Waves of Fate escrita por Lirael


Capítulo 10
Sangue Viking - Parte I


Notas iniciais do capítulo

É... Eu sei, já faz bastante tempo né? Hehe Desculpem pela demora.



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A cabeça de Soluço latejou levemente quando Merida introduziu aquele assunto de novo. Ele ficou um tempo em silêncio, concentrando-se na tarefa de ajustar os mecanismos na sela de Banguela, com a esperança de que ela se esquecesse do assunto.

— Qual é a sua resposta? – ela insistiu, cruzando os braços sobre o peito.

Soluço apenas inspirou profundamente.

— Ele é o meu primeiro filho. – ele disse, simplesmente, se apoiando em Banguela para levantar, mas não se virou, evitando olhar para ela. – Deveria estar se preparando para me substituir como líder.

Merida se aproximou dele com passos silenciosos, abraçando-o por trás. Soluço simplesmente se virou e a envolveu com os braços também.

— Também não quero que ele vá. Mas ele está infeliz aqui e dói demais ver meu filho desse jeito. Ele quase me faz lembrar...

— Uma certa princesa rebelde que quase levou um reino ao colapso porque quis evitar um casamento? – Soluço ironizou.

Merida bufou com o comentário.

— Não sei. Talvez ele me lembre um garoto teimoso que foi contra as tradições e perdeu a perna por isso. – ela devolveu a alfinetada, com um sorriso malicioso. Os anos passados com Soluço haviam afiado seu sarcasmo.

Banguela grunhiu em aprovação, mas Soluço apenas ergueu uma sobrancelha com o comentário.

— Tinha esperança... – ele admitiu, com um suspiro. – Eu acreditava que era apenas uma fase, que iria passar.  Eu quis acreditar nisso.

Soluço assentiu para si mesmo, pensativo. Não poderia negar que o que quer que tornasse Kyle diferente, aquilo o afastava de tudo o que era comum a Berk. Por mais que desejasse que seu primogênito ficasse e o sucedesse como líder, não poderia fazê-lo a custa de sua felicidade. Aquilo o mataria. E com o nascimento dos trigêmeos, ele tinha agora uma opção a mais na sucessão.

— É o melhor que podemos fazer por ele agora. – Merida assegurou.

Soluço assentiu.

—________

Ivaar empurrou a gêmea de leve, presenteando-lhe com um de seus sorrisos. Ingrid apenas bufou, fingindo estar entretida amolando uma espada.

— Vamos...  – o garoto sorriu. – Não foi tão ruim assim...

Ingrid lançou-lhe um olhar que poderia derreter pedras, mas Ivaar continuou a encará-la, sorridente. Apesar de serem iguais  como duas gotas d’agua, Ingrid e Elora tinham personalidades totalmente distintas. Elora era doce, calma e divertida. Como o gêmeo, seu sorriso era fácil e espontâneo, embora ela não o usasse para conseguir as coisas, como ele estava fazendo agora. Elora tinha movimentos e traços precisos, era a melhor dos três nas aulas de leitura, escrita e etiqueta. Era muito fácil gostar dela, assim como ele percebia nos olhares dos garotos da sua idade, ou até mesmo naqueles um ou dois anos mais velhos. Não que ele gostasse muito disso.

Ingrid era o oposto. Não tinha nada em comum com a gêmea além da aparência física, coisa que ela fazia questão de destacar prendendo os cabelos castanhos em uma trança apertada e grossa ( Ivaar desconfiava que ela fazia isso para imitar Astrid, que ela idolatrava, embora o resultado nunca ficasse igual, por conta dos cachos rebeldes.), sua pele era levemente mais bronzeada que a da irmã, por passar mais tempo aprontando ao ar livre. Não gostava de vestidos e tinha pouca paciência para tarefas que exigiam delicadeza. Aliás, paciência era uma palavra que ela praticamente desconhecia. Era muito dada a fazer coisas impulsivamente. Mesmo para os padrões vikings, Ingrid não era muito comum. As meninas não gostavam dela, e por consequência estava sempre cercada de garotos, mas ao contrário da irmã, eles a viam como uma igual, uma companheira de aventuras. Se ela sorrisse mais, talvez eles conseguissem ver a semelhança com Elora, mas Ingrid não era muito dada a sorrir.

Vendo que seu charme não seria suficiente para que ela cedesse, Ivaar cercou-lhe os ombros e a sacudiu de leve, enquanto desciam a colina. A garota bufou, mas não rejeitou o contato. Vendo que todo o seu charme não bastaria, Ivaar suspirou e admitiu a derrota.

— Tudo bem, tudo bem... Me desculpe, tá legal? Prometo que da próxima vez, te deixo ganhar a corrida.

— Não foi justo. Você pegou um atalho. – Ingrid resmungou.

Eles caminharam até sua casa, em um silêncio emburrado, até que Ingrid simplesmente saiu correndo e deixou Ivaar para trás.

