República Evans escrita por Carol Lair


Capítulo 7
Sentimentos Reprimidos




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Capítulo 7 – Sentimentos Reprimidos

– Respire fundo.

Helena colocou a mão sobre o peito e o obedeceu.

– Acho que já estou me sentindo melhor.

– Viu só? É nossa terceira "consulta" e você já consegue controlar seus impulsos quando vê algum outro aluno bebendo aqui no jardim. – Remus falou gentilmente, como se falasse com uma criança.

Os dois estavam sentados um ao lado do outro no banco do jardim de Hogwarts, após o fim das aulas matutinas. Mais adiante havia um grupo formado por três rapazes, que bebiam cerveja de forma absolutamente civilizada. No entanto, a cena era o suficiente para desestruturar as emoções de Helena.

– Remus, não tenho como te agradecer! Duas semanas atrás, eu teria começado a me sentir mal e teria que ter me afastado rápido, antes que começasse a chorar. - Ela fez uma pausa, pensativa. - Será que eu já poderia suspender meus remédios?

– É melhor não, faça isso só quando o seu médico autorizar.

Helena sorriu.

– Você tem razão. Obrigada!

Naquele momento, James passou por ali acompanhado de uma jovem de cabelos dourados, que ria de algo que ele lhe contava. Ele não parecera tê-los visto. Helena observava a cena, sem piscar.

– O Potter terminou com a Sarah semana passada e está com outra? - Helena virou-se para Remus com os olhos cheios de lágrimas. - É tão triste ver corações despedaçados! – ela exclamou num tom absurdamente dramático. – Tenho certeza de que os dois ainda se gostam.

– Helena, nada de chorar!

Mas ela já secava a primeira lágrima que havia escapado pelo canto do olho.

– Aliás, não te contei que eu também sou fraca quando me deparo com desgraças ou quando vejo pessoas fazendo coisas erradas com elas mesmas. O mundo não podia ser perfeito?

– Helena, escute-me. - Remus interveio, pacientemente. - Pense que isso é só uma questão de ponto de vista. Veja, se o James e a Sarah estivessem juntos, poderia ser que isso fosse o errado para eles, entende? - Ela o ouvia com atenção. - Então, sob essa perspectiva, foi ótimo que eles tenham terminado, não concorda?

Ela abriu um enorme sorriso.

– Remus, você entende tanto as pessoas! – Ela secou as lágrimas. – Você tem razão. Talvez o James não seja apaixonado pela Sarah e seja melhor assim.

Remus passou as mãos pelos cabelos, num gesto um tanto impaciente. Helena podia ser definida como uma pessoa literalmente dramática, altamente magoável e totalmente mais preocupada com o que acontecia com os demais do que com ela própria.

– Bom, Helena... eu preciso almoçar, depois nós marcamos a próxima consulta. Caso você queira, claro. – Ele disse, levantando-se e lançando a mochila para trás das costas. Subitamente sentiu-se com pressa.

– É claro que eu quero, Remus, não desista do meu caso! Você é o único que tem conseguido me ajudar! – Ela respondeu, quase desesperada.

– Claro. – Ele sorriu, retomado pela calma e levemente arrependido por ter buscado afastar-se dela. Assim, Remus se despediu de Helena e saiu, deixando-a pensativa.

–--

Embora setembro avançasse e desse seguimento às estações do ano, trazendo um clima mais fresco, o tempo parecia retroceder para dois jovens moradores da república: Lily e James continuavam trocando olhares reprovadores e implicando um com o outro. No entanto, Lily chegara ao seu limite. Àquela altura, ela já compreendera que Potter sentia um enorme prazer em perturbá-la e, pior, ele sabia muito bem como tirá-la do sério. Portanto, um ciclo vicioso havia se formado: Lily o ignorava porque não queria se aborrecer com as ironias e olhares constrangedores dele e Potter sempre surgia com alguma ironia e olhares constrangedores simplesmente porque não queria continuar sendo ignorado por ela.

Mas aquilo precisava acabar.

Era quase madrugada, mas a ruiva não havia jantado porque precisara fazer um trabalho para a universidade e demorou mais do que imaginara. Quando finalmente terminou-o, ela entrou na cozinha para comer qualquer antes de finalmente ir dormir. Mas Potter já estava lá, comendo. E, como sempre, Lily o ignorou. Ela abriu a geladeira e passou os olhos pelas prateleiras, ciente de que ele a castigaria por ter sido ignorado.

