CIDADE DAS PEDRAS - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Pessoal! Estou numa correria que vocês não tem idéia! Estou tendo tempo de postar correndo e na loucura da vida! Espero que gostem do capítulo e CLARO que eu não poderia deixar de agradecer a grande Taisy pela paciência em betar e pela adorável recomendação lindaaa que estou apaixonada! Sem contar a recomendação da Lilith852 que depois do excelente comentário feito, me deixou essa linda recomendação. Muito obrigada! Fico muito feliz pela resposta de vocês!



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Capítulo 10

Narcisa Malfoy

— Estava esperando por você. – Lúcio disse, dobrando o jornal e deixando-o de lado sobre a mesa, assim que Narcisa entrou na sala de jantar.

— Voltando aos antigos costumes? – ela se surpreendeu pela atitude dele, enquanto se sentava ao seu lado. – Fazia isso quando Draco era criança. – disse ao preencher a louça de sua xícara com chá.

Ele sorriu, Narcisa sorriu de volta, guardando para si a dúvida sobre o que ele tinha em mente agindo daquela forma, enquanto ambos iniciavam um café-da-manhã silencioso.

— Como estão as coisas no ministério? – ela quebrou o silêncio após um longo minuto.

— Quietas. – respondeu Lúcio e o silêncio voltou.

Narcisa continuou a comer. Não gostava do silêncio entre eles.

— Estão recebendo notícias sobre...

— Querida. - Lúcio a cortou – Não na hora do café-da-manhã. – sorriu ele.

Ela soltou o ar frustrada e voltou-se para seu prato. O silêncio veio, e dessa vez, Narcisa deixou durar. Lúcio também não o interrompeu e assim eles seguiram toda a refeição, restritos ao som de talheres e louças.

Seu marido era um homem quieto dentro de casa, não gostava de muito barulho e durante as refeições qualquer conversa deveria ser regida, exclusivamente, por ele. Narcisa sabia disso, mas havia meses que não conversava com o próprio marido, tinha que tentar de alguma forma.

— Voltarei para o jantar. – ele disse se levantando, ao terminar. – Arrume-se bem, vamos à casa dos Parkinson.

Narcisa levantou os olhos surpresa.

— Por que está me dizendo isso, agora?

— Por que foi uma decisão que tomei ontem. – Lúcio respondeu – E você já estava dormindo quando cheguei em casa.

Ela engoliu as infinitas perguntas que tinha sobre aquilo, não seria nada sábio abrir uma discussão sobre o assunto. Apenas assentiu em confirmação, tendo todos os motivos para desconfiar daquela atitude. Sabia mais do que ninguém, que seu marido era o tipo de pessoa que não gostava de surpresas durante a agenda da semana.

Quando ele saiu, tudo que restou para Narcisa foi se questionar o porquê de um jantar com os Parkinson, justo quando tudo parecia fora do lugar naquela cidade. Ela respirou fundo, empurrou seu prato ao perder o apetite e olhou para o jornal que Lúcio havia deixado sobre a mesa. No mesmo segundo, o puxou sentindo uma veia de raiva saltar em seu pescoço.

A figura em destaque era Hermione, no maravilhoso vestido que ela havia escolhido para usar no dia anterior, saindo de uma das lojas de artigos para poções do centro. Narcisa levantou respirando profundamente, deixou a sala de jantar, cruzou o mais rápido que pode toda a mansão, passou pela varanda da frente, desceu os degraus para o pátio e encontrou o cocheiro recostado em sua cabine.

— Quero estar na casa de Draco em um minuto! – ela foi severa.

O homem pulou para abrir a porta para ela.

— Viu o jornal, querida? – Lúcio chamou sua atenção, enquanto entrava na cabine da carruagem da frente com um sorriso desdém e irritante.

Narcisa não o respondeu, apenas entrou, sentou-se e abriu a matéria em seu colo, enquanto sentia que começava a se mover. Leu enquanto a palavra Sangue-Ruim corria em sua cabeça incessantemente. O artigo não era ruim, dava a entender que Draco e Hermione não haviam saído de Brampton Fort para uma Lua de Mel, elogiava o bom gosto de Hermione para se vestir e sua beleza diante do sol, não muito apreciado pelos moradores locais, sugerindo que ela havia dado um tempo em seu status de recém casada para aproveitar o incomum dia ensolarado. O que preocupou Narcisa foi a repetida menção do tempo, em Brampton Fort. As pessoas estavam reparando que algo de errado estava acontecendo. Mas o perigo não estava só ali, logo nos últimos parágrafos, havia uma sutil sugestão de que talvez Draco estivesse ocupado demais em fazer com que a cidade voltasse ao normal. Fechou o jornal, engolindo a raiva. Bateu na cabine e colocou a cabeça para fora.

— Quero chegar lá hoje ainda! – protestou.

— Estamos indo na velocidade máxima, Sra. Malfoy. – foi a resposta do cocheiro.

— Somos bruxos! Por Merlin! – murmurou ela, fechando a janela com certa brutalidade. – Não deveríamos ter esses tipos de limites.

Quando finalmente estacionaram no pátio da mansão de Draco, ela mesma abriu a porta e pulou para fora da cabine, passando a subir com pressa os degraus da varanda até a enorme porta principal onde foi recebida por Tryn que, provavelmente, recebera a mensagem de sua passagem pelo portão da propriedade.

— Chame Hermione imediatamente, Tryn. – ordenou Narcisa à elfa.

— A Sra. Hermione Malfoy está ocupada no momento, Sra. Narcisa Malfoy. – disse a elfa acompanhando a mulher nos passos apressados mansão adentro. – A Sra. Hermione Malfoy esperava vê-la dentro de duas horas, não agora.

— Vá e diga a ela que o assunto que temos a tratar é de extrema urgência.

— Agora mesmo. – a elfa aparatou a deixando na sala principal.

Narcisa passou a andar de um lado para o outro, impaciente pela a espera. Notou as cortinas da sala principal todas abertas e soube imediatamente, que aquilo deveria ter sido alguma ordem vinda de Hermione. Draco odiava as cortinas e odiava ainda mais que elas estivessem abertas, ele não deveria estar em casa.

— Ela está na biblioteca. – anunciou Tryn, assim que reapareceu.

— Sei o caminho. – disse a elfa, quando passou a subir as escadas na companhia da criatura.

