The place that never sleeps escrita por Elizabeth


Capítulo 12
Inconveniência




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Eu tinha a absoluta certeza de que estava no fundo da mala e o achei, para a minha sorte. O vestido que eu havia ganhado de Edith ano passado no meu aniversário. Em uma tarde de compras no shopping havíamos passado por uma vitrine e desde a primeira vez que pus os olhos nele me apaixonei. Seu comprimento vai até três dedos antes do joelho, a saia contém pregas bem espaçadas, a cintura é delicadamente demarcada, o decote é mínimo e comportado mesclado com as alças grossas. O tecido é macio e espesso contendo um zíper discreto nas costas, tudo isto banhado em um azul marinho tão escuro que pode facilmente ser confundido com preto à noite.

Vestido:(https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/c6/af/f9/c6aff9625c9fdb1783c49c13ee806775.jpg)

Penteei meu cabelo e passei um bom tempo tentando criar algo decente, quando minha paciência expirou fiz um rabo de cavalo na parte baixa da cabeça, desfiei alguns fios para não deixá-lo muito formal. Maquiagem simples e natural, e desta vez, a ocasião pedia um salto alto. O’Conner disse que me buscaria em casa então não saí do quarto até que tia Joyce me chamasse.

— Aurora! — ela berrou do andar de baixo. Desci as escadas com cuidado, não seria agradável passar o resto da noite em um hospital. — Dean acabou de chegar. Entre, querido.

— Obrigado senhorita… — ele esperou.

— Joyce — respondeu ela quase corando.

— Quem está aí? — perguntou tio Roger, arrogante e curioso.

— É Dean, filho dos O’Conner! — ela gritou de volta.

— Não faço ideia de quem é!

— Com licença, é melhor eu ir falar com ele. Oh, Aurora, você está linda — elogiou tia Joyce ao me ver — Divirtam-se.

— Obrigado — respondeu Dean — Vamos?

A noite estava calma apenas no céu, as ruas do Brooklyn continuavam com seu movimento constante. O’Conner fez questão de segurar minha mão desde que cruzamos a esquina da casa e aquela sensação boa se repetiu.

— À propósito, você está linda — ele disse sorrindo.

— Já me acostumei com seus elogios — devolvi o sorriso. — Não é tao ruim assim.

Chegamos ao restaurante e dizemos nossos nomes na recepção, um homem de trajes formais nos guiou até uma mesa ao lado da janela de vidro do estabelecimento. Brad ainda não estava lá, o hostess ofereceu alguma bebida, porém decidimos esperar um pouco. O ambiente era sofisticado, as pessoas trajavam vestes caras, mas fiquei feliz em ver que Dean e eu nos vestimos conforme a ocasião.

— Eu não teria tanto dinheiro para trazer você a um lugar assim. — houve um pouco de decepção em sua voz.

— Quem disse que eu gosto de lugares assim? Preferiria que eu e você fôssemos tomar um café e comer um sanduíche com recheio de mostarda.

Ele deu uma gargalhada cômica por isto.

— O Brad sempre levou você a lugares tão… chiques?

Levava — corrigi — Ele sempre gostou de ostentar embora o dinheiro e o carro fosse do pai dele. Sempre foi muito egocêntrico também.

— Falando no egocêntrico — ele olhou para alguma coisa que vinha atrás de mim.

— Boa noite — Brad apareceu ao meu lado.

— Boa noite — eu e Dean respondemos em uníssono.

O’Conner logo se levantou da cadeira à minha frente para que Brad sentasse e depois se pôs no assento ao meu lado.

— Desculpem o atraso — ele disse se sentando — É que eu estava em uma merda de reunião com meu pai.

O tom e o modo com que a voz dele soava não enganou minha audição ou muito menos meus conhecimentos sobre ele.

— Ele está bêbado — sussurrei para Dean.

— Garçom, garçom! — gritou Brad até que um lhe atendeu — Três whiskys.

— Na verdade, só um — reagi — E duas sodas.

Brad vestia um terno, mas nem isso o livrou da aparência ridícula com a qual estava agora, a barba mal feita, o cabelo despenteado e as roupas amassadas. Pouco tempo depois que as bebidas chegaram ele resolveu se desfazer do paletó e da gravata.

— Então, estão juntos, não é? — ele praticamente soletrou as palavras. — Quanto tempo?

— Não muito — Dean respondeu.

— Hum — ponderou Brad, depois seu olhar pousou em meu copo — Não bebe mais, Aurora?

— Não, eu parei já faz muito tempo — falei.

— Não lembro disso — não me admira que se recorde já que passou os últimos meses do nosso relacionamento ausente. — Lembra dos nossos porres?

— Acho melhor mudarmos de assunto — senti-me desconfortável, não queria falar do meu passado.

— Por quê? Não posso comentar sobre seus tempos de delinquente?