Por fim, Lily resolveu fritar um ovo. Pelo canto do olho, ela pôde perceber que Potter não desviara os olhos dela nem uma vez. Lá estava o maldito castigo. Porém, muito tentada a fazer o contrário, Lily não manifestou nenhuma reação. Quando terminou de fritar, ela colocou o ovo sobre um prato e se virou para se sentar na mesa, de frente para ele. Potter desceu os olhos e mediu cada centímetro de suas pernas, abrindo um sorriso quase imperceptível. Eu vou matar esse idiota. Era pessoal ou ele também ficava encarando Anita e Lorens daquela maneira? Lily jamais havia reparado.

Potter deu mais uma mordida em seu sanduíche e voltou a mirá-la.

– Ok, Potter. - Ela sequer começara a comer, porque isso não seria possível com ele olhando-a daquele jeito. - Qual é o seu problema?

– Pois não? - Fez ele, cínico.

Lily respirou fundo, com ar de cansaço.

– Potter, por que você fica me olhando assim? - Afinal, já fazia quase um mês que moravam juntos e quase um mês que Lily sentia como se tivesse perdido toda a sua liberdade dentro de sua própria casa e trabalho. Ela soltou a respiração e prosseguiu, num tom de desabafo: - Quero dizer, você não percebe que eu não gosto? Que é isso que me faz ignorar você?

– Você não acha que está com a modéstia em baixa, Evans?

– Não, Potter, não acho. Eu não sou obrigada a passar por isso só porque você não recebe a atenção que gostaria de receber.

Ele riu, balançando a cabeça negativamente.

– Como quiser. - Respondeu, chacoalhando os ombros.

Qual é o problema dele? Lily pegou o seu prato e resolveu sair da cozinha, antes que começasse a socá-lo. Qualquer pessoa normal se desculparia, com toda certeza. Aliás, qualquer pessoa normal não ficaria encarando-a constrangedoramente todos os dias. Potter era um maníaco, disso ela estava certa. Não era bom ficar sozinha com ele.

–--

O outono chegara sem trazer muitas novidades. Anita continuava sem estágio, enquanto Lorens mal parava em casa na correria do ensaio da peça de teatro. James e Sirius estavam sempre saindo à noite e não demorou muito para que James adquirisse a mesma fama de Sirius. Uma fama já profetizada por Lily desde o primeiro dia em que o vira.

Entediada, Anita se encontrava jogada no sofá da sala, olhando para o teto. Seus dias de desemprego poderiam ser bem aproveitados caso ela estivesse com humor para isso. A jovem ainda não havia contado aos pais a respeito de sua situação financeira, mas precisaria fazê-lo em breve, uma vez que precisaria de mais dinheiro para se manter. Só de pensar naquilo, sua vontade de se levantar dali diminuía.

– Boa noite, Anita! – ela pôde ouvir a voz de Sirius, provavelmente chegando da academia. - E aí, alguma novidade?

– Não. Nada.

– Não se preocupe, em breve isso vai mudar.

Ele passou por ela e subiu as escadas. De fato, o tempo apenas confirmara a existência de um sentimento especial por ele dentro dela. Mas agora, Anita não estava mais se preocupando em tentar esquecê-lo, já que moravam juntos e isso seria impossível com tamanha convivência. Portanto, ela esperava que este novo sentimento por Sirius desaparecesse do mesmo jeito como surgira: de repente.

... Então graças a você, eu terei de fazer tudo de novo! – A voz exaltada de Lily pôde ser ouvida antes mesmo da ruiva abrir a porta.

Ela entrou segurando uma enorme pilha de papéis e, logo atrás, entrou James, desnorteado.

Oi. – Lily cumprimentou Anita, antes de correr para as escadas.

– O que aconteceu, James? – Anita perguntou, sem entender nada, sentando-se no estofado.

– Eu fiz besteira e a Evans está muito brava comigo.

Anita rolou os olhos.

Novidade.

– Mas agora eu realmente acho que ela tem motivos. – ele disse, com uma certa preocupação.

– O que aconteceu?

Antes de responder, James bagunçou os cabelos.

– Eu derrubei café no relatório dela. Você a conhece, ela escreveu como se fosse a coisa mais importante do mundo, demorou horas, revisou três vezes. Só que ela não tinha salvo no computador, tinha mandado imprimir direto. E nosso chefe não pareceu acreditar na história do café.

Anita suspirou.