Cruzou toda a mansão até o ultimo pavimento, entrou na enorme biblioteca e andou pelo corredor checando cada estante, até encontrar Hermione no topo de uma das escadas conferindo o nicho mais alto da estante.

— Desça. – Narcisa foi severa.

— Presumo que tenha lido O Diário do Imperador, de hoje. – Hermione disse, sem tirar a atenção de um livro que tinha nas mãos. – E, aliás, você chegou duas horas antes do combinado de todos os dias, sem avisar, o que de acordo com suas próprias regras, é um ato desprezível e desrespeitoso.

— Desça, Hermione. – Narcisa tornou a dizer no mesmo tom ríspido. – Tenha um pingo de decência e não se faça de ingênua, pois sabia muito bem que eu estaria aqui antes da hora.

— Sim, eu sabia. – sorriu Hermione finalmente, dando-lhe atenção. Ela desceu com cuidado e colocou os sapatos que havia deixado sobre o carpete. – E posso assegurar que valeu a pena vê-la quebrando suas próprias regras, agora sei que eu não sou a única. – deu as costas e seguiu seu caminho a passos firmes.

Narcisa sentiu a fúria correr em suas veias. Como ela ousava se comportar daquela forma, depois do que havia feito. Apertou seu passo até alcançá-la.

— Eu espero que tenha uma boa justificativa para explicar o porquê quebrou minhas ordens.

Hermione riu debochadamente.

— Por quê? – indagou. – Acaso vai me colocar de castigo se eu não tiver? – Ela ironizou, dando a volta em uma mesa repleta de livros abertos e pergaminhos mofados. Sentou-se exatamente como havia a ensinado, cruzou as penas e em sua perfeita postura, puxou uma xícara de chá sobre a mesa e tomou um gole. – Além do mais, a matéria não faz nenhuma ameaça aos problemas da catedral.

Narcisa jogou o jornal aberto sobre a mesa, bem a frente dela, que abaixou os olhos para encarar sua própria figura saindo de uma loja de poções estampando, sem piedade, a primeira página.

— Hermione, você desobedeceu minha ordem e eu quero um motivo muito claro para ter feito isso.

— Você está certa, sua ordem. – disse Hermione. – Uma ordem que tenho absoluta certeza de que não veio de Lorde Voldemort.

Narcisa se calou, e por um segundo, pensou em se irar, sair do controle e arrastar toda aquela bagunça para o chão. Mas não seria Narcisa Malfoy se fizesse isso.

— Estou tentando fazer sua imagem na mídia e na cabeça das pessoas e essa, com certeza, é uma ordem do mestre! – retrucou.

— Tem certeza de que está certa sobre isso? – questionou Hermione, muito segura do que dizia e Narcisa travou. – Eu não preciso de uma imagem diferente do que a que eles mesmos têm construído sobre mim. Eu não preciso de você me dizendo como eu tenho que agir, o que tenho que falar, como e quando devo aparecer. Não sou sua criança. Farei isso por mim mesma e não me importo com a matéria, recebi uma série de elogios frios se não reparou. Posso não ser querida pelo povo, mas meu status está andando sobre uma classe com bastante poder, leia novamente e me negue isso. – sorriu - Para mim, no momento, isso basta. – tomou um gole do chá. – E sei por que queria me manter aqui. – devolveu a xícara para a mesa. – Sabia sobre a oferta que Nott iria me fazer, não sabia?

Narcisa suspirou irritada.

— Sim, sabia e era justamente...

— Odeio que todos saibam da minha vida, exceto eu. – cortou Hermione. – Sei que sendo quem eu sou nesse inferno de lugar, não me resta escolha a não ser viver assim, mas acha que vou me calar diante disso? Você me manteve presa, por interesse próprio, quis me afastar da catedral, pois sabia da proposta de Nott, sabia que isso havia vindo do seu mestre. Você me jogou uma lista de meias desculpas, justificativas irracionais. Acha que sou estúpida? Queria me colocar não seu jogo. E por quê? – Hermione a questionou. – A única resposta que me vem à cabeça é que me quer tão Malfoy quanto você ou quanto qualquer outra esposa na história da família: desocupada, inútil e fútil.

— Como ousa dizer isso! – Narcisa vociferou. – Não tem idéia do que é cuidar de uma casa, Hermione!

Hermione riu.

— Não posso acreditar que eu estava certa! – exclamou ela. – Por quanto tempo achava que correria contra uma vontade vinda de Lorde Voldemort, dentro do império dele?

— Pare de dizer o nome dele! Você deve respeito ao mestre! – Narcisa foi severa.

— Pare de me dizer o que fazer! – ela se levantou. – Essa é a minha casa, eu não sou uma criança e você não tem nenhum poder sobre mim.

— Eu estou apenas tentando te proteger! – dessa vez, Narcisa quase gritou.

Hermione finalmente se calou e quando Narcisa escutou o eco de suas próprias palavras, se julgou insana por tê-las dito. O silêncio entre elas foi incômodo e confuso. Narcisa repreendeu a si mesma pela atitude, pois sempre se arrependia quando perdia o controle! Quando aprenderia a manter-se estável sempre? Quando? Uma vida de arrependimentos nunca seria o suficiente?

— Proteger? – Hermione repetiu perdida. – Me proteger? – ela fez a expressão mais confusa que Narcisa já vira. – Por quê?

Narcisa soltou o ar, cansada. Fechou os olhos frustrada e lamentou por ter aberto a boca.

— Entenda Hermione, nenhuma Malfoy jamais trabalhou. – a encarou - Talvez você pense que cuidar de casa, manter uma família, seja uma tarefa simples, mas não é.

— Não é isso que quero saber. – interveio Hermione.

— É melhor que fique em casa. – apressou-se Narcisa. – É melhor que se dedique a uma vida social, a cuidar de seu marido, a manter a ordem de sua casa. É melhor que procure se manter afastada da catedral...

— Por quê? – cortou Hermione, confusa. Cada palavra que Narcisa dizia parecia desagradá-la ainda mais. – O que isso tem haver com me proteger? Por que quer me proteger? O que quer de mim? Qual é o seu jogo?

— Eu não tenho nenhum jogo, Hermione! – Narcisa se irritou. – Eu sou apenas a esposa de um comensal...

— A mulher do Primeiro Ministro. – cortou Hermione com arrogância.

