltando para casa porque estava impedido de deixar Brampton Fort. Voldemort o impedira de deixar a cidade até que Hermione engravidasse. O mestre não ficara muito satisfeito quando ouvira a desculpa de que sua ausência era a culpada pelo atraso na chegada do herdeiro que ele tanto queria. Isso estava fazendo com que seu trabalho na Catedral não tivesse hora definida. Hermione acabava o acompanhando muitas vezes. Draco nunca havia questionado sua presença e ele parecia até gostar. Mas aquela tarde ela havia voltado para casa porque percebera que todo seu envolvimento com a guerra e sua participação na organização do evento a fizera esquecer que deveria ter escolhido uma roupa.

Sua grande sorte era que muitas das grandes marcas e estilistas mandavam-lhe roupas em excesso o que diminuía uma boa porcentagem do trabalho que teria para encontrar algo em cima da hora. Tryn também era a melhor elfa que alguém poderia ter. O grande problema é que toda a ajuda que conseguiu, fez com que o processo fosse rápido e ela acabasse tendo tempo para se lançar exausta a um sono incomum que nunca lhe batia naquele horário.

Acabou acordando com um Draco furioso por ter presenciado seu descaso. Teve que se apressar, assim como ele, que também não havia conseguido ser liberado da Catedral em um bom horário. Seguiram para a Cerimônia de Inverno com ela trabalhando para atar as sandálias, enquanto os brincos enfeitiçados tentavam se fechar em suas orelhas e com ele fechando os botões da camisa, enquanto ditava ordens a penas e pergaminhos que eram enviados como memorandos janela a fora da cabine da carruagem.

Desceram absolutamente impecáveis no tapete vermelho, passaram por todo o processo do ano anterior e quando conseguiram entrar na Catedral, Hermione logo foi direcionada pelo grupo do Diário do Imperador que a esperava e Draco foi parado para receber mensagens urgentes que vinham de fora de Brampton Fort como sempre.

Agora, enquanto ela andava pelos corredores procurando a escada que daria ao lugar onde Fred Weasley assistiria ao evento, atado e amordaçado, esperando pelo momento de sua execução, tudo que se passava por sua cabeça era o quanto estava cansada.

Já fazia algumas semanas que Draco tirava alguma de suas horas da manhã para o que ele chamava de “treino”. Ela considerava tortura, mas ele insistia que devia estimular os instintos de sobrevivência nela. Ele limitara o uso da varinha, mas ela só havia conseguido se livrar de vários roxos no corpo e idas constantes a ala das enfermarias porque tinha certo conhecimento em usar magia sem varinha, o que pareceu surpreender e frustrar Draco, porque quase todas as situações que ele a colocava ela era capaz de completar ilesa e sem muito esforço, mesmo quando era obrigada a largar a varinha. O que mais a interessava eram as situações que lhe exigia atenção, concentração, lógica e memória. Hermione era boa. Ela também era boa em armamento trouxa. Seu pai costumava a levar para caçar quando era criança. Mas havia se surpreendido com essa parte porque raras eram as situações em que comensais usavam alguma arma trouxa durante qualquer conflito. Ela não sabia que eles gastavam tempo ensinando comensais a usarem algo tão trouxa como arma de fogo. Mas até fazia sentido, visto que comensais são treinados para saberem aproveitar de tudo que os cerca, se caso uma arma for parar na mão deles, é melhor que saibam usar.

Surpreendeu-se por não se deparar com a figura de seu marido tentando impedi-la assim que conseguiu alcançar as escadas que davam para a cela panorâmica de Fred Weasley. Draco certamente imaginara que ela tentaria fazer seu caminho até Fred durante a Cerimônia de inverno, e mesmo a vendo no hall de entrada do salão após sua entrevista, sabendo que ela não entrara no salão, não havia encontrado uma forma de segui-la.

Aproximou-se da guarda posta ao pé da escada. Hermione tinha o direito de exigir ver o prisioneiro a hora que bem entendesse, mesmo que isso significasse problemas futuros para ela e pra quem carregasse o mesmo sobrenome. Não era sensato exigir seus direitos. Tinha que ser mais esperta do que isso.

– Guardas. – ela começou em sua melhor postura. – Novas ordens do seu general: As trocas devem ser feitas de dez em dez minutos a partir de agora para minimizar as chances de qualquer visita que o prisioneiro possa receber. Me dêem licença que preciso passar a mesma ordem aos guardas da cela.

– Desculpe, madame, mas o prisioneiro já está com uma visita. – informou um dos guardas um tanto desconcertado.

O que? Não! Isso estragaria tudo. Estragaria sua tentativa de subir as escadas com a desculpa de que deveria informar os guardas da cela sobre as novas ordens, visto que nenhum deles tinha a liberdade de abandonar os postos sob nenhuma ordem.

– O prisioneiro não deve receber nenhuma visita. Essas são ordens do seu general. São ordens do protocolo. São ordens do seu mestre! – Ela se indignou.

– Nem a de um velho amigo procurando se despedir? – Theodoro Nott apareceu no topo da escada. – Me desculpe, Sra. Malfoy. – desceu alguns degraus com um sorriso no rosto. - Informei aos guardas que tomaria responsabilidade pelas consequências da minha imprudência.

– Isso não os isenta das consequências da imprudência deles. – mostrou seu descontentamento aos guardas que se entreolharam um tanto amedrontados.

– Desculpe, madame. – o guarda tornou a se pronunciar. – Ele é o governador. – não tinham o poder para detê-lo.

Hermione cerrou os olhos para Theodoro e encarou o guarda que havia tomado o status de porta voz.

– É melhor que tenha uma boa história para contar quando seu general ouvir sobre isso. E você. – tornou a erguer os olhos para Theodoro. – Já que está aí em cima, faça-se útil e informe a guarda da cela que as trocas acontecerão de dez em dez minutos agora. – deu as costas, fechou os olhos e soltou um palavrão baixo por entre seus dentes cerrados.