– É. Dessa vez, a Lily tem razão em estar furiosa. - Ela suspirou. - Mas um dia vocês vão conseguir se entender, eu ponho fé nisso.

James riu, lembrando-se da conversa que tivera com a ruiva na cozinha, alguns dias antes. Improvável, Anita, ele respondeu-lhe mentalmente.

Pela terceira vez em dez minutos, a porta se abriu novamente e Lorens passou por ela.

– Pessoal! Temos que comemorar! – ela estava muito animada.

– Por quê? – Perguntaram Anita e James em uníssono.

– Porque hoje começam a vender os ingressos da minha peça! E daqui duas semanas será a estréia! – seus olhos brilharam. – Além do mais, hoje é sexta-feira! Que tal irmos ao Três Vassouras?

– Ah, eu não vou. – Anita disse, com a voz arrastada.

– COMO ASSIM? - Lorens cruzou os braços.

– Não estou muito animada para sair ultimamente. – Anita respondeu.

Lorens balançou a cabeça.

– Anita, ninguém aqui te odeia por você estar desempregada! Você permanece com o direito de se divertir, sabe?

– Vou pensar no seu caso, Lorens. – Anita murmurou.

– Decida logo, pois eu já vou me arrumar! – Lorens se encaminhou saltitantemente para as escadas. – E eu quero aquele seu sapato azul escuro emprestado, espero que você não esteja pensando em ir com ele!

Anita sorriu, balançando a cabeça, voltando a ficar sozinha com James. Sirius desceu as escadas, sem camisa e com os cabelos molhados, recém saído do banho.

– Eu ouvi direito? Três Vassouras hoje?

– Exato. – James confirmou. - Só a Anita que não quer ir.

– Como assim? – perguntou Sirius, num tom de surpresa, passando uma toalha pelos cabelos.

Anita finalmente conseguiu desviar os olhos de seu peito muito bem definido e sorriu, corando:

– Não, eu vou sim!

– Você muda de ideia rápido. – James observou, sabendo exatamente o que a tinha feito mudar de opinião.

–--

Poucos minutos depois, Remus, o único que faltava para completar a casa, apareceu à porta no exato momento em que Lily descia as escadas e se largava no sofá, ao lado de Anita. Rapidamente, os dois foram atualizados acerca da novidade de Lorens.

– Então vocês vão com a gente hoje, certo? – Sirius perguntou.

– Eu vou. - afirmou Remus.

– Eu não posso. Tenho de reescrever um certo relatório. – Lily respondeu, lançando um olhar para Potter. - Mas divirtam-se.

– Ah, você vai sim, Lily! – Anita replicou. – Você vai me acompanhar!

– Se tem alguém que deveria deixar de ir por causa desse relatório, esse sou eu. - Potter tomou a palavra, olhando para Lily sem estar revestido da costumeira ambiguidade, mas de um tom ligeiramente carinhoso. O que ele quer com esse teatro?– Afinal, fui eu quem estragou tudo. E mesmo que você prefira refazer sozinha, eu acho que o relatório não precisa ser refeito hoje e à essa hora. Ele pode ser reescrito amanhã ou domingo.

Houve um momento de silêncio. Lily desviou o olhar, enrubescendo. Idiota.

– Hm, ok. Nós podemos dividir o relatório depois.

– Então você vai? - Perguntou Anita, se animando.

Lily confirmou com a cabeça. Todos começaram a falar a respeito de horários e meios de transporte, exceto por Lily e Potter. Ainda sem saber de onde viera tal atitude cavalheira, Lily voltou a olhá-lo. Ele também a mirava e seus olhos se mantiveram presos aos dela por um longo momento.

–--

Enquanto Lorens desfilava pelo quarto, decidindo qual sapato usar, Lily se aproximou de Anita, que se maquiava diante do espelho, no banheiro do quarto.

– Anita... Posso te fazer uma pergunta?

– Já fez uma. – Anita riu, mas parou rapidamente. – Droga, borrei o delineador!

– Então. – Lily tomou coragem. – Sabe o Potter?

É claro, Lily. – Anita passava uma pequena toalha sobre o olho esquerdo, impaciente.

– Ele fica olhando para você?

– Todo mundo olha para todo mundo, Lily! – Anita parou o que estava fazendo e virou-se para a ruiva, percebendo o constrangimento da amiga. – Mas como assim? O que você quis dizer?

– Eu quis dizer de um modo estranho. Ele fica encarando o seu corpo o tempo todo, fazendo cara de safado, como se estivesse a ponto de te... agarrar?