Narcisa revirou os olhos.

— Sim, eu posso saber de muita coisa, mas eu não sou eles! Não faço parte do ciclo interno deles, não tenho poder. Sou apenas a mulher de um comensal, o que acha que eu iria querer de você?

— Me diga isso, você! – exclamou ela dando a volta na mesa – Foi você quem surgiu com a idéia de me manter aqui, como se fosse uma questão de sobrevivência! Foi você quem me tirou da catedral e me colocou aqui, foi você quem disse aos empregados da casa para me manterem aqui, foi você quem deu meias informações quando eu questionava o motivo de eu não poder sair, e agora me diz que quer me proteger? – Hermione riu. – Sim, Narcisa. – aproximou-se – Qual o seu jogo?

Narcisa se calou. Ela não tinha o que dizer. Nada que ela pudesse tentar dizer ou nenhuma maneira de se expressar, poderia fazer Hermione descer do pedestal da eterna dúvida. Ela era uma prisioneira e sabia que sua vida era um jogo na mão de qualquer um dentro daquele lugar. O que Narcisa poderia fazer para lutar contra isso? Não havia palavras que pudesse confortar a pobre criatura.

— Desconfia de mim. – disse Narcisa e soltou o ar, cansada. – Sabe de uma coisa, Hermione? Você realmente tem todos os motivos. Não posso julgá-la estúpida por isso, pelo contrário, faz bem. Mas apenas quero que saiba que eu estou nesse mundo há mais tempo que você, e acredite, não vai querer estar no meio deles. Sei que desconfia que eu me preocupe com você quando eu não deveria, mas nós duas não somos muito diferentes uma da outra, agora. Temos o mesmo status, carregamos o mesmo anel, o mesmo sobrenome, viemos de fora para dentro desse império, dessa linhagem, os Malfoy. Agora, você é da família e não importa que a família Malfoy seja apenas uma fachada para todo o mundo, para mim família é família e eu sempre irei prezar por ela. – aproximou-se – Confie em mim.

Hermione a olhou nos olhos, por um longo minuto silencioso, até finalmente piscar e responder calmamente:

— Nunca.

Narcisa soltou o ar e assentiu.

— É compreensível. – disse, e então o silêncio durou alguns segundos entre elas – Eu sinto muito por você, Hermione. – finalmente disse. – Realmente, sinto. – o olhar que Hermione lhe lançava era a prova de que ela não acreditava em nenhuma palavra. – Eu sei o que é ser tirada do meio de pessoas que te amam e ser colocada em uma casa, com um estranho, para o resto da vida. Eu posso lhe garantir que não é uma vida muito feliz, mas você ao menos entrou nela consciente disso. – Narcisa sentiu seu coração apertar, como sempre sentia quando se lembrava de como ela se sentira a mulher mais feliz e sortuda do mundo no dia de seu casamento. – É muito mais difícil quando se entra nessa vida cheia de esperanças, e de repente, você tem que aprender a lhe dar com todas elas, ruindo bem longe do seu alcance. - Hermione finalmente mudou seu olhar. – Acredite, tudo que eu fiz foi porque sei como as coisas funcionam do lado de cá. Tem que dizer não a Theodoro.

— Por que não me disse isso, quando questionava o porquê tinha que ficar presa aqui? – perguntou Hermione dessa vez, sem o tom agressivo de antes. – Me manteve aqui com o propósito de adiar a proposta de Nott. Por quê? O que tinha em mente? Convencer-me a viver como você antes que ele me fizesse à proposta? Achava mesmo que ia conseguir?

— Não. – Narcisa foi sincera. – Mas eu tinha que tentar.

O silêncio pairou sobre elas, enquanto se encaravam. Era óbvio que Hermione ainda não acreditava totalmente nela, mas parecia ter apreciado a sinceridade com a qual Narcisa conduzia as palavras.

— Vou dizer sim, a Nott. – Hermione quebrou o silêncio. Havia o tom de sua teimosia na afirmação, mas dessa vez também vinha carregado como um pedido de desculpas à luta contrária que Narcisa havia travado para que ela não dissesse aquilo.

— Hermione...

— Por favor. – Hermione cortou Narcisa que estava pronta para partir para um tom apelativo. – Se eu me arrepender, a responsabilidade dessa escolha estará sobre mim, portanto, deixe que eu conduza as coisas da minha maneira. Isso não impede que me dê avisos ou que me alerte sobre algo, mas não tenha a atitude de tentar me manipular, novamente. Eu não sou um fantoche. – ela foi cuidadosa ao dizer aquilo.

Narcisa não gostava da idéia de saber que havia agido errado, mas não pediria desculpas, ela tinha um ponto a provar e se Hermione fosse esperta, ela se deixaria ser um fantoche em suas mãos porque ela não tinha a menor idéia de onde estava se metendo. E afinal, ela era uma grifinória, o senso de coragem daquele tipo de gente, às vezes ultrapassava o potencial de esperteza e como uma Sonserina, Narcisa tinha todo o direito de até dizer aquilo.

— Apenas lhe digo para não se infiltrar em um meio que não sabe como funciona, Hermione. É isso que eles querem. Seja mais esperta. Recolha-se. – tentou.

— Não sou covarde. – ela disse segura de si. – E também não sou nenhuma estúpida. Tenho lutado em uma guerra, por anos. Sempre estive nas linhas de frente, acha que vou simplesmente me conformar a uma vida dentro de casa? – ela suspirou. – Ainda não acredito que não tenha algum jogo, por trás da sua idéia de me manter longe da catedral, mas se realmente está sendo verdadeira, apenas peço que confie em mim.

Narcisa não confiava.

— Você não sabe o que está fazendo, Hermione.

— Sim, eu sei. – ela foi confiante, novamente.

Narcisa soltou o ar, cansada. Não se importaria mais. Se Hermione estava tão segura do que fazia, que ela convivesse com os seus arrependimentos, mais tarde.

— Eu a avisei. – alertou Narcisa.

— Guardarei seu aviso. – disse Hermione e deu as costas. – E já que está aqui, preciso deixar algo bem claro. Eu me casei com o seu filho, portanto essa é a minha casa e eu a conduzirei da forma como eu bem entender. Não me diga como tenho que me portar aqui, como eu devo dar ordens, como devo me apresentar, a que horas devo acordar e como devo tratar Draco. Essa é a minha casa e dele. Tenho certeza, que qualquer desentendimento será resolvido por nós. Não girarei em torno do mundo dele como quer.

