CIDADE DAS PEDRAS - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 27
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Nem acredito que tive duas recomendações em um capítulo! Muito obrigada Karinhp e valentina toledo! Estou aqui correndo de novo com o capítulo! O dia está quase acabando pra vcs aí e eu to aqui correndo pra não perder a quarta-feira! Então sem enrolação! Aqui vai o capítulo!



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Capítulo 26

Theodoro Nott

Desceu as escadas que davam direto para o hall principal e assim que saiu para o pátio sul, onde sua carruagem o esperava, a raiva ficou entalada em sua garganta quando foi seguido pela imprensa. Estava cansado. Havia publicado sua sutil justificativa e mesmo assim, eles ainda o seguiam gritando seu nome e perguntas diretas demais para serem respondidas.

Fazia quase um mês que Hermione armara uma bendita conferência pública por suas costas e soltara informações de seu departamento que o acusavam como sendo um corrupto, o que na verdade ele era. Sim, ele havia acabado com o trabalho que ela fizera com as Casas de Justiça no momento em que ela se ausentou da Catedral, mas a verdade era que Hermione não entendia que estava lidando com um mundo de comensais e não com a velha bancada de conselheiros da Corte Superior do Ministério da Magia, composta de homens que haviam vivido a utopia de um ideal nobre e honrado.

Fugiu como pôde, se fechando em sua cabine segundos depois. Parou alguns minutos para fechar os olhos e se livrar do ódio que tinha quando a imprensa lhe perseguia em momento que tinha que justificar algum erro que havia cometido. Maldita cidade! Aquele lugar era cheio de hipócritas! Pessoas que o acusavam de corrupto, como se fossem os seres mais santos a andarem sobre a face da terra. Soltou o ar e bateu duas fezes na madeira a suas costas, não demorou e entrou em movimento.

Desde que Hermione tivera a coragem de expô-lo, Lord Voldemort havia deixado claro que seu fracasso na arte de ser sutil lhe custaria a proximidade com o mestre que com tanto esforço tinha conseguido e todas as regalias que isso lhe proporcionava até que ele se provasse mais útil.

E era por ser apegado ainda à chance de se tornar a mão direita do mestre que ele não desistia. Assim que sua carruagem chegou aos portões da mansão de Draco Malfoy, na Vila dos Comensais, Nott teve que descer e usar a varinha para persuadir a segurança deixá-lo passar. Ele não era bem vindo. Nunca era bem vindo.

Quando bateu a campainha da porta principal foi recebido pelo elfo doméstico da casa que o mandou embora, informando que Hermione havia dito que a próxima vez que usasse algum feitiço nos seguranças para invadir sua propriedade seria reportado à Catedral com risco de que seu nome fosse parar na imprensa mais uma vez. Theodoro apenas chutou a elfa, abrindo passagem. Sabia onde Hermione estaria e conhecia a casa de Draco.

Abriu a porta que passava para a cozinha e encontrou Hermione envolvida em um roupão pesado de banho, os cabelos presos no topo da cabeça, os pés descalços, um dedo enfiado na boca e um pote de geléia na mão. Céus, ele queria odiar aquela mulher, mas toda vez que a via, não conseguia pensar em outra coisa além do quão exótica, linda, sexy e inteligente ela podia ser. Ela tirou o dedo da boca e colocou o pote de geléia sobre a extensa mesa no centro de todo o ambiente, enquanto o encarava com um desgosto aparente.

– O que fez com minha elfa? – Hermione perguntou, usando um tom seco e nada convidativo.

– Deveria contratar uma equipe de funcionários para essa casa como todo mundo faz. Ajudaria na segurança. – Theodoro disse.

– Quero você fora da minha casa agora. – decretou ela.

– Não vou embora. – teimou ele.

– Nott, você sabe que poderiam te mandar para Azkaban pelo que faz todas as vezes que invade minha casa, não sabe? Eu tenho poder para levar isso para o Ministério e, longe das suas Casas de Justiça corruptas, alguma bendita alma honesta por lá te jogaria aos Dementadores!

– Sabe que eu não iria precisar fazer isso se simplesmente respondesse meus pedidos. Tudo que eu quero fazer é conversar, Hermione!

Ela passou por ele.

– Nós já conversamos. – deixou a cozinha e ele a seguiu. – Agora eu quero você fora da minha casa. – disse enquanto atravessava todo o andar térreo de volta ao hall principal. – Draco voltou hoje para Brampton Fort e está a caminho de casa exatamente agora. – Hermione abriu a pesada porta da frente e cruzou os braços. – Se ele chegar e te encontrar aqui, você sabe que ele não vai cansar até arruinar sua vida.

Theodoro riu.

– Acha que pode me ameaçar com o nome de Draco? Acha que Draco me dá medo? – ela não entendia nada sobre aquele mundo. – Draco é um amigo, Hermione!

Ela uniu as sobrancelhas, parecendo não acreditar no que escutava.

– Amigo? – soltou incrédula. – Qual é o seu conceito de amizade? Por Merlin! Você e Draco não são amigos!

Ele revirou os olhos. Hermione e seus discursos moralistas. Era uma qualidade, sem dúvida, admirável nela, a tornava linda por dentro também, mas ao mesmo tempo a tornava ingênua demais para aquele mundo.

– Me deixe dizer algo, sobre Draco e eu, que você não entende, Hermione! – Nott se aproximou e começou cansado. – Faço parte de uma das oito famílias mais poderosas da Grã-Bretanha. Quando entrei em Hogwarts, esperava que as pessoas se ajoelhassem para que eu passasse. Isso até perceber que um Malfoy dividia o ano comigo. Um Malfoy! Ninguém compete com um Malfoy! Eu detestava ter que dividir minha soberania com Draco Malfoy, assim como Draco Malfoy detestava que eu sempre estivesse o lembrando que havia competição entre nossos nomes. Mas, - ergueu o indicador. – não podíamos destruir um ao outro. Não podíamos passar a perna um no outro, não podíamos nem ousar humilhar um ao outro, porque as nossas famílias tinham negócios. Nesse momento, você deve estar pensando que idiotice lembrar os laços entre nossas famílias! Éramos apenas adolescentes! E é exatamente nesse ponto que me parece que você ainda não conseguiu entender sobre ser uma Malfoy! – ele se aproximou mais. – Quando se nasce com um sobrenome poderoso, as responsabilidades de carregá-lo são nos ensinadas desde quando começamos a dominar a língua que falamos. Adolescentes como éramos, já sabíamos que iramos crescer, que iríamos assumir as cabeças de nossas famílias por sermos primogênitos. Sabíamos que teríamos que lidar com os negócios. Não podíamos criar rivalidade. Criar guerra entre as famílias poderosas nos faz fracos. Uma das primeiras lições que nos são ensinadas: Não se mexe na posição natural da nossa hierarquia. Tivemos exemplos o suficiente na história para nos provar o quanto ficamos vulneráveis quando há guerra entre nós! Agora que sabe de tudo isso, me deixe esclarecer como eu e Draco funcionamos em uma linguagem bem simples: às vezes nós estamos de bem um com o outro, às vezes estamos de mau, mas nunca, absolutamente nunca, damos as costas um ao outro.

– E o que foi que estava tentando fazer usando a secretária de Draco, Nott? Não chama isso de dar as costas?

Ele revirou os olhos.

– Sim! Sim! Eu estava tentando passar a perna na sua família. Fui um idiota por isso e sei muito bem! Mas você tem que entender que nós não estamos mais no mundo de negócios de antes! Nossas famílias apenas mantêm laços porque somos prevenidos e sempre precisamos ter outra rocha para pular caso a de agora venha a desmoronar, mas sabemos que nada pode derrubar o mestre. Qualquer um que tentar seria um idiota! O que estava fazendo pelos Mori era um número de benefícios grande que seriam recompensados a mim no presente de agora. Nesse mundo que vivemos agora. Eu fui contra a história, contra a segurança e o equilíbrio da hierarquia tentando o que tentei. Estava pensando unicamente em mim, mas de maneira errada. Draco me encurralou, mas não me expôs. Ele foi esperto porque se não fosse, não seria um Malfoy. Como acha que eles chegaram ao topo?

– Acredita mesmo que vou comprar essa história de que se arrepende do que fez?

– Eu não preciso que acredite em nada, Hermione. Preciso apenas que saiba. E você trabalhou comigo tempo o suficiente para saber que não sou assim tão orgulhoso como quer me colocar agora. Eu sei admitir quando estou errado, sabe disso. Quando se cresce com Malfoys ao seu redor, se aprende que só eles têm o direito de serem orgulhosos.

Ela soltou o ar pela boca e fechou os olhos, como se estivesse sem paciência.

– Saia da minha casa, Nott. – foi tudo o que disse.

E Hermione continuava a resisti-lo. Theodoro passou por ela, empurrou a porta fazendo-a se fechar e voltou-se para ela novamente. Aproximou-se, mas ela recuou.

– Volte para o meu departamento, por favor. – Nott pediu e suavizou seu tom.

Ela riu e balançou a cabeça negativamente. Cobriu o rosto com as mãos e soltou o ar.

– Não dá para acreditar que ainda insiste nisso. – ela encarou-o, incrédula. – Descobri que destruiu todo o meu trabalho e quer que eu volte para o seu departamento? Acha que eu sou estúpida?! Eu já disse que não vou voltar! Quantas vezes vai ter que invadir minha casa para me escutar te dar a mesma resposta?

– Vou invadir sua casa até parar de ignorar minhas chamadas e vou insistir para voltar até que diga “sim”. – Theodoro foi bem claro.

– Não vai acontecer! – Hermione subiu uma oitava e, dessa vez, foi ela quem se aproximou mostrando sua impaciência. – Eu sei que Voldemort está por trás disso! Ele quer me deixar longe da guerra! Está usando você e o seu departamento para isso! Eu já disse que não sou idiota e depois de descobrir que estragou meu trabalho, você já deveria saber disso muito bem! – Ela ofegou. Ele soltou o ar frustrado não sabendo mais o que dizer para ela. Sim, já acreditava que Hermione soubesse sobre as intenções do mestre em mantê-la presa ao seu departamento e longe da guerra, mas Nott havia falhado nessa tarefa. – Sei que se eu voltasse para o seu departamento, seu nome ficaria limpo da noite para o dia, mas eu sei que não é isso que o move porque pode limpar seu nome a hora que quiser com o poder que tem. Por que insiste tanto nisso? O que está tentando provar ao seu mestre?

