CIDADE DAS PEDRAS - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 10
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

UAU! Duas recomendações num mesmo dia! Obrigada Lizzy e Bela! Eu nunca vou conseguir encontrar palavras para agradecer vocês como merecem!



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Capítulo 9

Ronald Weasley

Ronald aparatou na esquina, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Empunhou a varinha quase que imediatamente e correu para de trás da árvore do quintal de uma casa, assim que viu uma senhora sair das sombras, para debaixo da luz fraca de um poste antigo. Ele agachou e tentou conter a respiração quente e ofegante que produzia uma espécie de névoa contra a noite fria de Godric’s Hollow. Esperou que a senhora miúda passasse, e então, varreu a área com os olhos tomando todo o cuidado de alguém que vivera anos em guerra. Levantou-se, assim que traçou seu caminho para cruzar a rua. Alisou as roupas trouxas, levantou o capuz de seu casaco e enfiou as mãos no bolso. Pulou para a calçada e da maneira mais natural possível, caminhou.

O risco de estar ali poderia custar sua vida. Mas ele precisava ter certeza de que não deixaria passar nenhum lugar em branco, apenas porque poderia ser capturado ou morto.

Não muito longe, Rony viu por entre, os muito bem arrumados sobrados, um lote escuro ocupado por uma casa em pedaços. Olhou de um lado para o outro da rua e apertou o passo. Tinha que fazer aquilo o mais rápido possível. Tinha que dar o fora dali. Sentia a adrenalina do perigo, fazer com que cada folha seca arrastada pelo vento fosse um comensal gritando às suas costas.

Respirou fundo e empurrou o enferrujado portão da cerca que fechava o jardim da frente. Andou pelas pedras irregulares sobre a grama crescida e mal cuidada. A madeira dos degraus da varanda rangeu, quando ele subiu para o nível da casa. Na porta entreaberta ele leu:

Neste local, na noite de 31 de outubro de 1981,

Lilian e Tiago Potter perderam a vida,

Seu filho, Harry, é o único bruxo

a ter sobrevivido à Maldição da Morte. Esta casa, invisível aos trouxas,

foi mantida em ruínas como um monumento aos Potter

a uma lembrança da violência

que destruiu sua família.

Colocou o primeiro pé para dentro da casa escura e se preparou para qualquer alarme, ataque ou maldição imperdoável, que pudesse vir em sua direção.

Nada. Estranhou.

Entrou para o hall, onde encontrou uma escada aos pedaços. A madeira velha do chão também rangia a cada passo que dava. Rony passou cuidadosamente do hall para a sala de estar. Tudo estava quebrado, mas surpreendentemente limpo o que confundiu ainda mais a cabeça do ruivo. Atravessou a sala com cuidado e passou por uma frágil porta de madeira e vidro. Viu-se no que parecia a cozinha, e foi ali que ele o encontrou.

— Harry? – chamou a figura largada no chão, recostada em um balcão velho e com uma garrafa de álcool na mão. Os olhos verdes do amigo brilharam no escuro do cômodo, quando ele os ergueu para Rony. – Harry! – exclamou num cochicho. – Por um acaso ficou louco? Pelo amor de Merlin! Vamos, levanta! Temos que sair daqui! Eles podem nos pegar!

Harry não deu nenhuma importância para o tom que ele usara, nem mesmo, para o desespero do amigo. Ele apenas arrastou o fundo da garrafa pelo chão e a levou até a boca.

— Não aqui. – disse numa voz rouca e desinteressada, depois de um longo gole.

Rony já estava farto daquela atitude e até respeitava o momento difícil pelo qual Harry passava, porque a dor da perda de Hermione não era só dele, mas se arriscar daquela forma era exagero.

— Harry, eu sei que quer se entregar, desistir da guerra. Mas vamos pensar numa maneira mais apropriada de prosseguir com isso, certo? – o ruivo tentou um cochicho mais calmo, ainda que atento, como se tentasse convencer uma criança de que faca não é brinquedo. – Por agora, seria mais sensato que você praticasse essa cena no chão da cozinha da casa dos Black, não aqui! Vamos, levante.

O olhar que Harry direcionou a ele foi preguiçoso. Ele tomou mais um gole de seu líquido forte e começou numa voz arrastada:

— Depois que perdemos Godric’s Hollow para os comensais, Hermione se arriscou em colocar um feitiço de reflexo nessa casa. Assim, eu poderia vir aqui sempre que quisesse. A magia do sistema de proteção não toca a casa por causa do reflexo e os comensais responsáveis por fazer rondas, sempre que alcançam a esquina, se deparam com a memória de que já a fizeram.

Rony processou aquilo com atenção. Digeriu cada palavra e concluiu que fazia muito sentido, já que havia alcançado a casa e estava vivo.

— Nunca me contou isso.

— Nunca precisei. Hermione disse que era um presente e que achava importante que eu tivesse algo pessoal, já que tudo sobre mim sempre foi um livro aberto dentro da Ordem. Ela disse que esse poderia ser o meu refúgio e que ninguém precisava saber. - Harry disse como se estivesse dentro de outro mundo. Entornou a garrafa mais uma vez.

Rony foi capaz de identificar a dor, dentro de cada palavra, que ele havia usado. Sempre que o nome de Hermione saía da boca dele era como se ouvisse ao longe alguém gritar de agonia. Havia sido estranha a forma como Harry reagira depois que ela fora capturada. Fora um choque e uma grande desilusão para todos da Ordem, mas para Harry, fora o fim de sua sanidade. Por um bom tempo, Rony não conseguiu entender a reação do amigo, mas foi somente quando considerou que, talvez, Harry e Hermione não fossem somente amigos que muitas peças, de um quebra-cabeça confuso, finalmente começaram a fazer todo sentido.

Aproximou-se de Harry, sentou-se ao seu lado, ainda atento a qualquer barulho incomum ao redor e recostou-se na bancada assim como o amigo. Deixou que o silêncio durasse entre eles. Harry parecia tão longe daquele lugar, que Rony até considerou que ele poderia ter se esquecido de sua presença.

— Quando começou? – Rony finalmente perguntou a grande questão que o atormentava há meses. – Você e Hermione.

Harry balançou a cabeça de um lado para o outro.

— Não vou falar sobre isso com você.

— Quero saber. – Insistiu o ruivo.

— Não – decretou Harry.

— Harry, eu realmente quero saber. –Tentou novamente.

Harry suspirou e levantou os olhos para o amigo. Os dois se encararam em silêncio e Rony esperou que ele entendesse que não importava, apenas queria saber, era justo que soubesse.

— Sei que nunca deixou de gostar dela, Rony. – Harry pareceu bastante sóbrio ao dizer aquilo.

Rony revirou os olhos, já cansado de escutar aquilo durante anos.

— Não é bem isso. – tentou justificar – Eu a vejo como um fracasso pessoal. Estraguei as coisas quando tivemos nossa chance, mas sempre quando reflito sobre isso chego à conclusão, de que não gostaria de tentar novamente. Por um bom tempo, eu estive conformado com o modo como as pessoas diziam que não importava se não estivéssemos juntos, havíamos sido feitos um para o outro. Mas então o tempo foi mudando tudo e tenho que admitir que, desde que essa idéia começou a se perder, tenho ficado um pouco aborrecido.

— Por isso não quero falar sobre Hermione com você. – Completou Harry.

— Harry. – Rony negou com a cabeça. – Não é como se eu ainda gostasse dela. É apenas a idéia de que ela me pertencia. Estamos falando de Hermione. Gostava que as pessoas pensassem que nos pertencíamos. Apenas a idéia.

Harry soltou um riso forçado. Abaixou os olhos para a garrafa em sua mão, refletiu por um segundo e tornou a bebeu do líquido.

