Frozen - A Different Story escrita por Black


Capítulo 5
Capítulo 5: Do You Want to Build a Snowman?


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, estou cansada e com sono, então amanhã respondo aos comentários, pelos quais gostaria de agradecer.
Espero que gostem e boa leitura!



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Os meses seguintes ao acidente foram se passando de forma lenta e torturante. Cada dia era uma agonia a se passar. Os corredores mais vazios, dada a quantidade menor de empregados, quase nenhum riso, visto que as princesas mais jovens não mais brincavam juntas, e tampouco sorrisos de quaisquer membros da família real. Agdar e Idun se afundaram ainda mais no trabalho pelo reino, como um modo de escapar da realidade. Elsa continuava trancada em seu quarto, recusando-se a sair e dificilmente permitindo alguém a entrar. Anna, apesar de preservar sua inocência e hiperatividade, machucava-se a cada vez que pedia para Elsa sair do quarto e seu pedido era negado. Elena passava grande parte de seu tempo na biblioteca do castelo, visto que os livros sempre foram capazes de leva-la a qualquer lugar que ela desejasse ir, e naquele momento era o mais longe possível das paredes do castelo.

E, mesmo com a situação em que se encontrava e a resposta negativa que recebia todos os dias, Anna não perdia as esperanças de que conseguiria, algum dia, tirar sua irmã do quarto e brincar com ela como uma vez fizera. Olhou pelas janelas do castelo e viu a neve do inverno caindo graciosamente, formando montes do lado de fora. Imediatamente correu até a porta branca com flocos de neve azuis desenhados, que há tempos estava trancada, e bateu cinco vezes de maneira ritmada.

– Elsa? – Chamou a irmã, na esperança de fazê-la sair. E, mesmo que Anna não se lembrasse da magia da loira, ela ainda se recordava da única pergunta a qual a segunda filha de Agdar e Idun jamais fora capaz de resistir. E, com a chegada do inverno, ela finalmente tinha a chance de fazê-la:

Do you want to build a snowman? (Você quer construir um boneco de neve?),

C’mon, let’s go and play. (Vamos lá, vamos brincar.).

I never see you anymore. (Eu nunca te vejo mais.).

Come out the door. (Abra a porta.).

It’s you’ve gone away. (É como se você tivesse ido embora.).

We used to be best buddies. (Nós costumávamos ser melhores amigas.).

And now we’re not. (E agora não somos.).

I wish you would tell me why. (Eu desejo que você me dissesse o porquê.).

Do you want to build a snowman? (Você quer construir um boneco de neve?).

It doesn’t have to be a snowman. (Não tem que ser um boneco de neve.).

Inegavelmente, a ruiva ainda tinha esperanças. Ela tinha esperanças de que sua irmã mais velha sairia do quarto e as duas brincariam como outrora fizeram. Mas a única resposta que veio do quarto era aquela que ela costumeiramente ouvia, mas que desejava nunca mais escutar:

– Vá embora, Anna. – E, novamente, aquilo destruiu as esperanças da ruiva. Esperanças que provavelmente iriam se reconstruir no dia seguinte para uma nova tentativa, mas cuja quebra jamais deixava de machucar. Às vezes, a princesa caçula se pegava se perguntando se Elsa sabia o quanto aquilo a machucava e, por odiá-la, fazia de propósito, mas logo descartava o pensamento. A loira era uma das pessoas mais gentis, calorosas e bondosas que ela chegara a conhecer e, mesmo que a odiasse, não faria tal gesto cruel.

Okay, bye. (Tudo bem, tchau.).

Sua resposta também era a usual, aquela que ela dizia todos os dias, não sendo capaz de pensar em mais nada que valesse à pena ser dito. Tristonha e com os olhos cheios de lágrimas, ela foi andando pelo castelo, sem saber exatamente para onde poderia ir, até que se deparou com sua mãe, que a olhou com preocupação ao perceber o seu desanimo.

– Algum problema, querida? – A rainha de Arendelle questionou, aproximando-se da filha mais nova e abaixando-se de modo que ficasse da sua altura, levando uma mão ao queixo da criança e erguendo-o de modo que a menina estaria olhando-a.

– Por que a Elsa não abre a porta para mim? – Anna perguntou, deixando as lágrimas escorrerem por seu rosto. Não era uma pergunta que ela já não houvesse feito antes, mas era uma para a qual ela jamais recebera uma resposta. – O que eu fiz de errado? – Limpou as lágrimas com as costas da mão, mas elas continuavam a cair, tornando a ação completamente inútil. – Por que ela me odeia?! – Elevou a voz algumas oitavas, começando a ficar histérica.