– Eu queria estar fazendo isso apenas para prová-lo que posso te colocar no curso inicial novamente. Você não tem nem ideia do quanto eu queria estar me rebaixando a esse estado apenas para isso, Hermione. – ele disse sentindo que não deveria entrar naquele campo. Ele não queria fazer nada estúpido novamente. – Não tem ideia do quanto eu gostaria que fosse apenas por esse único motivo, mas acredito que se eu quisesse realmente provar algo ao mestre, eu já teria desistido faz um bom tempo.

Ela o encarou por um momento, completamente confusa, mas ao mesmo tempo não deixou sua postura se desfazer por nenhum segundo.

– Eu não acredito que você tenha qualquer outro motivo, Nott. – Hermione retornou para aquele olhar completamente seguro ao dizer aquilo.

Nott riu fracamente, enquanto encarava aquele belo rosto confiante a sua frente que parecia muito mais lindo sem a maquiagem que ela era obrigada a usar. Não esperava que Hermione entendesse. Ela já havia se apegado a imagem dele relacionada com a de Voldemort.

– Sinto sua falta, Hermione. – se sentiu disposto a dizer aquilo e ao ver-se dizendo aquilo, decretou que seria a primeira e única vez que daria a ela o sabor de saber o que se passava por dentro de sua mente. Por mais que Voldemort estivesse por trás do interesse de tê-la de volta em seu departamento e ele muitas vezes quisesse matá-la quando a via vestida com aquela resistência impenetrável, Theodoro sabia que havia uma motivação maior. – Sinto falta de vê-la pela manhã carregando seu copo de café, pronta para enfrentar o dia mesmo que o mundo pareça estar desmoronando para você. Sinto falta de ver o quanto é determinada para solucionar qualquer problema que colocam em suas mãos. Sinto falta das nossas discussões diplomáticas, de te ter por perto, de ouvir suas sugestões. Sinto falta da sua companhia. Sinto falta de ver o quanto é forte, porque tinha dias que eu conseguia ver em seus olhos que parecia não haver mais sentido para nada e mesmo assim, estava lá encontrando uma forma de chegar ao fim do dia sem ser um fracasso, sem desistir, sem se entregar. Ninguém mais parecia ver isso. – ele concluiu num fôlego só.

Esperou por qualquer resposta dela, uma que provavelmente sairia confiante, apenas dizendo para que ele saísse de sua casa. Obviamente que não esperava que Hermione acreditasse em nenhuma palavra sua, mas ela ficou parada, o encarando com aqueles olhos lindos e aquilo lhe provocava sensações que faziam a palma de sua mão ficar úmida.

– Theodoro... – ela o chamou pelo nome e, por um segundo, algo se acendeu nele. Talvez tivesse conseguido tocar em algo que ninguém havia tocado nela ali, naquele lugar. Ele sabia que parecia mesmo ser o único que conseguia enxergar o que se passava com ela, mas era obrigado a ignorar. – Apenas... – ela desviou o olhar. Suspirou, passou uma mão pelo rosto rapidamente e deu as costas. – Apenas saia da minha casa. – ela finalizou indo em direção a porta.

Theodoro a segurou pelo pulso quase que imediatamente. Não havia calculado aquele movimento, mas agora era tarde demais.

– Não. – disse assim que a viu voltar-se para ele novamente. – Escute, eu sei que tudo isso soou patético. Você não precisa acreditar, certo?! Por isso mesmo prefiro que acredite que estou insistindo que volte para o meu departamento por causa do mestre, o que também não deixa de ser uma verdade. Mas entenda, Hermione. Você é uma Malfoy. É a mulher de Draco. Eu não quero problemas com isso. Tento dar as costas, tento me afastar, tento me convencer que ganhar um ponto com o mestre é tudo que realmente me move, mas então eu te vejo... – se aproximou e tocou o rosto dela. – Quando eu te vejo consigo perceber o quanto sou idiota por tentar mentir para mim mesmo.

– Não, Theodoro. Vá embora... – ela tentou se afastar, mas ele não a deixou ir.

– Não, Hermione! Me escute, porque essa vai ser a única vez que vou dizer isso! Eu entendo que me veja como mais um vilão dos outros milhões que a cercam aqui nessa cidade, mas você me afeta. – Nott se viu angustiado por saber que aquela era uma frase que ele usava com qualquer outra, quando encontrava uma mulher um pouco mais difícil de se levar para cama. Nunca a faria entender o que aquilo realmente significava para ele. – Você me afeta de uma forma diferente porque eu a admiro por tudo aquilo que já te disse. – ele se aproximou ainda mais. Hermione não recuou. – E... – ele não sabia mais o que dizer. Também não se via muito capaz de raciocinar com a forma como ela o encarava.

Os olhos dela pareciam ter o poder de transportá-lo para outra dimensão, ali, tão de perto. Os lábios dela semi-abertos eram absolutamente convidativos e Theodoro sentia a necessidade de tocá-los porque pareciam tão absurdamente macios. Ele se perguntava qual seria o sabor dela. Qual seria a sensação se a beijasse e foi exatamente naquele momento que ele, impulsivo como conseguia ser, venceu a distancia entre suas bocas.

A sensação pareceu subir por suas veias, espalhando-se por cada pedaço de seu corpo, fazendo-o quase querer fundir-se a ela. A maciez daqueles lábios, o cheiro delicioso do banho que ela havia acabado de tomar, o calor do corpo dela. Ele não ousou tentar se aprofundar, abrir caminho pela boca dela, provar de seu sabor. O que tinha já parecia demais para o que realmente merecia, só não conteve cercá-la pela cintura.

Hermione não se moveu, não recuou, não o empurrou, mas também não respondeu. Theodoro percebeu as consequências do que fazia apenas quando o estrondoso barulho da porta principal, batendo sem piedade, o fez afastar-se dela. Hermione mostrou-se assustada quase que no mesmo segundo, e então, ambos viram a figura de Draco Malfoy os encarando.

– Vocês estavam mesmo entretidos, para não terem sequer me escutado chegar. – foi tudo que ele comentou, extremamente sério e extremamente temível.

Hermione Malfoy

Hermione não conseguiu reagir. Sentiu-se como uma pedra quando nem se mover foi capaz. Draco não a encarava, ele parecia não reconhecer que ela estava ali, mas em compensação, Theodoro, ao seu lado, recebia toda a atenção. Não havia nada próximo a raiva ou fúria no olhar de Draco. Claramente não era nada próximo ao amigável. Ele apenas mantinha a frieza e neutralidade que lhe era sempre constante.

– Não me faça contar para te ver fora da minha casa. – Draco finalmente tornou a abrir a boca. Theodoro não se moveu. – Você sabe muito bem que não vai querer me desafiar, Theodoro. – disse ele ao vê-lo resistir.

Eles continuaram se encarando ainda por mais alguns segundos. Hermione não ousava nem mesmo olhar para Theodoro. Talvez ele estivesse desafiando Draco durante aquele silêncio.

– Draco... – ela foi calada apenas pelo olhar que ele lhe lançou. Não era ameaçador, nem expressava raiva, mas era frio e neutro, exatamente como o que ele usava para encarar Theodoro. Hermione percebeu que não se lembrava da última vez que recebera dele aquele olhar.

Theodoro desviou o olhar para ela e ela respondeu lançando o seu para longe do dele. Talvez aquilo tivesse o feito cair em si, porque não demorou e ele passou por Draco e saiu batendo a porta sem o menor cuidado.

Draco desceu seu olhar frio pelo corpo de Hermione. Ela então percebeu que não estava usando nada muito bem apropriado. Não entendeu o porquê sentiu as maças de seu rosto esquentar. Não queria deixar que ele pensasse que ela estivera fazendo qualquer outra coisa com Theodoro que não fosse tentar expulsá-lo de lá.

– Espero que não tenha usado nossa cama. – foi tudo que ele comentou, passou por ela e continuou seu caminho.

Hermione puxou o oxigênio de uma vez ao escutá-lo dizer aquilo. O seguiu.

– Draco, eu não...

– Ótimo. – ele a cortou e ela se viu, imediatamente, sem palavras pelos segundos seguintes.

– Draco! – queria fazê-lo parar e conseguiu.

Ele voltou-se para ela.

– Eu não quero saber, Hermione. – foi o que disse. – Você não quer saber sobre os meus casos. Eu não quero saber sobre os seus.

– Mas nós não...

– Chega, Hermione! Eu não quero saber! – dessa vez, Draco se mostrou aborrecido por ter que insistir na mesma tecla.

Ela não teve coragem para rebater, nem continuar insistindo em querer se justificar. Primeiro porque se sentia frustrada ao tentar encontrar uma justificativa que não soasse estúpida, segundo porque não precisava fazer com que ele soubesse que ela não tinha outro homem quando era bem consciente que seu marido tinha muitas outras mulheres.

Cobriu o rosto assim que Draco subiu pela escada principal e sumiu no andar superior. Soltou o ar frustrada por estar confusa. Por alguns segundos, Hermione havia acreditado que Theodoro realmente tivesse dito a verdade, talvez, por isso, tivesse o deixado beijá-la. Os olhos dele expressavam tanto sinceridade que ela havia se deixado acreditar. Se Nott estivesse mentindo era muito bom com farsas.

Tentou não se concentrar naquilo quando voltou para a cozinha para organizar a bagunça que havia feito. Estava acostumada a jantar no mesmo horário todos os dias e detestava quando era obrigada a participar daqueles eventos durante a noite, onde tinha que esperar pela comida e fazer social com dezenas de pessoas que sabia que a odiavam.