— Qual o seu primeiro pensamento, se eu disser que já dormi com ela? – indagou Harry sem encarar o outro.

Ergueu as sobrancelhas. Sentiu seu estômago revirar. Seu sangue esquentou e Ronald precisou respirar fundo. Temia por aquilo. Havia vivido sobre o receio daquele sentimento, por quase toda uma vida.

— Já dormiu com ela? – esperou que ele negasse.

— Qual o seu primeiro pensamento? – insistiu Harry.

Rony soltou o ar de uma vez. Havia se preparado para aquilo, mas não sabia que fosse ser duro daquela forma.

— Penso em te matar. – admitiu. – Mas não acredite que é porque ainda posso gostar dela. – ele apressou a justificar. – Desde quando começamos a ter idade suficiente para reparar em garotas, sempre temi que de nós dois, Hermione fosse escolher você. Você nem ao menos se importava com isso, não olhava para ela, mas porque eu gostava dela, achei que ela fosse te escolher. Eu nunca quis que fosse uma competição, nunca quis sentir ciúmes nem nada, mas é algo que eu não consigo controlar. Talvez seja meu orgulho, porém algo em mim aceita vê-la com qualquer outro homem, menos você. – Harry não respondeu nada. Rony sentiu-se nervoso por ter dito aquilo. Imaginou que nunca fosse dizer. – Porque não importa a multidão de pessoas que nos rondam todos os dias, Harry. Desde Hogwarts e no fim sempre seremos eu, você e Hermione. Ela a garota, e por Merlin! Você já viu no que ela se tornou? – Harry soltou um riso fraco. – Você sempre foi Harry Potter, tem essa vida imersa em mistério, é quieto, usa poucas palavras, é bom em um milhão de coisas e qualquer pessoa no mundo conhece o seu nome. Eu sempre fui apenas mais um Weasley. Eu precisava que ela me escolhesse, entende?

O silêncio caiu sobre eles. Foi cruel e duradouro.

— Sempre temi que tivesse esse ponto de vista. – Harry finalmente disse.

— Eu sei que nunca deveria tê-la enxergado como um prêmio. Eu nunca quis sentir que precisava ser tão bom quanto você. É meu melhor amigo e sei que sua vida é um inferno, mas você continua sendo Harry Potter. – suspirou. – Todos nós temos esse lado inseguro e eu precisava que ela me ajudasse com o meu. – concluiu Rony e torceu os lábios sabendo que era um estúpido por pensar daquela forma. – Entretanto, independente de tudo, ainda quero saber sobre você e ela.

Harry suspirou e negou com a cabeça.

— Ela não me escolheu. – ele disse. – Hermione nunca me escolheu. Você sempre foi a escolha dela. Sempre. – por alguma razão, o modo como ele dizia aquelas palavras parecia lhe provocar dor. – Mas você desistiu dela. A única escolha que a restou foi seguir em frente.

Rony se detestou por não poder argumentar contra àquilo.

— Podemos pular essa parte, por favor. – Comentou. – Quero saber quando começou. Você e ela.

Harry negou com a cabeça novamente.

— Não sei. – deu de ombros. – Aconteceu como se tivéssemos começado desde o primeiro dia que nos conhecemos. Como se tivéssemos avançado sem pressa, todos esses anos. Como se tivéssemos esperado o tempo certo, mesmo que entre nós sempre pairasse a sombra, de que nós poderíamos ter sido algo imperceptivelmente perdido, porque você sempre foi a escolha dela. – Rony sentiu um misto de sentimentos confusos – Nós tivemos nossas oportunidades, mas quando Hermione tinha você e eu tinha Gina. Estávamos cheios de esperança e ainda não havíamos nos atolado nesse inferno da guerra, as coisas pareciam estar andando pelo caminho certo, como deveriam ser. Então os anos se passaram e perdemos tudo isso. De repente, quando tudo estava errado, eu e ela não nos importamos que nós também parecêssemos errado.

Rony soltou o ar cansado.

— Eu não quero uma desculpa, Harry. Quero saber quando começou. – repetiu.

Harry suspirou frustrado. Tomou mais um gole de seu álcool e disse como se estivesse contando um pecado:

— Logo depois que perdemos Godric’s Hollow. Quando ela me trouxe aqui e disse que eu precisava de um refúgio.

Rony tomou seus segundos para voltar no tempo, até aquela época. Foi uma das grandes perdas da Ordem e eles se sentiram devastados por meses. Aquilo fazia anos e, naquele tempo, eles ainda nem tinham consciência da magnitude daquela guerra.

— Harry... – ele cortou o silêncio. – Isso faz muito tempo.

— Eu sei. – a voz do amigo saiu engasgada.

O ruivo sentiu o sangue esquentar e teve que engolir a saliva para tentar se controlar.

— Todo esse tempo minha irmã tem esperado por você...

— Ela sabe. – Harry o cortou.

— Contou a ela? – surpreendeu-se Rony.

— Não. – respondeu ele.

— Hermione contou?

— Não. – Harry suspirou - Gina não é idiota, Rony. - Naquele momento, Rony entendeu o porquê Hermione e Gina já não se tratavam como antes, há muito tempo. O silêncio pairou sobre eles novamente. Foi bastante incômodo. – Escute, sei que está tudo errado. Nunca deveria ter acontecido, mas a primeira vez que eu a tive, como mulher, eu senti que no meio do inferno que eu estava vivendo Hermione podia ser minha paz e que isso não seria nenhum problema porque ninguém precisava saber. Eu precisava do sentimento que ela me causava. Não porque eu gostava dela como você gostava, não porque eu estava apaixonada por ela, eu não sei se um dia eu estive, mas porque Hermione esteve comigo desde o começo de tudo e entendia o peso do que estava sobre mim. Hermione esteve comigo em cada detalhe da minha história, lutava comigo. Então se tornou o meu refúgio. E foi somente quando ela foi pega que eu pude perceber que havia cometido meu pior erro. – Harry se mexeu incomodado no chão. Hesitou em levar a garrafa à boca mais uma vez, e então, desistiu dela. Largou-a e encarou Rony. – Quis dar um ponto final entre Gina e eu, para protegê-la. Mas quando me envolvi com Hermione, eu entendia ela e Gina como duas coisas completamente diferentes. Eu havia me apaixonado por Gina, havia a pedido em namoro, havíamos tido uma história muito concreta, todos sabiam sobre nós, eu tinha muitos planos com ela. Com Hermione tudo começou de uma forma muito confusa, nunca conversamos sobre nós, nunca colocamos nenhum status sobre o que acontecia entre nós, nunca contamos a ninguém, nós apenas nos vivíamos.

— Como pode ter certeza de que ela estava bem com isso? Conhece Hermione. – questionou Rony.

— Eu não tinha. Nunca tive. – Harry respondeu. – Nós nunca conversamos sobre nós. Nunca. – frisou ele. – Nós vivemos uma guerra, Rony. Eu carrego a profecia que é responsável por boa parte dela. Somos a resistência de todo o domínio de Lorde Voldemort. O perigo, a constante apreensão da qual vivemos todos os dias. Tudo. Absolutamente tudo era mais importante do que eu e Hermione. E disso, eu posso ter certeza, de que ela tinha consciência. Nós dois éramos apenas um vicioso momento de distração do qual, desesperadamente, precisávamos. – soltou o ar. - Com frequência. – concluiu.

— Com frequência... – repetiu Rony em voz baixa, apenas para ele. Soltou um riso fraco e balançou a cabeça. Ele não queria sentir o ciúme, mas era inevitável. – Iam para cama com frequência...

