Portas do Coelho escrita por Dédalum Samigina


Capítulo 3
Boas-vindas ao País das Maravilhas




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Dizem os coelhos - e alguns gatos sorridentes também, que há muito tempo atrás existia um reino branco, o quinto e primeiro reino, governado por uma humilde rainha chamada Alice. Mas não se sabe ao certo, mesmo os imortais dizem não lembrar daquele tempo.

“Apenas uma lenda”, era o que pensavam.

Hoje, pessoas que de denominam Alices governam os 4 reinos. Cada um com sua história, subiram ao poder e ninguém desejava o contrário; governavam com sabedoria e há boatos de que foram eles que espalharam a lenda do Reino Branco.

Uma linda criança loura acorda em uma cama e, como tentativa de se localizar, vai até a janela, onde vê seu bosque e sorri. “Acjakar, eu encontrei você! Encontrei!”, exclama em voz alta devido à animação. Esta fora passageira e logo a menina se deu conta de que nada naquele lugar lhe era conhecido.

Estava em um quarto totalmente branco: do piso, passando para os móveis e paredes, ao teto. Olhou para a janela novamente e notou que havia 3 olhos no céu - o que era estranho já que estrelas apareciam durante as noites claras e não em dias parcialmente nublados que costumavam emitir apenas uma pálida luz.

Mas no momento aquilo não era de muita importância e a mente da menina logo se voltou para outras coisas: como havia chegado ali, onde estava o buraco do coelho e como voltaria para casa.

Por fim resolveu-se; iria sair e tentar esclarecer algumas coisas com Acjakar.

Em alguma sala de alguma outra torre encontravam-se um coelho comum, uma carta comum e um aparente camponês comum – um equívoco normal, pois era exatamente com isso que os governantes do país verde costumavam parecer.

O coelho havia guiado seu valete, segundo ser mais ocupado das Maravilhas, o qual trazia notícias de seu reino desgraçado pela tarefa de alimentar a todos os outros. Realmente era um ano de grandes dificuldades para todos.

Havia muitos anos que o país verde estava decrescendo de população enquanto a de outros só aumentava – poucos nas maravilhas que suportassem viver naquelas condições de trabalho, talvez; além de que a maioria costumava ir ao Amarelo, já não tão farto quanto antigamente.

“Com certeza ela vai visitar o nosso primeiro”, garantiu. “Eu darei um jeito.” Sorriu. Um belo e raro sorriso do jovem homem; radiante como o sol que regava de luz as belas flores de seu país.

O valete lhe devolveu o bobo sorriso, tranquilizado.

“Outro belo casal”, riu Enyo, que estivera escutando a conversa desde o início, em espera do momento para anunciar ao casal que a esperada estava ali.

É importante saber que a porta não estava chaveada, então Alice teve a decência de sair por ela e não pelo caminho mais próximo - a janela. Talvez isso tivesse sido um erro, já que logo na primeira curva do corredor se deparou com um valete azul armado, mas crianças como Alice não se importavam com isso e a garota seguiu adiante, cumprimentando alegremente a carta azul, que se curvou perante a menina e seguiu seu caminho.

A garota, por sua vez, ficou um tempo parada, se perguntando o que havia acontecido ali e, por fim, continuou andando e andando até chegar numa sala onde havia algumas pessoas lutando até a morte contra o tédio.

No tronco em meio a floresta, os maiores tomavam chá durante sua costumeira reunião. O Imperador Vermelho sentava na ponta, os irmãos amarelos estavam distantes de todos, a guerreira azul sentava do lado esquerdo ao Vermelho e atrás dela, em pé, posicionava-se seu valete.

O Gato e o Coelho estavam ocupados, do homem do chapéu não se tinha notícias e o Senhor Verde estava atrasado novamente.

“O coelho foi buscar ela hoje”, dizia o senhor de verde que acabara de chegar e se acomodava do lado direito da mesa, de ninguém estava longe. Ele era um homem jovem, porém com o físico cansado de quem trabalhou por anos e está prestes a se aposentar. Era uma carta em forma humana, pode-se dizer.

“O gato ouviu que ela não passa de uma garotinha”, comenta a guerreira enquanto seu valete balança a cabeça negativamente. Parte de seu povo acha que ela é contrária ao imperador, discordando de tudo que ele faz e tentando irritá-lo o máximo possível.

