The place that never sleeps escrita por Elizabeth


Capítulo 13
Surpresa




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O momento do beijo ficou em minha mente como uma cena de filme reprisando incessantemente. Eu sempre achei impressionante a capacidade de Dean para consertar acontecimentos ruins e não deixar que as coisas fossem por água abaixo, ele sempre dá um jeito de fazer o dia valer a pena. Na mesma noite peguei um caderno velho da tia Joyce e comecei a escrever, como um diário, contando tudo desde um resumo da minha vida até o presente momento aqui em Nova York. Tive vontade de ligar para vovó, mas quando olhei a hora no relógio desisti da ideia, não seria conveniente assustá-la de madrugada com o baruho estridente do telefone velho.

Acordei com o quarto escuro, levantei-me disposta e fui à janela. Sorri para o tempo que não sorriu para mim, estava nublado, nuvens pesadas e cinzentas insinuavam que um dilúvio estava a caminho para este domingo. O celular tocou de repente, quando vi o nome na tela atendi de imediato.

— Bom dia — falei com a voz um pouco rouca.

Bom dia, senhorita Hopper — saldou Dean. — Você dormiu bem?

— Digamos que sim. E você?

Digamos que não — ele bocejou do outro lado da linha.

— Alguma coisa com Lisa? — perguntei preocupada.

Não, foi por causa de você.

— Desculpe, devo ter causado pesadelos horríveis — ri.

Meu único pesadelo seria não poder ver você hoje.

— Mas está vindo um temporal — olhei mais uma vez para o céu.

Eu sei, será que você pode pedir para sua tia abrir a porta? Eu não quero pegar um resfriado.

— O quê? — indaguei incrédula.

É melhor se apressar.

Desliguei o celular e corri pelos degraus, quando percebi que ainda estava de pijama e mau hálito matinal já era tarde demais.

— O que está havendo? — perguntou tia Joyce.

— Dean! — respondi girando a maçaneta.

O’Conner segurava um buquê de rosas junto ao corpo, a chuva estava começando a engrossar, puxei-lhe pela blusa e fechei a porta. Sem dizer qualquer palavra ele estendeu o ramalhete um pouco nervoso.

— O-Obrigada — agradeci atônita.

Havia rosas amarelas, roxas, brancas e minhas vermelhas prediletas.

— Estou sendo muito brega? — ele franziu o rosto.

— Não, está… — suspirei — ótimo.

Nunca ganhei um buquê, em datas comemorativas como dia dos namorados ou meu aniversário sempre recebi uma cesta de chocolates pelo correio. Parecia ser proposital que em dias como aqueles Brad fizesse questão de viajar com seu pai.

— Parece que estou assistindo novela mexicana em 3D — resmungou tio Roger — Aurora, o que ele faz aqui de novo? O que é ele é, afinal?

— Meu… — procurei a definição certa.

— Sou Dean, namorado da Aurora — ele piscou para mim.

— Bom, na verdade… — reagi.

— Deve estar com fome, sente-se conosco, aceita um café? — ofereceu tia Joyce.

Pus as flores em um jarro com água e subi para trocar de roupa e escovar os dentes. Quando voltei Dean já estava sentado à mesa com meus tios tomando cafe-da-manhã. Depois de ovos mexidos e torradas tia Joyce nos deixou à vontade para assitir um filme que passava na televisão.

— Eu posso te contar uma coisa? — sussurrei para ele, me certificando de que não havia ouvidos por perto.

— Claro — ele esperou ansioso.

— Não foi Nova York que me mudou. — Mirei nos olhos castanho-claros de O’Conner — Foi você. O tempo inteiro. Só achei que devia saber.

Voltei-me para a TV, mas senti o olhar de Dean queimando sobre mim e seu braço passar por cima dos meus ombros.

— Não fui eu ou muito menos a cidade, essa Aurora já estava aí, nós só damos um empurrão para que ela se mostrasse — ele murmurou.

Foi meu primeiro melhor domingo desde que meu pai faleceu.

No final do dia liguei para casa, uma voz diferente atendeu.

Alô?.

— Grace? É você? — estranhei que ela tenha tido a coragem de atender a algum telefone que não fosse celular.

Aurora? — ela soou um pouco nervosa.

— Oi, está tudo bem?

T-Tudo bem, e Nova York? — gaguejou.

— Continua no mesmo lugar, onde está a vovó?

Ela… — “desligue o telefone, Grace!” ouvi a voz da minha mãe bravejar. — Aurora, eu tenho que ir.

— Espera, Grace, eu-

O telefone ficou mudo antes que eu terminasse a frase, talvez Edith estivesse descansando e Rachel não quisesse que ninguém a incomodasse.

***

Dias viraram semanas e semanas meses, eu continuei na Book’s Machine e posso dizer que me aperfeiçoei mais na arte de organizar livros, confirmei o que Dean dissera, eu me acostumei. Isso me fez ganhar vários pontos com a senhora Lourien. Fiz bom uso do meu primeiro salário comprando uma boneca para Lisa e um CD da banda favorita de O’Conner no aniversário dele. Foi o que rendeu do pouco que recebi na biblioteca.

Dean se ocupava em fazer da minha vida algo melhor e posso dizer que ele nasceu para isso, saíamos sempre e quando era possível levávamos Lisa conosco. Andamos de bicicleta pelo parque, fomos à inúmeras seções de cinema, tomamos sorvete perto da ponte do Brooklyn entre outros passatempos.

Meu diário precisou de mais espaço então tive de comprar outro caderno ainda mais grosso para continuar, posso dizer que a escrita, no momento, não estava sendo minha terapia, essa parte foi atribuída a O’Conner. O tempo que passei ao lado dele e todos os acontecimentos dos últimos tempos revelaram uma luz para mim, foi como se antes eu estivesse perdida no meio de uma floresta melancólica e finalmente encontrasse rastros de migalhas para seguir.

Passei a conversar mais com Jasmine, Brian e Oliver, porém minhas ligações para Lexington tornaram-se menos frequentes, nas raras vezes que fiz isso Grace atendeu e desligou rapidamente, sem mais nem menos. Algo que até pouco tempo eu havia ignorado.

— Bom dia — cumprimentei chegando à mesa faminta pelo café-da-manhã.

— Bom dia, querida — respondeu tia Joyce em um tom diferente do habitual.

Desconsiderei o fato do tio Roger não estar lendo o jornal como de costume e comecei a beliscar alguns biscoitos. Todo o tempo só ouvi o som da minha própria mastigação, o silêncio estava começando a me incomodar, nem o barulho do lado de fora conseguia pôr alguma vida nesta manhã. Terminei meu café quando a xícara da tia Joyce permanecia intocada.

— Está tudo bem? — perguntei.

— É claro que sim, é domingo. — Respondeu tio Roger com uma excitação artificial — Vai sair com seu namorado?

— Sim, prometi a ele que iríamos para uma exposição hoje.

Tia Joyce não pronunciou uma única palavra, manteve seu olhar vidrado na xícara à sua frente, estava presente em corpo mas sua mente se encontrava muito distante.

— Faça isso, Aurora — aconselhou ele — Aproveite seu tempo e não volte sem uma boa dose de felicidade, nunca se sabe quando vai precisar.


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