— Não, Rony. Você não entendeu. Não era só ir para cama com ela. Era estar com ela. Era ouvi-la, era sentir o toque dela, o cheiro dela, o abraço dela. No começo era estranho, mas eu precisava da sensação de ter realmente um refúgio. Era como respirar fundo depois de prender a respiração por muito tempo. – abaixou os olhos. - Hermione se tornou um vício. Não sei como fazer isso sem ela. Não sei como lutar, não sei como encarar essa profecia, como dar ordens, como prosseguir. Não sei. Preciso dela, preciso do seu conselho, da sua paz, do seu incentivo e da sua força. E não só isso. Eu preciso da sua inteligência, sem ela nós não temos a menor chance!

— Está errado. – Rony disse de imediato – Pensa assim só porque a perdeu. – ele não queria dar nenhum discurso egoísta e lutou para que não deixasse esse seu lado vencer. – Sua dependência é uma ilusão que você mesmo criou, Harry. – tentou ser cauteloso – Precisa sair dela. A guerra ainda não acabou. – ele pausou. - Nós dois estávamos errados, certo?! – tentou ir por outro caminho. - Eu coloquei Hermione como um prêmio e você como um escape. Em momentos errados, em situações erradas.

— Você não soa como Rony Weasley dizendo essas coisas. – Harry riu sem forças.

— Eu estou tentando consertar sua bagunça. Deveria considerar pelo menos isso.

— Eu não preciso de você aqui, Rony.

— A Ordem precisa de você. Precisa da sua presença. Precisa do seu nome.

Harry tornou a pegar a garrafa e a entornou em tantos goles dessa vez, que Rony pensou que ele poderia acabar com todo o líquido em segundos.

— Sou um fracasso, sem Hermione. – ele disse com a voz engasgada e trêmula assim que abaixou a garrafa. – A Ordem não precisa de mais fracassos.

Rony se indignou.

— Tem idéia do quanto, Hermione estaria furiosa com você, se o visse assim?! Se o escutasse dizer isso?!

Harry riu embriagado. Cobriu o rosto com as mãos, num ato descoordenado e apertou os olhos com os dedos, enquanto pendia a cabeça para trás e a encostava na bancada.

— Eu a quero tanto... – chorou ele.

— Certo. – Rony revirou os olhos. – Eu também disse isso, por quase um ano, depois que terminamos. – disse enquanto se levantava. – Você vai superar. – limpou o pó de seu jeans. – Realmente precisamos de você, Harry. Não pode, simplesmente, sumir por todo esse tempo. As pessoas estão com medo de que você esteja tentando se entregar.

— Por quê? – riu Harry, enquanto levantava os olhos para o amigo. – Por que eu tenho agido como louco desde que perdemos Hermione? – ele ridicularizou os comentários que circulavam nos cochichos da Ordem.

— Por que tem agido como se não tivéssemos mais nenhuma esperança. – Rony se aborreceu.

— E temos alguma? – Harry quase gritou completamente irritado com o modo como Rony parecia querer insistir naquilo. – Já olhou para o mundo em que vivemos, Rony? Já prestou atenção no domínio de Voldemort? Na preparação de um comensal? Já reparou como sempre vivemos assustados? Como sempre estamos em perigo? Já contou quantas derrotas tivemos? – ele fez uma careta de dor. – Hermione se sacrificou em vão e não a temos mais. – ele balançou a cabeça - Não tenho mais força para lutar essa guerra.

Rony respirou fundo e bagunçou os cabelos. Deu as costas e enfiou as mãos no bolso. Ás vezes tentava imaginar o peso que Harry carregava e acabava agradecendo por não ser ele. Harry era a imagem da Ordem e nas piores derrotas sofridas por eles, Rony sempre via Hermione sussurrar para o amigo de que ele não podia abaixar a cabeça, ele era a esperança da resistência, e então, lá estava Harry com a cabeça erguida pensando em um novo movimento. Quantas vezes, Rony havia se imaginado desistir no lugar de Harry. Harry havia ido longe e bastou Hermione ir embora, para que Rony visse que ela era o pilar que sustentava as suas forças. Aquilo era tão errado, quanto ele ter visto Hermione como um prêmio. Talvez agora, que ela não estava mais com eles, Harry pudesse entender que aquela luta ele tinha que lutar por si só, não porque alguém o dizia para lutar. Ele precisava ser à base de sua própria força, porque o peso que ele carregava não o permitia depender de alguém. Harry teria ajuda, mas era a guerra dele no fim das contas.

— Os dementadores sumiram. – começou Rony. – Conseguimos a rebelião em Azkaban e as nossas chaves de portal estão todas intactas.

O silêncio durou. Rony se virou para encarar Harry, e dessa vez, viu o amigo com os olhos vidrados nele.

— Os dementadores? – indagou Harry erguendo as sobrancelhas.

Rony afirmou com a cabeça.

— Talvez Hermione não tenha se sacrificado, em vão. – concluiu.

Harry se mexeu lentamente, como se mil coisas estivessem se passando em sua cabeça, naquele momento. Ele largou a garrafa de álcool, mais uma vez, e enfiou a mão dentro do bolso do casaco como se estivesse procurando algo ali. Rony franziu o cenho confuso e visualizou uma moeda de prata brilhante que apareceu na mão de Harry, segundos depois.

— O que é isso? – o ruivo indagou, enquanto via as duas caras da moeda esculpida num brasão estranho e idêntico dos dois lados.

Harry a girou entre os dedos inerte no que quer que estivesse pensando.

— Você não vai querer saber. – respondeu ele.

Hermione Malfoy

Ela tomou a consciência de que estava acordada. Ainda de olhos fechados, moveu-se lentamente sentindo-se cada vez mais presente no mundo. O colchão que a sustentava afundava gradativamente à medida que ela se movia. O calor das cobertas era acolhedor e a seda do lençol que a envolvia, a fazia querer tirar a roupa, para que todo seu corpo sentisse aquele toque suave deslizar pela pele. Inalou o perfume impregnado naquela cama e se embriagou. Era dele. Era forte, caro e santo Deus! Muito masculino! Não estava acostumada com aquilo.

De bruços, Hermione abraçou o travesseiro e esticou o corpo quando sua garganta soltou um gemido de prazer por todo aquele conforto. Sentiu seus lábios se esticarem num sorriso fraco. Aquela, definitivamente, era a melhor cama que ela já havia deitado em toda a sua vida. Comparar com qualquer outra seria um pecado.

Abriu os olhos e encontrou o lugar ao seu lado vazio. Seu sorriso murchou por saber que aquilo seria temporário. Suspirou e girou, passando a encarar o teto alto, circular e abobadado altamente trabalhando numa arte barroca com muito ouro e muita simetria. Piscou. Aquele era o quarto de Draco Malfoy. O gigantesco quarto de Draco Malfoy. Tudo ali parecia querer impor poder. O tamanho, os quadros, o piso, as esculturas, as poltronas, as cortinas, os tapetes, as janelas, as paredes e, sem dúvida alguma, a cama.

E que cama! Hermione tornou a girar e abraçou novamente o travesseiro querendo se desligar daquela realidade, mais uma vez. Ela não queria outro dia, naquele mundo. Fechou os olhos e inalou o perfume caro de Draco Malfoy. Ele podia ser um ser humano terrível, mas Hermione tinha que admitir que aquele homem cheirava bem.

Tentou ignorar tudo que sabia que deveria fazer assim que saísse da cama, apenas permaneceu de olhos fechados, sentindo aquele calor e o conforto inigualável. Gostava da sensação de se sentir minúscula, comparado ao tamanho daquela cama, da sensação de que ali não havia ninguém a vigiando, da sensação de estar longe da catedral.