– Seu casamento com Draco pode até te dar o bonito discurso de que agora, você e ele são um. - Theodoro apressou-se a segui-la. – Mas, para mim, Draco continua sendo o único que dá ordens por aqui. – Nott chegou ao pé da escada e avançou para passar dela. – Mas vou obedecê-la, madame. – caçoou do guarda. – Estou tentando evitar entrar em mais panos sujos com um Malfoy. – parou a frente dela, a forçando a fazer o mesmo. – Mas farei como um favor, não como uma ordem.

Hermione encarou-o completamente séria.

– Fará como uma ordem porque eu sou uma Malfoy e você é um Nott. Estou acima de você.

Theodoro riu.

– Alguém aqui está mesmo aprendendo a ser uma Malfoy bem detestável. – zombou ele. – É bom que esteja mesmo se tornando alguém que deve ser. – ele ficou sério repentinamente e se aproximou. – Mas eu sei quem realmente é.

– Não sabe nada sobre mim, Theodoro. – ela queria simplesmente poder acabar com a vida dele ali mesmo. – O que queria com Fred, afinal?

– Fred? – riu Theodoro. – Que íntimo, Sra. Malfoy.

– Vocês não eram próximos, nem em Hogwarts, principalmente depois dela. – Hermione o ignorou. – Você o odiava. Draco te colocou aqui, foi isso? Para me esperar.

Theodoro riu.

– Eu falhei com Draco o suficiente para lhe servir de qualquer ajuda por agora, Hermione. – Nott se aproximou ainda mais e abaixou o tom de voz. - Mas eu estava sim esperando você. Sabia que mesmo se Draco tentasse te parar você iria conseguir se livrar dele de alguma forma.

– Saia da minha frente, Theodoro. Tem a sorte de eu não ter dito a Draco que invadiu nossa casa mais de uma vez...

Theodoro riu alto, cortando-a e deixando completamente confusa. Passou um braço por sua cintura e a conduziu pelo curto caminho de volta até dobrar a primeira esquina, informando aos guardas, que precisava de um tempo para negociar sua punição por invadir a cela de um prisioneiro com uma Malfoy, mas que logo voltaria para cumprir o almejado desejo que ela tinha em passar a ordem para os guardas da cela.

– Eu estou tentando te ajudar. – ele abaixou a voz.

– Acha mesmo que eu vou cair nessa? – se desvencilhou dele quando ele tentou colocá-la contra a parede. – O que quer com isso?

– Eu sabia que iria tentar achar um jeito de chegar até Fred Weasley porque eu sei quem você é, Hermione. Tive a oportunidade de conhecer o que restava desse seu coração quando começou a trabalhar comigo e eu sei que, mesmo que esteja se tornando amarga, você se importa. Se importa com o seu amigo, se preocupa com ele.

– Eu já disse e vou repetir: Não sabe nada sobre mim, Theodoro.

– Não, Hermione. Eu realmente não sei muita coisa, mas a pessoa que você era, a ingenuidade que carregava, o coração que tinha, era puro demais para esse lugar. Eu sabia que viria até aqui porque sei que ninguém mais dessa cidade faria o mesmo se estivesse no seu lugar. Eu sei que por mais que esteja aprendendo a sobreviver nesse mundo nada ideal, a Hermione que você sabe que realmente é nunca vai te deixar. – Nott foi calmo e ela mal acreditou que ele soubesse usar tão bem as palavras. Fechou os olhos e deu as costas a ele. Por que aquele homem sempre sabia exatamente o que dizer para fazê-la ceder? Não era justo que ele pudesse ter esse poder tocando na parte mais frágil que ela carregava agora. – Me diga qual é o seu plano. Eu quero ajudar. – ele estendeu a mão para tocá-la.

– Não me toque! – Hermione esquivou e voltou-se para ele. – Você não pode jogar comigo, Theodoro. Jogou uma vez quando me fez entrar para o seu departamento. Não vai conseguir isso de novo. Eu não sei quais são suas intenções, eu não estou disposta a cair no que quer que....

– Escute, Hermione! – ele conseguiu ser gentil e ríspido ao mesmo tempo quando a segurou pelos ombros e a colocou contra a parede. Seus olhos se cruzaram e Theodoro se aproximou, ficado a poucos centímetros de seu rosto. – Não estou jogando com ninguém e é por isso que eu estou aqui. Olhe bem nos meus olhos. Tenho a teoria de que pessoas como você conseguem ver a verdade pelos olhos das pessoas. – ele hesitou um segundo, mas logo tomou fôlego e continuou. - Eu trabalhei com o mestre logo quando se casou. Queria manter os olhos em você e em Draco. Comprei Jodie a levando para cama para ter informações, sabotei algum dos seus projetos para ter sua atenção. Sim, eu fiz tudo isso, mas os dias foram passando e te ter tão próxima me fez te conhecer e você não faz a mínima ideia do poder que conseguiu sobre mim. Sabe quando se escuta falar de uma utopia por muito tempo e tudo que você consegue pensar é “Céus, se realmente existisse, se realmente desse certo, se realmente fosse verdade!”? Eu pensei que mulheres como você não existissem. Você é uma mistura de todos os tipos de qualidade e me mata ver o quanto seu próprio marido não te dá o valor que merece. Quando você se ausentou, eu me senti imensamente vazio. Não importava quem eu tivesse para me distrair, tudo que eu pensava era o que poderia estar acontecendo de errado com você. Eu queria estar no lugar de Draco. Queria estar do seu lado, poder cuidar de você, poder te conhecer muito além do infernal profissional ao qual você me aprisionava. – ele soltou o ar um tanto frustrado. – O que eu fiz foi por você, Hermione. – ela não entendeu. – Estragar o seu trabalho. – ele especificou. – Estraguei seu trabalho por você. Precisava de um bom motivo para sair do meu departamento e eu o dei a você. Sua imagem continua intacta e soube trabalhar bem com isso também para conseguir convencer o mestre de não interferir no seu trabalho dentro do departamento de Draco.