– O que?! Não! – Idun se apressou em responder a filha, jamais tendo imaginado que ela chegaria a uma conclusão como aquela, ainda mais tendo apenas cinco anos. Nunca lhe veio à mente o que Anna poderia pensar com a falta de resposta de Elsa às suas investidas amigáveis, tampouco ela seria capaz de pensar algo como o que havia acabado de ouvir. Então, levou a mão à bochecha gorducha da menina, limpando algumas lágrimas que escorriam como uma cascata pelo rosto infantil. – Ela não te odeia. Ela apenas... – Ela não sabia o que dizer. Embora tentasse passar segurança à ruiva, a própria rainha não tinha certeza de suas palavras, de quais seriam apropriadas e de quais poderiam machucar a menina ou mesmo revela-la mais do que era aconselhável. – Ela não te odeia, querida... – Tudo o que ela podia fazer era reafirmar o que havia dito, não conseguindo dar à criança à sua frente quaisquer razões que não implicassem em contar qualquer fração da verdade.

– Então por que a Elsa não abre a porta para mim?! – Anna insistiu, já tendo percebido que não adiantaria discutir com a mãe, mas ainda chorando, como fazia todos os dias após a resposta que recebia de sua irmã loira. Surpreendia-a que ela sempre conseguia deixar mais lágrimas caírem no dia seguinte, perguntando-se o porquê de elas nunca acabarem.

Idun suspirou com extremo cansaço e tristeza, colocando uma mão que não estava na bochecha de Anna no ombro pequenino da menina de cinco anos.

– Querida, Elsa só precisa de um tempo. – Era uma meia-verdade, mas ainda assim, uma verdade. De quanto tempo se tratava, nem mesmo a rainha saberia dizer, apenas poderia torcer para que fosse pouco. – É tudo o que ela precisa. Conceda a ela um voto de confiança e verá que, logo, ela voltará a ser como era antes. – Não sabia o quanto de suas palavras era uma mentira. Mas aquilo foi o suficiente para que lágrimas surgissem em seus próprios olhos azuis. Doía-lhe ver suas menininhas sofrendo e ela se perguntava por quanto mais tempo era capaz de ser espectadora daquilo sem quebrar completamente.

...

Os dias de Elsa eram sempre os mesmos. Ela acordava, fazia sua higiene pessoal e vestia-se com qualquer dos inúmeros vestidos em seu guarda-roupa e esperava até que Gerda, Kai, ou mesmo seus pais, viesse lhe trazer o café da manhã. Em seguida, iria passar o tempo com algum livro que Elena escolhera para ela na biblioteca. Porém, a atividade só iria durar até as batidas ritmadas que ela sabia serem obra de Anna soarem pelos seus ouvidos.

Quando aquela hora do dia chegou, Elsa caminhou o mais silenciosamente que pôde até a porta, pressionando a testa contra a madeira. Aquilo era o mais próximo que ela poderia chegar de sua irmã ruiva até que aprendesse a controlar seus poderes e jamais houvesse possibilidade de ela machucar alguém novamente, principalmente alguém que amava.

– Elsa? – Viera a voz animada da caçula que estava posicionada do outro lado da porta.

Do you want to build a snowman? (Você quer construir um boneco de neve?),

C’mon, let’s go and play. (Vamos lá, vamos brincar.).

I never see you anymore. (Eu nunca te vejo mais.).

Come out the door. (Abra a porta.).

It’s you’ve gone away. (É como se você tivesse ido embora.).

We used to be best buddies. (Nós costumávamos ser melhores amigas.).

And now we’re not. (E agora não somos.).

I wish you would tell me why. (Eu desejo que você me dissesse o porquê.).

Do you want to build a snowman? (Você quer construir um boneco de neve?).

It doesn’t have to be a snowman. (Não tem que ser um boneco de neve.).

E ali estava aquela pergunta para atormentá-la. Ali estava Anna novamente pedindo-a para brincar e, mais uma vez, ela recebeu um lembrete bastante visível de que não poderia. Escutar a voz de sua irmã apenas com a madeira da porta abafando-a e saber que não poderia sair para brincar com ela fora o suficiente para fazer com que lágrimas caíssem dos olhos de Elsa e gelo começar a rastejar pelo chão a partir de onde ela estava. A temperatura do quarto caiu vários graus. Ela então sabia o que deveria dizer em seguida.

– Vá embora, Anna. – Às vezes, ela se perguntava se aquelas palavras machucavam sua irmã tanto quanto machucavam a si mesma. Não poderia ter a resposta. Apenas Anna a tinha, e era justamente à ruiva que ela jamais poderia perguntar.