Um estalo longe deixou seus ouvidos atentos, mas Hermione não teve forças para se mover. Os passinhos sobre o piso brilhoso e escuro do quarto fez Hermione quase resmungar.

— Sra. Hermione Malfoy. – a elfa chamou, após limpar a garganta. Hermione não respondeu. Ela preferia ser chamada de Sangue-Ruim. – Sra. Hermione Malfoy. – a elfa tornou a chamar um pouco mais alto.

Hermione suspirou aborrecida.

— Sim. – respondeu de má vontade sem se mover.

— A Sra. Narcisa Malfoy está esperando a Sra. Hermione Malfoy, na sala privada. – anunciou a elfa.

Hermione processou aquilo em silêncio. Fez uma careta. Não queria sair daquela cama, mas sabia que se não o fizesse, teria problemas muitos maiores. Podia apenas agradecer, que pelo menos agora, Narcisa não podia simplesmente entrar em seu quarto exclamando ordens aos quatro ventos. Hermione tinha que admitir que mudar-se para aquela casa tinha muitas vantagens.

— Obrigada, Tryn. – agradeceu a informação. Moveu-se com preguiça, descobriu-se e sentiu a temperatura ambiente fria comparado ao calor do conforto das cobertas. Sentou-se, puxou o hobby ao lado da cama e o vestiu. – Me traga algo para comer, por favor. – pediu, enquanto se levantava e tomava a direção do lavatório.

— O Sr. Draco Malfoy desaprova alimentos em seu quarto, Sra. Hermione Malfoy. – informou a elfa.

Hermione parou, tentou imaginar o porquê e riu achando patético.

— Então deveríamos estar gratas, por ele não estar em casa. – concluiu para elfa e seguiu seu caminho.

Os quartos da área molhada ficaram numa grande câmara acoplada ao átrio do quarto. O conjunto formava uma suíte esplêndida. O lavatório era inteiramente forrado de uma cerâmica negra, tão extremamente polida e limpa, que certas vezes podia se confundir até com um espelho. Cada torneira, cabide, pia ou detalhe reluzia ouro. As toalhas eram fofas e volumosas, os espelhos eram grandes e estratégicos, a iluminação era controlada e as janelas e vitrais escassos.

Todo o espaço era composto por duas áreas de banho. Uma enorme banheira se abria no nível do chão de um lado. Seguindo uma escada larga e de poucos degraus que descia por trás da banheira, encontrava-se um paredão de duchas confortavelmente reservado. Para Hermione aquela era, definitivamente, a melhor parte daquele lugar. O primeiro banho que tomara ali ela se permitiu ficar por horas. Contudo, agora estava atrasada e apenas se despiu e molhou o corpo. Em poucos minutos, ela passava dali para o closet.

Escolher sua roupa era sempre um desafio. Estava se tornando boa e rápida naquilo, mas era obrigada a passar pela infelicidade do estudo rígido sobre moda de Narcisa Malfoy para ter uma mão boa na hora de aceitar e rejeitar os presentes enviados pelos representantes de grifes importantes em Brampton Fort. Para Hermione, essa era a prova da seriedade com a qual a futilidade era tratada naquele lugar, porém como uma boa prisioneira, ela respondia educadamente a todas as ordens.

Optou por um vermelho fechado. O tecido em camurça era gostoso de sentir. As costas ficavam um pouco a mostra, mas Hermione havia gostado do desenho que o tecido fazia ao cruzar a parte de trás de seu corpo. Também havia gostado da simples linha fina dourada, que cercava a cintura. A frente era enganosamente comportada, com um decote quadrado, porém baixo. O comprimento não podia ser acima do alcance de seu braço e aquele vestido havia passado na prova. Sentou-se de frente ao espelho e concentrou-se para se maquiar exatamente como havia sido ensinada. Preparou o cabelo. Cobriu-se discretamente das jóias que havia ganhado, por último, colocando os sapatos sabendo apenas que deveriam ser altos.

Olhou-se no espelho por longos minutos. Estava linda. Ela havia tomado um cuidado especial para se arrumar, sabendo que naquele momento ao menos, algo deveria agradar os olhos de Narcisa para aliviar um pouco do sermão que receberia. Contudo, todos os dias, quando Hermione terminava todo aquele processo no closet, olhava-se no espelho e se perguntava se trocaria tudo aquilo por um jeans, um par de tênis e um suéter. Se sua resposta fosse sim, ela respirava aliviada sabendo que em algum lugar dentro ali, a Hermione Granger que conhecia, ainda estava viva.

Voltou para o quarto, engoliu uma fatia de pão com queijo, tomou um longo gole de chá preto e saiu pelos corredores de escala intimidadora da mansão de Draco Malfoy. Desceu as escadas, cruzou para o hall privado e entrou na sala onde encontrou Narcisa sentada no extenso sofá de estampa inglesa. A mulher tinha um olhar severo e irritado, mas sem perder a elegância.

Hermione parou, juntou os pés, alinhou a postura e uniu as mãos atrás do corpo tentando da maneira mais exemplar possível, seguir todas as regras de comportamento que havia sido ensinada. Tinha que apostar naquilo. Sabia que não iria a salvar, mas ao menos, poderia amenizar a fúria de Narcisa.

— Tem idéia de que horas são, Hermione? – a voz dela foi pacífica e seca e os únicos músculos que se moveram nela foram os da boca.

Não. Foi o primeiro pensamento de Hermione, no entanto, ela ergueu o olhar para o relógio na parede acima da cabeça de Narcisa e engoliu seco.

— Dez da manhã. – respondeu.

— Está consciente de que me fez esperar uma hora inteira? – indagou a mulher.

Hermione engoliu em seco novamente.

— Sim. – respondeu.

— Seu comportamento foi uma clara demonstração de irresponsabilidade. – Narcisa se levantou. – Além de uma completa falta de respeito. – aproximou-se calmamente.

— Meu corpo está, apenas, compensando algumas noites mal dormidas na Catedral. – disse Hermione sabendo que deveria se manter calada. Argumentar com Narcisa Malfoy era sempre um desperdício de energia.

— Eu não pedi por justificativas, Hermione. – ela foi severa. – Sabe que têm horários a cumprir.

Hermione não questionou. Não tinha ânimo para comprar uma discussão com Narcisa, ali. O quanto antes aquilo terminasse, melhor.

Narcisa ia todas as manhãs à mansão de Draco, desde o casamento. Faltavam apenas alguns dias para completar uma semana. Ela estava ali para aulas fúteis de comportamento em público, regras de etiqueta ao andar, ao falar, ao comer, ao se vestir, ao se sentar, ao levantar e mais idiotices. Ela ensinava como receber visitar, como proceder em perguntas comprometedoras da mídia, como ser a anfitriã de um encontro, como organizar em chá. E o mais importante de tudo, como ser a influência do mundo fútil.

Desde que Hermione fora levada para a casa de Draco, após o casamento, Narcisa havia a isolado de Brampton Fort. Havido recebido ordens de que não poderia deixar a mansão, e não apenas isso, ela não tinha mais acesso a qualquer meio de comunicação. Jornais e revistas haviam sido completamente tirados de sua vista. E quando ela perguntava, lutava e insistia por um por que, Narcisa a imergia num mar de respostas vagas. Nada mais incitava Hermione à rebeldia, do que aquilo. Mas prezando pelo bem de Luna, ela se mantinha obediente. Até certo ponto, obviamente. Não sabia até quando seria mantida daquela forma e as dúvidas que bombardeavam sua mente eram mais fortes do que ser obrigada a se conformar com as respostas de Narcisa.