– Como espera que eu acredite nisso, quando tudo o que faz é me perseguir e implorar para que eu volte para o seu departamento?

– Eu sinto sua falta! Sinto falta de ter nossos cérebros pensando juntos! Sinto falta da sua companhia, da sua voz, de tudo em você! – Nott disse como se não fosse óbvio, como se fosse um absurdo que ela não se lembrasse que ele já havia lhe dito aquilo. – Eu quero que venha para o meu departamento por escolha, por vontade própria, não porque foi forçada ou porque o mestre te quer longe da guerra. Eu quero que você me escolha. Te entreguei a chance de sair para que assim você pudesse ter a opção de ficar. – ele concluiu e eles se encararam em silêncio por alguns segundos. – Você não ficou e eu entendo. Por isso estou aqui, por isso te esperei, porque quero que saiba que pode confiar em mim. – Hermione não queria que fosse um jogo. Não parecia ser um. Os olhos dele estavam honestos o suficiente para convencê-la de que não era. – Sei que quer chegar até seu amigo, mas entenda que se subir aquelas escadas seu nome será registrado. Você se manteve longe dele porque sabe a imagem que precisa construir. Se seu nome for registrado, não importa a desculpa que der ou a história que tiver, sabe que ninguém irá comprar. Vão presumir que você ainda se importa ou que talvez ainda se importe com os rebeldes que te fizeram companhia durante todos esses anos de guerra. Tenho certeza de que não quer correr o risco de ter isso estampado em algum jornal. – Hermione espremeu os lábios e soltou o ar. – Me diga o seu plano, Hermione, porque sei que a essa altura do campeonato você não pode estar com nenhuma ideia insana de fazê-lo escapar.

Ela negou com a cabeça, soltando o ar e fechando os olhos.

– Não. Ele precisa morrer. – sua voz saiu baixa.

– Me diga o que pretendia fazer, eu tomo a responsabilidade por isso. - Hermione abriu os olhos e encarou os dele bem de perto. Pesou as chances que tinha na balança. – Me deixe provar que pode confiar em mim.

Se ela tivesse um nome que pudesse cobri-la, seria exatamente perfeito e mesmo que ele falhasse, mesmo que ele não fosse de confiança, quem realmente deveria temer era Voldemort e de qualquer forma, o ofídico já poderia esperar que Hermione tentasse algo a favor do ruivo. Se Theodoro desse seu nome a imprensa, ele sairia como um mentiroso procurando vingança em cima do nome dela, visto que precisava restaurar sua imagem pública a qualquer preço. Nada lucrativo para ele.

Hermione tomou fôlego, colocou os dedos em seu decote e retirou dali um pequeno frasco que continha um líquido viscoso e nada apetitoso. Colocou-o na mão de Theodoro.

– Encontre uma forma de entregar isso a Fred. A poção lhe dará força e o deixará imune a dor, o que tornará o que quer que ele venha a enfrentar naquela arena, muito mais divertido de se assistir. Ele morrerá com honra, lutando até o fim, até que seus próprios ferimentos o impeçam biologicamente de prosseguir. – ela soltou o ar. – Ele gostaria que fosse assim. – seu coração apertou, mas ela lutou para não ceder. – Diga a ele... – Hermione queria que Fred soubesse que ela sabia o que estava fazendo, onde estava se metendo e porque precisava ser daquela forma, mas não podia arriscar com Nott. Suspirou. – Diga a ele que eu não tive outra escolha.

Theodoro assentiu.

– Não sabia que isso existia. – ele disse encarando o líquido no frasco.

– Eu mesma criei. – ela disse. Ninguém saberia que Fred havia bebido qualquer coisa.

Eles se encararam em silêncio, até que um fino sorriso sincero cruzasse os lábios dele.

– Você tem um bom coração, Hermione. – antes que ela menos esperasse, ele tocou seu rosto. Com o mesmo cuidado da ultima vez que tivera a oportunidade. Nott se aproximou em direção a sua boca e ela se afastou. Ele parou.

– Eu deixei que fizesse uma vez, não vou deixar novamente. – Hermione não pensou duas vezes em dizer aquilo.

Ele assentiu novamente concordando com o decreto dela, embora não parecesse muito feliz em ter que escutá-lo. Enfiou o frasco que recebera no bolso em silêncio e fez seu caminho de volta para a escada. Hermione fechou os olhos encostando a cabeça contra a parede de pedra.

– Certo, senhores. – Hermione escutou Theodoro anunciar aos guardas. – Me parece que ainda vamos ter que prestar bons depoimentos pela quebra de protocolo. Me dêem licença, por favor.

Hermione suspirou, desencostou-se da parede e escutou um guarda reclamar sobre o poder de homens como Theodoro, antes de tomar seu caminho de volta. Tentava se convencer de que tivera sorte por encontrá-lo ali. Usá-lo certamente a livraria do risco de ter seu nome associado com o de Fred Weasley nas próximas semanas.

Assim que recolheu a longa saia de seu vestido e desceu os três degraus para o hall principal, foi recebida por Astoria que se moveu rapidamente em sua direção assim que a viu.

– Nude e preto?! – ela apontou para o vestido que Hermione usava. – Sério? Isso é tão inovador que já vou providenciar uma nova ala no meu closet. Tenho certeza que vai virar a nova sensação. – ela puxou o fôlego repentinamente, enquanto ainda analisava seu vestido. – Por Merlin! Me diga que essas rendas são francesas! Veja só essas pérolas minúsculas... – ela falou consigo mesma, passando delicadamente as mãos entre as pregas que moldavam sua cintura. – Isso deve ter lhe custado uma fortuna!

Hermione sorriu.

– Eu o ganhei. – disse e viu Astoria revirar os olhos e rir.

– Claro! Você é uma Malfoy!

– O estilista é um tanto desconhecido, mas a carta que ele enviou com o vestido é absolutamente encantadora. Disse que o modelo é inspirado em mim e o explica peça por peça, corte por corte e detalhe por detalhe, baseado no pouco que conhece da minha personalidade.