— O que foi? – Ele perguntou

— Kyle voltou! – ela gritou sem olhar para trás, e Ivaar pôs-se a correr também, sem se perguntar como ela sabia disso.

Os dois entraram em casa, praticamente derrubando a porta. Na sala, correram direto para o irmão mais velho, abraçando sua cintura.

— Ei! Vou acabar caindo assim. – Kyle resmungou, divertido.

— Seu grande estúpido! – Brincou Ingrid. - Para onde você foi dessa vez? 

— Podemos falar sobre isso depois? - Ingrid olhou em volta e finalmente reparou na sala. De um lado estavam seus pais, do outro, Elora, e no centro, sentado junto á lareira, o comerciante Johann. Ela olhava para tudo, tentando processar o significado daquela reunião, mas nada lhe vinha à mente. 

— Bom dia, comerciante Johann. - Cumprimentou Ivaar, lembrando-se das boas maneiras. - Como foi de viagem? 

— Muito bem, Ivaar, muito bem. – o velho respondeu, um pouco pensativo.

— Presumo que vá ficar em Berk pelo menos um mês desta vez? - disse o garoto, com um sorriso. 

— Infelizmente vim a negócios, é uma pena. – ele sorriu, cativado pela educação do garoto.

— Sim. Realmente. - Kyle virou-se para Elora, quando a ouviu fungar baixinho, e reparou nas lágrimas que ameaçavam cair de seus olhos a qualquer momento.

— O que foi Elora? - perguntou Ingrid - Alguém machucou você? Me diga quem foi e eu...

— Pessoal - Pediu Kyle, gentilmente. - Será que vocês podem me dar um segundo a sós com a Elora? Nós precisamos conversar. 

— Claro que sim, filho. - confirmou Merida. 

Kyle conduziu Elora até a cozinha, segurando a mãozinha minúscula na sua. Fechou a porta e voltou-se para ela, pressentindo o que estava por vir. 

— Eu não quero que você vá embora. - ela resmungou, entre lágrimas. 

Kyle queria mentir. Queria muito dizer que também não queria ir embora. Mas não podia. Nada saía de sua boca. 

— Eu sei. Mas você sabe que eu tenho que ir. - ele se agachou e a segurou pelos ombros ficando cara a cara com a irmã. - Você sabe por que eu estou partindo, Elora?

— Porque você odeia Berk. - ela chorou. Kyle deixou escapar um risinho. 

—Em parte, sim. Não haveria muito para mim aqui, de qualquer maneira. Mas não é apenas por isso. O comerciante Johann diz que nos lugares que ele visitou há curandeiros muito habilidosos, e que conhecem o tratamento de muitas doenças... – ele explicou, sendo interrompido por Elora.

— Você está indo por minha causa? Eu não preciso de uma cura! - ela esbravejou, e por um segundo, pareceu-se muito com a irmã mais velha. - Eu não ligo. Você é meu único amigo e eu quero você aqui! 

— Elora... - ele tentou argumentar. 

— Então me leve com você! Também não há nada para mim aqui. Não posso brincar com as outras crianças, nunca vou poder aprender um ofício. Ingrid vai entrar para a academia, Ivaar vai acabar se tornando líder. E eu... Eu sou um peso para todo mundo, então quem vai sentir minha falta?

 Ele queria levá-la. Por todos os deuses, Elora era a parte de Berk que Kyle mais amava. Mas o oceano não era lugar para uma criança com pulmões fracos. 

— Eu não posso, Elora. Se você tiver uma de suas crises, não vai haver Gothi para cuidar de você, e estaremos a meses de qualquer ajuda.

Ela se calou, pois não tinha como rebater esse argumento. Dando-se por vencida, deixou-se abraçar por Kyle, soluçando de vez em quando. 

— Quando eu encontrar uma cura, voltarei pra você. - ele prometeu. - e vamos viajar juntos, para conhecer os lugares das histórias que ouvimos. - ele fez uma pausa, e Elora assentiu sobre seu ombro, fungando baixinho - Mas você não deve ficar sentada girando os polegares enquanto isso. Vamos arrumar algo para você fazer. Um ofício. 

— Como? - ela se afastou dele, olhando-o - Eu não consigo voar muito alto, meus pulmões não aguentam. O Bocão já tem dois aprendizes, e com certeza não precisa de outro. Não posso lutar, mal consigo erguer uma espada... 

— Confie em mim, Elora. Vou encontrar algo para você.  

—_____ 

Quando voltaram para a sala, Ingrid os recebeu com gritos.

—Não posso acreditar que você vai embora! – Ingrid explodiu, contendo as lágrimas, ignorando a presença de todos na sala.

—É o melhor para todos nós. – Kyle explicou, olhando Elora de soslaio, que parecia já ter se conformado, embora ainda chorasse baixinho.

— Então você tem problemas e é assim que os resolve? Fugindo de casa como um...