Durando toda a manhã, Narcisa concentrou os esforços em fazer Hermione entender os passos que deveria seguir para se tornar uma figura amada dentro da cidade, sem deixar de ser invejada. As pessoas tinham que querer vestir o que ela vestia: pentear o cabelo como ela penteava, usar as jóias que ela usava, e acima de tudo, tinham que começar a respeitá-la. Hermione escutou com atenção, seria cobrada por aquilo, então guardou todos os passos. Estudaria aquilo e colocaria em prática, pelo nome que agora era seu sobrenome.

Ao meio dia em ponto, Tryn havia preparado uma pequena mesa de saladas para o almoço. As duas se sentaram e Hermione foi avaliada por Narcisa como sempre, no modo de comer e proceder a uma conversa fria e contínua. Foi durante o almoço que Narcisa a informou vagamente e como se não tivesse nenhuma importância, a presença de Draco na catedral no dia anterior.

Desde o casamento, ele havia deixado Brampton Fort sem previsão de volta. Hermione havia se aproveitado daquilo para descansar seu corpo e sua mente, além de sentir a liberdade dentro da mansão que pertencia a ele. Agora a ela também. Narcisa sempre a alertava que Draco poderia estar em casa a qualquer momento e que Hermione deveria estar sempre preparada para recebê-lo, como uma fiel esposa. Hermione se permitiu carregar aquela informação, mas o primeiro dia se passou, assim como, o segundo, o terceiro, o quarto e nem um sinal de Draco Malfoy. Ela apenas parou de se preocupar com aquilo. Era a menor de suas preocupações, naquele momento.

Após o almoço, recebeu orientações de como se comportar dentro de casa, como dar ordem aos elfos e como respeitar o espaço de Draco Malfoy. Coisas estúpidas, que Hermione obviamente não seguiria. Ela não se importava com as lições de Narcisa, nem com os costumes e mimos de Draco, aquela também era sua casa agora, e ela não havia implorado para estar ali. Portou-se da melhor maneira que poderia se portar e isso agilizou o serviço de Narcisa. Quando Hermione pediu para que Tryn a acompanhasse até a porta, o relógio ainda apontava o início da tarde.

Ela aproveitou a falta de companhia e subiu para a casa de poções. Era uma espécie de sótão. A escada que dava acesso ficava no último andar do lado oposto a entrada da biblioteca e um tanto escondida. Era apertada e de pedra aparente que dava para uma laje ampla e fechada pelo telhado. Hermione julgou o lugar mais confortável da casa. Era o único lugar em que ela não se sentia fora da escala, onde não parecia ser pequena demais para a magnitude que a cercava. O lugar não tinha nenhuma decoração luxuosa, o piso era de uma tábua corrida e descuidada, os móveis todos de madeira, os vidros um tanto empoeirados, o teto era o telhado inglês de altura baixa comparado ao restante da casa. As estantes abarrotadas de pequenas cabines para frascos de poções estavam espalhadas pelas laterais, assim como o estoque de ingredientes. Uma estante de livros bastante simplória ficava exposta atrás de um conjunto de mesa e cadeira não muito sofisticado e os caldeirões espalhados pelo ambiente eram pendurados por correntes que se fixavam nas treliças do teto. A luz era baixa, as janelas que existiam eram poucas, altas e estreitas, mas eram suficientes. Durante a noite, Hermione podia acender as velas que havia debaixo de cada mão francesa, e além de tudo aquilo, havia ainda uma luneta antiga e posta no nicho da abertura das duas janelas principais do local. Não que Hermione se interessasse por astronomia, nunca havia tido tempo realmente para parar e olhar para o céu, mas havia descoberto certo interesse pela atividade, após se ver trancada dentro daquela casa sem muita opção.

Ela havia trazido a reação que seu sangue havia tido com a raiz de valeriana, também havia trazido seus poucos estudos. Não havia conseguido muito avanço, já que obviamente não tinha muitos recursos, também não queria aparentar que estava trabalhando em algo importante. Havia tantas outras coisas com as quais sua mente se ocupava que, Hermione quase não conseguia se concentrar, quando conseguia algum livro que poderia lhe ajuda. Na verdade, tudo que ela precisava era de algumas sanguessugas e algumas experiências. Havia se esquecido de como poções funcionavam, mas ainda era boa como em Hogwarts. Não havia tido muito tempo para praticas atividades extras naquela guerra.

Hermione foi até uma das cabines onde havia deixado o frasco com a reação. Encarou-a por um bom tempo, sentou-se na única cadeira que havia ali e girou o frasco entre os dedos. Abriu a pasta em cima da mesa e espalhou seus pergaminhos sobre ela. Seus estudos e suas anotações estavam todas ali. Não passavam de especulações bobas. Não podia avançar sem recursos. Ela soltou o ar frustrada.

Estava cansada de passar o resto do dia ali, parada. Havia revistado toda a biblioteca de Draco Malfoy e nada, absolutamente nada, havia aberto seus olhos para uma busca profunda do que deveria fazer. Hermione não sabia o que deveria fazer. Odiava não saber o que fazer. Odiava profundamente se sentir de mãos atadas, aprisionada, vigiada. Odiava aquele lugar, odiava ter que seguir ordens calada. Odiava ser mandada por quem odiava. Odiava saber que Draco voltaria para aquele lugar. Odiava seu maldito novo sobrenome e odiava não tem o que fazer, quando sabia que deveria estar fazendo milhões de coisas.

O barulho não foi impressionante, quando ela lançou o pequeno frasco contra o chão e ele se espatifou. Levantou-se e começou a amassar os pergaminhos, que tão trabalhosamente, havia preparado. Descontou toda sua frustração e quando finalmente parou o silêncio a presenteou, unicamente, com o som de sua respiração ofegante.

— Já chega, Hermione. – sussurrou para si mesma. Foi até o nicho das janelas e olhou o pátio da frente vazio. – Tryn. – chamou e num estalo a elfa estava lá. – Prepare uma das carruagens de Draco. Eu estou de saída. – a elfa ficou imóvel.

— A Sra. Hermione Malfoy não tem permissão para deixar a casa.

— Essa é uma ordem que foi dada a mim, não a você. – voltou-se para a elfa.

— A Sra. Narcisa Malfoy deu ordens a Tryn que não deixasse a Sra. Hermione Malfoy sair de casa. – a elfa soltou em seu modo robótico.

— Tryn, se esqueceu de quem são seus mestres, agora? – aproximou-se. – Você serve essa casa, e agora ela também me pertence. Narcisa Malfoy não é nada mais do que uma convidada. Você vai descer agora, vai preparar uma carruagem para mim, depois vai voltar aqui, limpar essa bagunça e queimar esses pergaminhos, porque eu sou sua mestre, não Narcisa Malfoy. Entendeu bem, Tryn? – disse num fôlego só. Assim que terminou revisou tudo que havia dito e se questionou como havia conseguido falar daquela maneira com um elfo. – Por favor. – acrescentou e se sentiu miseravelmente mais Hermione Granger.

— Agora mesmo, Sra. Malfoy. – a elfa obedeceu quase, instantaneamente, deu meia volta e sumiu num estalo.

Hermione desceu as escadas e foi até seu closet. Checou o sol incomum que brilhava alto no céu há quase uma semana. Colocou um chapéu qualquer, pegou luvas e desceu o mais rápido que pode até o pátio.

— A Sra. não deveria fazer isso. – alertou o cocheiro, assim que ela parou de frente à cabine, esperando que ele abrisse a porta.

— Não me diga o que eu deveria ou não fazer. – Hermione foi seca como uma Malfoy deveria ser. – Me leve até a catedral. - O homem hesitou. – Agora! – o homem abriu a porta e ela entrou.