Quando subiu para o quarto, Draco estava tomando seu banho. Dedicou-se na tarefa de escolher uma boa roupa e quando finalmente conseguiu chegar a duas opções, sentou-se em sua penteadeira, puxou todo o cabelo para um lado e começou a trançá-lo do topo. Enquanto seus dedos trabalhavam, sua mente não conseguia parar. O olhar que Draco havia a lançado, o tom de sua voz, Hermione sentia que precisava consertar aquilo, mas se sentia ridícula quando se lembrava que ele também tinha suas outras mulheres. Não havia nada para ser consertado. Ele havia dito que não queria saber, ela tinha que deixar aquilo passar.

Draco apareceu não muito tempo depois. Hermione o observou pelo seu espelho, enquanto ele se ocupava na atividade de vestir-se. Muitas vezes quando apenas o observava, acabava concluindo que nunca em sua vida teria tido a chance de conquistar um homem poderoso, bonito e influente como ele. Às vezes usava esse único pensamento quando sentia que tudo em seu casamento era uma completa maldição. Se apegar a coisas superficiais nunca foi algo que a definisse, mas quando se tratava da beleza de Draco Malfoy, ela até chegava a considerar.

– Vou precisar de uma liberação sua, já que conseguimos sucesso na simulação de hoje. Suas zonas vão precisar de atualização no treino. – Hermione começou com cuidado e receosa, atando o final de sua trança. Draco respondeu apenas um murmúrio em confirmação. Hermione esfregou os dedos se sentindo nervosa. Respirou fundo e se concentrou novamente em deixar tudo aquilo passar. Eles não eram um casal, apenas faziam sexo por conveniência. – Seu departamento já fez alguma contagem do número de comensais desaparecidos?

Os olhos dele se cruzaram com o dela pelo espelho. Hermione ficou apenas esperando. Estava tentando conversar o que já havia planejado para conversar com ele, como se tudo estivesse normal.

– Estamos atrasados, Hermione. – foi tudo que ele respondeu desviando o olhar, enquanto passava os braços para dentro de sua blusa. Não falou mais.

Eles não estavam atrasados.

– Não estamos atrasados. – ela disse. – Seu departamento tem um número ou não tem?

– Trinta. – Draco respondeu de uma vez, mas seu tom de voz não mostrava o mínimo interesse. Talvez ele estivesse querendo apenas passar por aquela conversa o mais rápido possível.

– Acredito que a Ordem esteja os levando para a sede. - ela continuou. - Tentando livrá-los da Marca Negra, ou tentando inibir o efeito dela. Luna levou informações, conseguiu escapar.

– Não está dando muito certo. Todos os trinta nomes que não foram identificados como mortos em batalha ou em serviço, agora estão mortos. – Draco disse e parou para escolher a gravata que iria usar.

Hermione se viu frustrada ao vê-lo tratar aquilo como uma simples conversa sobre o tempo. Virou-se em sua cadeira para poder encará-lo diretamente.

– Estou te dizendo que a Ordem da Fênix pode estar tentando encontrar uma solução para o que aprisiona todo e qualquer comensal à Lorde Voldemort e é assim que você reage? Como se não fosse nada mais do que algo para se comentar e se esquecer?

Ele parou. Soltou o ar pela boca como se não estivesse com paciência e virou-se para ela.

– Será que você poderia me dar um descanso? – Draco começou e, pela primeira vez, ela notou um sinal de irritação que ele parecia estar tentando engolir antes. – Será que não percebeu que eu passei um mês inteiro no meio de toda essa guerra?! Será que não consegue nem mesmo, por um segundo, tentar imaginar que talvez eu esteja farto de tudo isso?!

Hermione ficou surpresa pela atitude dele.

– Não acredito que esteja. – disse receosa por qualquer reação que ele tivesse, mas pronta para enfrentá-lo. – Na verdade, não acredito que tenha permissão para estar. Está na linha de frente de tudo isso e estou apenas tentando te ajudar.

Draco revirou os olhos e deu as costas, passando a gravata pelo pescoço.

– Bem, tente ajudar em outro momento. – ele estava claramente sendo rude.

– Você não precisa ser ignorante. – ela se levantou.

– E não estou.

– Sim, está! – aquela situação estava a irritando. – E sabe por que acredito que está? Porque viu Theodoro me beijar, assim que entrou em casa.

– Cale a boca, Hermione. – dessa vez, Draco foi agressivo.

– Não! Você não tem o direito de ficar irritado, Draco! – ela estava completamente pronta para desafiá-lo e aquilo pareceu finalmente enfurecê-lo.

– Sim eu tenho! – ele voltou-se para ela novamente. – Quantas vezes nós já discutimos sobre Nott? Quantas vezes você mesma disse que ele era alguém para se tomar cuidado? Estava me fazendo de idiota ou era apenas uma estratégia para nunca me fazer cogitar um caso entre vocês? Além do mais, você sabe que Nott e eu não estamos sob bons termos ultimamente e me faz vê-lo exatamente dentro da minha própria casa! Você quer que eu aplauda o que vi, Hermione? Quer que eu a cumprimente? Se caso precisar de uma platéia para a próxima vez, posso conseguir para você!

Hermione se viu incrédula diante de tudo aquilo.

– Deus! Qual é o seu problema? – ela não conseguia reagir às palavras dele. Sentiu-se ofendida. – Nott e eu nunca tivemos nada além do profissional!

Draco forçou uma risada.

– Se você e Nott nunca tiveram nada além do profissional, depois do que eu vi, tento imaginar quantos outros tantos casos você não se ocupou em ter com os homens que vem trabalhando na comissão.

Hermione puxou ar, quase que imediatamente, não conseguindo acreditar no que seus ouvidos haviam acabado de escutar. A ofensa lhe bateu tão forte que no segundo seguinte, tudo que se viu fazer foi cruzar o pouco espaço entre eles e erguer a mão para esmagá-la contra o rosto dele. Draco a deteve pelo pulso e a empurrou para longe. Ela cambaleou e teve que se segurar numa das paredes. Seu maxilar estava travado e a fúria corria em todas as suas veias.

– Eu não deveria ficar surpresa por escutar isso de alguém que sempre pensou tão baixo de mim! – ela não queria gritar, mas segurar sua voz era um desafio naquele momento. – Eu não sou você! Eu não tenho todos os homens dessa cidade na minha cama! Eu não preciso disso! Mas você não tem nem ideia do que é viver em um lugar onde sabe que cada rosto que te olha te odeia! Sou uma Nascida Trouxa em uma cidade abarrotada de comensais! Sou obrigada a escutar hipocrisia jorrar da boca das pessoas que falam comigo todos os dias. Me tratam como se me respeitassem, como se me admirassem, mas a verdade é que eu vejo o preconceito escondido no olhar delas. – Sua garganta ardeu e Hermione engoliu o gosto amargo das próprias palavras. Piscou para não deixar seus olhos embaçarem. – Theodoro gosta de mim. – continuou – Pode ser uma mentira, uma jogada, uma armadilha, mas você não tem ideia do quanto é confortante e acolhedor escutar o que ele me disse hoje depois de eu ter vivido um ano no que mais parece uma caverna escura, fria e vazia. – ela finalmente se viu entender como Theodoro havia feito com que ela se sentisse. – Não sou sempre racional, Draco. Sou humana. Não uma máquina. Não uma pedra. Ele fez com que eu me sentisse bem por alguns poucos segundos e isso é tão raro quando se vive aqui. – suspirou - Você não entenderia.

Ela não queria continuar, não queria continuar a se ridicularizar. Ele já havia deixado claro que pensava bem mais baixo dela. Não era obrigada a provar nada para ele. Não precisava mostrar quem realmente era. Acreditava que suas ações já tivessem a capacidade de fazê-lo compreender quem ela era. Aparentemente, suas ações haviam o feito acreditar que era uma mulher que precisava da atenção masculina em massa.

O silêncio entre eles não durou muito porque Draco não parecia nada contente com o que havia escutado. Ele puxou a gravata do pescoço e a lançou contra o chão, soltando um palavrão. Informou que precisava de uma bebida, como se quisesse matar alguém e saiu batendo a porta tão forte que a fez recuar. Hermione sabia que aquele era, finalmente, o fim da compreensão e educação que ele havia desenvolvido com ela desde que perdera a filha.

Draco Malfoy

Ele também a fazia se sentir bem, pensou, lançando um rápido olhar para o gelo no copo de whisky em sua mão. Apoiou-se sobre o parapeito da varanda de seu quarto e encarou o imenso jardim dos fundos de sua casa. O inverno sempre o lembrava mais de quando seu treinador o prendia em lagos congelado, sem oxigênio e sem varinha, para que conhecesse seu instinto de sobrevivência do que frio, neve, natal, ano novo e todas as malditas festividades da estação.

Virou um gole de sua bebida e deixou o vento gelado ativar sua resistência. Encarou o copo em sua mão. Tinha gravado em sua memória todas as vezes que fizera Hermione gritar durante o sexo. Todas as vezes que a fizera perder o controle de si mesma. Todas as vezes que a tocava e a sentia estremecer. Ele sabia, sim, fazê-la se sentir bem.

Sexo. Soltou o ar com uma risada fraca e encarou o horizonte. Nada mais superficial do que sexo. Era idiota por julgar Hermione como alguém superficial. Era idiota também por tê-la acusado de ser como Pansy Parkinson. Já havia vivido com ela durante um ano para saber que não havia nela nada que o fizesse lembrar-se de Pansy. Hermione não era o tipo de mulher que se satisfazia por ter uma dúzia de homens a seguindo, ela era o tipo que apenas não se importava.

Draco não tinha o direito de se irritar pelos casos dela, nem de se incomodar por isso, mas quando se lembrava que não se encostava a nenhuma outra mulher que não fosse ela, por meses, a ideia de imaginá-la com outro o consumia. E não tocava em outra mulher por escolha. Hermione estava ali para ele, todos os dias, e ele se via cada vez mais ser tragado por ela, mesmo que não a tocasse, ela havia se tornado parte de sua rotina, parte de seu pensamento, parte de algumas de suas expectativas, parte do seu futuro e cada vez menos Draco se via tentado a arrastar para um canto vazio alguma mulher que cruzasse seu caminho.