“A primeira dentre os vermelhos era uma garotinha também”, ofendeu-se o imperador.

“Deve ser por isso que a seu reino tem tantos seguidores”, o valete azul se vira em tentativa de abafar o riso.

“O que diabos está insinuando?”, o imperador pulou da cadeira, que teria caído se não estivesse plantada ao chão.

“Só estou dizendo que garotinhas são muito populares lá de onde você vem”, sorriu sarcasticamente enquanto punha sua mão na espada. Iria começar mais uma luta entre os dois; nesses momentos eles pareciam irmãos em desacordo.

“Só não machuquem Acjakar desta vez”, censurou o garoto amarelo enquanto saia acompanhado de sua irmã e do homem de verde.

Acjakar era a árvore mais linda que raros tinham a oportunidade de ver. Ficava escondida em meio a floresta e ao lado de um riacho, entre um possível perdido reino e os Países das pessoas que se reuniam naquele local. Suas folhas eram uma de cada cor, agrupadas conforme suas cores semelhantes. Algumas raras vezes, Acjakar mandava uma chuva de folhas p/ alegrar o coração dos agora nem tão puros governantes.

Foram em direção a casa, entraram na torre à esquerda e esperaram.

As torres eram uma parte parcialmente nova da construção, o chapeleiro havia contado que foram as primeiras Alices que construíram-nas com sua própria magia, porém ele não era sempre uma fonte de confiança e a Lebre de Março confirmava isso. “Certa vez ele me acusou de ter passado manteiga ruim no meu relógio” sempre comentava ofendida, “Era a melhor manteiga! A melhor!”.

O interior de cada uma era negro, “Queriam homenagear as Trevas, já que o exterior era branco” confirmavam coelhinhos menos tímidos. Coelhos raramente falavam com outros que não fossem habitantes das florestas - atitude sábia, já que eram em demasia caçados como presentes para jovens de 8 anos e também davam um delicioso ensopado.

Os móveis eram extremamente luxuosos e das cores de cada país, haviam várias estantes distribuídas entre os cômodos – os azuis e os amarelos concordavam que isto era necessário mesmo havendo uma biblioteca no subterrâneo do edifício –, as quais faziam o prédio ser ótimo para a exploração; algumas formavam labirintos bobos e simples, outras escondiam passagens secretas funcionando como portas.

Havia correntes de ar no verão e no inverno não existia lugar mais confortavelmente quente, o que se devia às janelas bem posicionadas e também as lareiras – praticamente uma em cada cômodo.

Alices poderiam muito bem morar ali nos tempos de maior prosperidade, mas este não era um destes tempos – um inverno rigoroso estava por vir e os governantes precisavam se organizar para o não sofrimento do povo.

A irmã amarela subiu para seu quarto no segundo andar, onde uma lareira acesa a estava esperando, pegou o livro que descansava em cima da poltrona e lá se sentou. Observava o céu cinza pálido, de vez em quando voltando o olhar para dentro de Acjakar, conferindo se os dois riquíssimos haviam parado com sua lutinha.

Ela costumava ser o ás, o cérebro, de sua rainha – e mãe - até o dia de sua morte. Como ainda era jovem, seu irmão foi eleito para a ajudar a realizar suas tarefas, tornando-se seu valete. Os jovens do país dourado observavam de longe o progresso do império, intervindo somente quando passavam dos limites do aceitável.

Seus olhos eram afiados e amarelos, era mais baixa que a maioria das pessoas - porém sonhava alto e tinha uma incrível mente, seu cabelo pendia solto na altura dos seios e trajava um vestido de gala que a incomodava.

Foi em direção ao roupeiro, do outro lado da sala e pegou sua roupa de dormir. Não, ela não podia se dar este luxo, teria de esperar até a garota aparecer. Suspirou. “Jamais tive que passar por isto quando era meramente um ás.” Voltou para a cadeira. Ele tinham terminado a luta e estavam rindo juntos, com o braço em volta do pescoço do outro. Enyo sorriu com a cena.

No primeiro piso, Nemie, o irmão amarelo, colocava lenha na lareira enquanto Ows escrevia no diário do país verde. Seria uma longa manhã.


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