Anita ficou alguns segundos sem expressar nenhuma resposta. Lily quase acreditou que a mesma coisa acontecia com a amiga, e que, assim, possuía uma grande aliada para a missão de retirar James Potter da república. Mas a loira começara a rir.

– Ora, Lily, mas é claro que não! De onde você tirou isso?

Lily forçou uma risada, sem-graça.

– Ah, não sei. Então, esqueça!

A ruiva saiu correndo do banheiro para evitar mais perguntas e esbarrou em Lorens.

Ouch, Lily! – A morena exclamou, quase caindo. – Definitivamente, não vou com esse sapato, já que quase caí. Obrigada pela dica.

Desviando-se dela, Lily se sentou em sua cama, pensativa. Não era implicância dela! Potter era um tarado sem limites, mesmo que poucas horas atrás ele estivesse se fazendo de bom-moço. Quando levantou a cabeça para perguntar a mesma pergunta à Lorens, Sirius as chamou do andar de baixo.

– Os carros estão esperando!

–--

– Cabem três aqui atrás e um na frente – Amos dizia. – Os dois que sobrarem podem ir no carro do Bill.

– Eu vou com o Bill, quem vai comigo? – Lorens perguntou.

– Eu posso ir com você. – Potter se ofereceu.

Continua se fazendo de bom-moço solícito, Lily observou, em silêncio.

– Lily, você está linda! – Amos elogiou, quando virou-se para ela. – Quero você no banco do passageiro do meu carro! - Ele brincou, cumprimentando-a.

Lily sentiu suas bochechas esquentarem, enquanto sorria.

– Obrigada, mas-

– Não, por favor, faço questão de que você vá ao meu lado!

Amos abriu a porta do passageiro, fazendo uma reverência cortês e engraçada para que Lily entrasse. Todos olhavam a cena, divertidos. Assim, Anita, Sirius e Potter entraram e se acomodaram no banco traseiro.

– James, você não ia comigo no carro do Bill? – Lorens perguntou, se aproximando da janela do carro.

– Ah. Bem. O Remus pode ir com você, não pode? – Sugeriu ele, com uma seriedade estranha para o habitual James Potter.

As máscaras não duram muito tempo, afinal, Lily abriu um enorme sorriso interno. Potter quase conseguira enganá-la.

– Ok. Vamos, Remus?

No entanto, Potter permaneceu calado durante o percurso, aparentemente tomado por um súbito mau-humor. Enquanto Amos foi cortejando Lily o caminho todo, fazendo Sirius e Anita rirem e soltarem comentários engraçados.

– Lily, você vai tomar um drink comigo, não vai? – Amos perguntou, sorrindo, estacionando o carro.

Lily virou a cabeça para olhá-lo.

– Talvez, Amos, talvez...

–--

O Três Vassouras era um pub enorme, decorado a moda country. Talvez não houvesse uma pessoa no mundo que não apreciasse uma invenção da casa: a famosa cerveja amanteigada, que não havia em nenhum outro lugar a não ser aquele.

O local estava bem cheio, mas havia uma mesa esperando por eles. Lorens não demorou para encontrar os amigos do elenco, numa mesa bem próxima. Bill, que era um rapaz praticamente mudo, apenas a acompanhou.

– Querida Rosmerta! – Cumprimentou Sirius, com o melhor sorriso no rosto, quando a garçonete se aproximou.

Rosmerta era uma bela mulher, que beirava os trinta anos, e era a filha da dona do local. Ela cumprimentou-os bem humorada, enquanto acomodava todos à mesa.

– E então, o que vão querer hoje? – ela perguntou gentilmente, tirando um bloquinho do bolso.

– Uma rodada de cerveja amanteigada. – Sirius pediu em nome de todos, que confirmavam animadamente com a cabeça.

Rosmerta anotou tudo e saiu em direção do balcão. Cinco minutos depois, voltou com uma bandeja com todas as canecas e serviu-os.

– Vamos dançar, Lily! – Anita a chamou, após beber metade da cerveja.

Evans cedeu e as duas se retiraram, deixando apenas os quatro rapazes à mesa. James, Sirius, Remus e Amos recebiam olhares de praticamente todas as garotas que passavam por eles e não demorou muito para que este se tornasse o assunto da roda.

– Terminando essa cerveja, eu vou para a pista de dança. – Amos disse. – Vamos ver se encontro a Lily.