No último mês, ele havia pensado tanto em voltar para casa que quando se via na necessidade de ter uma mulher, julgava a si mesmo por estar cometendo um crime. Ele se lembrava de que todas as vezes que tocara outras mulheres desde que tivera Hermione, a imagem dela o perseguia e o incomodava. O incomodava tanto que foi diminuindo o número de mulheres, diminuindo, diminuindo e diminuindo até que, sem nem mesmo perceber, Hermione pareceu se tornar a única mulher existente no mundo. Depois que ela engravidara tudo pareceu piorar ainda mais. Draco se via tão cheio de conexões a ela que às vezes parecia que haviam tido uma história longa, quando na verdade, tudo que tinham era um ano de convivência, uma filha perdida, um relacionamento cheio de falhas, buracos e estragos. Cansava-se todas as vezes que pensava naquilo. Tudo que queria, na verdade, era que se acostumasse com ela o suficiente para poder voltar a ser quem era antes, sem ser perseguido pela imagem dela. Sabia que tecnicamente se tornaria seu pai quando atingisse essa fase, mas às vezes parecia melhor do que se ver apegado para sempre a Hermione.

– Draco. – a voz dela soou logo atrás de si. Cheia de receio, mas doce e suave. Lembrava-se de quando odiava a voz dela. Era muito mais fácil quando a voz dela era apenas detestável. Às vezes tinha a sensação de que o macio que o tom dela carregava se derretia dentro dele. – Vamos nos atrasar.

Encarou o copo em sua mão. Ele não queria ir para aquele maldito evento. Era uma grande perda de tempo. Se todas aquelas pessoas soubessem o caos que era fora daqueles muros, ninguém estaria fazendo festas, nem promovendo jantares. Bateu a aliança em seu anelar contra o vidro. Maldita hora em que colocara aquele anel no dedo. Virou-se e a encontrou parada, apenas a um passo para fora do quarto. Hermione era absolutamente linda e estava fabulosa com o longo vestido que usava. Deixou o ar escapar por entre seus dentes, enquanto a checava da cabeça aos pés. Ela tinha que parar de ser linda. E junto com isso, tinha que parar de ser também inteligente, sexy, generosa, esperta, racional e todas as muitas outras malditas qualidades que a faziam ser única.

– Não está congelando aqui fora? – ela perguntou como se o julgasse louco por estar ali, enquanto cruzava os próprios braços contra o corpo. Draco havia sido o poço da arrogância com ela e, mesmo assim, ali ela estava o encarando com os olhos cheios de receio, como se já estivesse tentando se proteger do insulto que ele poderia tornar a jogar em cima dela a qualquer momento.

Sua aliança bateu contra o copo nervosamente, dessa vez.

– Te ofendi quando falei sobre ter casos com os bruxos da comissão? – ele perguntou, sem nem mesmo saber o que fazia. As palavras saíram de sua boca antes que tivesse o tempo para pensar nelas duas vezes.

Hermione pareceu ficar confusa por cima de sua postura receosa. Ela não sabia o que viria daquilo e até mesmo ele temia pelo que poderia fazer. Não admitia seus erros em voz alta. Nunca admitia seus erros em voz alta.

– Sim. – ela respondeu com a voz baixa, como se duvidasse se deveria mesmo responder ou não.

O ar quente que saiu de sua boca quando ela expirou subiu como vapor. Seus lábios tremeram com o frio e mesmo assim, Hermione ficou ali parada o encarando. Draco desviou o olhar, bateu novamente com a aliança em seu copo. Nunca admitia seus erros. Tomou o último gole de uma vez.

– Então eu não deveria ter dito. – disse e passou por ela voltando para o quarto.

Não queria ver a expressão dela. Hermione já deveria saber que aquilo era o mais perto de suas desculpas que um dia chegaria. Largou o copo sobre um móvel qualquer e voltou para terminar de vestir-se. Abotoou sua camisa, atou o cinto, vestiu o terno, alinhou os cabelos e desceu. Desceu e entrou na carruagem, seguido de Hermione.

O caminho era longo e o silêncio entre eles era terrível. Eles não ousavam cruzar o olhar e Draco desejou nunca ter visto o que viu quando chegou em casa. Ele queria muito voltar a ser o que eles haviam sido no último final de semana, onde tivera a chance de passar em Brampton Fort. Haviam ocupado as noites com sexo, conversas aleatória, soluções para a guerra, conflitos do mundo mágico e qualquer outro pensamento que atravessasse a mente deles. Todo aquele clima entre eles agora era péssimo.

– Estive pensando. – ele começou. Hermione piscou com calma e o encarou. – Os Bennett tem uma lista bastante restrita de convidados para hoje à noite. – disse. – Creio que seria um bom momento para conseguir fazer uma separação daqueles que são leais ao mestre. Precisamos saber quais as pessoas mais influentes da cidade seriam as primeiras a darem as costas ao mestre, caso o império dele ameaçasse desmoronar. Até hoje, minha família conseguiu distinguir poucos entre alguns porque é um processo cuidadoso. Muitos se escondem atrás do medo de dar a entender algum tipo de deslealdade ao mestre e acabar sendo entregue, principalmente com um Malfoy por perto.

Hermione assentiu em resposta.

– Há algum plano específico para hoje à noite, então? – ela perguntou.

Draco negou com a cabeça.

– Estive pensando em improvisar. – sorriu.

Ela processou a ideia e sorriu de volta.

– Gosto de improvisar.

Pararam de frente a nova casa dos Bennett.

– Seja apenas cuidadosa. – ele disse e ela assentiu.

Desceram e foram recebidos pelo vento frio. Draco pôde visualizar ao longe, um lago congelado logo ao lado da esplendida mansão que se estendia a sua frente. Certamente que um casal como Isaac e Astoria não se aventurariam em morar em nada menor do que aquilo.

Assim que passaram para o lado de dentro, se depararam com o ambiente vitoriano carregado. Receberam ajuda para tirar o casaco e logo Isaac apareceu, sendo seguido por Astoria.

– Não dá para acreditar que conseguiu voltar para Brampton Fort a tempo do nosso jantar! – Isaac anunciou com um sorriso estampado nos lábios. – Confesso que estava ansioso para finalmente conhecer sua adorável esposa. – ele tomou uma mão de Hermione e a beijou com bastante educação.

– Por favor, Bennett. Você já me conhece. – Hermione respondeu, usando um tom adorável.

– Dos corredores de Hogwarts, sim. – disse Isaac. – E, por favor, me chame Isaac. Essa é Astoria, dos corredores de Hogwarts também.

– Claro. – disse Hermione e fez um leve comprimento com a cabeça, mas a Astoria ignorou, aproximando-se dela para lhe dar um abraço.

– Quem iria acreditar que logo você ganharia o coração desse aqui, não é? – Astoria disse se referindo a Draco.

Hermione pareceu engasgar de leve com a própria saliva, pigarreou e sorriu em resposta.

– Quem iria acreditar, não é? – foi tudo que ela disse e antes que pudesse perceber, Draco se viu rir pela reação dela, mas passou a mão pela boca tentando disfarçar seu mau comportamento. Os olhos dourados de Hermione apenas lhe lançaram um rápido olhar, enquanto puxava o ar.

Hermione elogiou a casa, enquanto avançavam. Astoria parecia ter escolhido o lugar porque ela quem contou toda a tediosa história. O restante dos convidados estava todo em uma bela e ampla sala. Faltava apenas mais um grupo de convidados que logo Astoria e Isaac precisaram se retirar para recebê-los.

Draco estava entretido em descrever o cenário da guerra do lado de fora da muralha para um grupo de homens que Isaac havia escolhido a dedo como auxiliares próximos do trabalho que fazia para o policiamento interno de Brampton Fort, quando foram direcionados para a sala de jantar.

Hermione se aproximou, assim que eles começaram a se mover.

– Sabia que as roupas que uso são vendidas no dia seguinte, pelo triplo do preço? – ela usou um tom baixo para que somente Draco pudesse escutar. – O vestido que usei no baile anual do Diário do Imperador semana passada esgotou no dia seguinte.

– É sobre isso que é obrigada a conversar? – ele riu. Hermione estivera se ocupando com um grupo de mulheres que já conhecia dos eventos anteriores que era obrigada a atender.

– Você não faz nem ideia. – ela fez uma careta. – E claro que estou agindo como se já soubesse de toda essa baboseira. – soltou o ar. - Como as pessoas podem ser estúpidas ao ponto de comprar uma simples roupa que não vale o preço.

– É claro que vale. – Draco disse, como se não fosse óbvio.

– Não! – ela discordou. – É apenas um vestido.

– Não é apenas um vestido, Hermione. É um vestido que você usou. Já está passando da hora de se acostumar com isso de vez. – ele disse e ela revirou os olhos.

Tiveram que se distanciar quando chegaram à mesa. Draco sabia que era o único ali que poderia se sentar próximo a Isaac e, Hermione por ser sua mulher, sentou-se do outro lado, ao lado de Astoria. O restante da mesa se organizou por hierarquia. Os pratos começaram a serem servidos e as conversas foram tomando corpo.

– McGonagall me fez ler um de seus papéis durante uma detenção que recebi quando estava no sexto ano. – Isaac se direcionou a Hermione, após um gole em sua bebida. – Foi a primeira vez que me deparei com o seu nome.

Hermione havia acabado de responder um comentário insignificante feito por Astoria.

– Eu estava no meu terceiro ano, não estava? – ela precisou de alguns segundos para voltar no tempo.

– Quarto. – corrigiu Draco.

– Foi o que escrevi sobre transfiguração de seres vivos? – ela perguntou a Isaac.

– Não. – ele respondeu. – Na verdade, era um que havia escrito no seu terceiro ano sobre os princípios da transfiguração visto por quarenta autores diferentes. – ele riu como se antecipasse uma piada. – Me lembro de ter lido as cento e cinquenta páginas que escreveu em três dias de detenção e tudo que eu conseguia pensar toda vez que via seu nome no topo daquela pilha de pergaminhos era: Deus do céu, essa garota só pode ser doente.

Hermione projetou o maravilhoso som de sua risada.

– Escreveu cento e cinquenta páginas sobre transfiguração em seu terceiro ano? – um dos homens a algumas cadeiras a direita de Draco comentou. – Você deve ser uma Corvinal.