O alívio da falsa liberdade disparou adrenalina em seu corpo e ela mexeu-se inquieta, durante toda a viagem. Hermione não entendia o porquê havia sido tirada da catedral e presa dentro da casa de Malfoy no dia de seu casamento, como se fosse uma questão de vida ou morte, sair dali de dentro. Quando pisou no pátio de entrada da majestosa edificação, seu estômago revirou, mas ela engoliu a saliva, alinhou a postura e andou como Narcisa havia lhe ensinado, como se fosse rainha.

Tudo estava estranhamente em silêncio, vazio e calmo. Nada parecido com o que ela se lembrava da catedral. De qualquer forma, tentou se focar o porquê de estar ali. Foi até o último andar, e trocou de ala duas vezes até chegar a uma imensa placa presa a uma das vigas de entrada.

Sessão de Gerência da Cidade.

Aquele era o único caminho que conhecia. Havia passado de frente àquela placa algumas dezenas de vezes nos tempos vagos em que se permitia explorar a catedral. Entrou no saguão de recepção e foi direto a um balcão talhado, onde duas mulheres muito bem uniformizadas se encontravam.

— Preciso falar com Theodoro Nott. – disse a uma das mulheres, usando o tom que Narcisa havia lhe ensinado

— Tem hora marcada? – ela perguntou não gostando da atitude de Hermione.

— Não. – foi direta e criou nojo, do sorriso discreto e desdém, que a mulher abriu.

— Sendo assim devo informar que está perdendo seu tempo aqui, Srta...?

— Senhora. – consertou em resposta – Sra. Hermione Malfoy. – viu o sorriso na mulher murchar instantaneamente e foi a vez dela abrir o seu. Havia gostado daquele poder. Escutou a voz de Theodoro Nott vindo de longe. Hermione voltou sua atenção para o som e sem hesitar, marchou em direção a ele.

— Hei! – a mulher do balcão exclamou. – Com licença! – ela seguiu Hermione, confusa e perdida. – Não pode... – gaguejou. -... Simplesmente, entrar aqui!

Hermione não deu ouvidos à mulher. Entrou por um hall não muito extenso e virou a primeira esquina, onde encontrou Theodoro e mais dois homens discutindo seriamente sobre algo. Ele ergueu os olhos de uma pasta aberta na mão de um dos homens que o acompanhava e notou a presença de Hermione, que se aproximava. O sorriso que ele abriu foi a expressão, que ninguém ali, esperava.

— Sra. Malfoy. – ele deixou o som de sua voz soar em um regozijo, exageradamente, educado. – Essa realmente é uma surpresa muito agradável. – Hermione parou a frente dele. – Alguém já lhe disse hoje, o quanto está absolutamente adorável?

— Temos que conversar. – ela foi direta, sem paciência para o diálogo educado que ele havia iniciado.

Ele riu.

— Senhor, - começou a balconista. – ela passou sem autorização...

— Nenhum Malfoy precisa de autorização para entrar na missa sessão. – Theodoro a cortou. – Senhores, – ele voltou-se para os homens. – sinto informar que teremos que discutir isso, mais tarde. Eu e a Sra. Malfoy temos que tratar de negócios inacabados. – deu as costas. – Siga-me. – e Hermione presumiu que aquilo havia sido para ela. O seguiu. – Pensei que havia desistido. – Nott disse, assim que saíram para o hall. – Sei que a colocaram na casa de Draco sobre a regra de não a deixar em qualquer circunstância, certo? – ele lançou um olhar rápido para Hermione, enquanto sorria.

— Devo lembrá-lo, que fizeram daquela casa minha também. – ela disse não gostando da forma como ele havia se referido a casa, exclusivamente, de Draco.

Ele demonstrou ter achado graça naquilo.

— Sim, sim. – concordou. – Eu não esperava vê-la aqui tão cedo, visto que a Hermione que conheci em Hogwarts tinha um relacionamento muito amistoso com regras. Vejo que as coisas mudaram um pouco. – riu fracamente, quando passaram a descer alguns degraus para um patamar mais reservado. – Mas fique tranquila, Sra. Malfoy. – continuou ele. – Não serei eu quem vai reportar sua atitude rebelde, tenho interesse de ter você por aqui. – Theodoro disse, passando pela mesa de uma assistente. Abriu uma porta e deu espaço para Hermione passar, ela assim o fez.

Não era uma sala luxuosa, havia livros nas estantes de madeira escura nas laterais, uma mesa no centro e nada mais. O que realmente impressionava, era o conjunto de janelas ao fundo que dava vista para o horizonte de Brampton Fort.

— Como tem sido sua nova vida de casada, Sra. Malfoy? – Nott cortou o silêncio, enquanto fechava a porta e passava por ela.

— Tenho pressa. – Hermione foi seca. – Sei que sabe por que estou aqui, podemos ir direto ao ponto.

Ele riu, indo para detrás de sua mesa. Abriu uma gaveta, tirou três pastas de couro de dragão e as mostrou para Hermione.

— Presumo que isso será o suficiente para o seu cérebro genial. – ele tornou a dar a volta na mesa, encostou-se nela e estendeu as pastas para Hermione.

Ela deixou que o silêncio reinasse durante os minutos, em que duvidou que aquilo fosse ser fácil assim. Obviamente, Nott estava esperando que ela fosse até ele buscar as pastas e Hermione simplesmente hesitou. Ela tinha absoluta certeza, de que havia escutado da boca dele, que nada naquele lugar se fazia de graça. Aproximou-se cuidadosamente e Theodoro não se afastou. Ela manteve o contato pelo olhar estreitando os olhos, enquanto levantava a mão para tomar as pastas da dele. Foi quando quase as alcançou que ele recuou, abrindo um sorriso debochado. Ela revirou os olhos.

— O que quer? – perguntou soltando o ar impaciente.

Ele cruzou os braços.

— Quando estávamos em Hogwarts, eu ouvi dizer que tinha interesse em entrar para o Departamento de Execução de Leis Mágicas...

— Vá direto ao ponto. – ela o cortou secamente.

— Quero que trabalhe para mim. – ele a obedeceu.

O silêncio entre eles foi confuso para Hermione e cheio de expectativas para Nott.

— Em que exatamente, eu seria útil para um governador? – ela estava curiosa.

— Certo, Hermione... – ele parou subitamente. – Posso chamá-la de Hermione, não posso? – ela considerou aborrecida que era muito melhor do que Sra. Malfoy e assentiu. – Escute, - continuou com cuidado – eu cuido de uma cidade inteira, tenho que lidar com pessoas diferentes todos os dias, eu não posso sair ditando ordens pela rua. Sou uma figura política, e como qualquer um do meu ramo, tenho que ser alguém amado pelo povo, o que obviamente não tem acontecido nos últimos anos. Dito isso, podemos chegar a sua dúvida, “Por quê?”, não é mesmo? – Theodoro desencostou-se da mesa, deu as costas a ela e a passos lentos tomou a direção das janelas que davam vista para a cidade, enquanto continuava – Tenho tido problemas com corrupção dentro dos meus tribunais e isso tem atrapalhado o anseio de justiça de muitas figuras dentro de Brampton Fort, isso vem acontecendo há um bom tempo e o que parecia pequeno, tem me dado bastante dor de cabeça.

— Quer que eu seja regente dos seus tribunais? – perguntou, erguendo as sobrancelhas.

— Sim. – voltou-se para ela. – Quero que seja ditadora da justiça, mas primeiro me entenda. – se aproximou do outro lado da mesa, apoiou as mãos sobre a superfície e se inclinou mantendo o olhar fixo em Hermione. – Isso aqui não é uma democracia. Lorde Voldemort é um ditador e essa cidade não é uma preocupação para ele, essa cidade é para a proteção e conforto dos aliados dele. – deu a volta novamente na mesa e se aproximou dela - Estamos falando de uma metrópole, de um mundo paralelo fora da guerra e eu sou a pessoa responsável por manter a ordem desse mundo, e agora eu preciso de você. – parou exatamente a sua frente.