Astoria sorriu, fazendo uma expressão de que estava se derretendo por dentro.

– Eu preciso conhecê-lo! E você parece uma rainha do inverno! Não menos do que isso! Não faz nem ideia do quanto está me matando de inveja.

Hermione riu.

– Obrigada. – Hermione agradeceu o exagero de elogios recebidos. – Acaso viu Draco?

– Sim. Isaac acabou de livrá-lo de uma dúzia de homens que estavam o detendo aqui. Acabaram de entrar. Onde você estava?

– Estava dando uma entrevista ao Diário do Imperador. Preciso encontrar Draco. Está pensando em entrar agora?

– Não com você! – Astoria disse como se aquilo não fosse óbvio. – Ninguém vai me notar! Vou escolher alguém menos importante para isso.

Hermione teve que rir, Astoria parecia ter algo mais para comentar, mas Narcisa surgiu vestida em um elegante vestido cobre a interrompendo.

– Astoria! Você está absolutamente linda. Verde é definitivamente sua cor. – Narcisa se introduziu entre elas. Astoria tratou de agradecer, encantada por receber o elogio. – Hermione, por que não entramos? – Hermione concordou e a seguiu, informando a Astoria que poderiam conversar mais dentro do salão. – Havia me dito que seria uma rápida entrevista.

– E foi. – respondeu ela.

– Draco entrou com Isaac. Ele deveria ter entrado com você.

– Passamos juntos pelo tapete vermelho. Isso que importa.

– Não, Hermione. Não é só isso que importa. – Narcisa parou e Hermione foi obrigada a fazer o mesmo. Elas se encararam. – Draco e você estão debaixo dos holofotes vinte e quatro horas por dia. – ela começou com a voz uniforme e a postura intacta de sempre. - As pessoas adoram a figura de vocês juntos por causa da romântica história que tem e não vão se cansar enquanto tudo que tiveram nos jornais sobre vocês for uma rápida caminhada lado a lado como se fossem dois companheiros profissionais saindo de uma carruagem e entrando na Catedral, isso quando decidem vir juntos à Catedral. Pelo menos uma noite, ao menos uma, mostre que ama seu marido e faça isso pelo bem do discurso que te livrou de ser ofendida de traidora e Sangue-Ruim pelas esquinas dessa cidade. – Hermione puxou o fôlego com calma para receber as palavras de Narcisa com paciência. Sabia exatamente o quanto ela se esforçava para controlar os nervos em eventos que havia organizado. – E não pense que isso vale só para você. Draco já recebeu o discurso dele. Agora, entre com um sorriso no rosto e expresse o quanto está grata por ter um tempo livre longe da guerra em uma cidade perfeitamente protegida. – Hermione se restringiu apenas em assentir obediente. – Belo vestido, a propósito. – ela finalizou e saiu.

Hermione suspirou e voltou-se para o imenso salão aberto a sua frente. Teria que ser paciente e forte durante aquela noite. Preparou-se para avançar um passo, mas ao invés disso, regressou dois, puxando o ar de uma vez enquanto tampava a boca com a mão quando uma onda de náusea bateu contra ela sem nenhum aviso prévio.

Precisou se concentrar e no segundo em que se sentiu minimamente melhor, sua mente automaticamente fez as contas de quando fora a última vez que havia se alimentado. Acostumara-se a fazer isso nos primeiros meses de sua gravidez quando se sentia enjoada por ter se esquecido de colocar algo no estômago.

Parou imediatamente com aquele pensamento. Seu cérebro pareceu ativar uma sirene que fez seu sangue esquentar e seu coração bater mais rápido. Rapidamente ela começou a voltar no tempo, repassou dados, informações, acontecimentos, datas e então ela parou, fechou os olhos e soltou o ar com calma pela boca. Não. Não seria possível. Não iria fazer sentido.

Balançou a cabeça para limpar seus pensamentos. Tornou a encarar o salão a sua frente, sorriu e passou para o lado de dentro deixando com que a música e todo o barulho das conversas a envolvesse naquele ambiente estranhamente acolhedor e intimidador ao mesmo tempo.

Ocupou-se com uma taça de champanhe assim que teve a oportunidade e fez seu caminho por entre as pessoas, sendo obrigada a parar e prestar toda a sua educação quando necessário. Procurou por Draco, mas não o encontrou, o que a fez se distrair com conhecidas de eventos anteriores. Embora conversar sobre a vida alheia e as fofocas atuais fosse extremamente entediante, Hermione se sentia muito mais parte do ambiente do que da última vez que fora obrigada a atender a Cerimônia de Inverno e isso, de alguma forma, a ajudava a se sentir menos tensa.

Sorriu automaticamente quando sentiu uma mão envolver sua cintura. Conhecia bem aquele toque. Olhou por cima do ombro para encarar Draco se aproximar em sua postura sempre neutra. Ele cumprimentou as mulheres que a rodeavam e que instintivamente checaram se estava tudo em ordem com o cabelo e o vestido antes de responder educadamente ao cumprimento.

– Quer algo para beber? – ele voltou-se para Hermione apontando para a taça vazia que ela tinha nas mãos. Ela sorriu, negou com a cabeça e disse que estava bem. – Acaso está muito ocupada?

– Estava conversando, mas...

– Ótimo. – ele a interrompeu, passou os olhos pelas mulheres a sua volta e tornou a encará-la. - Precisamos conversar. – foi tudo o que disse.

Hermione não entendeu a seriedade que Draco carregava em sua expressão. Sabia que naquele momento, durante aquele evento, ele deveria ser educado, deveria sorrir, deveria estender a mão para cumprimentos, mas tudo que ela conseguia enxergar nele era a expressão neutra que quase sempre escondia tudo que queria conter.