Narcisa uniu os lábios, sabendo que aquele discurso viria em algum momento. Hermione era uma péssima esposa e por isso Lúcio e ela jamais a escolheriam como uma possível candidata para Draco, mesmo que ela não fosse uma Sangue-Ruim. Narcisa jamais entenderia porque Lúcio havia sugerido a união dos dois para Voldemort, certamente, ele tinha um ponto a provar, confiava no marido, ele sempre havia feito escolhas duras, porém boas para a família, ou melhor, para a segurança do nome Malfoy e querendo ou não Narcisa estava grata por fazer parte do meio.

— Faça como quiser, Hermione. – estava cansada. – Se quiser seguir pelo caminho mais difícil, não sou eu que irei convencê-la do contrário. Pude notar que é demasiadamente teimosa para isso.

Hermione sentou-se. Forçou um sorriso e disse:

— Perfeito. – pegou sua xícara e tomou um gole do chá. – Sente-se. – ela apontou para uma das cadeiras próximas a mesa. – Seja minha convidada. – Hermione foi muito educada ao dizer aquilo. – Quer um chá?

— Está mesmo tomando chá, na biblioteca? - desaprovou Narcisa.

Hermione suspirou.

— Minha casa, minhas regras. – ela retomou o assunto, cansada ao perceber que Narcisa não havia absorvido tudo que ela havia dito.

— Vai ter problemas com Draco, quando ele souber disso. – ela contornou.

— Bem, tenho certeza que iremos lhe dar com isso no futuro. – forçou um sorriso, novamente. – Iremos aprender a viver na mesma casa. Foi capaz de fazer isso com seu marido, não foi?

— Sim, Hermione. Eu fui. E Lúcio e Draco são mais parecidos do que você pode imaginar. Eu sei como deve se portar para viver em paz, estou tentando lhe dizer, mas você é teimosa o bastante para aceitar.

Ela riu.

— Quem disse que eu quero viver em paz? – Hermione colocou a xícara sobre a mesa – Essa não é a vida que eu quero, pra que eu preciso de paz nela? – se levantou e pegou um dos livros sobre a mesa, foi até Narcisa e o estendeu para ela. Narcisa o pegou e encarou a figura desenhada de uma moeda prata com o brasão igual dos dois lados. – Essa é uma das 100 moedas da Liga dos Alquimistas do século XII. A liga se rompeu no século XVI com a caça as bruxas, e metade das moedas foram guardadas nos cofres da família Malfoy que eram os mais seguros da época. Sei que depois de quase dois séculos elas se tornaram propriedades da família pelo testamento de um dos alquimistas da liga e pelo bom cuidado que o patrimônio teve durante todo esse tempo guardado. No século passado, a Ordem de Merlin comprou uma boa quantidade delas e a distribuiu entre os membros da primeira classe, o resto continuou com sua família...

— Nossa família. – corrigiu Narcisa e Hermione tomou um segundo para respirar, quando quase contra argumentou com aquilo.

— Sim. – teve que concordar. – Quero saber se tem mais alguma informação sobre isso.

— Por que quer saber disso? – Narcisa questionou confusa.

— Não importa. Apenas quero saber. Vi que Draco carrega uma com ele. – disse Hermione.

— Sim. Draco gostava delas quando era criança. Lúcio deu a ele umas cinco, disse que eram tesouros muito antigos e que era uma missão que ele cuidasse delas como cuidava da própria vida. Você sabe, crianças. Draco ficou todo fascinado, mas deixou de dar atenção a elas depois de um tempo porque não havia um real motivo para cuidar delas. Nenhum perigo as ameaçava, ele apenas as guardou.

Hermione pareceu processar aquilo com atenção, enquanto voltava para sua cadeira e se sentava.

— A família ainda possui muitas delas? – perguntou.

Narcisa não fazia idéia. E por que Hermione parecia tão interessada, naquilo?

— Não sei. – deu de ombros. – Apenas sei que elas fazem parte de um seguro econômico da família. A Ordem de Merlin apenas conseguiu comprar alguma delas porque, naquela época, algum terço do tesouro da família deveria estar ameaçado. O preço delas vive oscilando, mas sei que a cada ano elas valorizam. Dumbledore tinha uma pela Ordem de Merlin, foi enterrada com ele quando morreu, mas sei que ele tinha mais duas, que havia comprado dos pais de Lúcio há muitos anos atrás, em troca do silêncio de algum segredo que não sei. – Hermione havia erguido os olhos para ela, no momento, em que havia mencionado o nome de Dumbledore.

— Dumbledore tinha mais de uma? – ela fez a pergunta mais para ela mesma do que para Narcisa.

— Sim. Por que o interesse nisso, Hermione? – perguntou e ela negou com a cabeça.

— Estou apenas procurando me manter ocupada. – Hermione forçou um sorriso. – Há tantas histórias sobre os Malfoy, que eu não sabia. – era notável que ela estava fugindo da pergunta de Narcisa. – Já que agora faço parte dela, me sinto na obrigação de saber onde estou pisando.

Narcisa não insistiria. Fingiria que havia engolido aquilo.

— Faz bem. – se limitou a dizer, e então o silêncio finalmente veio. Observou Hermione, enquanto desviava os olhos para a bagunça em sua mesa e passava as mãos sobre as páginas dos livros, perdida nos próprios pensamentos. Ela estava escondendo algo. Narcisa pagaria muito para saber o que ela estava tramando, mas certamente era melhor mostrar que estava convencida de que não era nada importante. – Onde está Draco? – perguntou.

Hermione deu de ombros, ainda imersa em seus pensamentos.

— Não sei. – respondeu, sem tirar os olhos dos livros. – Quando acordei, ele já não estava mais aqui.

O desinteresse dela fez Narcisa perceber que o dever que Draco deveria ter cumprido ao voltar para casa na noite anterior, não havia sido cumprido.

— Como foi a noite? – ela perguntou. Hermione piscou e ergueu os olhos para ela. Ambas trocaram olhares e Narcisa soube que ela havia entendido sua pergunta.

— Desconfortável, visto que o seu filho é mais espaçoso do que eu imaginava. – ela respondeu e Narcisa soube que a noite de núpcias deles não havia acontecido. Perguntou-se o porquê de Draco estar querendo adiar aquilo, ele não poderia ir contra uma ordem de Voldemort, por tanto tempo assim.

