Following to the Darkness escrita por Leh Linhares


Capítulo 8
Capítulo Oito


Notas iniciais do capítulo

Oi, galera!! Sentiram minha falta? Espero que sim porque eu senti muito a falta de vocês.
Esse capítulo tá bem diferente dos outros, porque é Pov Clarke, mas espero que vocês gostem.



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Pov. Clarke Griffin

Quatro meses antes...

A ideia de ficar no Acampamento Jaha onde todas as pessoas me consideram como uma heroína me intimida. No fim das contas matei todas aquelas pessoas a sangue frio, é certo que fiz para salvar meu povo e dessa parte obviamente me orgulho, contudo tinha que ter tido outra maneira. Um modo onde os dois povos pudessem ter sobrevivido.

Desde que cheguei a Terra me sinto pressionada. A vontade de salvar meu povo e principalmente meus amigos sempre norteou minha vida. Acontece que essa minha qualidade se transformou em uma dor e preocupação constante, sinto falta da antiga Clarke, a menina antes de ser presa que tinha como única preocupação suas notas da escola ou ajudar sua mãe no laboratório.

Chego a sentir falta do período que passei desenhando nas paredes da solitária. Havia uma espécie de paz e silêncio naquele lugar que eu não encontrei na Terra, a solidão por mais assustadora que pareça tem seu tom reconfortante.

Cada momento na Terra passa pela minha mente, minha transformação principalmente. Quem diria que a mesma garota que lutou para que Jasper não fosse sacrificado e que discutiu para que Lincoln não fosse torturado faria isso? Mataria todas aquelas pessoas…

“Crianças, Clarke... Haviam crianças ali, Maya estava ali. Maya morreu nos braços do Jasper por sua culpa.”

Esses pensamentos me perseguem cada vez que respiro, olhar para meu povo, principalmente Jasper me machuca e me enlouquece. Não posso mais permanecer aqui, se ficar perderei minha sanidade e Bellamy sabe disso por isso me deixa ir.

Não quero partir, não de verdade, não quero deixar Bellamy e perdê-lo mais uma vez, porém é disso que preciso. De tempo para que essas feridas cicatrizem. Por mais nobre que tenha sido sua atitude, de segurar aquela alavanca comigo, não sinto como se a escolha tivesse sido de fato dele também.

Fui eu quem atirou em Dante, eu que matei Finn, eu que entreguei meu povo a uma aliança que quase os levou a morte, eu que mandei Bellamy para o Mount Weather, onde ele poderia ter morrido ou sofrido de incontáveis torturas. Não posso encará-lo sem lembrar de tudo isso.

Não consigo me esquecer que Octavia tem sorte de estar viva, que ela juntamente da minha mãe poderiam estar mortas devido a minha ambição insana nessa guerra. As pessoas que morreram nessa explosão também me vem a memória, e a grande questão não é Mount Weather, ou Dante, mas sim tudo. Toda essa mutação me assusta , preciso estar só para entender o que eu fiz e me perdoar.

...

Vago muito tempo sem uma direção certa, parando de tempos e tempos. Passo mais de dez quilômetros no sentido norte, depois viro ao oeste, tentando sempre manter em memória o percurso que fiz. Por mais que esteja partindo sem data pra voltar, retornar é algo que pretendo fazer.

A cada dia que se passa, mas falta sinto da companhia de todos e surpreendentemente da de Bellamy. As noites são sempre mais difíceis, momentos onde eu não consigo definir se me sinto pior por tudo o que eu fiz ou por não tê-lo ao meu lado.

Já passou mais de um mês desde minha fuga e uma das minhas maiores distrações é imaginar como todos devem estar no Acampamento Jaha. Será que Jasper e Bellamy já me perdoaram? Será que Bellamy desistiu de mim, de me esperar? Será que em algum momento ele chegou a fazer isso?

Numa distância de aproximadamente quinze quilômetros encontro uma pequena vila. De início tenho receio por todo o histórico com Lexa, mas quando sou descoberta em uma das minhas caçadas, me vejo em uma encruzilhada e preciso me apresentar ao homem a minha frente.

Sou recebida com simpatia e um receio quase que imperceptível, sou instalada na casa do comandante, onde existem quartos e todo uma estrutura de construção que não observei em Tondc. É como se esse povo fosse mais avançado que o de Lexa, não falo nada a respeito de onde vim e da guerra que enfrentei com medo desse fato me tornar uma inimiga.

Apesar da estrutura de construção não existem muitos luxos, as camas são de palha e a comida consiste basicamente em carne de veados, esquilos e algumas sementes. Apesar do medo visível do povo, todos me tratam de maneira cordial e simpática. As perguntas sobre de onde eu vim não surgem ao contrário do que esperava, mas sei que não vou poder ficar totalmente calada por muito tempo e é por isso que pretendo partir o quanto antes e seguir meu caminho sem rumo certo.