— Como ela disse, Brad. — intrometeu-se Dean, ameaçador — É melhor mudar de assunto.

Lancei um olhar agradecido para O’Conner e este piscou para mim.

— E você, Jimmy?

— É Dean — retruquei.

— Devo dar meus parabéns ou meus pêsames? — acrescentou ele.

— Do que está falando? — questionou Dean.

— Você sabe… — Brad meneou a cabeça para mim — Sobre você e a incógnita aí.

— Desculpe, não entendi — tornou O’Conner.

— Nem o professor Xavier saberia o que se passa na cabeça dela. Me entende, agora?

— Posso fazer uma ideia do que quer dizer — retrucou ele — Mas na minha opinião, acho o jeito dela intrigante e até um pouco sexy se quer saber.

Meu rosto enrubesceu, eu sabia que não havia sido um comentário maléfico, não é típico de Dean.

— Sexy? — senti a ironia soprando pela boca de Brad, juntamente com o bafo desagradável — Acho que ela nunca soube o significado disso, nós nunca… você sabe.

Ele fez gestos obscenos com as mãos, uma onda de constrangimento me tomou, eu nunca dei este tipo de liberdade à ele por que tinha razões para isso, mas não significa que ele tenha o direito de expor esse fato, nem para Dean. O’Conner fez menção de se levantar, mas eu o contive.

— Eu não vou deixar ele ser rude com você na minha frente — ele murmurou para mim — Se ele disser mais alguma coisa eu acabo com ele.

— Vamos embora, é melhor — sugeri, Dean assentiu.

Brad pedia o segundo copo de whisky, ele não parava de enfiar goles e goles de bebida garganta abaixo.

— Por que você está assim, Brad? — tive curiosidade em saber o motivo.

— Fui demitido. Pelo meu pai. Ele não achou que eu estivesse preparado. Eu mandei ele se ferrar e então… — ele levantou o copo meio cheio.

— E onde está sua namorada?

— Quem? Emily? Ela é uma vadia que tracei quando cheguei aqui. — Brad tomou uma dose generosa de whisky — Nosso relacionamento de uma semana foi mais significativo do que o nosso de… Não sei quantos anos.

— O que quer dizer com isso? — revidei, me levantando da cadeira. Os clientes das outras mesas começaram a prestar atenção em mim — Está querendo dizer que não fui boa o bastante pra você? Deveria ter pensado nas suas atitudes e no seu egoísmo. Acha que fui eu que asfixiei nossa relação por que nunca fui para a cama com você? Você nem me considerava mais sua namorada e pareceu não se importar quando terminamos. Por quê? Por que não teria mais de atender minhas ligações, por que não seria mais obrigado a fingir que gostava de mim?

— Não, por que foi um alívio me livrar de você! — Brad gritou.

O silêncio tomou conta do ambiente, as pessoas miraram em nós com espanto.

— Agora chega — Dean se levantou.

— Vai fazer o quê, otário? — Brad o encarou pondo-se na frente de O’Conner — Proteger sua prostitu-

Um soco duro e certeiro atingiu o rosto de Brad jogando-o no chão atordoado, dois garçons apareceram imediatamente para auxiliá-lo e Dean tirou algumas notas da carteira para ressarcir o que acabara de acontecer.

— Vamos embora — ele tomou minha mão.

Ainda consegui escutar Brad cuspindo insultos pelas nossas costas à medida que nos afastávamos dele e saíamos.

— Sinto muito que tenha ouvido tudo aquilo — falei quando estávamos a vários metros do restaurante.

— Não importa o que ouvi, era como se ele estivesse falando de outra pessoa.

— Eu já fui uma Aurora como ele disse, — admiti — mas não sou mais.

— Tem razão. Eu amo outra Aurora — ele parou, assim como eu com o que acabei de ouvir, Dean se virou para mim e contemplei bem aquele rosto, de repente senti que não queria estar com mais ninguém neste momento. Ele elevou uma de suas mãos até meu rosto e tocou meu queixo, levantando-o um pouco em sua direção. Estávamos tão perto agora que pude notar um fraco brilho em seus olhos — A que está diante de mim agora.

Seus lábios selaram os meus, não hesitei em retribuir, pus os braços em volta de seu pescoço e mesmo de salto tive que ficar um pouco na ponta dos pés para beijá-lo. O’Conner me envolveu em um abraço apertado conseguindo erguer meus pés do chão. Eu só desejei que tudo isso não fosse um sonho, onde um infeliz incidente me acordaria. Mas de qualquer forma eu estava flutuando, Dean me transportou para o lugar mais oculto do meu ser. Onde eu havia deixado as coisas que sempre considerei fúteis e demorei a admitir o contrário, um lugar onde escondi de mim mesma tudo o que se tornou incontestável nos últimos tempos, e isso inclui o fato de que eu estava inacreditavelmente apaixonada por ele.


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