James se espantou com as palavras dele. Não entendia como um cara tão legal como Amos podia sentir um verdadeiro interesse em alguém tão antipático como Lily Evans.

– Sério? – ele deixou a pergunta escapar.

– Sim, por quê? Eu já estou pensando em tentar alguma coisa há algumas festas. – Amos contou. – Será que eu tenho chances? Ela está com alguém, vocês sabem?

– Sozinha, como sempre. - Sirius garantiu, lembrando-se do jogo de perguntas que Lorens havia proposto algumas semanas atrás.

– Mas ninguém sabe o que se passa pela cabeça dela. – Remus já adiantou, bebendo sua cerveja amanteigada.

– Olha, Amos, eu até acho a Evans bonitinha, mas ela é insuportável, cara. Sério. – James falou, em tom de conselho.

– A Lily? – Amos riu. – Ela é muito legal, cara. Bom, pelo menos ela nunca me fez nada.

Pouco tempo depois, Amos se levantou e se afastou, enquanto James sacudia os ombros, meio emburrado.

– E aquela loira perto do bar não pára de olhar para mim. Acho que chegou a hora de me levantar. – Sirius disse, sendo imediatamente incentivado pelos amigos.

Ele terminou sua cerveja e não demorou muito para sair.

Frank e Alice chegaram pouco mais tarde, juntos. As coisas entre os dois não estava como Alice esperava que fossem. Mesmo após três semanas desde o aniversário dele, Frank ainda não conseguia se sentir à vontade com a situação. Na verdade, ele não sabia demonstrar o que sentia com naturalidade. O fato era que Frank estava confuso e não sabia como lidar com o sentimento novo que Alice lhe trouxera: um sentimento de exclusividade que, até então, jamais tinha lhe ocorrido. O problema era que ele preferiria continuar sem senti-lo, uma vez que julgava-se muito jovem para assumir um compromisso. Mas a ideia de terminar com Alice também não lhe apetecia, então Frank simplesmente não sabia o que fazer.

Ele só precisava de tempo e Alice parecia não ligar – muito – em esperar.

Depois de cumprimentarem James e Remus, que ainda estavam na mesa conversando, Alice perguntou sobre Evans e James quem respondeu, seco:

– Ela deve estar se pegando com Amos na pista de dança.

– QUÊ? – Alice arregalou os olhos.

– O Amos... sério? – Perguntou Frank, sorrindo.

– A Lily nunca me falou dele... não creio! – Alice rapidamente se enfiou na multidão, querendo ver a cena.

– Quem diria, hein? - Comentou Frank, pensativo, sentando-se com os amigos.

– Não ponha muita esperança nisso. – Remus disse. – O Amos foi atrás dela na pista, mas não acho que vá conseguir.

Frank se flagrou pensando se Alice se sentiria livre para ficar com outros homens na pista de dança. Maldito sentimento de exclusividade. A fim de evitar pensar no assunto, ele pediu uma cerveja para si.

–--

– Vai, Lily! – Anita falou, enquanto pulava no ritmo da música.

Lily dançava timidamente, divertindo-se demais com os passos de Anita, que chamava até a atenção das pessoas a volta. Pouco depois, Amos surgira ao lado das duas e rapidamente foi contagiado pelo ritmo animado da música. Após a segunda música, ele se começou a se aproximar de Lily, mas ela se esquivava todas as vezes, disfarçadamente, dando início a uma espécie de jogo, na medida em que tal "passo" se repetia.

Minutos depois, ele chegou muito perto de roubar-lhe um beijo, mas Lily se virou e continuou dançando como se nada tivesse acontecido, bem como se não fosse possível notar que Amos olhava-a fascinado. Anita passou por trás de Lily e sussurrou em seu ouvido:

– Lily, o que você está esperando para beijar o gostosão aí?

A ruiva mal pôde pensar em responder, pois Anita já havia voltado a dançar com um outro rapaz, que também se aproximara. Numa tentativa mais direta, Amos puxou Lily pela mão, mas ela teve de dar um leve empurrão nele. Lily simplesmente não conseguia se deixar levar pelo momento, sua mente, por meio de pensamentos profundamente racionais, impedia-a de dar qualquer passo em falso. Desta forma, Lily e Amos permaneceram no jogo por mais um tempo: ele se aproximando e ela se esquivando graciosamente, involuntariamente deixando-o ainda mais atraído.

Alice apareceu, olhou para a cena e sorriu. Cumprimentou a pequena roda e já começou a dançar.

