The place that never sleeps escrita por Elizabeth


Capítulo 11
Hobby




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O trajeto era conhecido desde o nosso primeiro encontro, Dean havia me falado no caminho que o nome de sua irmã era Lisa e ela tinha dez anos, depois disto não comentou mais nada. Assim que adentramos na casa dos O’Conner escutei passos apressados no andar de cima, uma mulher alta cujos olhos eram idênticos aos de Dean apareceu quando ouviu a porta da frente bater.

— Dean, tão cedo em casa, o que houve? — ela pousou a atenção em mim e abriu um leve sorriso — Oh, não sabia que traria visita.

— Oi — cumprimentei sem jeito.

— Mãe, Aurora, Aurora, minha mãe — O’Conner nos apresentou. — E aquele é o meu pai. — Ele sinalizou para um homem robusto vindo da porta dos fundos.

— É um prazer — falei para o casal.

— Vem, vou te apresentar a outra integrante da família — Dean tomou minha mão na dele e me conduziu ao andar de cima, o barulho de uma criança brincando era audível no primeiro quarto, nós paramos diante da porta e ele a abriu lentamente. — Lisa?

— Dean! — ouvi uma voz pequenina vibrar.

— Eu quero te apresentar uma pessoa. — ele disse — Vem, Aurora.

Entrei calmamente no cômodo e me deparei com uma cama com edredom rosa, uma cômoda baixa, grades na janela e, sentada sobre um tapete felpudo com dezenas de brinquedos ao redor, uma garotinha de cabelos mel olhando para mim. Dei um sorriso desajeitado e seu rosto se iluminou de repente.

— Acho que ela gostou de você — falou Dean, com um quê de alívio na voz.

— Oi Lisa — me agachei à frente dela — Meu nome é Aurora.

— Eu sei quem você é, sei quem você é. — ela repetiu fazendo alguns gestos rápidos com as mãos — Dean fala de você, o dia todo, ele gosta de você, gosta de você.

Olhei para O’Conner e flagrei um leve constrangimento passando pelo seu rosto.

— Ele também me falou de você, só não disse que era tão bonita — falei, um sorriso com um dente a menos acendeu no rosto de Lisa.

— Você é a menina do desenho! — ela gritou de repente. — O desenho!

— Hey, Lisa, não — alertou Dean delicadamente.

— Vem, eu te mostro. — ela correu na minha frente indo em direção a um outro cômodo.

Eu a segui com O’Conner logo atrás, a porta na qual Lisa entrou era do quarto de Dean, antes que eu ultrapassasse a soleira ele me barrou.

— Eu não acho que isso seja uma boa ideia.

— Por quê? — questionei.

— Por que...

— Vem, Aurora! — uma mão pequenina me puxou.

Quando entrei não parecia o mesmo lugar que vi na primeira vez, haviam coisas nas paredes, papéis, cujos desenhos esbanjavam cores vivas e traços realistas. Não eram apenas um ou dois, as folhas cobriam e coloriam o ambiente como papel de parede. Me aproximei de uma imagem que se destacava, era um rosto familiar que só depois de um tempo de observação descobri ser o meu. A segunda figura também era eu, mas de um outro ângulo, como se estivesse correndo em um parque, a terceira, a quarta e todas as outras retratavam a mesma pessoa.

— Era para ser nosso segredo — ouvi Dean cochicar para Lisa.

— Isto é… — procurei pelas palavras.

— Eu sei. Assustador — admitiu O’Conner um pouco decepcionado consigo mesmo.

— Incrível — minha voz falhou.

— Viu? Eu disse que ela ia gostar, ela gostou, eu disse. — Lisa repetia sem parar.

Me virei para Dean e o abracei, ele parecia assustado com a minha demonstração de alegria repentina, mas isto foi algo que até eu estranhei, desde que cheguei a Nova York não sou mais a mesma pessoa. O’Conner retribuiu pondo os braços em volta da minha cintura suavemente.

— Ninguém nunca fez nada parecido assim para mim — falei quando nos afastamos.

— É o que eu gosto de fazer, sempre gostei, só precisava de uma inspiração e então... — um suspiro escapou de seus lábios — me apareceu você.

Sorri, algo que venho fazendo constantemente. Contemplei todos os desenhos, nunca fui de me considerar bonita, mas de alguma forma Dean fez isto no papel e seria um erro não admitir que estava lindo.