Uma semana depois…

O tempo passado na vila é de certa maneira revigorante, basta alguns dias para que eu seja tratada como um deles e ganhe minhas próprias tarefas. Ninguém me questiona sobre quem eu sou ou porque estou ali. Passo meu tempo plantando e em pequenas confraternizações de moradores, existem pessoas de todas as idades, famílias, mas na sua grande maioria membros isolados que não falam a respeito de seus passados. A vila toda parece uma espécie de abrigo, ninguém fala comigo a respeito de nada sem ser as plantações e o tempo, o que acaba se tornando exatamente o que eu preciso.

— Como foi o dia? - Pergunta Peter, o comandante. Ele é novo não deve ter mais que vinte anos, contudo é tratado com um respeito que até agora não compreendo.

— Bom. E o seu?

— Bom também. Espero que esteja se sentindo em casa.

— É realmente reconfortante estar em um lugar onde não se é bombardeado por perguntas o tempo todo, mas ao mesmo tempo estranho. Estou gostando muito daqui,mas realmente não entendo. Não parece...

— Real? Eu sei que não, talvez seja por tudo o que cada um de nós já passou. É verdade que continuamos a ter nossas picuinhas e disputas, mas sabemos reconhecer um rosto sofrido quando vemos e sabemos como devemos tratá-lo até que ele esteja pronto para realmente se abrir a nós.

— Eu sinto que eu não devia perguntar, mas…

— Fique a vontade.

— O que vocês sofreram? Do que você fala?

— Cada um de nós tem uma história bem particular. Temos mulheres que fugiram ou foram salvas de casamentos violentos, crianças violentadas por soldados, inocentes condenados a crimes que não cometeram, prisioneiros dos líderes das outras vilas locais. Por isso temos tantos membros isolados, a maioria das famílias que você viu foi formada já aqui, poucas são as que completas se mudam para cá. Não pense que vivemos um mundo de perfeita segurança, crimes acontecem aqui também, porém de certa forma para todas essas pessoas ter alguém que passou pelo mesmo ou por uma situação parecida ajuda na cura. - A ideia me encanta, é realmente a criação de um local seguro, um lugar onde você não precisa temer pelo julgamento alheio, não totalmente ao menos.

— E você? O que você passou? Como veio parar aqui?

— Para alguém que não gosta de ser questionada, você é bem curiosa.- Diz ele com um sorriso no rosto.

— Não precisa responder se não quiser.

— Há cerca de dois anos eu fui preso em minha cidade natal, Tondc, por roubo.

— Tondc?

— Por que o espanto? É de lá também… Acho que não. Me lembraria de alguém como você.

— Sim e não. Conheço Tondc, mas não nasci lá.

— Ah, de qualquer forma me trouxeram pra cá não pelo ato em si. Eu realmente roubei, principalmente comida pra minha família, e a punição que eu recebi foi digamos que cruel.

— O que fizeram?

— Mataram minha irmã.

— Isso é sério?

— Sim. A nova líder queria mostrar sua força, eu fui o exemplo que ela precisava para sufocar a onda de roubos.

— Anya matou sua irmã?

— Não. Logicamente só aconteceu porque ela permitiu, mas quem a matou fez com que tudo fosse ainda pior. Lexa, a comandante atual, já deve tê-la visto. Nós costumávamos ser amigos, ela sempre soube do porquê roubávamos e manteve nosso segredo até não manter mais.

— Lexa entregou vocês? Não que seja surpresa depois do que a vi fazendo.

— Veio de Tondc?

— Não e sim. Não sou daqui, sou uma das sky people…- Assim que termino de falar me arrependo, por mais que o ambiente pareça confiável o que me garante que esse lugar é realmente seguro?

— Seu segredo está a salvo comigo. E posso lhe garantir que o máximo que você receberia de todos do vilarejo seriam perguntas, todos aqui tem muita curiosidade em saber como vocês sobreviveram fora da Terra, confesso que também tenho. Além do que todos sabem que Lexa te traiu, e bem um inimigo de Lexa é por consequência nosso amigo.- Peter sorri pra mim me passando uma segurança que eu provavelmente não confiaria a meses atrás, mas que agora acredito, preciso acreditar.

Três meses depois…

Continuo na vila. Me aproximei ainda mais de Peter e Holland, uma jovem que chegou ali alguns meses antes de mim. Estou feliz de estar aqui, trabalho quase que o dia todo sobre o sol, mas é um alívio não ser a líder. Não ser a pessoa que o povo procura para conselhos ou para tomadas de decisão.