Mais uma vez Amos tentou beijar Lily, agora definitivamente chegando muito perto.

– Alice... vamos ao toalete? – perguntou Lily à amiga, sem se importar em ser indelicada ao parar de dançar com Amos sem qualquer cerimônia.

– Você precisa mesmo? Ou é só uma desculpa para sairmos daqui?

Lily revirou os olhos e virou-se rapidamente, abanando a mão para Amos, indicando que iria sair da pista. As duas chamaram Anita, que estava prestes a beijar o garoto com quem dançava. Ela se afastou dele dançando sedutoramente e foi atrás das amigas.

No caminho para o toalete, desvencilhando-se das pessoas, as três puderam avistar Sirius beijando uma garota contra a parede. Lily imediatamente virou-se para Anita, a fim de ver sua reação. Anita olhou o casal só por alguns instantes, respirou fundo e seguiu em frente.

O trio entrou no toalete feminino e Anita já começou a falar, aparentemente ignorando o que havia visto:

– Estou bem assim? – ela perguntou, arrumando os cabelos diante do espelho. - Aliás, Lily, você está esperando o quê pra beijar o Amos?

Lily ficou totalmente sem reação com a pergunta, que a pegou de surpresa por ter sido feita de modo tão direto.

– Eu... não quero ficar com ele.

– Mas por quê? – Perguntou Alice.

– Não sei, eu simplesmente não quero. Nunca me imaginei com ele.

– Ora, mas e daí? - Anita cruzou os braços. - Vamos, diga, qual é o defeito dele?

– Ele não é o problema, você sabe disso.

– Então você ainda gosta do Louis?

Lily ficou muito séria. Aquele era definitivamente um assunto delicado.

– Fui eu que terminei com ele, Anita. Isso não tem nada a ver com o Louis.

– Então por que vai desperdiçar Amos Diggory? – Anita estava incrédula.

– Porque não quero ficar com ele! – Lily respondeu, impaciente. – E você, Alice?

– Eu o quê? Não, obrigada, também não quero ficar com o Amos.

– Não foi dele de quem eu perguntei! – Lily riu. – Estou falando do Frank! Vocês vieram juntos?

Sim.

– No carro dele? – foi a vez de Anita perguntar.

Sim. Mas não aconteceu nada, meninas, não me olhem assim. E olha que eu não me fiz de difícil, nem nada, ele simplesmente ignorou todas as minhas indiretas. Não sei qual é a dele.

– Mas como? Alice, se o Frank não te pedir em namoro hoje, dá um fora nele e faça essa fila andar! – Anita exclamou, boquiaberta. – Já foram semanas de pura enrolação!

Alice corou e abaixou os olhos.

– Eu gosto muito dele e eu acho que ele sabe disso. Ontem, no caminho para casa, nós tivemos uma conversa. Frank me disse que não quer namorar agora, mas que está gostando muito de estar comigo. - ela suspirou. - Lógico que eu também estou gostando muito de estar com ele, até demais na verdade, então eu decidi que não vou ficar com ele só quando ele decidir que quer. E, do jeito que as coisas vão, acho que não vão dar em nada, mas não tenho motivos para "terminar" o que quer que seja isso que nós temos.

– Enquanto você estiver bem, não tem motivos para terminar mesmo. - Anita aconselhou e Lily concordou com a cabeça.

As três olharam seus reflexos no espelho por mais alguns momentos, e Anita finalmente sugeriu:

– Vamos voltar para a pista?

As três saíram do toalete dando risada, atraindo vários olhares.

–--

Um deles era o de Frank Longbottom.

James seguiu os olhos do amigo e observou Evans, Alice e Anita, muito sorridentes, serem abordadas por três homens.

– Quem serão aqueles lá? – Frank perguntou, vendo tudo, sem piscar.

– Ora, Frank. – James soltou uma risada sarcástica. – O que você acha, cara?

O rosto de Frank se contorceu levemente. Mas sabia que isso era ridículo, ele mesmo não pensava em namorar Alice e estava muito curioso para pôr em prova o tal sentimento de exclusividade. O que iria sentir se a visse com outro?

– Frank, se você não quiser que a Alice fique com alguém, por que você simplesmente não vai falar com ela? – Remus perguntou, num tom de obviedade.

Frank desviou o olhar de Alice e olhou para o amigo.

– Ficar com ela só para ela não ficar com mais ninguém? Seria, no mínimo, infantil.

– Eu quis dizer para você assumir logo um compromisso com ela. Vocês se gostam, isso é óbvio.