Ela estreitou os olhou.

— Por que eu? – questionou confusa.

— Porque sei que é boa em tudo que faz. – respondeu sem desviar seus olhos dos dela.

Hermione processou aquilo e fez uma nova avaliação de tudo que havia escutado. Sua conclusão foi um riso fraco e incrédulo.

— Quer me dar um cargo, do qual não tenho experiência, não tenho conhecimento, muito menos sei com funciona. Quer que eu me ocupe em aprender sobre tudo isso, para assumir essa grande responsabilidade baseado na sua duvidosa afirmação de que sou boa em tudo que faço. – riu novamente. – Eu sei o que você quer, Nott. Aliás, eu sei o que Lorde Voldemort quer. Quer me dar uma distração. Quer que eu me afaste da guerra, que eu aceite que não faço mais parte dela. Acha que sou idiota ao ponto de ser enganada com esse tipo de proposta?

Ele cruzou os braços como se já esperasse por aquilo.

— Não é uma questão de distração, Hermione. É uma prisioneira aqui dentro, está sob as ordens de qualquer um, a guerra acabou para você enquanto o mestre assim quiser e por mais que tente lutar, a marca que está em seu braço, te faz propriedade dele, me entende? Não pode lutar contra o mestre aqui dentro, não aqui dentro, não sendo um comensal. – Nott foi cuidadoso ao dizer tudo aquilo. – Você tem a opção de dizer sim ou não. O mestre está lhe oferecendo um status aqui, ele não a quer como qualquer esposa importante carregando sacolas de compras nas ruas do centro. Ele não a quer apenas como a mulher de Draco Malfoy. – ele mostrou as pastas novamente para ela. – Pode tê-las se me prometer que irá considerar um ‘sim’, mesmo podendo dizer não.

Hermione não gostou de como ele estava querendo, sorrateiramente, colocar a oferta que havia feito acima do valor que aquelas pastas e as informações que elas continham, realmente, tinham. Era óbvio que Theodoro estava tentando convencê-la de uma maneira suave e amigável.

— O que te faz acreditar na minha palavra, se eu pegar essas pastas? – desconfiou ela.

— Não sou eu, Hermione. – ele sorriu. – Lorde Voldemort é quem que saber se pode confiar na sua palavra.

Ela ponderou. Seria arriscado estender as mãos e pegar aquelas pastas, mas ao mesmo tempo, aquilo poderia ser uma carta em sua manga. Decidiu que Nott pensasse que ela havia caído naquele papo. Respirou fundo e aceitou as pastas. Ele sorriu.

— Tome o tempo que precisar para me dar uma resposta. – ele disse. – Pense com cuidado, Hermione.

Hermione assentiu e deu as costas. No caminho de volta, sorriu sabendo que talvez fosse uma excelente idéia, fazer Voldemort pensar que ela começara, falsamente, se entreter com uma distração.

**

Quando desceu no pátio de casa já era noite, já havia passado à hora do jantar e em uma hora Tryn perguntaria se poderia servir o chá. Ela não gostava da agenda, estritamente rígida, de como as coisas aconteciam ali, mas ainda precisava sondar Draco para ver se aquilo poderia ser algo discutível ou não.

Subiu os degraus de entrada, carregando apenas uma sacola de sua ida ao centro. Havia visitado todas as lojas de poções daquela cidade. Pelo menos as que haviam no centro. Eram todas precárias. Não ousou ir à loja de Bellatrix, embora tivesse ficado parada de frente a entrada por quase um minuto inteiro.

Hermione surpreendeu-se quando passou pelo hall de entrada e atravessou a sala principal sem ser abordada por Tryn. Subiu até a casa de poções e deixou o frasco de raiz de valeriana que havia comprado. Suspirou cansada, ao olhar a noite pela janela. Percebeu que aquele havia sido um dia cansativo e proveitoso, dentre todos os outros, daquela semana. Colocou as pastas que pegara com Theodoro sobre a mesa e decidiu que seria prudente analisá-las no dia seguinte, com tempo, luz do dia e descansada. Desceu para o quarto e estranhou que, até aquele momento, Tryn não havia aparecido para perguntar se ela gostaria de algo para jantar. Mas não se importou, não tinha fome e se tivesse, ela quebraria as regras da casa de Draco indo à cozinha para preparar algo.

Livrou-se dos sapatos, assim que entrou no quarto. Gostava do piso frio contra seus pés. Jogou o chapéu sobre a cama, tirou as luvas e fez o mesmo. Sentou-se e fechou os olhos, enquanto soltava o cabelo e o deixava pesar sobre seus ombros. Esticou a coluna, alongou o pescoço e pensou seriamente sobre a proposta de Theodoro, enquanto soltava o ar calmamente pela boca e deixava seu coração desacelerar das atividades que havia feito durante à tarde. Preocupou-se com o que Narcisa poderia dizer, quando descobrisse que ela havia deixado a mansão de Draco para uma ida a catedral e um passeio no centro e considerou o sim que havia prometido pensar para Theodoro.

Suspirou farta de tudo aquilo e abriu os olhos. Prendeu a respiração quase que imediatamente, enquanto seus músculos retraíam. Foi presenteada com a visão de Draco Malfoy bem à sua frente, encostado numa das cômodas que cercavam as laterais do quarto. As pernas cruzadas, a gravata desatada cercando o pescoço e descendo pela linha de sua blusa desabotoada, os cabelos desalinhados, o copo de whisky pendendo numa das mãos e os olhos incrivelmente cinzas, fixos nela. Aquela era uma visão tão incomum de Draco Malfoy, que além de surpreendê-la, lhe assustou. Hermione nunca havia o visto fora de sua postura bem apresentável.

— O que faz aqui? – soltou antes que tivesse processado as próprias palavras. Não estava pronta para vê-lo.

Draco soltou um riso fraco.

— Eu não preciso dar um motivo para estar na minha casa, preciso? – perguntou ele e Hermione não teve o que responder. Draco tomou um gole do líquido em seu copo. – Vejo que já está bem à vontade. – comentou apontado para os sapatos que ela havia deixado no meio do caminho.

— Você deveria estar longe de Brampton Fort. – ela conseguiu dizer.

— Sim, eu deveria. – ele concordou. – Infelizmente tenho gente o suficiente para me lembrar que agora eu também tenho que cumprir meu novo status como marido. – não escondeu o desgosto que tinha ao dizer aquilo. – Contudo, cheguei em casa e, surpreendentemente, não encontrei minha amada esposa. – Draco disse tomando um ar irônico, desencostando-se da cômoda e cruzando o quarto em direção a uma estante onde mantinha algumas bebidas numa das pequenas cabines. – Me perguntei onde ela poderia estar, já que claramente sabia que estava sob ordens de não deixar essa casa, em hipótese alguma. – ele pausou, enquanto enchia um novo copo até a metade. – Isso porque as pessoas de Brampton Fort deveriam pensar que estamos muito ocupados em uma feliz e divertida lua de mel, que o canhão no dia do casamento não passou de um incidente e que nada de tão importante está acontecendo, nada que me tiraria de dentro da cidade, nada que pudesse perturbar a maravilhosa idéia de que a guerra do lado de fora dessas muralhas está bem estável. – foi até Hermione e estendeu o copo de whisky. A única escolha que Hermione teve foi aceitá-lo em silêncio. – Obviamente, você não foi capaz de acatar a uma ordem e agora me resta ficar preocupado com o que os jornais comentarão amanhã, quando sua imagem aparecer na primeira página. – disse Draco, tomando o rumo de uma das poltronas e se sentando. Tomou mais um gole. – Onde estava?