Passou os olhos pelas mulheres que os olhavam com curiosidade. Sorriu e voltou-se para Draco. Assentiu e foi conduzida para a galeria à sua direita, onde o fluxo de pessoas era menor. Ele a parou próximo a uma das colunas que dividia o átrio das galerias, colocou as mãos nos bolsos, passou os olhos rapidamente ao redor para analisar quem estava por perto e disse:

– Nós perdemos.

Hermione não entendeu.

– Perdemos? O que perdemos?

– York. Nós perdemos. – repetiu.

Hermione uniu as sobrancelhas, confusa.

– Como? Deveríamos saber disso apenas daqui a, no mínimo, dois dias. Hoje foi apenas o primeiro ato, você reviu isso um milhão de vezes, as chances de perdemos eram quase nulas.

Draco suspirou um tanto impaciente. Analisou as pessoas a volta deles novamente e tornou a fixar os olhos cinzas nos dela.

– Garrett estava no comando da operação em campo porque eu não posso sair de Brampton Fort. Ele pegou a Ordem completamente despreparada no primeiro ato, viu a oportunidade de tomar a região facilmente em um dia e sem todo o cuidado das estratégias demoradas que havíamos preparado. Ele acelerou o processo, cercou a Ordem e no momento em que ela viu que perderia York... – Draco puxou o ar como se estivesse se contento para não expressão nada além de sua neutralidade. – A Ordem usou a magia. Aquela que somente você consegue controlar na sala de simulação. O local virou um caos. Tivemos que recuar, a Ordem também, e como eles já tem acampamento na região, voltamos à estaca zero. Eles ainda têm o poder sobre York. A diferença é que além de termos perdido comensais, entregamos em um dia só todo o plano de estratégias que preparamos. - Hermione recuou um passo ao escutar aquilo. Colocou uma mão sobre a testa e puxou o ar. – Seja mais discreta! – ele apressou-se a dizer.

Hermione foi obrigada a estabilizar sua respiração. Refez sua postura e desviou o olhar, enquanto abusava de alguns segundos para fazer seu cérebro trabalhar em capacidade máxima.

– Erramos em algo. – ela tornou a encará-lo.

Ele uniu as sobrancelhas quase que imediatamente.

– Erramos? Nós não erramos! Garrett estava sob ordens! Ele simplesmente ignorou todo o...

– Garrett viu a fácil oportunidade de conseguir tomar York. Ele tomou uma decisão que iria lhe poupar tempo e dinheiro. Se pergunte se você não iria fazer o mesmo no lugar dele. – ela o cortou. – Mesmo que seus homens levassem os três dias determinados para conseguir tomar a região, no momento em que a Ordem percebesse que não havia saída, eles usariam a magia para recuá-los. – ela suspirou - Existe algum ponto cego que estamos perdendo nesse processo.

Draco não parecia muito confiante no que ela havia dito, mas estava considerando. Assentiu em resposta. Hermione pôde ver a frustração escondida ali no olhar dele. Ele era tão diferente de Harry. Tinha todos os motivos para sair chutando paredes, derrubando vasos caros, gritando com quem quer que ousasse cruzar com sua opinião, mas estava ali, com sua expressão neutra, escondendo toda a vontade que tinha de fazer tudo aquilo. Sem dúvida, as habilidades de sobrevivência que havia desenvolvido para dar conta da pressão de estar sob Voldemort havia o mudado muito.

– Vamos encontrar outro jeito de lidar com isso. – ela disse.

– Eu sei. – ele declarou.

– É frustrante apenas. Trabalhou nisso por muito tempo. Eu entendo. Passei pelo mesmo, milhões de vezes quando estava na Ordem. Vamos encontrar outro jeito. – Hermione tentou ajudá-lo. Ele não falou nada, mas esperava que a frustração dele estivesse sendo confortada de alguma forma. O silêncio de Draco talvez fosse um sinal de que estivesse conseguindo. – Precisa apenas manter-se focado. – ela parou ali.

Draco assentiu. Ele já sabia daquilo, ela não precisava dizer a ele, mas de alguma forma parecia justo deixar verbalizado um conforto para sua alma atormentada naquele momento. Não era bem o conforto que Hermione costumava dar a alguém, mas sabia que qualquer coisa além daquilo ou mais íntima do que aquilo seria demais para os ouvidos dele. Às vezes ela sentia que deveria se vestir de Narcisa para chegar até o estado de compreensão de Draco Malfoy.

– Preciso subir até minha sala. Tenho que lidar com isso. Deslocar Garrett, trazer de volta as zonas que estavam trabalhando em York, escolher de quem vou querer depoimentos e como vou emitir um comunicado oficial sobre tudo isso amanhã. – de repente, tudo nele pareceu expressar o quanto estava exausto. Hermione assentiu. Ela sabia que ele realmente estava, mesmo que demonstrasse sempre estar em perfeito estado. Fazer o trabalho que tinha que fazer preso em um lugar apenas fazia o serviço triplicar. – Precisamos fazer algo. As pessoas estão pesando que estamos discutindo.

Ela se aproximou e ele passou os braços por sua cintura quase que automaticamente. Hermione não precisou informar o que deveriam fazer, ele apenas inclinou-se e colou seus lábios nos dela. Ela fechou seus olhos sentindo o mundo ao redor deles desaparecer. Deveria se odiar por se ver ser envolvida por ele cada vez mais. Cada beijo, cada toque, parecia fazer com que ela amolecesse mais. Ela não queria amá-lo, desejá-lo, nem derivados de nada disso. Ela queria apenas uma relação mutua de respeito, educação e compreensão. A verdade era que conhecia bem o caminho que ela estava tomando e deveria se odiar por não estar lutando contra. Draco não era um homem que ela admirava por inteiro e não podia se envolver daquela forma com alguém que tão pouco conhecia.

Suas bocas se distanciaram minimamente. A sensação da respiração dele contra seu rosto não a deixava abrir os olhos. Tinha que se afastar, já haviam feito o suficiente para tirar qualquer pensamento de que estivessem discutindo da cabeça das pessoas que os cercavam, mas ao contrário disso, ela apenas ergueu as mãos e tocou o rosto dele. Deslizou seus dedos pelos fios loiros e bem penteados e, antes que pudesse fazer qualquer outro movimento, a boca dele se fechou novamente contra a dela.