James continuava a olhar os três homens investirem no flerte. As garotas riam junto com eles. O garoto que estava falando com Alice se aproximou para sussurrar algo em seu ouvido e ela caiu na risada com o que ouviu.

– Hey! - Sirius vinha da pista de dança na direção da mesa dos amigos. Os primeiros botões de sua camisa já estavam abertos. - Vão ficar sentados aí à noite toda? Vocês precisam conferir as beldades dessa pista de dança.

– E cadê a sua loira do bar? – perguntou James, já se levantando.

– Quem? - ele balançou a cabeça. - Ah! Eu disse para ela que ia buscar cerveja, mas talvez à essa hora ela já tenha percebido que nunca mais vai me ver na vida. - Ele terminou a frase com uma risada.

E assim, os dois saíram rindo alto, adentrando na multidão da pista. Frank nem percebera a conversa paralela, continuava observando Alice, um tanto aflito. Sabia que ela não era do tipo de cair em qualquer conversa, mas não estava gostando nada de ver aquele rapaz tão próximo dela.

– Vou dar uma volta, Frank, você vai ficar aí? – Remus perguntou, se levantando.

– Também vou.

–--

– Me chamo Andrew. – apresentou-se o garoto que estava de frente para Lily. Era loiro, alto e definitivamente atraente. – Qual é o seu nome?

– Lily Evans. – ela respondeu, timidamente.

– Eu sou Henry. – Disse o de cabelos cacheados, que não tirava os olhos de Anita.

– E eu sou Paul. – Falou o último, que estava ao lado de Alice.

Alice e Anita se apresentaram para eles. Os garotos tinham de se aproximar de seus ouvidos para que elas pudessem ouvi-los bem, pois a música estava muito alta.

– O que vocês gostam de beber? – perguntou Henry, seus olhos brilharam.

Anita riu e Lily trocou um olhar com Alice.

– Eu poderia dizer que nós três gostamos de cerveja. - Anita começou. - Mas se a pergunta fosse feita só para mim, agora mesmo me deu vontade de tomar um Sex on the Beach. - ela concluiu, arrancando algumas risadas e ganhando uma leve cotovelada de Lily.

– O Sex on the Beach daqui é ótimo, você já experimentou? – Henry perguntou-lhe.

– Não tenho certeza.

– Então venha, vamos tirar essa dúvida.

Anita e Henry se afastaram alguns passos do grupo, na direção do bar. Antes de sair, Anita lançou um sorriso incentivador às amigas.

– Então vamos, Alice, vamos tomar uma cerveja. – Paul tomou a frente, se aproximando mais da morena.

Alice pensou alguns instantes antes de responder. Enquanto isso, Andrew continuava tentando qualquer coisa com Lily, sem sucesso.

– Ah, Paul, uma pena... mas acho que é melhor deixar para a próxima.

– Ora, Alice! Você tem problema? Não vai por causa do Frank? – interveio Lily, que também queria escapar das perguntas de Andrew.

– Quem é Frank? Seu namorado? – Paul perguntou, num tom galante.

– Eu não tenho namorado.

– Ah, então vamos! - ele abriu um enorme sorriso. - Vamos pelo menos tomar alguma coisa.

Alice coçou a cabeça, completamente sem reação.

– Ok. Então a minha primeira pergunta é: em qual bebida você está pensando? – Alice recomeçou, agora olhando nos olhos de Paul e reconsiderando a ideia. Ignorando a possibilidade de ele já ter sugerido a mesma coisa para dezenas de garotas só naquela noite, Alice se sentiu até mais desejada. Muito mais do que quando, algumas horas antes, havia sido delicadamente desprezada por Frank.

– Qual você quisesse. – Paul respondeu. – Você gosta de Cuba Libre?

– Adoro.

– Então depois de um Cosmopolitan, nós vamos beber uma Cuba. – Paul planejou, chegando ainda mais perto, fazendo-a rir.

– Ah, então serão dois drinks? – Alice sorriu. O nariz dele estava a centímetros do dela. – Ok, pode ser, mas terei de parar por aí, senão não poderei mais me responsabilizar por mim.

– Então vamos tomar uns dez drinks.

Alice riu mais ainda e estava com uma resposta pronta. Mas numa fração de segundo, a jovem fora interrompida, puxada e beijada. Porém, não por Paul. Nesta mesma fração de segundo, Alice pôde ver a figura de Frank puxá-la e beijá-la, sem ter tempo de esboçar qualquer reação.