Narcisa respirou fundo e se levantou.

— Bem, já que você é teimosa para seguir minhas lições, eu as cancelarei. Se quiser saber sobre elas um dia, sabe onde me procurar. Mas saiba de uma coisa. Você é uma de nós, agora. É uma Malfoy. Tudo que você faz vira história, portanto tome muito cuidado com qualquer decisão ou atitude que venha expor. – aproximou-se. – E também há uma coisa que deve saber. Essa família é muito importante, portanto quero que entenda que nós sempre iremos vir em primeiro lugar. – disse pausadamente - Nós sempre seremos prioridade. Nós, Hermione. Ninguém mais. – ela não respondeu, mas havia escutado bem. – Eu sei o caminho até a saída. – finalizou e deu as costas.

Theodoro Nott

— Lupin? Remo Lupin? – Theodoro riu – Morto? - riu novamente, sentando-se em sua mesa. – Como eu desejei isso quando ele nos ensinou Defesa Contra a Arte das Trevas.

Draco riu.

— Morto. – confirmou ao passar a mão sobre a barba que apontava em seu queixo, acomodando-se na cadeira da qual estava sentado. – Não há dúvida de que o colocaram dentro de Azkaban durante a rebelião. Foi um perigo para ambos os lados, tanto o da Ordem quanto o nosso. Era lua cheia. Mas ficou claro que a Ordem precisava focar nossa atenção em um ponto, para que já fosse tarde, quando notássemos os fugitivos.

— Mais mortos além de Remo Lupin? – perguntou Theodoro.

— Quase metade das zonas iniciais que são responsáveis pelo armamento de Azkaban. – lembrar aquilo evidenciou a preocupação de Draco. – Dois líderes de resistência. Um do sul da Europa, outro das Américas. Faziam parte do grupo fugitivo, mas ficaram para trás. A Ordem teve uma perda quase insignificante, comparada à nossa. Me preocupo com isso chegando nos jornais dos Fortes do mestre. Não há como esconder do povo que algo muito grave está acontecendo, você terá que cuidar disso.

— E os dementadores? Sabe que o tempo está se esgotando.

— Estou trabalhando nisso.

Theodoro duvidou. Conhecia o amigo.

— Draco, isso deveria ser a única coisa na qual você deveria estar trabalhando. – alertou e aquilo irritou Draco.

— Se você fosse capaz de fazer o meu serviço, certamente não seria um governador, Theodoro. Eu disse que estou trabalhando nisso e é o suficiente. Não posso me focar apenas em algo, talvez seja isso que os rebeldes queiram agora. Tenho que ser muito mais cuidadoso. – Draco suspirou cansado.

— Logo a mídia vai bater nessa tecla. Se não leu o Diário do Imperador de hoje, não percebeu que eles já estão começando a desconfiar de algo. Eu tenho que segurar a cidade.

— Diga que está tudo sob controle.

— E está? – perguntou receoso.

— Faça o seu trabalho, Theodoro. Eu faço o meu. – findou Draco.

Theodoro mostrou as mãos em sinal de paz. Estava preocupado com a forma como aquilo estava demorando mais do que ele esperava para se estabilizar, mas realmente não iria contrariar o trabalho do amigo, ele sabia o que fazia. Não estariam onde estavam naquela guerra, se não fosse por uma importante ajuda dele.

— Você vai ficar muito tempo fora, dessa vez? – Nott perguntou, sabendo que Draco sairia pelo portão leste em alguns minutos.

— Espero que não. – respondeu.

— Tenho certeza que sua mulher sentirá sua falta. – brincou Theodoro, rindo. Draco revirou os olhos. – Como foi a noite? Me conte o quanto a nova Sra. Malfoy pode ser sexy.

— Tire os olhos dela. Ela tem o meu sobrenome, não o seu.

— E você parece bem orgulhoso disso.

Draco riu.

— Hermione foi uma pedra no meu sapato desde que a conheci, e quando imagino o ódio que ela deve sentir tendo o meu sobrenome, pertencendo a mim e toda essa situação, confesso que até me sinto recompensando. Mas o que não quero é tê-la por perto por toda uma vida. Não quero ter que me preocupar com ela por ser uma Malfoy, agora. Não quero ter que cuidar dela. – suspirou – Não ela.

— Ela não é boa na cama? – perguntou Theodoro e Draco fez uma careta, como se ele tivesse feito um comentário inconveniente. – O quê? – mostrou as mãos – Não fique agindo como se não conversássemos sobre isso!

— Ainda não fizemos sexo, Theodoro! – Draco disse.

Nott se surpreendeu.

— Não? Pensei que tivesse voltado para Brampton Fort porque o mestre estava o pressionando com aquele lance de herdeiro e tudo mais.

Draco revirou os olhos.

— Sim, sim. – confirmou e Theodoro pode perceber que ele estava incomodado com aquilo. – Mas levar Hermione para a cama, não é como levar qualquer outra mulher. Ela não quer ir para cama comigo, é evidente. Não posso simplesmente forçá-la.

Theodoro riu.

— Você é Draco Malfoy! Pelo amor de Deus! Se esqueceu do seu poder de sedução, ou o quê?

Draco não estava gostado da conversa.

— Ela não me quer! – os dentes dele estavam cerrados. – Eu nunca tive uma mulher que não me quisesse.

Theodoro continuava a achar aquilo hilário.

— Bem vindo ao mundo real, Draco. – soltou. – Às vezes algumas mulheres não nos querem até as convencermos do contrário. Tem apenas que seduzi-la.

— Perdeu a cabeça, Theodoro? – Draco se irritou. – Se eu seduzi-la, eu estarei seduzindo Hermione Granger! Sim, aquela de Hogwarts! Sangue-ruim e irritante sabe tudo! Aquela amiguinha do Potter, aquele que acabou com metade das minhas zonas iniciais semana passada! Ela, a mulher responsável pelas derrotas que eu já tive! O cérebro por trás daquilo que eu lutei todos esses anos! Eu tenho sim, o pingo do orgulho que me faz ter consciência de que ela não é apenas uma mulher... – ele parou subitamente, sabendo que teria que admitir aquilo em voz alta. -... Uma mulher muito bonita. – se esforçou para fazer com que soasse um pouco menos do que Hermione realmente era.