Draco sempre a surpreendia. Quando seus lábios brincaram, ele a apertou mais junto contra seu corpo. Hermione sentiu todas as sensações que conhecia correrem ao mesmo tempo por suas veias. Pensou que por mais que conhecesse o caminho que estava seguindo e se odiasse por não lutar contra, por mais que já tivesse andado por aquele caminho vezes seguidas, Draco era confuso demais para que ela soubesse no que estava entrando. Mal sabia se o caminho que estava seguindo era realmente o caminho que já conhecia.

Tiveram que finalizar o que quer que estivessem fazendo quando magicamente entenderam juntos que aquilo não era para carregá-los para cama, nem mesmo para incitar qualquer desejo. Suas línguas mal haviam se tocado e aquilo era completamente longe do terreno que eles pisavam com frequência quando faziam sexo. Afastaram-se minimamente novamente. A respiração entre o pequeno espaço entre seus rostos era tão confortante que ela entendeu o porquê sentia que Draco não parecia querer se afastar. Era quase absurdo conseguir encarar a realidade de que Draco estava permitindo que aquilo acontecesse no meio de um salão lotado de pessoas.

– Estou exausto. – ele sussurrou. O tom de sua voz denunciava o quanto ele realmente estava.

Hermione se surpreendeu por escutá-lo verbalizar aquilo. Era como se Draco não se lembrasse que estavam em público ou como se não se importasse. Ela jamais esperaria que ele fosse deixá-la souber de algo como aquilo pela boca dele, nem mesmo quando estivessem sozinhos. Afastou-se mais e abriu os olhos para vê-lo fazer o mesmo. Surpreendeu-se ainda mais quando ele deixou que ela visse que pedia por descanso. Seus dedos passaram pelo rosto dele. Parecia tão humano e despido de qualquer máscara que ela se sentiu imensamente atraída.

– Tem que vencer uma guerra. Não vai ser fácil. Sabe bem o preço que deve pagar. – ela se viu dizer e sentiu que estava repetindo alguma cena em sua vida. Sentiu como se estivesse lidando com Harry nos dias que ele externava sua fraqueza mais do que o normal. – O que te move é poder e influência. – Não justiça, como Harry. Talvez a busca por justiça fosse o que atrasava Harry, afinal. – Sabe que o terá quando tudo isso acabar.

Draco assentiu e como que num clique ele estava neutro e frio novamente, mostrando a ela que ele, definitivamente, não era Harry. Ele não precisava dela. Podia recompor-se quando bem quisesse, sem precisar das palavras, do conforto ou da companhia de ninguém.

– Preciso ir fazer o meu trabalho. – foi tudo que ele disse antes de deixá-la.

Hermione suspirou e quando acordou para o mundo que a cercava, o primeiro par de olhos que encontrou a encarando foram os de Pansy Parkinson. Ela atravessou a distância entre elas desviando de quem entrasse no caminho, mas sem desgrudar seus olhos dos de Hermione.

– Está envenenando a mente dele. – Pansy disse assim que chegou a ela.

Hermione suspirou sem paciência para lidar com Pansy naquele momento.

– Eu acredito estar acontecendo ao contrário. – disse e deu as costas para seguir seu caminho, mas os dedos de Pansy se fecharam em seu pulso com uma força vingativa.

– Ele vai te odiar ainda mais quando descobrir o que você está usando nele.

– Eu não estou usando nada! – Hermione voltou-se para ela, sentindo-se quase que ofendida. – Eu não quero e nem preciso que ele me ame! Diferente de você!

– É isso que diz a ele? Esse é o seu jogo com ele? Eu deveria ter usado esse discurso antes. Mas claro que você é a sabe-tudo esperta o suficiente para saber exatamente o que fazer para que ele caia no seu encanto falso. – ela riu com desgosto. – Vou esperar ansiosa pelo momento em que ele acordar, porque acredite, eu conheço muito bem Draco Malfoy e ele vai acordar.

– Escute com cuidado, Parkinson. Eu não estou competindo Draco com ninguém. Eu já disse que não preciso que ele me queira ou me ame. O que quer que você tenha que resolver com ele, não me coloque no meio. – tentou desvencilhar-se da mão dela, mas Pansy não a soltou.

– Ah! A sempre boa Hermione. – ela forçou um sorriso amarelo. – Você não me engana. Nenhuma mulher me engana. Quer Draco tanto quanto qualquer outra. Eu poderia até duvidar disso no começo, mas agora, agora está estampado nessa sua cara de santa.

A paciência de Hermione esgotou naquele exato momento.

– Está na hora de você aprender que deve melhorar o tom de voz que usa comigo. Eu sou quem você sempre quis ser. Tenho o poder e a influência do sobrenome que você sempre quis. Portanto, se eu fosse você, tomava mais cuidado com a forma como se dirige a mim. Eu poderia tê-la tirado da organização da Cerimônia de Inverno no momento que eu quisesse e posso muito bem acabar com a sua imagem exatamente quando eu quiser.

– Não seria nem louca de fazer isso. Sou uma Parkinson...

– E Theodoro era um Nott quando resolveu mexer onde não devia. Não tive um segundo de hesitação ao fazer o que fiz com ele. O que te faz pensar que eu teria com um Parkinson? – a alertou. – Fique avisada. O momento em que eu decidir te esmagar, eu não vou hesitar. Portanto comporte-se e segure mais sua língua afiada quando se dirigir a mim. Sou uma Malfoy e evite me fazer lembrar que a detesto.

– Não ouse mexer comigo, Sangue-Ruim. Draco te faria pagar por isso.