– Paul, esse é o Frank. – Lily avisou-o, quando viu a cena.

– Sério? - Ele coçou a cabeça. - Bom, manda um tchau pra ela depois... e boa sorte aí, Andrew!

Paul saiu apressado, enquanto Alice finalmente conseguia se soltar do abraço de Frank. Estava furiosa. Na verdade, furiosa era pouco. Ainda muito atônita, a morena começou:

Frank.

– Ah, Alice. Vai dizer que não gostou? – ele riu. – Tenho certeza de que não te entendi mal quando estávamos no carro.

Alice cerrou os olhos de raiva, mas, antes de fazê-lo, pôde ver Lily e Andrew se afastarem, provavelmente prevendo que haveria uma briga. Frank a olhava confuso.

– O que foi que você acabou de fazer? Com que direito você fez isso?

Frank sentiu o estômago se revirar inúmeras vezes e finalmente compreendeu que ela havia desprezado sua atitude.

– Alice, eu achei que você estivesse comigo. Nós viemos juntos, ou já se esqueceu? E eu vi como você estava flertando com aquele cara, então se tem alguém que deve ficar nervosinho aqui, esse alguém sou eu.

O queixo da garota despencou.

O quê? O que foi que você me disse ontem mesmo, Frank? "Não quero nada sério por enquanto" - Ela imitou a voz o rapaz, o que soaria até engraçado se não fosse pela situação. - E hoje no carro? "Não quero que você se iluda, por isso acho melhor nós não ficarmos todo o dia". Qual é o seu problema? Só estamos juntos quando te convém, é isso? Mas veja bem: acabou!

Frank estava sem palavras. Depois de ter feito toda aquela cena, como é que ela ainda não havia percebido? Ele queria sim namorar Alice Flynn e finalmente conseguira assumir tal fato para si mesmo. Não era óbvio?

– Não. Durante essas três semanas, eu sei que tudo foi como você quis! – continuou ela. – Mas ontem escutei de novo da sua própria boca que você NÃO quer nada comigo e fiquei quieta, achando que fosse um problema de começo de relacionamento. E mesmo assim, hoje eu resolvi ignorar o meu orgulho, porque mesmo que você não saiba, eu tenho um, e ainda dei a entender que queria ficar com você hoje à noite. E você? O que você fez? Pois é, você não disse ou fez qualquer coisa a respeito, continuou dirigindo e mal falou comigo quando chegamos aqui. E nem teria falado se não estivesse tomado por esse sentimento egoísta e RIDÍCULO!

– Mas eu pensei que você quisesse ficar comi-

– Sim, eu queria! Mas você não demonstrou querer o mesmo e depois dessa sua atitude infantil e de toda essa enrolação, eu também não quero mais!

Alice respirou fundo, acalmou-se e fez menção de sair diante da falta de reação da parte dele, mas Frank a segurou pelo braço.

– Alice, eu nunca gostei de alguém antes. Nunca namorei sério. Mas quando eu estou com você, é completamente diferente e está sendo difícil aceitar que eu... que eu, bem... que eu talvez... ou-

– Não consegue nem dizer, não é Frank? – Alice interrompeu, hostilmente, com decepção na voz. – Você só me beijou agora por puro egoísmo. – Ela suspirou, nervosa. - Nós nunca daríamos certo.

– Alice! Volta aqui!

Todavia a morena não olhou para trás e Frank continuou ali, parado, sem acreditar no que ouvira. Como assim? O que ele tinha feito tinha sido assim, tão grave? Por que ela mudara de ideia tão rápido? Ele não tinha sido tão mau assim, afinal, era óbvio que gostava dela. O que ela não entendera? O que ela queria, que ele se ajoelhasse e a pedisse em casamento?

Contudo, Frank sabia que não era o momento para ir falar com ela. Daria um tempo para Alice, assim como daria um tempo para si mesmo e, quem sabe, este tempo não fosse o suficiente para que ela entendesse o motivo de sua atitude e viesse lhe procurar.


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Notas finais do capítulo

Oi, meus queridos! Como vocês passaram o dia de vocês?

Pois é, podem me xingar, eu acabei de separar Frank&Alice :'( Mas CALMA que, óbvio, eles ainda vão voltar (mas só depois de muitos problemas, claro).

Obrigada a todos pelo apoio! Estou muito feliz com o retorno que recebo nos comentários!

Vocês são demais!
Beijos e até o próximo!!!



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