Theodoro riu e deu de ombros.

— Sendo assim, eu imagino que as coisas entre vocês ficarão bem complicadas. – disse. – Você não a quer, ela não te quer e nenhum dos dois fará nenhum esforço para fazer o serviço que devem fazer. – riu – Acha que o mestre vai deixar que isso rolar, pelo tempo que me parece que rolará? Fala sério, Draco! Olhe-a como mulher! E que mulher! Pelo amor de Deus, não é tão difícil agarrá-la e levá-la para cama! Mesmo que ela lute, veja isso como um dever, e se ela lutar pelo menos você estará a fazendo sofrer.

Draco se calou por alguns segundos, como se estivesse considerando o que tinha escutado.

— Já pensei dessa forma. – disse ele. – Mas não posso fazer isso. – se levantou. – Não sou nenhum tipo de estuprador ou... – ele parou, perturbado com a idéia do que havia acabado de dizer – Não importa. Não posso. Meu corpo não reagiria com uma mulher lutando contra mim, esqueça isso. Estamos falando sobre sexo e eu não sei fazer isso sozinho, existem duas partes envolvidas no processo. – deu as costas. – Tenho que ir, eu tenho uma chave de portal me esperando daqui a 30 minutos, no portão leste. Segure a cidade só mais essa semana. – pediu.

Theodoro achou graça na tentativa de escapatória dele.

— Se eu fosse você, não conseguiria dormir com uma mulher daquela de camisola do meu lado. – ele tirou sarro.

— Se eu precisar de sexo, eu tenho a mulher que eu quiser aqui dentro e lá fora, Theodoro. – Draco disse, já a altura da porta.

— Não ela. – provocou Nott. Draco apenas lhe lançou um último olhar irritado, abriu a porta e saiu por ela.

Theodoro sabia que ele passaria os próximos dias, perturbado com aquilo, conhecia Draco Malfoy. Riu com o próprio pensamento e se levantou de sua cadeira, juntou os papéis em sua mesa e os carregou para fora de sua sala. Tinha uma conferência dentro de uma hora com todo o departamento, aquilo estava demorando mais tempo do que ele esperava para se resolver. Draco tinha que tomar uma atitude com relação aquilo, ainda àquela semana.

Assim que saiu de seu hall privado deu de cara com Olivia, sua secretaria, uma tia nada atraente de uma família a qual devia um pequeno favor, ao norte da cidade. Entregou os papéis a ela e disse:

— Leve esses formulários para serem validados... – se calou, ao sentir seu pulso formigar. O calor subiu pelo seu braço e fez os pelos de sua nuca de arrepiarem. Suspirou. – Esqueça. – disse, deu as costas e tomou o rumo para fora da sessão.

Teve que cruzar toda a catedral para pegar a escada que dava acesso à torre principal. Estava tudo tão vazio e quieto, que apenas levou alguns minutos para tomar a subida eterna para a torre. Durante o caminho, procurou esvaziar sua mente. Assim que chegou ao topo teve que puxar a manga de sua blusa e mostrar a marca nítida em seu braço para o guarda independente que vigiava a porta do gabinete do mestre. A porta foi aberta e Theodoro pôde passar.

O gabinete de Lorde Voldemort era um confinado octógono de teto alto com janelas altas. Ele mantinha a lareira acesa, fazendo com que sempre tivesse fumaça pairando no ar para distribuir a luz restrita que vinha das janelas, sem tornar tudo claro demais para seu gosto. Theodoro adentrou o local e aproximou-se da figura sentada atrás de uma simplória e única mesa de mogno.

— Demorou. – a voz de Voldemort cortou o silêncio.

— Tive que cruzar toda a catedral. – justificou-se, sabendo que não iria adiantar se seu mestre estivesse de mal humor.

— Sente-se. – ele foi direto. Theodoro aproximou-se, puxou a cadeira e sentou-se. O silêncio durou alguns segundos. Eram naqueles segundos que Theodoro tinha a impressão de que Voldemort alcançava qualquer memória em sua mente, que nem ele mesmo tinha idéia de que podia existir. – Algo para beber? – ofereceu Voldemort.

— Não. – respondeu Theodoro.

— Então acredito que possamos pular as formalidades. – disse o mestre.

Theodoro sentiu um calor se espalhar pelo seu corpo. Pular as formalidades com seu mestre era alcançar um nível que apenas quem se sentava nos patamares mais altos do salão principal, conseguia. Ele sempre havia lutado por isso. Faria qualquer coisa para ter seu próprio patamar nos tronos da nave principal.

— Como quiser, mestre. – limitou-se a dizer.

Voldemort se reacomodou em sua cadeira, antes de continuar:

— Hermione esteve aqui ontem. Sei que ela foi a sua sessão.

— Sim, ela foi. – confirmou Theodoro.

— Ela pegou as pastas?

— Sim.

Silêncio.

— Estou esperando que você me diga mais sobre isso. – manifestou-se ele.

Theodoro martirizou-se em silêncio.

— É óbvio que como o esperado, o tamanho do cargo fez com que Hermione desconfiasse que estão tentando mantê-la ocupada dentro de Brampton Fort. Ela sabe que estão tentando afastá-la da guerra.

— E ela irá dizer sim, porque ela quer que pensemos que caiu na cilada. – disse Voldemort.

— É isso que quer? – Theodoro estava confuso. – Que Hermione saiba que é uma cilada? Ela irá dizer sim sabendo que você sabe que ela sabe que é uma cilada. – ele se sentiu patético e riu fracamente.

Voldemort sorriu.

— E eu chamo isso de jogo. E sabe o que é mais interessante? Não é o meu jogo, nem o dela. É apenas um jogo e isso cheira desafio. – O Lord soava insano, mas para alguém que dormia com Bellatrix Lestrange, não era nada tão bizarro. – Quero conhecer as estratégias de Hermione e esse cargo, definitivamente, é a base para um bom começo.

— Ainda não temos o sim dela. – alertou Theodoro.

— Sim, nós temos. Ela apenas ainda não nos disse. Acredite, Theodoro, aquela mulher lutou na linha de frente de uma guerra por muitos anos. Ela está louca para entrar de cabeça nesse jogo. Hermione está louca por um pouco de ação. – Voldemort se levantou calmamente e aproximou-se da lareira com o fogo baixo. O silêncio durou, como se o mestre estivesse esperando um bom momento para continuar. – Draco passou a noite em Brampton Fort. Acaso o viu? – ele finalmente disse.