– Na verdade, sou uma Grifinória. – ela respondeu.

– Ah, meu irmão acabou indo para a Grifinória também. – uma mulher comentou.

– E ele foi a vergonha da sua família por anos. – comentou outra.

– Não diga isso! – um senhor de meia idade interveio. – Fui da Grifinória também. É uma casa maravilhosa e cheia de corajosos.

– Eu acredito que as personalidades das casas de Hogwarts são uma grande besteira. – a mesma mulher tornou a se pronunciar. – Draco Malfoy é um perfeito Sonserino e nós todos aqui sabemos que é o mais corajoso dessa mesa por enfrentar essa guerra com tanta vontade.

– Sou bem pago por isso, Sra. Norington. – Draco se pronunciou.

A mesa riu.

– Eu acredito que Draco ainda possa ser covarde para muitas outras coisas. – Astoria se pronunciou de modo descontraído. – Isaac me contou que quando ele viu nossa menininha na audiência aberta, ele agiu como se estivesse vendo um tipo de fantasma.

A mesa riu novamente. Draco não viu graça, mas teve que forçar um sorriso. Tratou de ocupar a boca com sua taça. Hermione a sua frente também pareceu não ter visto graça. O olhar dela ficou sobre ele alguns segundos.

– Você tem uma menina. – Hermione comentou voltando-se para Astoria.

– Sim. Ela está com quase cinco agora. – disse Astoria.

– Elise. – a mulher ao lado de Hermione comentou. – A pequena Elise. Ela é adorável. Deveria conhecê-la.

– Eu adoraria. – Hermione disse e Draco soube que nada soaria mais sincero durante aquela noite do que palavras que saíram da boca dela.

– Não gosta de crianças, Sr. Malfoy? – o homem de meia idade tornou a se pronunciar.

Draco se permitiu ficar alguns segundos a mais bebendo de sua taça.

– Apenas não sou acostumado a tê-las por perto com frequência. – resolveu responder, devolvendo sua bebida à mesa.

O homem riu.

– Não vai poder fugir delas por muito tempo, a não ser que queira matar a linhagem da sua família, garoto. – disse ele.

A palavra garoto o atingiu com força. Sentiu o sangue esquentar em suas veias, sua boca secou e ele calculou a força que deveria fazer para lançar o garfo em sua mão direto contra a garganta do homem.

– Nós estamos esperando pelo momento certo. – a voz de Hermione soou depois de um pigarreio. – Não é mesmo, querido? – o tom dela soava chamando a atenção dele, mas seu cérebro continuava calculando o movimento que deveria fazer com a mão. Um simples movimento. Aquele velho nunca mais falaria. – Querido? – piscou e encarou os olhos dourados dela a sua frente. Havia um toque de atenção no olhar dela, como se tentasse fazê-lo se lembrar de que ninguém ali era seu inimigo. Não ainda. Ela o chamava de querido apenas por implicância ou quando queria sua atenção.

– Sim. – concordou com ela e limpou a garganta. – Estamos esperando o momento certo.

– Tem muitas coisas acontecendo por agora. – Hermione continuou num tom descontraído, tentando trazer de volta o clima de antes. – Os conflitos estão passando por uma nova fase, Draco está precisando deixar a cidade com frequência. E... – ela precisou de um gole de sua bebida. –... desejamos por tanto tempo ficar juntos. Um ano ainda não parece o suficiente para sermos somente eu e ele.

– Ah! – exclamou a mulher ao lado de Hermione com uma empolgação excessiva. – Adoro um bom romance!

Outra mulher fez um comentário sobre o quão imbecil aquilo soava e a mesa tornou a rir. Draco ficou grato por Hermione ter encontrado uma forma de colocar um ponto final naquele assunto.

– Draco. – Isaac tornou a se manifestar. - Soube que o Ministério está fechando o parlamento bruxo definitivamente.

– Não me envolvo no trabalho do meu pai. – Draco disse e viu ali sua deixa. – Mas posso garantir que ninguém iria ousar protestar contra o Ministério.

– Todos já sabem, desde o começo, que o mestre não apóia o velho governo. – Hermione se manifestou logo em seguida. Seus olhares se cruzaram rapidamente e ele pôde perceber que ela havia captado o momento perfeito. Todos descontraídos, vinho suficiente já havia sido ingerido. Ela havia entendido. – Me surpreende que o parlamento tenha resistido por tanto tempo. O interesse do povo não é válido em uma ditadura.

Ela deixou aquilo em aberto e Draco achou perfeito. As mulheres na mesa lançaram olhares surpresos e alguns condenadores sobre ela, até mesmo Astoria. Não era esperado que uma mulher como ela fosse comentar sobre política, Hermione aparentemente não fazia ideia disso.

– O interesse do povo! – um homem riu. – Quem se importa com o interesse do povo? O povo quer mil coisas ao mesmo tempo, se confundem entre si, protestam por idiotices. A democratização em excesso acabou com os valores que fundaram o governo bruxo nesse país!

– Você quer dizer as famílias poderosas do Reino Unido? – Hermione interveio. – Não creio que elas tenham fundado o governo bruxo. O Ministério foi uma sucessão do Conselho Bruxo que precisou ser reformulado visto algumas revoluções populacionais. As famílias poderosas da Grã-Bretanha apenas tinham um voto de maior peso durante esse processo.

O homem claramente desaprovou o que escutara.

– Eu não estava falando sobre o círculo das famílias poderosas. – ele retrucou. – Estava falando sobre os valores clássicos que foram deturpados com o passar dos séculos.

– Os valores clássicos do qual diz respeito foram formulados pelo círculo de famílias poderosas, se assim prefere. Todos esses valores foram derrubados pelo Estatuto em 1692 devido a movimentos populacionais, o que imediatamente anula o fato de terem sido deturpadas com o passar dos séculos, visto que não deveriam nem mesmo ser praticadas. Obviamente que com a ascensão do mestre tudo foi retomado. – Hermione foi obrigada a acrescentar. Tomou um gole de sua bebida. – 1780. – ela continuou. – Foi o ano em que fecharam o parlamento por interceder demais a favor do povo. O ato seguiu o golpe absolutista do Ministro da Magia da época, o que causou a maior e mais duradoura revolução populacional da história bruxa, todos já conhecemos isso. – devolveu a taça à mesa. – Todos esses exemplos mostram o poder que o povo tem. – concluiu ela.

– Por isso trabalhamos sempre para que eles estejam do nosso lado. – acrescentou Draco.

– Tem uma mente brilhante, moça. – o senhor de meia idade comentou. Hermione sorriu.

– Acaso é a favor do povo, Sra. Malfoy? – o homem tornou a se manifestar. – Ao menos é o que dá a entender.

– Não. – ela desviou o olhar para ele. – Não estava expressando nenhuma opinião, Sr. Wigham. Apenas estava expondo os fatos.

– A revolução de 1780 não foi a maior e mais duradoura. – disse o homem.

– De acordo com quem? – Hermione não parecia muito contente. A mesa os escutava atentos e em silêncio. – Acaso está expressando uma opinião pessoal porque está duvidando da minha capacidade de expor fatos?

O homem se mostrou desconcertado quando Hermione o encurralou. Soltou um riso fraco.

– Você é uma mulher...

– Uma mulher? – Hermione o cortou imediatamente, erguendo as sobrancelhas mal acreditando no que estava escutando. – Acredita que por eu ser uma mulher não deva me interessar nem comentar sobre história e política? Acredita que eu não tenha conhecimento suficiente para falar sobre esses assuntos? Me surpreende que um homem estudado duvide de tudo que eu disse. Acaso tem biblioteca em casa, Sr. Wigham?

– Uma das melhores da cidade. – ele respondeu claramente irritado.

– Então talvez devesse passar mais tempo de qualidade nela. – findou Hermione.

A mesa explodiu em gargalhadas. Hermione soltou o ar, como se estivesse se sentindo melhor depois do que disse. Draco evitou mostrar que estava sorrindo e ocupou a boca com sua taça.

– Essa é a garota que escreveu cento e cinquenta páginas no terceiro ano sobre os princípios da transfiguração visto por quarenta autores, senhoras e senhores! – riu Isaac, mostrando que já havia ingerido álcool o suficiente. – Eu entendo agora, Draco. Vocês dois. – ele riu e se alongou na cadeira. Soltou um grande suspiro. – Eu sinto falta do velho governo! – mostrou as mãos em sinal de culpa. – Não me entendam errado, mas às vezes sinto falta dos grandes negócios, reuniões de balanço, fechamento de contratos. Cresci vendo meu pai se divertir com tudo isso e me preparei um bom tempo para entrar no ramo. Mas todos nós devemos nos adaptar às condições favoráveis, não é mesmo?

– Devemos ser leais, não nos adaptar. – um dos homens comentou e Draco tratou de gravar o nome dele em sua lista.

– Sim, sim. – soltou Isaac em resposta, mas não se importando muito.

– Vem fazendo um bom trabalho, Isaac. Pode ter certeza que eu já o teria mandado embora se não estivesse. – Draco tratou de comentar.

– Sim, sim. – ele repetiu e riu.

Draco cruzou seu olhar mais uma vez com Hermione. Ela havia entendido. Uma mulher reclamou sobre o assunto, mas outro homem se manifestou em seguida a favor do velho governo. Os comentários se seguiram, cada um expressando sua própria opinião sobre o velho governo. Logo a conversa se assentou sobre os efeitos do fechamento do parlamento bruxo. Alguns homens apoiaram Hermione em sua defesa pela história, mostrando que o povo era um inimigo em potencial. Draco seguiu mostrando como o povo estava do lado deles.

Quando seguiram para uma sala ao lado após o jantar, Hermione já era o objeto de desejo de todos. Era sempre esperado o comentário dela. Tudo que ela dizia era levado em extrema consideração e Draco se sentiu orgulhoso por vê-la ser uma Malfoy como deveria. Ele, por sua vez, foi obrigado a ter que suportar aqueles que vinham com suas honras falsas e exageradas tentando ganhar pontos com mais um Malfoy. Vez ou outra, seu olhar se cruzava com o dela e eles exclamavam em silêncio o quão exaustivo era tudo aquilo.