Aqui, eu sou apenas mais uma adolescente, não sou Clarke Griffin, a filha da Chanceler ou Clarke Griffin, a co-líder. Sou apenas Clarke. Mesmo estando realmente alegre, confesso que sinto saudades o tempo todo, de minha mãe, Raven, Octavia, e principalmente de Bellamy.

Penso nele quase que o tempo todo e por mais que eu esteja sentindo falta de todo mundo, ele é o único que me faz pensar em voltar. Em largar toda essa vida que eu comecei e voltar para Jaha, pra ele.

Peter, é um bom amigo, porém percebo que suas intenções são bem mais profundas que amizade . Ele gosta de mim, dá indiretas o tempo todo a respeito e eu apenas ignoro, finjo que não percebo. Quando olho para Peter, só vejo um amigo, uma pessoa que me ajudou no momento mais difícil da minha vida, mas nada mais que isso. E quando ele me beija num dos mais lindo pores do sol que eu já vi, a única coisa que consigo pensar é em Bellamy, há quilômetros de distância de mim fazendo sabe se lá o quê. Preciso voltar, preciso encontrá-lo…

Dias depois…

Venho insistindo na minha partida, mas os apelos de Peter e Holland me fizeram ficar por mais algum tempo. O que os dois afirmam é que é perigoso demais para eu que volte sozinha, mas nenhum deles se dispôs a me acompanhar de qualquer maneira. Depois de tudo o que eles passaram, a última coisa que eles querem é se aproximarem de Tondc. Coisa que eu entendo absolutamente, mas que não facilita minha viagem.

Concordo que é perigoso, seria hipócrita se dissesse que é seguro, porém o que eles não entendem é que nesse momento a única coisa com que me importo está a quilômetros daqui e por isso preciso encontrá-la. Prometi a eles que voltaria, entretanto os dois sabem que a chance disso acontecer é minúscula, mesmo se sobreviver a probabilidade de eu acabar voltando pro Acampamento Jaha é enorme, duvido que Bellamy queira vir comigo pra cá.

Os dois já tinham me convencido de esperar algumas semanas, quando um amigo de Peter chega com novas informações de Tondc. Há um prisioneiro dos Sky People e pela sua descrição acredito ser Bellamy.

Meu mundo cai com a descoberta, e por mais que eu queira fazer uma enxurrada de perguntas: não faço. Não é o indicado a se fazer a qualquer pessoa dessa vila, e de qualquer maneira já posso imaginar o que ele está passando. Obter uma confirmação só vai fazer com que eu me sinta pior.

A raiva de Lexa, sobe a mim de uma vez só e de repente tudo o que eu quero fazer é matá-la. Ela sempre soube o quanto ele significava pra mim, fazer isso, depois de tudo é simplesmente a gota d’água.

Parto após uma despedida rápida, preciso chegar o quanto antes em Tondc. Sabe se lá o que Lexa está fazendo com Bellamy nesse momento. Preciso salvá-lo, porém não posso sozinha , seria estúpido tentar invadir o território de Lexa sem ajuda. Mais do que estúpido seria uma pena de morte.

Não posso contar com a ajuda de Peter e Holland, é pedir demais a eles, mas agora sendo Bellamy a vítima, Octavia e Lincoln não se recusariam ajudar, se já não estivessem organizando equipes de buscas. Talvez eu encontre Bellamy já bem e seguro em Jaha.

Sigo o percurso da maneira que me lembro, é difícil determinar com precisão em que momento devo seguir a oeste, a mata toda é muito parecida, mas me esforço ao máximo. Só descobrirei se fiz uma escolha errada daqui há muito tempo.

Já estou no meu terceiro dia de caminhada, estou exausta, por mais que tenha trago um saco de dormir não consigo pregar meus olhos, a ideia de Bellamy sendo torturado ou morto me apavora e cada segundo que eu paro para descanso tenho a sensação que daqui alguns dias constatarei que se não tivesse gastado esse tempo dormindo Bellamy ainda poderia estar vivo.

Em algum momento o cansaço me domina e eu apago. Ao acordar horas depois tenho uma surpresa não estou só. Um grupo de seis homens, acredito serem capangas de Lexa, me prendem. Eu tento lutar, mas acordei tarde demais. Eles já tinham feito grande parte do trabalho, minhas mãos e pés estão presos. Fugir infelizmente não é uma opção.

Um dos guardas parece nervoso, como se não quisesse estar de fato ali. Em um instinto pergunto sobre Bellamy, não há muito o que fazer por mim, se eu puder saber ao menos que ele está bem e livre já seria de grande ajuda.

— E Bellamy ele ainda está preso? Ele está bem?