Theodoro estranhou o comentário e a pergunta.

— Ele foi a minha sala hoje pela manhã, antes de ir embora. – contou.

— Sobre o que conversaram? – ele parecia interessado naquilo.

Aquela era uma pergunta muito abrangente. Theodoro teve que respirar fundo e assim ganhar tempo para se lembrar de tudo, mas subitamente se conscientizou do ponto ao qual Voldemort, certamente, estava interessado.

— Quer saber se Draco levou Hermione para cama? – foi direto.

Voldemort voltou-se para ele com aquele sorriso aterrorizante nos lábios e Theodoro sentiu que dali emanava maldade, mas de uma maneira muito sutil. Ele gostava daquilo.

— Você pode me pôr a par disso? – Voldemort avançou com calma, Theodoro sorriu, sabendo que a oportunidade que estava tendo ali, talvez fosse a única de sua vida.

— Eles não se querem. Se odeiam. Sei o quanto Draco sempre a odiou. Pelo que ele me tem dito Hermione também não pensa diferente. Mas ele se sente atraído por ela. Fisicamente. Qualquer um se sentiria. O problema, é que Draco é orgulhoso demais para tentar fazer qualquer aproximação e aparentemente, ela também. Eles não irão se encostar por vontade própria, você pode escrever isso. – Nott terminou.

— Eu disse a Draco que ele deveria voltar para casa e dormir com a mulher dele. Foi uma ordem...

— E ele a obedeceu. Draco foi para casa e teve uma bela noite de sono ao lado da mulher dele. – confirmou Theodoro. – Mas ele também sabe que o objetivo da sua ordem, não foi a que ele cumpriu. - Voldemort se calou e voltou a focar o fogo na lareira. Pelo minuto que ele se manteve inerte nos próprios pensamentos, Theodoro julgou que talvez pela primeira vez, Voldemort poderia começar a duvidar da lealdade de Draco. Não que realmente Draco fosse desleal, provavelmente, uma hora ou outra, ele iria acabar levando Hermione para cama, mas a ponta de esperança que estava aparecendo ali lhe parecia única, porque Theodoro sempre soube que Draco precisava perder sua posição para que as pessoas pudessem reparar nele. Draco era seu amigo, mas se para ganhar uma boa posição no ciclo de Voldemort, Theodoro tivesse que pisar nele, não se importaria. – Draco não tocaria em Hermione nem que ordenasse isso da maneira mais direta possível. Seria trair quem ele é. O conhece melhor do que eu. – ele não precisava colocar lenha na fogueira, mas aquela ponta de esperança lhe acendia a necessidade. – Conhece Draco, às vezes ele pensa que tem tanto poder que acha pode passar por cima da sua autoridade, mestre. – parou. Theodoro não arriscaria dizer mais nada. Restou a ele apenas acreditar que a faísca que havia acendido ali fosse o suficiente.

O silêncio de Voldemort foi perturbador, mas quando ele finalmente tirou os olhos da lareira e tornou a encará-lo, Theodoro soube que seria melhor adiar a reunião de sua sessão que estava agendada para aquele dia.

— Theodoro, - Voldemort soou tentador – gostaria de ser uma carta na minha manga?

Theodoro abriu um sorriso interesseiro. Finalmente ele estava vendo o motivo que o fez se tornar Comensal da Morte se materializar bem a sua frente, depois de tanto tempo.

Draco Malfoy

Aparatou no terraço de um prédio bem ao centro de Londres. O vento como sempre, soprava frio e úmido na noite avançada. Ele passou a mão sobre a barba uniforme em seu rosto e se perguntou quando teria tempo para se lembrar de tirá-la do rosto. Aquela era a última de suas preocupações.

Andou sobre o piso desregular, alisando suas roupas trouxas até a porta que dava para a escada de incêndio. Precisou usar a varinha para conseguir entrar. Draco odiava todas aquelas coisas de trouxas, sempre muito engenhosas, tudo que queriam era apenas imitar magia já que eram incapazes de fazê-la. Desceu até o nível da rua e andou pela calçada, escutando o barulho distante de uma avenida movimentada. Após cinco blocos de caminhada, ele finalmente chegou ao seu beco de destino. Ao lado de uma porta de ferro pintada havia um homem alto encostado na parede com as mãos no bolso. Draco se aproximou.

— Me deixe entrar. – foi firme.

— Convite. – pediu o homem, sem demonstrar interesse.

Draco concentrou-se antes de dizer:

— Não preciso de convite.

O homem o olhou confuso e, de repente, precisou de alguns segundos para piscar os olhos e abrir a porta para Draco.

A música com a batida pesada invadiu seus tímpanos, quando entrou pelo hall estreito e abarrotado de pessoas. Vozes altas, risadas, o som ensurdecedor, cheiro de bebida, drogas e fumaça o irritou, mas ele não desmanchou sua postura enquanto avançava por entre as pessoas. Houve uma época em que Draco gostava daquele tipo de ambiente. Não mais.

Subiu por uma escada de ferro ao mapear o lugar. O mezanino dava vista para um tumulto de gente que se fazia de louco de frente para um homem sobre uma mesa de som. Draco apenas caminhou, fazendo o perímetro. A porta pelo qual havia entrado, o direcionava para um lugar mais reservado e limitava seu acesso apenas ao mezanino e a uma área fechada, mas confortável e por onde o som entrava abafado e ele podia ver o tumulto logo abaixo.

Draco sentou-se no bar dali, após passar os olhos, sobre cada ser humano presente no local. Pediu por uma bebida forte e, sem muita demora, foi servido. Restou a ele apenas esperar enquanto bebia. Uma mulher sentou-se ao seu lado, após alguns minutos e tentou puxar qualquer assunto estúpido. Draco não deu atenção e logo a mulher desistiu. Cansado, ele checou o relógio sabendo que não poderia ficar muito tempo longe de sua base, mas aquela era a sua última tentativa de fazer as coisas voltarem ao normal. Ele tinha que arriscar aquela chance. Se desse errado, Draco confessaria que não tinha mais nenhum plano, que não sabia o que fazer, que precisaria de ajuda, mas para sua sorte, a uma altura da noite, o assento ao seu lado foi ocupado pela pessoa certa.