Okay, bye. (Tudo bem, tchau.).

Veio a despedida usual e Elsa sentiu o impulso de pedir para sua irmã ficar, mas não o fez. Aquilo em nada contribuiria e era apenas um ato de egoísmo de sua parte. Ela não podia pedir à ruiva para ficar, sabendo que aquilo a feria, apenas para não se sentir tão solitária. Ela sabia que a distância entre as duas era grande demais para atravessar. Não, não se tratava apenas de uma porta. Era algo muito maior. Era tão grande quanto os poderes de Elsa e crescia em igual proporção. Como um abismo da qual ela nunca poderia passar.

Pensou ter ouvido alguém fungar do lado de fora do quarto, mas decidiu convencer-se de que aquilo era apenas obra de sua mente atormentada. Era o melhor que ela fazia para sofrer o mínimo possível. Dizer a si mesma que Anna estava bem sem ela. Afinal de contas, a ruiva tinha Elena.

Pensar na mais velha das três irmãs fez com que um sentimento que era um misto de saudade e alívio se abatesse sobre a segunda princesa de Arendelle. Ela não via a morena desde a madrugada após a noite do acidente, quando a vira tão debilitada, e a pedira desculpas, mesmo sabendo que nada que fizesse jamais poderia compensar a dor que causara. Por vezes, o pensamento de que sua irmã a odiava ou mesmo a havia esquecido se passava por sua mente. E ela não saberia dizer se ficava feliz ou triste com isso. Feliz, porque isso significaria que Elena não viria visita-la e, portanto não iria se ferir. Triste, porque ela amava sua irmã mais velha com todas as suas forças e sentia falta dela.

Com pensamentos acerca de Anna e Elena em sua mente e lágrimas escorrendo como uma cascata por seu rosto, Elsa virou-se de costas para a porta de seu quarto, encostando-se a ela e permitindo-se escorregar até estar sentada. Trouxe os joelhos para perto de si e abraçou-os, pressionando a parte de trás da cabeça contra a porta. Doía. Mas não mais do que a solidão que sentia. Nada jamais iria doer como aquilo. E ela sabia que teria que suportar aquela dor até que obtivesse o controle de seus poderes. Porém sequer acreditava mais que aquele dia realmente iria chegar.

...

Elena, como era usual, deveria estar na biblioteca. Sabendo disso, Agdar seguiu para lá, na esperança de ter uma conversa com sua filha mais velha sobre as circunstâncias atuais. Desde o começo, a morena havia se mostrado firmemente contra o isolamento de Elsa, mas, como este se seguiu, desistiu de fazer quaisquer investidas contra isso. O rei de Arendelle, portanto, apenas assistiu como sua primogênita se distanciou cada vez mais de sua família em detrimento de seu tempo na biblioteca, que cada vez mais ficava maior. Ele só poderia fazer suposições sobre o que ela tanto lia, jamais tendo certeza de alguma delas.

Finalmente, ele chegou ao seu destino, postado de frente para as grandes portas de mogno da biblioteca. Permaneceu imóvel por alguns momentos, tentando escutar qualquer ruído vindo de dentro do cômodo, mas sendo recebido apenas com o silêncio. Então abriu relutante e silenciosamente uma das portas, espiando por entre a brecha e percebendo a presença de Elena, que estava sentada numa cadeira de frente para uma mesa com dezenas de livros de tamanhos e cores variadas.

A mais velha das princesas de Arendelle estava meio curvada sobre a mesa e respirava tranquilamente, sendo então que Agdar percebera que a morena estava completamente adormecida. Assim sendo, permitiu-se abrir completamente a porta e entrar no cômodo, dirigindo-se até onde sua primogênita estava.

Ele então notou algumas não tão sutis diferenças na aparência da menina de quatorze anos. Elena estava mais magra e mais pálida, mostrando claramente que não andava se alimentando bem. Seus olhos fechados estavam rodeados por olheiras tão ou mais profundas que as suas próprias ou as de Idun. E a posição em que se encontrava certamente acabaria por prejudicar sua coluna se mais tempo fosse gasto daquele modo. As cicatrizes nos braços eram visíveis em razão do vestido sem mangas. Linhas em quase prateadas na pele clara e em alto relevo que eram quase impossíveis de passarem despercebidas.