— Fui à catedral. – respondeu receosa. – Depois ao centro.

Ele claramente não gostou do que ouviu.

— Falou com alguém? – perguntou ele.

— Theodoro Nott. – respondeu ela.

— Ele lhe ofereceu algum cargo?

— Sim.

— O que respondeu?

— Prometi considerar dizer sim.

Draco suspirou, desviando o olhar e se enterrando mais em sua poltrona, enquanto tomava outro gole.

— Falou com alguém no centro? – perguntou.

— Não. – Hermione respondeu.

— Alguém te parou?

— Não.

— Viu alguém tirando fotos suas?

— Sim.

Ele aparentemente se aborreceu com aquilo. Pressionou os dedos contra os olhos e coçou a cabeça bagunçando ainda mais os cabelos. Hermione o observou em silêncio, mantendo o copo de whisky que havia recebido dele, entre suas mãos quietas em seu colo.

— Sabia sobre a proposta de Nott? – foi a vez de Hermione perguntar. Ele assentiu com a cabeça em silêncio. – Quero saber o que pensa sobre isso. – ela tentou.

Ele deu de ombros.

— Não me importo, se é isso que quer saber. Se eu quisesse que dissesse sim ou não, eu teria dito. – respondeu – O mestre quis que a escolha fosse sua. – finalizou Draco.

O silêncio se seguiu calmo. Hermione pôde notar o quanto a figura de Draco exalava cansaço. Ela não tinha idéia, do que ele havia feito todos aqueles dias que estivera fora, mas podia ter a noção de que havia consumido muito da energia dele. Observou-o quando Draco levou o copo mais uma vez à boca, entornou o liquido e apreciou o sabor antes de engoli-lo como se tivesse pedido por aquilo, por muito tempo. Ele abaixou o copo e pareceu entrar num mundo de pensamentos, muito distante. Hermione abaixou seus olhos para o abdômen do homem e se perguntou se aquilo era real. Talvez pudesse tocar para saber...

— Hermione. – ele cortou o silêncio a chamando e ela levantou os olhos como se tivesse sido pega cometendo alguma imprudência. Ainda era estranho ter o som de seu nome na voz profunda e marcante de Draco Malfoy. – Já fez sexo por casualidade?

Aquilo a pegou de surpresa e Hermione sentiu seu corpo esquentar. Puxou o ar.

— Perdão? – aquilo estava tomando o rumo que ela temia.

— Casualidade. Conveniência. – Draco disse, irritando-se por saber que ela havia entendido muito bem a pergunta. – Já fez sexo apenas por desejo?

Ela sentiu o peito subir e descer pela sua respiração, enquanto tinha os olhos de Malfoy fixos nos dela. Lutou contra sua resposta. Engoliu a saliva, entornou um gole do seu copo de whisky e desviou o olhar.

— Sim. – respondeu numa voz rouca.

Primeiro Draco pareceu processar a resposta dela, depois um sorriso maroto surgiu em sua boca.

— Santa como você é? – ele riu. – Eu não esperava por essa resposta.

Hermione se irritou.

— Eu nunca procurei por ter status de santa, Malfoy.

— Hei. – ele protestou. – Eu a chamo de Hermione. Você deve me chamar de Draco. Acostume-se. Não é difícil. – ela revirou os olhos. – Me escute, não sei se chegou a esquecer, mas eu e você temos que fazer um filho para Lorde Voldemort. – Hermione sentiu seu corpo estremecer com as palavras frias dele. – Isso significa que temos que fazer sexo, e não faça essa cara de quem não está feliz com a idéia. É inevitável. Aceite. E não é como se você nunca tivesse feito isso na vida. – Draco se mexeu incomodado e ficou claro que aquele não era um assunto desconfortável só para ela. – Faremos sexo por casualidade. Você é mulher, eu sou homem, não há muito segredo e nada vai mudar entre nós. Será apenas sexo, sem envolvimento, sem compromissos, sem cobranças. Você vive sua vida, eu vivo a minha. Temos um acordo? – ele finalmente parou. O silêncio o seguiu. A troca de olhares foi sem dúvida desconfortável. Hermione assentiu, sem escolha. – Quero sua palavra. – exigiu ele.

— Sim, temos um acordo. – a voz dela foi fraca.

Draco soltou o ar aliviado, como se tivesse acabado de passar por uma fase muito difícil.

— Perfeito. – ele se levantou, puxou a gravata de seu pescoço e tirou a camisa. Hermione se retraiu e prendeu a respiração. Draco não estava pensando em fazer aquilo agora, estava? – Você ainda tem que comer algo. – ele apontou para a porta. – Tryn não desfez a mesa do jantar. Não faça barulho quando voltar, eu preciso dormir. – deu as costas e sumiu para o banheiro.

Hermione podia ouvir seu coração bater forte e rápido, o barulho estourava em sua cabeça. Ao longe, ela escutou o som das duchas sendo ligadas. Respirou aliviada, levantou-se, colocou os sapatos de volta, deixou o copo de whisky em qualquer lugar e saiu do quarto o mais rápido que pôde.

Desceu até o salão de jantar. A mesa ainda estava posta, ela foi servida por Tryn, mas não tocou na comida. Não tinha fome. Apenas deixou o tempo passar, enquanto era consumida pelo silêncio. Pareceu eterno, até que a elfa voltou e informou que já eram quase meia noite. Hermione se levantou e permitiu que ela desfizesse a mesa.

Subiu sem pressa, fazendo cada passo durar mais do que o necessário. Parou de frente a porta por um bom tempo, antes de entrar no quarto, agora escuro. O silêncio era intimidador. Ela fechou a porta com cuidado e avançou tentando fazer o mínimo de ruído possível. Draco estava deitado de bruços, abraçava um dos travesseiros e respirava pesado e uniformemente. Hermione parou a uma distância segura, sem nem mesmo perceber. Seus olhos redesenharam a linha de suas costas à mostra até descerem pelos braços que cercavam o travesseiro. Ela quis tocar, mas no mesmo segundo, sua atenção foi chamada para um objeto na cabeceira larga ao seu lado. Ela afastou alguns livros até conseguir alcançar o pequeno objeto prata e redondo. Tinha certeza que aquilo não estava ali antes.

— Muito barulho, Granger. – reclamou Draco com os dentes apertados, numa voz rouca e baixa.

— Hermione. – ela corrigiu, girando a moeda em sua mão. Já havia visto aquilo, em algum momento de sua vida. Tinha uma espécie de brasão idêntico dos dois lados. Era familiar para ela.

— Malfoy. – o chamou e o escutou rosnar e murmurar algo inaudível. – Draco. – se consertou ao chamá-lo novamente. – O que é isso?

Ele ergueu os olhos apertados para ela, as sobrancelhas unidas e o semblante de quem estava pronto para matá-la. Olhou o objeto nas mãos de Hermione e soltou o ar aborrecido.

— Você não vai querer saber. – vociferou um tanto grogue, voltando a enterrar o rosto no travesseiro.


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Notas finais do capítulo

Pessoal, desculpa não estar com a resposta dos comentários atrasadas, mas vou chegar a responder todos vocês. É pq leva tempo e eu quero dar atenção a todos eles, não quero responder qualquer coisa. Vou começar a responder com o tempo ao invés de deixar pra responder só quando postar capítulo novo.
Espero que tenham gostado do capítulo. Sexta tem mais um e domingo é o nosso super e especial capítulo que acho que muito de vocês estão esperando! haha Se gostaram desse capítulo 9, deixe um comentário. Não esqueçam de favoritar a fic e curtir a página no facebook! :) Até sexta!



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