— Vodka. – pediu o homem e colocou sobre a mesa um punhado de moedas de prata. Entre elas, uma com o brasão da Liga dos Alquimistas. Draco estendeu a mão e puxou a moeda para si.

— Bebida barata, Potter. – comentou.

— Nem todos são acostumados ao luxo, Malfoy. – respondeu o homem.

— E nem todos tem classe para poder usufruir dele. – retrucou Draco.

O homem apenas riu fracamente e tomou em um gole só a bebida que havia sido posta a sua frente.

— É melhor que tenha uma boa razão para ter me chamado. – Potter seguiu - A última vez que nos encontramos foi há três anos e desde então, todo chamado que eu faço você ignora.

— Isso não é um brinquedo ou um correio coruja! Temos que manter o mínimo de contato possível. Isso é uma guerra. O chamei porque eu tenho interesses e sei que você também tem, e é pelo fato dos nossos interesses se baterem que nós estamos aqui! Não responderia nenhum chamado seu se soubesse que o estava fazendo apenas, para uma troca de informações barata, após suas incontáveis perdas durante os últimos três anos. – disse Draco.

— E o que a sua perda tem em comum com Hermione? – questionou Harry.

— Mais do que imagina, Potter. – respondeu.

Potter ficou em silêncio por alguns bons segundos. Ele pediu mais um copo de vodka e quando o recebeu, o virou de uma vez novamente.

— Ela está morta? – ele pareceu ter criado muita coragem para fazer aquela pergunta.

Draco o deixou agonizar a espera de uma resposta por alguns segundos, até finalmente a dar:

— Não.

Potter soltou o ar ao escutar aquilo. Cobriu o rosto com as mãos e ficou inerte, em algum estado de alívio e sofrimento, por alguns minutos.

— Estão planejando matá-la? – ele perguntou.

— Acha mesmo que o mestre iria matá-la, depois de tudo que ela fez pela resistência e por você? – Draco riu fracamente. – Seria um fim muito fácil para uma inimiga como Hermione.

— O que estão fazendo com ela? – Potter vociferou.

— Isso você não vai saber. – Draco saboreou o que aquela resposta iria provocar na cabeça do outro. Potter grunhiu, apertando os olhos contra seus punhos, num estado de agonia silenciosa. Ele pediu mais um copo de bebida e Draco se irritou com aquilo, arrastando o copo para longe assim que ele chegou. – Chega, Potter. – foi frio. – Preciso que esteja sóbrio para o que vamos discutir aqui.

O outro claramente se irritou com a atitude de Draco.

— Se fizer algum mal a ela, eu juro...

— Escute. – Draco o cortou, cansado daquele jogo de coração ferido. – Eu não sei o que fizeram com os dementadores, mas sua Sangue-Ruim está presa em um lugar que irá desmoronar junto com ela, se não devolver as criaturas para os lugares de onde as tiraram! Para ser mais claro, ela irá morrer e a culpa será sua porque o poder de deixá-la viva, agora depende de você.

Harry precisou de tempo para processar tudo aquilo.

— Espere. – ele se manifestou, finalmente. – Por que precisa tanto de dementadores, ao ponto de me fazer uma ameaça como essa?

— Eu já te dei mais informações do que esperava. Tudo que você precisa saber é que se não liberar uma boa quantidade de dementadores até o final do dia de amanhã, Hermione estará morta e a prova que irei te dar para te garantir isso é o corpo dela sem vida. – Draco sorriu. – Libere os dementadores, Potter. Eles saberão para onde devem ir. O mestre a quer viva e isso depende de você.

— Então quer dizer que vocês dependem de dementadores. – comentou Harry finalmente, voltando seu olhar para Draco.

Draco precisou rir.

— Acha mesmo que eu te daria uma informação, desse nível? Temos ganhado essa guerra por um período bem longo, é preciso muito mais do que fizeram para nos preocuparem. – encarou Potter – Tudo que realmente precisa saber é: Lorde Voldemort quer a sua Sangue-Ruim viva e isso irá depender de você! Quem está retendo as criaturas é você!

— Acho que está blefando. – Potter retrucou.

— Sinta-se livre para descobrir isso por si só. – Draco se levantou. – Eu já me fiz bem claro. Se não quiser liberar os dementadores, não me fará diferença, eu sempre a quis morta de qualquer forma. – foi frio, colocou sua moeda na mesa para a troca, deu as costas e seguiu pelo caminho de onde viera. Sim, ele sabia blefar, não sobreviveria Brampton Fort se não soubesse.

— Espere! – Harry estava logo às suas costas. Draco parou. Aquilo não estava em seus planos. Deveria ignorar e seguir seu caminho, mas se viu voltando-se para o homem. Harry se aproximou cuidadoso. – Você a vê com frequência?

— Morreria por essa informação? – seria um grande favor que Potter faria a humanidade.

— Pode dar um recado a Hermione? – pediu ele em agonia.

Draco riu.

— Seu? Nunca. – deu as costas e seguiu seu caminho

— Diga que eu a amo! – Potter foi claro e Draco se viu estancando mais uma vez. – Diga que de todas as mulheres no mundo ela foi a única que eu sempre amei e que sei que sempre iria amar. Que se eu pudesse voltar no tempo, eu teria feito ser diferente entre nós mesmo na guerra, porque por ela valeria a pena, apenas por ela. – Harry sofria ao dizer aquilo. – Por favor. – ele implorou. – Eu preciso que Hermione saiba disso, para que eu possa viver em paz.

Draco voltou-se para o homem.

— Deveria ter nojo das próprias palavras, Potter. – disse com calma, deu as costas e finalmente conseguiu ir embora. Negaria aceitar, mas talvez a idéia de ter alguém no mundo amando sua mulher, tiraria seu sono por algumas noites. Algumas, Draco esperava. Apenas algumas. Porque por Hermione, não valeria a pena perder mais.


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Notas finais do capítulo

Então quer dizer que o Draco e o Harry se comunicam escondidos??? Ok, que são raras as vezes, mas mesmo assim!! Pessoal, segurem-se para o capítulo de domingo, viu?! haha Deixem nos comentários os seus pensamentos sobre tudo isso que está acontecendo e sobre o que esperam que vá acontecer! Também não esqueçam de curtir a página no facebook! Até domingo! :)