– Tem certeza? – jogou Hermione e ficou surpresa por ver a dúvida passar no olhar dela. Hermione certamente não iria mesmo ousar mexer com Pansy Parkinson. Sabia que o relacionamento que ela tinha com Draco passava do sexo. Mas a dúvida no olhar da mulher lhe passava alguma informação valiosa. – Não me faça contar os segundos para que você me solte. – aproveitou a deixa da incerteza que havia no olhar de Pansy para se ver livre da mulher. A desafiou com o olhar e não demorou em que ela relutantemente a soltasse.

Hermione suspirou cansada e irritada ao mesmo tempo, deu as costas e seguiu de volta para o átrio do salão. Pegou uma taça de qualquer bebida assim que teve a oportunidade e a virou de uma vez. Era incompreensível a forma como ela passara a detestar Pansy quando antes sabia que ela pouco importava. Precisou tornar a forçar sorrisos educados e quando foi parada por Isaac quase teve vontade de insultá-lo injustamente.

– Hei, Draco disse que precisava te encontrar. – ele disse.

– Ele me encontrou. – informou ela.

– Soube do que aconteceu. Draco me contou.

– Contou? – Hermione se viu surpresa por isso. – Poderia tentar guardar isso somente para você por enquanto?

Isaac sorriu calorosamente.

– Não precisa se preocupar comigo. Eu não iria querer ser o culpado por espalhar algo tão confidencial no momento. Não é todo mundo que recebe um voto de confiança desse nível de Draco Malfoy. - Hermione assentiu. Se Draco estava confiando em Isaac para aquela informação ele tinha algum plano com isso. Provavelmente estava o testando para algo. – Bem, queria apenas ter certeza de que Draco havia conseguido encontrá-la. Também seria muito deselegante da minha parte não elogiá-la essa noite. Está fabulosa.

– Obrigada. – Hermione sorriu educadamente e seguiu seu caminho, assim como ele, sentindo-se minimamente mal por quase ter sido grossa.

Não demorou muito para ser convidada por um senhor que conhecera no jantar dos Bennett a se juntar a um grupo de homens que discutia a situação da Inglaterra bruxa durante a primeira Guerra Mundial. Hermione precisou ser cuidadosa para não expor muito sua opinião, nem deixar que o assunto se encaminhasse para a guerra atual. Sabia que muito daqueles homens se matariam por uma minúscula fatia de informação.

Ignorava os olhares que recebia por estar em um círculo de conversa masculino. Tentou até se retirar duas ou três vezes, mas aqueles homens estavam interessados em ouvir suas opiniões. Hermione sabia que era perigoso, mas preferia enfrentar o desafio de tentar sempre soar neutra e sensata quando todos queriam saber sua verdadeira opinião do que ter que discutir sobre os novos deliciosos chás importados para a cidade.

Astoria foi quem apareceu e a livrou do amontoado de homens que parecia crescer cada vez mais. Hermione esperou que ela fosse ser sincera como sempre era, dizendo que não era muito apropriado que ela estivesse chamando tanto atenção daquela forma. Naquele ponto, todos já deveriam saber que seu marido estava ausente do salão. Mas ao invés disso, ela indagou:

– Está tudo bem, Hermione? – com um tom um tanto preocupado.

Hermione uniu as sobrancelhas, confusa, e logo tratou de passar os olhos pelo salão para ter certeza de que tudo estava em ordem.

– Sim. Acredito que sim. – apressou-se a dizer. – As bebidas estão sendo servidas uniformemente, a orquestra está seguindo a lista que montamos, a pista de dança está começando a encher antes mesmo do horário que havíamos previsto...

– Não. Não o evento. – Astoria a cortou e Hermione se viu ainda mais confusa. – Draco.

– Oh. Ele teve que subir até o escritório para resolver alguns problemas relacionados à guerra. Trabalhar aqui de dentro triplica o serviço, mas o mestre não iria gostar que ele perdesse a Cerimônia de Inverno. – ela explicou.

Astoria soltou o ar e moveu-se um tanto inquieta. Olhou para os lados.

– Isaac está me parecendo um pouco afoito. Eu sei quando ele está escondendo algo de mim. – ela soltou.

Hermione se viu intrigada.

– Afoito? O que quer dizer exatamente?

– Ele está tentando encontrar uma forma de ajudar. Está confuso se deve ir até Draco se oferecer ou se deve apenas se fechar na dele.

– Por que tentar ajudar o incomodaria ao ponto do “afoito”? – ela ainda tentava entender.

Astoria suspirou, como se estivesse na duvida se deveria ou não dizer o que estava pensando naquele momento.

– Você não entende o quanto isso é importante para nós. – ela começou. Hermione continuou confusa. – Não voltar para a América. – ela explicou. – Estar lá faz você se sentir como se estivesse em exílio. Precisamos criar raízes aqui. Draco transferiu Isaac e ele quer mostrar que pode ser o melhor de si. Quer se mostrar útil, de confiança, porque nós não queremos voltar.

Hermione quase sorriu. Iria dizer que ela estava sendo boba em pensar daquela forma. Isaac havia sido transferido e, feito isso, ele só seria mandado para outro forte se fosse extremamente necessário ou se fizesse uma grande besteira. Ele não precisava ficar tão preocupado em se mostrar tão altamente útil. E foi com aquele pensamento que Hermione recuou. Um filme repassou pela sua cabeça desde o primeiro momento em que foi apresentada a aquele casal. Sempre muito gentil, sempre muito prestativo, sempre se mostrando de confiança, sempre buscando se aproximar deles. Sempre buscando se aproximar deles. Se aproximar de Draco e Hermione. Isaac havia a parado minutos atrás para ter certeza de que Draco havia a informado sobre terem perdido York para poder ir até Astoria e lhe dar sinal verde para procurá-la e dizer todas aquelas besteiras. Dessa forma Hermione se compadeceria do estado de ambos, consolaria a mulher e diria que Isaac poderia procurar Draco se quisesse e achasse que poderia ser útil naquele momento. Inspirou e sorriu, sabendo que deveria continuar o jogo deles.

