Suni

Eu estava aguardando pacientemente qualquer contato dele. Mas o telefone não tocava. Respiro fundo, eu não quero noticias ruins, mas o pior e não ter nenhuma informação. Minha mente fica a mil voltas, assim eu me deito de novo na minha cama. Meu quarto é um buraco escuro. Eu mesmo o decorei, paredes de pedra bruta e chão de terra batida, foi a minha escolha que ele ficasse no porão, o sol e o calor não chegavam aqui, por isso era o melhor lugar para eu me esconder e fazer com que ninguém me visse nesse estado.

Faz um dia. Um dia que a ilha foi tomada pela união do fogo. Um dia sem qualquer noticia dele. O pai dele abriu um chamado de desaparecimento, mas eu tenho certeza que eles já sabiam a resposta. Se ele não tivesse sido capturado, ele estava morto.

Ouço batida na parede. Meu quarto não possui portas, assim só eu consigo entrar.

Dobro a parede e vejo Suki, minha irmã. Apesar de sermos parecidas nossas personalidade são bem diferentes.

— O que você quer? – Eu digo escondendo o meu rosto com um travesseiro.

— O papai quer que você vá jantar. – Ela diz despreocupada.

— Eu não estou com fome. –Falei desanimada.

— Ele exigiu que eu a leve, ele quer conversar, sobre você sabe o quê. –Ela falou em tom de zombaria.

Prendo a respiração. Eu estou evitando essa conversa. Suki havia contado, ela havia falado para ele o que eu tinha feito, eu sabia que ela tinha falado para eles. Eles sabiam que eu também dobrava metal.

— Eu já vou. – Eu disse a empurrando com um bloco de terra e tapando a passagem.

Aperto o travesseiro na minha própria cara. Eu queria que tudo isso sumisse. Eu queria que tudo isso se resolvesse.

Recupero o meu fôlego e resolvo aceitar, quanto antes eu tiver essa conversa, mais fácil será.

Subo as escadas escuras até a sala de jantar, a incrível sala de jantar que da tanto orgulho a minha mãe. Na verdade eu acho que a única coisa que meus pais não têm orgulho é de mim.

Vejo os três sentados naquela mesa desnecessariamente grande. Meu pai está vestido como se fosse ao trabalho. Cabelo bem arrumado e terno completo. Minha mãe está vestida como se fosse a alguma festa, está usando um vestido azul escuro de veludo, Suki nem precisa dizer, ela está como se fosse a um desfile de moda. E eu, bem eu estou como sempre estive. Uma calça de moletom suja de terra e uma camiseta rasgada. Seus olhos me julgam quando eu apareço.

— Sente-se – E o que ele se limita a dizer.

Me sento a algumas cadeiras de distância.

— Suni, você está horrível, olhe os seus olhos, que olheiras são essas? – Minha mãe diz tentando soar compreensiva.

— Eu não dormi direito só isso.

Meu pai possui os cabelos negros e olhos verdes que eu e Suni herdamos dele. Já minha mãe ela possui cabelos castanho como o meu e olhos azuis escuros.

— Suni, temos que esclarecer alguns pontos. – Ele diz de maneira inquisitória

Suspiro. Estou esperando o pior.

— Mas antes, eu tenho algumas coisas para te falar. Meelo me deu noticias.

O nome dele faz alguma coisa em meu rosto. Eu sinto o sorriso que se formou. Um pressentimento bom faz o meu coração bater mais rápido.

— Eles negociaram com a união do fogo, e foi confirmado eles não estão com nenhum refém. Alguns soldados disseram que viram um garoto com as características do filho do Meelo fugindo com uma garota em um bisão voador.

Ele estava com a Nari. Os dois conseguiram se salvar.

— E onde ele está?

— Ele ainda não foi encontrado. Não podemos iniciar as buscas com essa guerra se alastrando.

Não importa. Eu sei que ele vai conseguir. Ele sempre volta. Lembro-me de um dia quando eu não tinha nem 7 anos, ele havia sido sequestrado. O pânico foi geral. Um grupo de bandidos estava sequestrando crianças dobradoras. Meelo conseguiu escapar e ajudar os outros. Naquele dia ele foi um herói. Pena que ele não se lembra e eu não posso comentar sobre isso, todos fomos proibidos de falar sobre esse incidente.

— Suni. Voltando ao assunto principal. – Meu pai disse enquanto os empregados serviam a comida.

Ele esperou que todos os empregados saíssem para conversarmos.

— Você já vai fazer 15 anos, e você ainda age como se tivesse 10.

Eu não podia discutir com ele sobre isso. Eu realmente não agia de acordo com suas expectativas.

— E Suki falou comigo sobre o que aconteceu.

— Eu imagino que sim.

— Ela disse que esse ano a festa de aniversário de vocês duas terá que ser adiada.

— Aniversário? O que? É disso que você quer conversar comigo?

— Bem, o que mais seria? – Ele olhou para mim confuso

Eu olhei para a Suki e ela piscou para mim. Aquela trapaceira. Ela me fez passar por esse caos emocional para isso? Ela quer alguma coisa. Ela não me faria passar por isso por nada.

—Suki disse que por causa dessa guerra desnecessária, vocês duas não poderão ter a festa que merecem.

Como se eu aparecesse nas nossas festas de aniversário. Eles sabem que eu fujo, que eu faço coisas mais produtivas do que gastar meu tempo com festas desnecessárias. Desde os meus oito anos eu faço isso.

— Acho que vocês não precisam de minha opinião para nada.

— Mas a Suki disse que você está super-ansiosa.

— Estou?

— Claro que está irmãzinha, lembra-se daquele dia que você me disse isso. Aquele mesmo dia que você , Meelo e aquelazinha vieram aqui e .... – Eu a interrompi’

— Está bem, eu realmente estou ansiosa por isso.

A conversa fluiu entre eles, e um nó se formou na minha garganta. Eu realmente tinha coisas mais importantes para fazer e pensar mas ela me deixou preocupada.

Ela quer alguma coisa, eu realmente não sei o que é, mas estou presa nisso agora, e farei o possível para que ela não abra a boca. Mesmo que sejam coisas que eu deteste. Ela me tem nas mãos agora.