Agdar soltou um suspirou cansado e fitou os próprios pés por um curto momento. Ele deveria saber melhor do que conversar com sua filha esporadicamente. Então, o homem dirigiu seu olhar para os livros que a morena tanto lera. Eram dos mais variados, mas o assunto principal era magia. Percebeu então do que se tratava o tempo da princesa herdeira de Arendelle na biblioteca. Elsa. Sempre Elsa.

– Ah, Elena. – Ele então passou a mão pelos cabelos castanho-escuros da menina madura demais para ter apenas quatorze anos. Ela, por vezes, conseguia ser mais adulta do que a maioria das pessoas que realmente eram. E ele deveria conhece-la bem o suficiente para saber que ela não iria simplesmente desistir e deixar as coisas como estavam.

Elena se remexeu um pouco e resmungou enquanto dormia, mas não acordou. A julgar pelo modo como estava deitada e pelas olheiras em seu rosto, certamente ela não dormia há dias, quantos, ele não saberia dizer. Mas, com toda certeza, tratava-se de um período de tempo longo demais para ser saudável.

Sendo que a morena nunca fora pesada e agora parecia ter emagrecido mais ainda, Agdar pegou a menina nos braços, tomando cuidado para não fazer quaisquer movimentos bruscos que pudessem acordá-la, saindo com ela da biblioteca e deixando para trás a pilha de livros em que a garota tanto pesquisara.

O homem foi andando pelos corredores com a menina, passando pelos poucos empregados restantes do castelo e dirigindo-se ao quarto da morena, entrando lá pela primeira vez desde a conversa que compartilharam sobre as decisões que ele tomara após o acidente, e chocando-se ao notar que a cama, a mesa de cabeceira, o chão e a escrivaninha traziam tantos livros quanto a mesa sobre a qual a pequena estava debruçada na biblioteca.

Com dificuldade, Agdar afastou os livros da cama da menina e colocou-a lá, cobrindo-a com o cobertor e sentando-se na beirada no colchão, que rangeu ligeiramente sob seu peso.

– Você é teimosa, sabia? – O homem abriu um sorriso tristonho, segurando uma das mãos da filha mais velha adormecida. – E parece que encontrou alguma coisa pela qual lutar. – Respirou fundo e desviou o olhar para os inúmeros livros amontoados no quarto. – Vai acabar se matando assim. – Disse, lembrando-se de perceber enquanto a carregava que as costas e os braços da garota estavam rígidos, provavelmente por causa da posição em que estava sentada na cadeira e pela quantidade de livros que carregou até aquela mesa. – E eu queria ter tanta esperança quanto você. – Disse isso e depositou um beijo na testa da menina adormecida, logo se levantando e saindo do quarto.

...

Era o inverno seguinte. Anna tinha seis anos e estava se aproximando de fazer sete. Como era de costume, ela foi até a porta de sua irmã e bateu cinco vezes de maneira ritmada. Elsa já tinha aprendido que a mais jovem quase sempre vinha no mesmo horário, de modo que esperara sentada com as costas contra a porta o que viria a seguir.

Do you want to build a snowman? (Você quer construir um boneco de neve?).

Or ride our bikes around the halls? (Ou andar de bicicleta pelos corredores?).

I think some company is overdue. (Eu acho que alguma companhia seria bom.).

I’ve started talking to the pictures in the walls. (Eu comecei a falar com os quadros nas paredes.).

It gets a little lonely. (Fica um pouco solitário.).

All those empty rooms. (Todos esses quartos vazios.).

Just watching the hours tic by. (Apenas assistindo as horas passarem.).

Diferentemente do usual, ela não deu resposta e apenas aguardou que Anna fosse embora e, eventualmente, isso acontecera. Por pouco mais de um ano, ela tentava evitar chorar, manter o controle sobre suas emoções. E, de acordo com as lágrimas que não caíam de seus olhos, o quarto congelava, os sentimentos que ela se esforçava para ocultar sendo mostrados por seus poderes, sua maldição.

Ela se levantou e abriu a porta quando batidas comuns vieram, e ela sabia que não era Anna. Ao invés disso, seus pais entraram no quarto, e ela se distanciou deles tanto quanto pôde. Os olhares de ambos caíram sobre as paredes e o piso cobertos de gelo antes de retornarem a ela.

– Elsa, o que aconteceu? – A rainha perguntou em seu tom maternal comum e expressão preocupada no rosto, aproximando-se.

Elsa recuou ao notar a aproximação da mãe, pressionando as mãos contra o peito, temendo que algo pudesse acontecer e ela acabasse por machucar Idun. Seu pai a olhou com preocupação e, a despeito da reação que a morena recebera, ele se aproximou e estendeu a mão para a loira-platina.