Draco se perguntava quem dali seria o primeiro a dar uma entrevista no dia seguinte, se considerando amigo próximo dele ou de Hermione para exagerar e criar rumores sobre qualquer coisa que tivessem dito durante aquele jantar. Ele já conseguia apostar algumas cabeças naquele jogo. Detestava eventos como aquele e estava ali por Isaac e pelo potencial que ele apresentava em ser uma das únicas possíveis pessoas de confiança naquela cidade. Ainda precisava de mais tempo para ter certeza daquilo, mas já trabalhava nisso fazia anos e sabia que era um processo demorado.

Os convidados foram tomando seus respectivos rumos mais tarde do que Draco havia imaginado. Pretendia ficar ali mais tempo. Mostrar que era um bom amigo da família Bennett. Forçou um sorriso e acenou para um casal que estava indo embora. Encontrou Hermione não muito distante, se despedindo de uma das senhoras ao qual havia passado boa parte da última hora conversando. Aproximou-se por trás, assim que ela ficou só, passou um braço por sua cintura e colou a boca em seu ouvido.

– Queria te arrastar para algum lugar onde eu pudesse arrancar esse vestido de você. – sussurrou.

Hermione pareceu surpresa de inicio, mas riu e se desvencilhou dele.

– Parece que estou fazendo um bom trabalho. – foi o que ela disse, voltando-se para ele.

– Não tem nem ideia! – ele sorriu e ela sorriu de volta, mas não por muito tempo. Uma vozinha abafada e distante pareceu alcançá-los. O sorriso dela se desfez no mesmo instante. Talvez ela estivesse pensando que estava alucinando. Draco sabia bem o que era. Não demorou e a voz, ainda abafada, ficou muito mais próxima. Hermione quase pulou para longe quando uma porta dupla ao lado deles se moveu ao som de batidas rápidas. – Hermione. – Draco tocou seu braço. – É apenas a filha deles. – estendeu a mão e abriu a porta.

A menina passou quase voando por eles para dentro da sala. Ela chorava pelo pai e Isaac apareceu quase no mesmo instante para acudir a criança. Astoria aproximou-se, soltando exclamações surpresas por ver a menina ali. Logo uma mulher apareceu se desculpando por não tê-la conseguido segurar e informou que Elise estivera chorando e implorando para descer desde o começo do jantar. Havia sido impossível fazê-la dormir.

– Draco. – Hermione o chamava se aproximando, como se quisesse se esconder nele e o tocando para chamar sua atenção. – Draco, eu quero ir embora. Vamos embora.

– Ainda não terminamos aqui. – ele respondeu.

– Draco, por favor...

– Não, Hermione. – a cortou. – Olhe para mim. – ele ordenou e ela ergueu o olhar para ele. Seus olhos brilhavam. Ele quase quis desistir de ficar ali. Sabia que olhar para a menina dos Bennet, a faria se lembrar e se lembrar era doloroso. – Nós temos que superar iss...

– Não agora! – ela cortou com os dentes cerrados. Os olhos dela brilharam ainda mais. – Vamos embora!

– Hermione! – Astoria aproximou-se. Hermione puxou o ar e voltou-se para ela. – Essa é Elise, minha filha. E me desculpe pela entrada nada triunfal, não estava dentro da programação.

A menina estava no colo do pai, os olhos vermelhos, os bracinhos em volta do pescoço dele. Ela vestia um pijama infantil que a fazia parecer uma boneca. Hermione se aproximou com cuidado.

– Olá. – se dirigiu a menina. – Me chamo Hermione.

– Eu sei. – a menininha disse. – Te vi na revista. Mamãe lê para mim. Você usava um vestido bonito. Você é bonita. - Hermione riu e agradeceu, mas sua voz saiu baixa. – Está tudo bem com você? Parece que vai chorar.

Aquilo pareceu ser o aviso de Hermione. Ela negou com a cabeça, limpou a garganta e respirou fundo.

– Não, eu só... – ela pensou. – Estou cansada apenas.

Elise bocejou.

– Eu também, mas não consigo dormir sem que papai me conte uma história. Ele me fez prometer que eu me desculpasse pelo meu mau comportamento, então já que se sente cansada posso te contar uma das histórias que ele costuma contar para mim. – ela voltou-se para o pai. – Seria um bom pedido de desculpas, não seria?

Isaac riu.

– De fato seria. – respondeu.

– Você iria querer ouvir? – Elise tornou a voltar-se para Hermione.

– Eu adoraria. – respondeu Hermione.

Isaac a colocou no chão.

– Vai ter que se sentar, é um pouco longa. – disse a menininha.

Hermione sorriu.

– O que acha de você escolher um bom lugar? – ela sugeriu, enquanto se distanciavam.

Isaac riu da cena e aproximou-se de Draco.

– Nunca vi uma menina da idade dela ser tão sociável. – bateu uma vez em seu ombro e passou por ele.

Draco puxou ar e virou a bebida em seu copo de uma vez só. Astoria ainda estava ali. A encarou por alguns segundos e passou por ela. Precisava de mais álcool. Afastou-se até o estoque de bebidas e tornou a encher seu copo e, dessa vez, foi bem mais generoso. Tomou um longo gole e encarou Hermione sentada em um chaise longue com Elise. A menina não parava de falar, mas sempre dava pausas para bocejar. Hermione parecia um tanto desconcertada, mas havia um sorriso em seu rosto junto com um brilho nos olhos que ele não conseguia olhar por muito tempo. Uma senhora logo se aproximou das duas, talvez para se despedir de Hermione, mas acabou engajando em alguma discussão divertida com a menininha.

– Vocês perderam um, não perderam? – Astoria se aproximou. Draco a olhou confuso. – Um filho. – ela explicou. – Hermione ficou grávida e perdeu a criança, não foi?

Como ela sabia daquilo?

– Como sabe disso?

– Perdi um também. – ela disse. – Eles dizem que isso é comum na primeira gravidez, eu ainda estava no primeiro trimestre, mas não é algo muito fácil de explicar. Eu nem estava querendo filhos. Mas é uma parte de você que vai embora. – ela suspirou. - Eu não suportava ver crianças por quase um ano e o primeiro olhar que Hermione lançou para Elise... Eu conheço aquela dor.

Draco não respondeu nada. Tomou mais um longo gole de sua bebida e não se moveu, sabendo que não era prudente deixar a mesa de bebidas visto que logo precisaria de mais.

– Hermione estava no segundo trimestre. – foi tudo o que disse.

– Oh. – Astoria soltou uma exclamação baixa. – Deve ter sido doloroso.

Draco apenas assentiu concordando. Ela continuou ali, ao seu lado, parada, sem abrir a boca.

– Aqui estamos eu, você e uma mesa novamente. O que quer, Astoria? – finalmente abriu a boca.

Ela pareceu um tanto surpresa pela direta que recebera. Abriu a boca para responder qualquer coisa no mesmo tom, mas respirou fundo fechou os olhos rapidamente e riu. O encarou.

– Ainda acha que eu quero algo com você, Draco? – balançou a cabeça e desviou o olhar. – Francamente. Quantas vezes vou ter que dizer que amo o meu marido?

– Prove. Palavras são apenas palavras, Astoria. – bebeu mais um gole.

Ela riu.

– Por que sempre te incomodou tanto o possível fato de eu ainda nutrir qualquer tipo de sentimento por você, Draco? – Astoria disse, enquanto ambos observavam Hermione e Elise. – Sei que conhece o valor do sentimento. Vê sua mãe sendo sufocada por eles todos os dias, e você a ama, e odeia vê-la tão presa a isso. Te incomoda a mínima chance de eu não ter te superado porque sabe que o que fez comigo foi absolutamente errado. Me iludiu, me fez criar milhões de sentimentos e expectativas. Eu acredito que preferiria desejar a morte ao seu pior inimigo do que vê-lo no mesmo estado que sua mãe se vê com seu pai. Presa a tantos sentimentos. Talvez seja por isso que não consegue deixar Pansy Parkinson longe de sua vida. Ela é tão doente por você, e se vê incapaz de dar as costas a ela porque sua própria mente deve lembrá-lo em algum momento que a dor que ela sofre pode ser a mesma dor que sua mãe guarda. – ela virou-se para Draco. – Levei anos para te superar e sabe o que me ajudou? Perceber, depois de muito tempo, que apesar de todo o luxo, de toda a fama e de todos os seus atributos físicos, que sua vida é bastante miserável.

Draco se viu sorrir. Por isso havia escolhido Astoria Greengrass. Abaixou os olhos para sua bebida e brincou com o líquido no copo por alguns segundos. Ela era a garota perfeita quando a conheceu. Não era excepcional, mas era inteligente, bonita, de boa família e sabia o compreender quando se esforçava bastante. E ele havia tentando. Havia realmente tentado. Fizera tudo que seus colegas faziam com suas namoradas. A levara em encontros, lhe dera presentes, andara de mãos dadas... tudo! No final, ele se viu apenas absolutamente entediado. Ainda se lembrava do sono poderoso que tinha quando a acompanhava para tomar os chás de Madame Puddifoot em Hogsmeade.

– Me desculpe por não ter conseguido me apaixonar por você. – ele disse.

Ela soltou um riso baixo novamente.

– Para alguém que nunca se desculpa por nada, deve realmente se sentir culpado.

– Não me faça querer te matar, Astoria. – foi tudo que Draco respondeu.

Ela riu.

– Você não foi o único homem que me fez mal, Draco. – ela foi sincera. – Tive que passar por alguns relacionamentos realmente ruins para que a vida pudesse me dar algumas lições. Confesso que sempre fui muito superficial e talvez isso tenha me levado a fazer escolhas ruins. Fico grata por Isaac não ter sido minha escolha ou eu teria acabado me enfiando em um casamento com grandes chances de desastre. – Astoria sorriu - Ele me ensinou muitas coisas. Acredito que acabamos nos ensinando muitas coisas com o passar dos anos. Crescemos juntos. E eu finalmente pude entender que o que uma mulher precisa não é de um homem-troféu para exibir para as amigas ou na rua. Pensar dessa forma por anos me levou aos meus fracassos. O que uma mulher precisa é muito mais do que isso. Claro que um homem assim seria a cereja no topo do bolo, mas o que uma mulher realmente quer é um homem que procure entendê-la, um homem que a apóie, um homem que a faça se sentir bem. – ela disse aquilo e Draco quis quebrar seu copo com a força dos dedos. Theodoro Nott fazia sua mulher se sentir bem, segundo sua própria mulher. – Isaac é tudo isso e também a cereja em cima do bolo. – ela riu de sua própria conclusão.