— Já chega Ingrid. – Merida interveio suavemente, antes que fosse muito tarde. – Já está decidido e ficar nervosa não vai mudar as coisas.

Ingrid olhou para Soluço, pedindo, implorando, mas ele apenas fez que não com a cabeça e desviou o olhar para Merida. O comerciante Johann olhou de um para o outro na sala, e viu Ingrid olhar furiosamente para os pais e sair de casa, batendo a porta com tanta força que sacudiu as paredes. Ele viu sua deixa para sair e dar privacidade a família.

— Bem, se não se importam, tenho alguns preparativos para realizar antes da viagem.  – Ele não esperou que ninguém respondesse e saiu porta afora, silencioso como uma sombra.

Ninguém pareceu notar a saída discreta e o silêncio tomou conta da sala

— Você tem mesmo que ir? – Ivaar perguntou, e todos no cômodo olharam para Kyle, esperando que ele mudasse sua resposta.

Mas Kyle apenas assentiu, levemente, sem dizer nada.

—___

A última semana de Kyle em Berk passou rápido demais para Merida, mesmo que ela fizesse questão de passar cada segundo livre ao lado do filho. Era difícil encontrá-lo sozinho, e a princesa achava graça em como Elora estava sempre pendurada nele, como se houvesse uma maneira de fazê-lo mudar de ideia e ficar. Mesmo agora, tarde da noite, sentado no catre em frente à lareira, Elora marcava presença firme, dormindo, com os pés apoiados no colo do irmão, seu peito chiando baixinho.

Merida apoiou-se na parede, olhando para os dois, o coração apertado com o som da respiração da filha e a iminência da partida de Kyle.

— Sabe... – Merida comentou, em um tom despreocupado. – No dia em que você nasceu, estava chovendo em baldes. Eu estava no cais, e Astrid teve que me trazer para casa porque Dealan estava atordoado pelos raios.

Kyle olhou para ela em silêncio, escutando com atenção.

— Você me deu bastante trabalho. – Ela soltou um risinho baixo, deu a volta e se sentou ao lado de Elora, acariciando de leve os cachos castanhos  – Quando chegou a hora, estava virado do lado errado. Ninguém sabe como aconteceu. A própria Gothi ficou confusa, porque algumas semanas antes você estava na posição correta.

— É mesmo? – ele perguntou.

— Soluço disse que desde antes de nascer você já era teimoso. – Ela ergueu um dedo indicador no ar. – Mas eu sei a verdade. A verdade é que você não queria se afastar da água, nem mesmo na hora de nascer.

Kyle baixou o olhar.

—Mãe... – ele balbuciou, mas Merida tocou seus lábios, pedindo silêncio. – Eu sempre soube que você não tinha interesse nos dragões. Sempre.

O olhar verde encontrou o azul e eles ficaram se olhando até as lágrimas despontarem.

— Eu queria que houvesse outro jeito. – ele justificou.

— Eu sei. – Merida o calou e os dois ficaram assim por um tempo. Ela deu um sorriso e levou as mãos a nuca, procurando o fecho de um colar.

Quando mostrou a ele o que segurava, Kyle viu um colar muito bonito, reconhecendo imediatamente os três ursos entrelaçados. Ele arquejou de leve.

—É ele? – ele perguntou, referindo-se ao colar que há muito tempo atrás comprou um feitiço de uma velha bruxa carpinteira. – Como você o conseguiu de volta?

Merida não disse nada, apenas se inclinou para fechar o colar no pescoço do filho. Kyle encarou o pingente.

— Isso é muito especial. – ela disse baixinho. – Não consegui pensar em nada mais que pudesse te dar como uma lembrança. Queria que também pudesse levar algo de Dunbroch com você.   

— Mas eu estou levando algo. – ele sorriu e soltou uma mecha encaracolada e vermelha do cabelo, segurando-a no alto para que ela visse. – Estou levando a melhor parte de Dunbroch comigo. Um pedacinho da sua princesa mais amada.

Merida pôs as mãos nos lábios para abafar o riso, os soluços e as lágrimas que vieram todos de uma vez, mas não foi suficiente. Elora acordou.

Como um, os enxugaram o rosto com as costas da mão, bem na hora em que  Soluço entrou pela porta da sala.

 - O grande salão está cheio de gente esperando por vocês. – ele comentou, despreocupado.

Kyle assentiu. Era a sua despedida.

 


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Notas finais do capítulo

Alguém aí assistiu Moana?? Uma pessoa me perguntou se eu tinha inspirado o Kyle nela. Na verdade eu comecei a escrever a fanfic bem antes do lançamento do filme, então a resposta é não. Mas houve sim uma inspiraçãozinha por parte da Disney, embora de um filme diferente: Planeta do Tesouro. Não é um dos mais famosos e só tem uma única música (SÓ UMA, MESMO!!!) no filme todo, Mas eu simplesmente adoro o Jim Hawkins. Quem puder, assista.



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