— Você não disse nada sobre isso no nosso primeiro encontro — falei depois de um tempo, me referi ao hobby dele.

— E você mentiu para mim. — retribuiu ele — Escutar músicas? Eu sabia que não era verdade. Admita, o que você gosta de fazer, Aurora?

— Tudo bem — suspirei — Gosto de escrever.

— Eu acho isto simplesmente impressionante — seus olhos brilharam — Sobre o quê escreve?

— Sempre escrevo como se fosse outra pessoa, alguém que faça quase as mesmas coisas que eu, cometa os mesmo erros ou passe por problemas que enfrento todos os dias. Mas há algum tempo que não faço isso, tenho histórias inacabadas e acho que nunca vou continuá-las.

— Hum… — ponderou Dean — Por que não escreve sobre você?

— Nunca achei minha vida tão interessante assim — confessei.

— Há milhares de pessoas no mundo com vidas tão desinteressantes quanto a sua, aposto que elas se sentiriam bem melhor sabendo que há pelo menos alguém como elas.

Eu nunca havia pensado por este ângulo, mas era uma possibilidade. Resolvi mudar de assunto, estávamos sentados na beira da cama de Dean, Lisa havia voltado para seu quarto e pelo silêncio, deveria estar entretida com os brinquedos.

— O que Lisa… Bom… Você sabe…. — tentei não parecer indelicada.

— Esquizofrenia. — ele respondeu adivinhando minha pergunta. — Ela tem um comportamento diferente do das outras crianças. Temos muito cuidado com ela, pessoas que sofrem disto precisam de atenção e paciência. Não é fácil de lidar, ontem à noite ela não conseguiu dormir, havia tido um pesadelo e… enfim, ninguém conseguiu controlá-la, fiquei com ela até o amanhecer. — isso explica a expressão cansada de Dean mais cedo quando chegou à biblioteca. — Desde pequena sempre foi fechada no próprio mundo e isso impede que ela interaja com outras pessoas, mas parece que ela abriu uma excessão para você.

— Eu gostei dela também — assumi. — E de tudo isso — me referi aos desenhos.

— Isso? Bom, você sabe… coisas de um assassino psicótico.

As horas voaram sem que eu percebesse, despedi-me de Lisa com um abraço retribuído alegremente, os pais de Dean demonstraram ter gostado da minha visita e pediram que eu repetisse isso mais vezes, eram pessoas agradáveis e afáveis. O’Conner se ofereceu para me acompanhar até em casa, depois do que vi em seu quarto eu me sentia estranha, mudada. Ele tagarelava alguma coisa sobre um filme bizarro enquanto caminhávamos até a casa dos meus tios quando agarrei sua mão, isto o fez parar de falar por um instante, mas depois continuou, entrelançando os dedos nos meus. Uma sensanção boa me inundou completamente, assim consegui prestar mais atenção no que ele estava dizendo.

— ...pode ser um pouco assustador no começo mas você se envolve com a história e perde o medo.

— Ah — falei, não sabendo muito bem do que se tratava. — Sabe, eu acho que vou começar a escrever. Seria bom para manter minha mente ocupada e-

— Hey! — alguém gritou atrás de nós.

Foi um chamado alto o bastante para que quase todas as pessoas que passavam pela calçada neste momento se virasse para ver quem era.

— Brad? — eu estava mais desanimada do que o contrário ao vê-lo. Senti as mãos de Dean apertando entre meus dedos quando seguiu meu olhar — O que está fazendo aqui?

— É um lugar público, por que eu não poderia estar aqui? — respondeu sarcasticamente.

Notei que ele estava desacompanhado e saindo da porta de um restaurante que acabara de abrir.

— E aí, cara? — cumprimentou estendendo a mão para Dean, mas O’Conner apenas acenou rapidamente com a cabeça e Brad recolheu o braço. — Bom, eu acabei de fazer reservas para jantar aqui hoje — ele sinalizou para o estabelecimento.

— Com quem? — indaguei.

— Bom, eu ia convidar vocês mesmo, então… — respondeu indiferente.

Dean lançou um olhar ansioso para mim, esperando minha resposta.

— Combinado — consenti segura.

— Ótimo, às sete?

— Às sete.

— Até lá, então. — gesticulou com a cabeça em despedida.

Brad seguiu pelo caminho oposto ao que eu e Dean caminhávamos antes e desapareceu por entre as pessoas.

— Por que aceitou? — O’Conner questionou.

— Comida de graça. — pisquei para ele.


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