– Apenas palavras, Astoria. – foi tudo que Draco disse.

Ela suspirou e eles ficaram em silêncio mais alguns segundos.

– Você realmente a ama? – ela perguntou. – Hermione. A ama?

Draco se viu rir da pergunta. Astoria entendia que pessoas como eles não tinham o luxo de se casar por amor, na verdade.

– Eu a odeio. Sempre a odiei. – ele respondeu. Não se importava que aquilo talvez a fizesse questionar as histórias que os jornais e revistas contavam.

– Então talvez a ame. – foi o que ela disse. Draco franziu o cenho e a encarou confuso. – As pessoas estão tão acostumadas a verem o ódio como o oposto do amor. – ela sorriu. - O ódio não é o oposto do amor. O oposto do amor é a indiferença. Indiferente a Hermione Granger eu tenho absoluta convicção que você nunca foi. Sempre se importou com ela. Em Hogwarts, costumava fazer comentários sobre ela, mesmo quando ela não estava por perto. A linha entre o amor e o ódio pode até ser comprida, mas muito frágil. – Astoria suspirou novamente. – Você a olha diferente. Não sei o que é, mas é diferente. Nunca me olhou da forma como olha para ela quando estávamos juntos.

Talvez fosse porque nunca havia a odiado tanto quanto odiara Hermione.

– Escute, Astoria. Se o que realmente a faz me perseguir agora é o fato da minha história com Hermione bater com o período que estávamos juntos, confie em mim, nunca foi minha intenção. Eu realmente tentei fazer com que o utópico de nós dois desse certo. Não deu. Isso é tudo. – virou o último gole. - Agora eu preciso ir porque já escutei e vi demais por hoje. – deixou o copo na mesa e foi até Hermione. Elise parecia não ter resistido e estava dormindo sobre um rolo de almofadas, Hermione tinha um braço no espaldar para apoiar a cabeça em sua mão e velava em silêncio o sono da menininha. – Hermione. – a chamou e ela ergueu os olhos para ele com calma. – Vamos. – disse.

– Não podemos ficar mais um pouco? – a voz dela soou tão doce que Draco quase considerou dizer que não havia problema nenhum. Estava surpreso por ver que ela queria continuar ali, depois de ter implorado para ir embora por causa de Elise.

– Não. – respondeu.

– Já terminou o que tinha que terminar aqui? – ela perguntou, piscou parecendo um pouco cansada e se levantou.

– Não. – ele respondeu. – Mas já me cansei do dia de hoje. Está na hora de terminar.

Hermione assentiu. Disse que iria se despedir de algumas mulheres que parecia ter conhecido em algum evento anterior importante. Eles se separaram e Draco foi em busca de Isaac. Não o encontrou. Voltou pelo caminho que daria ao hall de entrada e quando estava colocando novamente seu casaco, Hermione apareceu pedindo pelo seu. Isaac os encontrou apenas quando estavam descendo das escadas para o pátio onde a carruagem os esperava.

– Astoria me disse que já estavam indo! – ele disse. – Por que tão cedo? Estava esperando que todos fossem embora para que pudéssemos esvaziar um bom whisky em meu escritório, como nos velhos tempos, enquanto nossas mulheres conversavam sobre... coisas de mulher.

Draco riu.

– Hermione não iria gostar disso, tenho certeza. – disse.

Ele riu de volta.

– Sim, percebi que ela tem uma inclinação para coisas úteis. – disse. Hermione apenas sorriu em resposta. – Escute. – ele se aproximou de Draco. – Entendo que precise ir. Está à frente de uma guerra. – colocou uma mão no ombro de Draco. – Fico grato que tenha vindo hoje. Sabe que isso nos coloca em uma posição muito boa para a imprensa e para a cidade. Foi apenas um simples jantar e mesmo assim, você apareceu. – Se aproximou mais e abaixou a voz. – Nós dois não somos homens honrados, sabe disso. Somos parte das famílias poderosas e você é um Malfoy. Mas quero que saiba que estou do seu lado. Não por lealdade, não porque somos colegas, não porque nossas famílias nunca se desentenderam. O mundo gira muito rápido e foda-se o velho governo ou o império ou o que quer que venha a acontecer. Estou do seu lado porque é um Malfoy e Malfoys nunca caem.

Draco apenas assentiu. Sorriu. Era exatamente isso que ele tinha para terminar ali. Saber se Isaac era inteligente mesmo, ou era apenas mais um fantoche de Voldemort.

Eles se despediram e assim que Hermione e ele se acomodaram dentro da carruagem e entraram em movimento, ela se manifestou:

– Acha que Isaac desconfia do que estamos fazendo?

Draco negou com a cabeça.

– Ele cresceu aprendendo a jogar o grande jogo dos negócios, Hermione. Ele está apenas sendo esperto. Como acha que os Bennett conseguiram receber a Marca Negra tão rápido mesmo tendo decidido se juntar ao mestre somente depois que o poder dele se consolidou? – sorriu. - Eles estavam do nosso lado. E enquanto o nosso barco ainda estiver navegando, eles vão estar do nosso lado.

**

O restante da viagem para casa havia sido silencioso e demorado. Hermione havia fixado o olhar na janela e durante todo o caminho não fez mais nada mais do que encarar a paisagem que os cruzava. Assim que chegaram em casa, Draco tratou de se fechar em sua sala.

Equilibrando a cadeira somente com as duas pernas de trás e com os pés cruzados sobre sua mesa ele encarava o painel em seu escritório. Tinha nas mãos uma carta de Voldemort. Estava sendo convocado ao gabinete para atualizá-lo sobre a guerra. Draco já havia preparado aquele discurso. Preocupava-se apenas com a reação do mestre quando ele soubesse o nível da magia que a Ordem estava utilizando. Não mencionaria nada do véu. Até o presente momento, os relatórios de inspeção do Ministério não haviam identificado o roubo do artefato.

Tentou se concentrar no painel a sua frente. Estava bem organizado. Mostrava suas estratégias, a situação atual da guerra atrelado aos conflitos dentro de Brampton Fort. Algumas de suas expectativas e jogadas ainda se encontravam fora dele, mas sempre que Draco sentava ali, ele pensava sobre como incluí-los e quando incluí-los da melhor maneira possível. Talvez um dia mostrasse para Hermione como ele gostava de se organizar com aquilo. Por enquanto, ele seguia com ela a passos de tartaruga. Assim tinha tempo para ser cuidadoso.

Foi para o quarto somente quando admitiu que estava incapaz de pensar. Aquele dia havia sido longo demais e embora estivesse finalmente em casa, debaixo do seu conforto, as coisas não estavam acontecendo como ele havia planejado que acontecesse. Tudo que Draco queria era estar vivendo o mesmo que estivera na última vez que havia tido a oportunidade de voltar para casa. Ter Hermione a noite inteira e pensar sobre a guerra. Agora, tudo o que tinha era uma mulher em sua cama que não podia tocar, uma visita ao gabinete do mestre no dia seguinte, um Nott interessado em sua esposa e pensamentos extremamente irritantes que o perseguiam.

Entrou e encontrou Hermione de pé encarando a lareira com os braços cruzados. Ela já estava coberta pelo seu longo robe e desviou o olhar calmamente para ele.

– Pensei que estivesse dormindo. – ele disse, abrindo os botões de sua camisa.

Ela assentiu e tornou a encarar o fogo dançar a sua frente.

– Já estou indo. – foi tudo o que respondeu, usando uma voz baixa e calma.

Draco seguiu para o closet, onde trocou toda a roupa do jantar por sua calça de algodão. A roupa já conseguiu lhe prover um pouco de conforto e se sentiu grato pelo menos por isso. Voltou para o quarto e Hermione continuava exatamente no mesmo lugar. Ela parecia muito longe daquele quarto, calada como estava.

Ele afastou as cobertas do seu lado da cama e deitou. Colocou os braços para trás como apoio para sua cabeça e fechou os olhos. O silêncio o incomodou. Por mais cansado que estivesse se viu bem distante do sono.

– Posso escutar o seu cérebro, Hermione. – disse ainda com os olhos fechados. – É bem irritante.

– Desculpe. – a voz dela soou.

– Por Deus! Não se desculpe! – Quando ela iria aprender que Malfoys não pediam desculpas.

– Desculpe. – foi tudo que ela disse.

Draco abriu os olhos e suspirou.

– Hermione, eu pensei que minha mãe já tivesse lhe ensinado, mas Malfoys não pedem descul...

– VOU PEDIR DESCULPAS QUANTAS VEZES EU QUISER! – ela se exaltou e ele se viu surpreso. Não havia esperado aquilo. Sentou-se e ela se virou para ele. – VOU PEDIR DESCULPAS SEMPRE QUE EU QUISER PEDIR DESCULPAS! SEMPRE QUE HOUVER A NECESSIDADE DE SE PEDIR DESCULPAS! POR QUE VOCÊ SABE O QUE ISSO SIGNIFICA? SIGNIFICA TER EDUCAÇÃO! SIGNIFICA RESPEITO! – ela ofegou.

Draco a encarou um tanto confuso.

– Não vi que estava com raiva. – disse e a viu puxar o ar e abrir a boca pronta para se mostrar revoltada novamente, mas então simplesmente mudou a expressão, soltou o ar, cobriu o rosto e virou de costas novamente.

– Não estou. – Hermione sussurrou. Suspirou umas duas ou três vezes e puxou os cabelos para trás. – Me desculpe.

– Pare de pedir des...