– Não se aproximem. – Ela pediu em tom suplicante. – Eu não quero machucá-los. – Mais do que isso. Ela não podia machuca-los. Eles eram os únicos membros de sua família que permaneceram fisicamente intocados por seu gelo, visto que Anna e Elena acabaram por serem prejudicadas. Se ela os ferisse, honestamente, pensava que talvez seu mundo fosse se destruir.

– Elsa, venha comigo. – Agdar requisitou, a promessa de alguma esperança presente em seus olhos verdes.

Relutantemente, a loira assentiu e seguiu seu pai para fora do quarto, da qual saíra pela primeira vez em muito tempo, e ambos foram para o escritório do rei, onde ele a presentou com um par de luvas e a ensinou palavras que viriam a ser sua salvação ou perdição:

Conceal it. (Ocultá-lo.).

Don’t feel it. (Não senti-lo.).

Don’t let it show. (Não deixá-lo se mostrar.).

Quanto ela voltou, sua mãe não estava mais em seu quarto. Ao invés disso, Elena estava sentada em sua cama, as pernas cruzadas, um vestido vermelho sem mangas e os cabelos castanho-escuros soltos e rebeldes. E aquela era a primeira vez em pouco mais de um ano que ela via a princesa herdeira de Arendelle.

– Você não deveria estar aqui. – Elsa declarou, absolutamente apavorada com a presença de sua irmã ali, sabendo que poderia machuca-la seriamente em um mínimo momento de descontrole.

– Pelo contrário, aqui é exatamente onde eu sempre deveria ter estado. – Elena respondeu, levantando-se da cama da loira e caminhando em direção a ela, observando como a mais jovem recuou até que suas costas estivessem contra a porta, impossibilitando-a de ir mais longe. Finalmente, próxima o bastante, ela olhou nos olhos azuis que eram tão semelhantes aos seus. – Elsa, eu sinto muito. – Disse por fim.

– Pelo que está se desculpando se fui eu quem fez isso a você? – A loira-platina apontou com a mão agora enluvada para uma linha prateada em alto relevo localizada na parte frontal do braço da mais velha, próxima ao ombro.

– São apenas cicatrizes. – Elena deu de ombros, sem parecer dar muita importância às marcas que tinham lugar em sua pele.

– Que não deveriam estar aí. – Elsa rebateu, seus olhos cheios de lágrimas que ela se recusava a derramar enquanto o gelo corroía as paredes de seu quarto.

– Escute-me. – A morena pediu, inclinando o corpo para frente e apoiando as mãos nos joelhos, ficando mais próxima à altura da irmã, de modo que pudesse fita-la frente à frente, olho no olho. – Eu sinto muito não ter estado aqui para você. – Disse com toda a sinceridade presente em sua voz também em seus olhos azuis glaciais e emotivos. – Eu sinto muito se eu a fiz pensar que, em algum momento, eu a odiei. – Falou, conhecendo Elsa bem o bastante para saber que a loira deveria ter cogitado aquela ideia. – E, absolutamente, eu sinto muito por ter permitido que tudo isso acontecesse a você. – Uma lágrima solitária escorreu pela bochecha da mais velha e ela não apresentou qualquer inclinação para secá-la. – E eu prometo que jamais vou te deixar novamente. – Apertou os lábios numa linha fina por um curto segundo e engoliu o choro antes de prosseguir. – Apenas, por favor, não me afaste. – Pediu de forma inteiramente suplicante, seus olhos brilhando com lágrimas que ela se recusava a derramar.

E Elsa firmemente queria dizer não ao seu pedido, mas não conseguia. Jamais conseguiria. Simplesmente porque era Elena quem estava pedindo. E, mesmo com todo seu medo, ela não poderia negar algo como aquilo à sua irmã mais velha. Era completamente fora de quaisquer capacidades que ela possuísse.

– Mesmo que eu quisesse, eu não poderia. – Disse por fim e era a mais pura verdade. Ela queria negar o pedido, mas não conseguia. Sabia que jamais ira conseguir, mesmo que vivesse por milhares de anos.

Depois do que lhes pareceram horas, Elena se levantou e disse que precisava ir à biblioteca. Caminhou para fora do quarto com a promessa de retornar no dia seguinte e deixando apenas uma última pergunta antes de sair e fechar a porta atrás de si:

Do you want to build a snowman? (Você quer construir um boneco de neve?).


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Notas finais do capítulo

Por favor, perdoem e comuniquem qualquer erro presente no capítulo.
O que acharam? Ficou bom? Ruim? O que acham que vai acontecer agora?
Próximo Capítulo: Charming.