– Astoria. – começou, sabendo que deveria fazer seu melhor personagem. – Não é necessário que se preocupem tanto. Sei que ter estado na América foi um tanto traumático, principalmente para você, mas entenda que voltar para lá é uma chance bem distante. – tocou o braço da mulher mostrando-se compreensiva e extremamente amável - Isaac pode procurar Draco se ele tiver certeza de que será útil. Sei que nesse momento Draco provavelmente estará precisando de muita gente para receber as milhões de ordens que deve estar bradando.

Astoria sorriu suavizando suas expressões preocupadas.

– Você tem sido uma boa amiga, Hermione. – ela disse. Hermione sorriu em resposta e Astoria seguiu seu caminho, muito provavelmente em busca do marido.

Hermione desfez seu sorriso quase que no mesmo instante. Procurou por Narcisa no meio daquela multidão e foi encontrada grudada no braço de Lucio Malfoy que parecia bastante entretido com seus companheiros do Ministério da Magia. Aproximou-se, chamou sua atenção e afastou-se com ela ao seu lado.

– Me fale sobre Isaac Bennett. – Hermione foi direto ao ponto.

Narcisa se mostrou confusa e surpresa.

– Isaac Bennett? Filho de Elizabeth Bennett? – ela precisou de alguns rápidos segundos para conseguir encontrar uma informação que o resumisse o suficiente. – Ele é um garoto bem esperto. Pelo menos costumava ser quando era adolescen...

– Quão esperto ele é? – Hermione se apressou.

Narcisa fez uma grande expressão de interrogação.

– Por quê?

– Quão esperto ele é? – ela repetiu mais pausadamente para se fazer bem clara.

– Muito. – a sogra respondeu. – Ao menos costumava ser. Os Bennett foram a única família a ser admitida dentro do círculo importante do mestre mesmo não tendo jurado lealdade desde início. Sobreviveram inúmeras quedas financeiras na história. São bastante espertos. O pai de Isaac o ensina sobre negócios desde criança. Por que está interessada em...

– Hermione. – Draco surgiu repentinamente carregando inúmeras pastas. A mão dele em suas costas a obrigou a segui-lo. – Vou precisar de você com os depoimentos. – ela olhou para trás para verificar uma ultima vez a grande interrogação estampado no rosto de Narcisa. - Fique tranquila, voltaremos para o momento da cerimônia. Você é a única pessoa em que eu confio para não deixar passar absolutamente uma vírgula fora do lugar. – ele a conduziu rapidamente para fora do salão. Rápido o suficiente para impedir que qualquer alma tivesse tempo para pará-los, mas não o suficiente para que ela não notasse Theodoro Nott passar por eles acompanhada de uma bela mulher alta e de longos cabelos loiros.

Hermione recebeu o olhar que ele lançou-lhe quase que em câmera lenta. Dizia em silêncio e discretamente que o quer que ela tenha querido que ele tivesse feito, estava feito. Automaticamente começou a pensar em como agradeceria por aquilo, mas logo tratou de balançar a cabeça afastando aquele pensamento e se focou em Draco.

– Os Bennett. – ela se apressou, aproveitando que estavam se movendo rápido e que ninguém muito importante estava por perto. – Isaac e Astoria Bennett. Eles estão jogando conosco. Comigo e com você.

– Hum. – Draco disse sem muito interesse, passando o que parecia milhões de folhas nas mãos enquanto avançavam. – Estava me perguntando quanto tempo demoraria a perceber isso.

Aquilo a surpreendeu.

– Você já sabe?

– Claro que eu já sei, Hermione. Eles estão fazendo um excelente trabalho juntos, o que me faz admirá-los. Resta apenas saber se as intenções deles são ao nosso favor. Iremos jogar o jogo deles até sabermos se devemos esmagá-los ou não. Aqui. – estendeu para ela uma ordem de pergaminhos.

– General! – um homem chamou por Draco do outro lado da ala que passavam.

Hermione pegou os pergaminhos e as pastas que ele estendeu a ela.

– Te encontro em minha sala. – foi tudo o que ele disse antes de dar as costas e seguir o homem, sumindo pela primeira esquina que viraram.

Hermione suspirou. Encarou os papéis e pastas em suas mãos. Balançou a cabeça e tomou a direção da torre de Draco. Tinha que admitir que gostava daquela dinâmica e sabia que a cada dia que se passava sua alma se embriagava mais e mais pelo gosto de saber que estava de um lado em que a guerra era combatida a um nível muito mais alto, muito mais avançado e ela adorava o desafio, adorava a qualidade. Sentia como se finalmente estivesse do lado em que deveria ter estado desde o começo, não o de Voldemort, mas o vencedor. O lado que ela podia realmente acreditar que venceria.

Sentia-se viva.


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Notas finais do capítulo

Gente, sei que a maioria de vocês adora o fato e eu postar regularmente em dias fixos e com frequência. Isso foi possível apenas porque a fic já estava bem adiantada quando comecei a postá-la aqui e os capítulos já estavam prontos.
Já estamos no capítulo 27 aqui e os capítulos prontos acabam no 31. Ou seja, domingo dia 28/06 vai ser o último dia dessa rotina de 3 postagens por semana. Daí vou começar a usar a mesma rotina que uso para o outro site aqui. Todo o dia 04, sem falta, temos capítulo novo. Uma vez ou outra aparece um capítulo no meio do mês, mas entendam, meus capítulos são grandes, por isso eles tomam tempo para serem escritos. Mas mesmo assim, sem falta, todo dia 04 tem capítulo novo em Cidade das Pedras tanto aqui no Nyah quanto no F&B agora. Venho seguindo essa rotina no F&B já faz um ano e os leitores de lá podem garantir que eu não perco a data e que sempre aviso caso ocorra algum imprevisto nas datas da postagem.
Curtam a página no facebook para não perderem qualquer aviso e se tiverem alguma pergunta pode deixar nos comentários que vou respondê-los amanhã!
Até domingo com o capítulo 28! :)