– NÃO! – ela tornou a voltar-se para ele. O olhar firme. Draco a encarou de volta. Ela trocou novamente a expressão e ele viu dor brilhar no dourado de seus olhos. – Eu não sei mais quem eu sou. – Hermione soltou. A voz fraca. – Eu quero tanto um filho. Eu nunca pensei que pudesse querer tanto algo. Eu sei que ele irá vir uma hora ou outra e talvez isso não esteja me fazendo bem porque eu sinto como se todo o amor do mundo já estivesse em mim por causa disso. Quero tanto e já amo tanto. Isso tem me feito ser o pior de mim. – os olhos dela brilharam e, dessa vez, Draco soube que eram unicamente lágrimas. Ela suspirou decepcionada. – Estou sendo fria, minimalista, racional. Engano as pessoas, minto, tento ser esperta a qualquer custo. Vou deixar que Fred Weasley seja morto, prometi entregar Harry Potter a Voldemort quando passei a maior parte da minha vida lutando para protegê-lo do Lorde. Tudo porque eu quero tanto algo. Tudo por algo que eu-quero. – a voz dela morreu e uma lágrima solitária escorreu em sua bochecha pálida. Ela logo a limpou. – Eu nunca fui egoísta, Draco. – concluiu com a voz trêmula.

Eles se encararam por alguns segundos em silêncio. Draco engoliu a saliva. Hermione estava passando pela fase que ele havia esperado que ela chegasse.

– Não sou seu terapeuta. – disse. A expressão dela mudou no mesmo instante.

– Deus do céu! – ela suplicou. – Será que você poderia não ser um ser detestável agora?

– Você quer um conselho, Hermione? Vá dormir. – era o melhor que Draco podia fazer por ela.

Hermione o encarou, incrédula. Por um segundo pareceu não saber o que falar, mas então seu rosto se contorceu numa careta.

– Você não entende. – a dor estava ali novamente. – Na verdade, não tem o menor interesse de entender, de me entender. Não conhece quem eu era. Para você tudo que eu era não passava de uma Sangue-Ruim sabe-tudo. Eu tenho uma alma, Draco. E diferente de você, eu não procuro escondê-la. Ao menos procurava não escondê-la.

Ele uniu as sobrancelhas e se levantou.

– Eu te dei um conselho: Vá dormir! Estou te ajudando! Não seja ignorante! – se viu irritado e sem paciência por ver que Hermione estava o colocando no meio de seu momento temperamental.

– Me ajudando? – ela subiu uma oitava, não acreditando no que ele havia dito. – Realmente acha que eu consigo dormir?

– É o melhor que pode fazer! – ele se aproximou. – O que você quer, Hermione? Quer que eu te conforte? É isso que quer? Pensei que já me conhecesse para saber que eu não vou te confortar, não vou te abraçar, não vou te contar uma historinha para dormir! Eu estou te dando o melhor conselho que pode receber agora. Ou você que eu fale para desistir? Se é isso que quer, então vá em frente. Desista. Volte para o seu ponto zero, de onde começou, que se bem me lembro foi exatamente aqui nesse quarto, bem ali naquela cama, de onde você não queria levantar, não queria comer, não queria nem mesmo existir! Se quer desistir, volte para a cama, não levante mais dela, chore o dia inteiro pela criança que vão te tirar e pela vida miserável que vai ter, se é isso que vai te fazer se sentir melhor. – buscou ar. – Agora se quer ter a mínima chance de virar isso, Hermione. Engula o que quer que estiver passando agora, vá para a cama, durma, acorde amanhã, levante e lide com isso. Se amanha piorar, não importa. Vá dormir, acorde no dia seguinte, levante e lide com isso. Durma, acorde, levante e lide com isso. – aproximou-se mais. – Lide com isso. – Draco repetiu. - Todos os dias. Até ficar forte. – terminou. O silêncio os preencheu. Hermione não ousava desviar os olhos dele. Draco apenas deu as costas e tornou a se sentar na cama. Encarou as próprias mãos. Soltou o ar. – Eu não sou alguém que irá te dizer um monte de palavras que vai fazê-la se sentir bem por alguns segundos. Não sou Theodoro. – se viu dizer. Ergueu os olhos para ela. – Se algum dia eu quiser te fazer bem, acredite, não vai ser por alguns segundos.

Hermione continuou em silêncio, parada e com os olhos fixos nele. Ele havia terminado ali. Tornou a deitar. Usou os braços como apoio para sua cabeça e fechou os olhos. Novamente ele se viu cansado, mas com o sono muito longe.

Não demorou muito e Hermione apagou a lareira e o restante das luzes. Ele abriu os olhos a tempo de vê-la se despir de seu robe e se enfiar debaixo das cobertas ao lado dele. Tornou a fechar os olhos e inalou o cheiro dela. Aquilo lhe trouxe um conforto do qual ficou bastante grato. Estava em casa. Não precisava passar a noite fazendo sexo com Hermione, embora isso soasse bastante apelativo. A presença dela ali ao seu lado já parecia ser um pouco confortante. Estava seguro ali. Estava em casa. Aquilo era o suficiente para fazê-lo se sentir minimamente bem.

O sono não chegou e estava sentindo que já haviam se passado horas. Seus olhos continuavam fechados e seus pensamentos não lhe davam nem um segundo de descanso. Se mover parecia estúpido, a última coisa que queria era se sentir mais acordado do que já estava.

– Hermione. – se viu chamá-la. A voz baixa era o suficiente para alcançá-la. Ela murmurou um som em resposta. Draco sabia que ela não estava dormindo. Não iria dormir tão cedo, assim como ele. – Prometeu entregar Harry Potter ao mestre?

Ela suspirou.

– Ele me deixaria ficar com a criança, caso fosse menina. – Hermione disse depois de alguns segundos.

O silêncio se estendeu por um tempo, até Draco finalmente tornar a abrir a boca:

– Sabe que ele pode não deixar, não sabe? Mesmo que entregue Potter.

– Sei. – foi tudo que ela respondeu. O silêncio novamente. Dessa vez durou bem mais. – Talvez eu consiga fazer algo que o obrigue a cumprir o acordo. – suspirou. – Ainda não sei, mas eu tenho que tentar. Não sei se aguentaria perder outro filho, Draco.

Ele abriu os olhos e viu o teto logo acima. Virou a cabeça para encontrar os olhos abertos dela o encarando no escuro.

– Não vamos perder mais nenhum filho. Precisa acreditar nisso. – Draco disse – Temos um plano para isso.

Ela fechou os olhos, respirou fundo e balançou minimamente a cabeça negativamente contra o travesseiro.

– Não é isso, Draco. – a voz dela foi quase mais baixa que um sussurro. Hermione arrastou para mais perto dele. – Eu quero ficar com meu filho. Seja ele menino ou menina. Não quero só salvá-lo, mandá-lo para longe dessa cidade onde ele vai ser criado talvez por alguém que eu nunca nem vi, não sabendo quando eu teria novamente a chance de vê-lo. – os olhos dela brilharam e a voz dela tremeu. – Eu quero tê-lo comigo. Quero fazê-lo dormir todos os dias, quero conhecê-lo, quero que ele saiba que onde eu estiver, ali será o lugar mais seguro do mundo. Quero mostrar a ele que o amo. Todos os dias. Eu quero ser a mãe dele. – mais uma lágrima silenciosa escorreu o canto dos olhos dela.

Draco engoliu em seco. Virou-se para ela e tocou seu rosto com muito cuidado. Via nos olhos de Hermione sua mãe. O amor e cuidado único que via nos olhos silenciosos dela. Tinha na língua as palavras que iriam fazer com que mais lágrimas escapassem daqueles olhos. Ela sabia que aquilo não era o melhor para o filho que iriam ter e era exatamente aquilo que devia lhe cortar o coração. Primeiro, ele e Hermione não eram uma família para criar um filho. Segundo, Voldemort não deixaria que eles ficassem com um, já havia se feito bem claro a respeito disso. Terceiro, a situação em que estavam e o modo como jogavam dentro daquela guerra não tornava a casa deles o lugar mais seguro do mundo.

Não disse nada. Não tinha coragem o suficiente para ser racional ali. Ela havia dito todas aquelas palavras e criara nele a vontade de ter seu filho com ele todos os dias. Ficou em silêncio para se fazer acreditar que talvez houvesse uma chance, uma saída, uma boa justificativa. Soltou o ar e arrastou os dedos pela pele macia de Hermione. Imaginou como seria. Talvez ele e Hermione pudessem fingir que eram uma família. Que eram felizes. Quem sabe.

Passou os braços por ela e a trouxe para perto. Suas pernas se entrelaçaram, encontrando uma posição confortável para a proximidade que Draco havia criado. O calor do corpo dela contra o seu o envolveu e ele considerou que, talvez assim, pudesse dormir. O silêncio os encheu e durou.

Seu queixo tocava os cabelos dela e ele conseguia sentir aquele cheiro floral acalmar seus pensamentos. O inalou até finalmente conseguir sentir o sono chegar mais próximo.

– Hermione. – a chamou mais uma vez. A última. Ela respondeu com um murmúrio sonolento dessa vez. - Acha que minha vida é miserável? – Astoria havia dito aquilo.

Ela respirou fundo e soltou o ar devagar, como se estivesse pensando a pergunta que havia sido feita.

– Não sei. – respondeu muito baixo. - Você é feliz? – ela perguntou de volta.

Draco não precisou pensar tanto para responder:

– Não.

Hermione suspirou e se acomodou mais contra ele.

– Então, talvez realmente seja miserável. – ela disse.

Draco respirou e fechou os olhos. Tinha um conselho para si mesmo: Lide com isso.


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Notas finais do capítulo

Esse é um dos capítulos que eu mais gosto! A forma como eles cresceram nessa familiaridade, como eles estão aprendendo a lidar com um com o outro. Sem contar o modo como o Draco tenta mostrar para Hermione como ela deve começar a enxergar a vida agora. Ele definitivamente já passou por muito e está vendo a Hermione no mesmo estado em que ele também esteve um dia. Confuso, perdido, com raiva... Enfim! Espero que tenham gostado do capítulo! Comentem qual foi a sua parte favorita! :)
Vejo vocês na sexta! Mais cedo! Prometo!
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