— Seu amigo está melhor que todos nós saiba disso. A Comandante fez questão de garantir pessoalmente.- Diz um outro guarda sorrindo de forma irônica. Não entendo o que ele quer dizer, mas me calo. Lembro-me bem de alguns desses homens do exército de Lexa, nunca foram o tipo de pessoa em que se pode confiar e provocá-los poderia ser meu maior erro.

Um deles coloca algo parecido com clorofórmio no meu nariz e eu desmaio.

Não sei dizer exatamente quanto tempo passou, tento manter meus olhos abertos, mas sinto os tão pesados que acabo cerrando-os. O cansaço me domina, meu corpo clama por um pouco mais de sono, contudo apesar disso luto para manter minha consciência.

Escuto vozes ao longe, se já não estou em Tondc, estou muito perto. Faço um esforço para abrir meus olhos e o que encontro é uma Lexa desvairada, falando com seus guardas em sua língua natal, mesmo com sono tento entendê-la, o que se mostra impossível minutos depois.

A comandante se vira na minha direção, gritando coisas incompreensíveis,me esforço para manter meus olhos abertos e prestar atenção no que ela diz, mas o sono me vence. O que deixa Lexa ainda mais irritada, sinto socos e pancadas, mas não consigo reagir, só o que eu sinto é a dor.

Não sei dizer se perdi a consciência de novo, porém quando me dou conta tem uma mão sobre os meus cabelos. Abro os meus olhos temerosa, sem dúvida não espero ver Bellamy, contudo é isso que vejo. Será uma alucinação?

— Vai ficar tudo bem, Clarke… Prometo!- Escuto sua voz ao fundo.

— É real?- Sussurro, mas pra mim mesma do que pra ele.

Tudo se torna ainda mais confuso, Bellamy se afasta para um canto e uma garota morena se aproxima de mim. Sinto minhas mãos serem soltas e depois meus pés de alguma maneira alguém vai me tirar daqui. Um dos guardas passa seus braços sobre meus ombros e me direciona junto com a garota até a porta.

Ouço uma algazarra, vozes de todos os lados, entretanto tudo é extremamente desconexo. Bellamy ainda está perto de Lexa, mas não consigo ver o que ele está fazendo. Sem que eu possa reagir um outro guarda me põe em seus braços e corre.

Acordo, sem saber novamente quanto tempo se passou, estou deitada em um sofá velho com a mesma morena de tempos atrás me observando.

— Clarke… Clarke, consegue me ouvir?- Meneio minha cabeça afirmativamente.

— Meu nome é Adelaide, sou curandeira e amiga do Bellamy. Estou cuidando de você.

— Bellamy? Onde ele está?- Falo ainda um pouco zonza enquanto tento me levantar.

— Ele está bem, está se recuperando. Fique tranquila.

— Posso vê-lo?

— Mais tarde. Agora você precisa de repouso.

— Deixe a menina vê-lo!- Diz um garoto em pé próximo a mim.

— Ainda não é a hora. Ela precisa descansar, você deve estar se sentindo tonta ainda. Eles lhe aplicaram um dos chás mais fortes que eu tenho conhecimento. Vou pegar algo para você comer.- Demoro um pouco para realmente me recuperar, tomo uma sopa que ela me dá e já me sinto mais forte.

— Posso vê-lo agora?

— Não se assuste se ele parecer ferido. A maior parte do que você vai ver são só cicatrizes.

Adelaide não fica comigo no quarto, a mesma deve ter imaginado o quão pessoal e doloroso pra mim seria vê-lo naquele estado. Bellamy sempre teve um número considerável de cicatrizes, mas o que estou vendo não é nada parecido com o homem que eu deixei em Jaha há meses atrás.

Me aproximo e sento-me em uma cadeira posta ao lado da cama. As lágrimas saem de forma compulsiva, seus braços estão cobertos de cicatrizes, seus ombros, suas mãos parecem carne viva. Seguro a direita com cuidado, temendo-o machucá-lo de alguma maneira.

Toco seu rosto com delicadeza e beijo uma pequena cicatriz localizada perto de seu queixo. Aproximo minha boca de seu ouvido e falo:

— Me perdoe, eu nunca mais vou me afastar de você. Nunca mais, eu deveria tê-lo protegido, eu nunca deveria ter ido embora e deixado o homem que eu amo sozinho…- Digo com minhas mãos em seu rosto, me surpreendendo por cada palavra proferida principalmente a última parte.

Beijo sua bochecha, e ele abre os olhos. Ao contrário do que faria há meses atrás não me afasto, permaneço olhando nos seus olhos esperando que ele diga algo.

— Clarke… é você?- Sussurra ele enquanto corresponde meu aperto de mão.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?
Espero pelo review de vocês.