República Evans escrita por Carol Lair


Capítulo 6
Verdades e Mentiras




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Capítulo 6 – Verdades e Mentiras

— Lily, eu tenho tanta coisa para te contar! – a ruiva ouviu a voz entusiasmada de Alice assim que chegara à sala de aula.

Os olhos castanhos de Alice brilhavam de felicidade.

— O que aconteceu?

— Você não imagina!

Lily estava prestes a abrir a boca para apressar a amiga, mas avistou o pequeno professor Flitwick, que lecionava Sociologia Geral e Jurídica, entrar na sala. Os estudantes, ainda agitados, se direcionaram aos seus respectivos lugares, assim como Lily e Alice.

— Bom dia. – cumprimentou ele, solene.

Alice virou-se para Lily e sussurrou:

— Quer prestar atenção na aula?

— Nem se eu quisesse, eu conseguiria! Me conta logo o que houve!

Alice tentou relatar fielmente todos os diálogos entre ela e Frank durante festa, dando ênfase ao beijo que ele lhe roubara durante a despedida. Sua voz soava indiscutivelmente sonhadora.

— Jamais imaginaria você e o Frank juntos! – Lily exclamou, surpresa. – Mas e depois?

— Depois o quê?

— Todo o fim de semana!

— Ah... nós não nos falamos. E também não fui bater na porta dele, era só o que faltava!

Lily revirou os olhos de impaciência.

— Eu sei, Alice. Mas ele também não te mandou mensagem... nada?

— Não, ele não pediu meu telefone. - Ela parou. - Quero dizer, nós somos vizinhos, ele não precisa pedir meu número para entrar em contato, não é? - Ela abanou a cabeça, fechando o sorriso. - Merda. Lily, você acha que ele não gostou de mim? Eu ainda não tinha parado para pensar nisso. Mas é claro que ele não quer mais nada!

— Não seja tonta, Alice. O Frank é um cara legal, tenha calma!

Alice respirou fundo. Havia passado o final de semana inteiro pensando no que faria caso o encontrasse quando saísse de casa para checar a correspondência ou colocar o lixo para fora. Deveria cumprimentá-lo com um beijo no rosto ou só com um aceno? Se ela lhe desse apenas um beijo no rosto, talvez ele pensasse que ela só queria ficar na zona da amizade. E, obviamente, essas não eram suas intenções. Por fim, Alice havia decidido que apenas acenaria, mas, no fim das contas, ela não o encontrou nem uma única vez, embora tivesse saído para verificar a caixa de correio exatas trinte e duas vezes durante todo o fim de semana.

—--

O Salão Principal estava cheio de alunos, alguns na fila das bandejas, outros já nas mesas, almoçando. Lily sentou-se entre Lorens e Anita, que já haviam começado a almoçar minutos antes.

— Hoje, na hora do intervalo, o Mark me ligou. – Lorens contava, com a voz animada. Mark fazia parte do mesmo grupo de teatro que Lorens participava. – Ele me disse que mês que vem estrearemos no Teatro Central. Nosso diretor finalmente conseguiu nos colocar nos palcos, vocês conseguem acreditar nisso?

— Meus parabéns, Lorens! – Anita exclamou, realmente satisfeita pela amiga. – Finalmente vamos poder te ver num teatro grande! Aliás, faço questão de estar na estréia, me avise quando começarem a vender as entradas!

— Eu posso me sentar com vocês? – a voz de Marlene McKinnon surgira. Ela sorria simpaticamente, segurando uma bandeja com seu almoço.

Anita olhou para a recém-chegada e sentiu uma leve pontada de raiva ao lembrar-se da festa, mas tentou parecer normal.

— Claro, Marley! – Lorens apontou a cadeira à frente, sorrindo.

Marlene se acomodou ao lado de Anita, que sentiu suas entranhas se revirarem. Enfiou a maior quantidade de comida possível na boca para não precisar dizer nada.

— Espero não estar atrapalhando. – começou a recém-chegada. – É que faz tanto tempo que não falo com vocês! Eu passei agosto inteiro na Escócia, com a minha família. E antes disso, você, Anita, esteve boa parte de julho em Nova York. Quanto tempo faz que não conversamos?

— Mal consigo me lembrar da última vez, sério. – Lily concordou. – Como foram suas férias, Marley?

— Foram ótimas, embora Glasgow não tenha tido um verão muito ensolarado. – Ela se interrompeu, como se tivesse se lembrado de algo. – Antes que eu me esqueça, Lily! – Virou-se, abriu sua bolsa e começou a procurar algo. Por fim, tirou um livro. – O livro que ia te emprestar está aqui!

— Obrigada.

Lily pegou o livro e o olhou por alguns momentos. Decidiu que Marlene era uma pessoa extremamente atenciosa para com os outros. A ruiva havia até se esquecido de que pedira o livro emprestado.

— Então, como eu dizia... – Marlene continuou dizendo, enquanto Lily guardava o livro em sua bolsa. – Precisamos sair, ou fazer algo juntas para colocar o papo em dia. O que acham?

Anita só olhou nos olhos de Marlene naquele momento, quando havia terminado sua refeição. Respondeu à pergunta da amiga com um aceno positivo com a cabeça, enquanto executava uma análise sobre sua aparência. Marlene voltara a falar, mas Anita não estava ouvindo. O que ela tem demais?, perguntou-se. Um sorriso simpático sempre estampado no rosto bem desenhado, que não tinha uma manchinha sequer? Sobrancelhas bem feitas, os cabelos escuros, ondulados e brilhantes? Um corpo inegavelmente bonito? Pois é, tudo.

— Não concorda, Anita? – Marlene perguntou-lhe.

Lily pisou sutilmente em seu pé por debaixo da mesa, despertando-a do transe e desejando profundamente que a loira fosse amigável.

— Desculpe, eu estava distraída... o que foi que disse? – Anita franziu a testa.

— Eu estava sugerindo que nós voltássemos a organizar aquelas saídas, como fazíamos no começo do ano, lembram-se? Não era muito engraçado?

— Hum... sim, claro.

— Vamos marcar para este final de semana, então! – Marlene exalava empolgação. – Estou há dias pensando nisso, se querem saber a verdade.

— Em qual república você estava pensando, Marlene? Na nossa ou na sua? – Anita questionou, com um tom de desafio desnecessário.

Anita torceu para que fosse na de Marlene. O por quê era óbvio, ela subitamente não queria a amiga perto de Sirius. De repente, sentiu-se péssima. O pior de tudo era que sempre gostara muito de Marlene e não podia aceitar que esses sentimentos tão raivosos contra a amiga surgissem em sua mente o tempo todo.

— Os garotos da casa de vocês quase não ficam lá aos finais de semana, não é? – Marlene ponderou.

Lily resolvera atrair a atenção de Marlene para si ao reparar que o sorriso de Anita se desmanchava lentamente.

— E se for na sua casa, Marley? Quase nunca fazemos algo por lá, não é?

— É, exato! A Lily tem razão! – Anita rapidamente apoiou.

— Têm certeza? Quero dizer, a Sarah e a Bellatrix podem estar lá também... E vocês as conhecem. – Marlene torceu o nariz.

Houve um silêncio enquanto Lily e Lorens colocavam na balança as duas sugestões. De um lado, ajudar Anita. Do outro, ter de suportar Sarah e Bellatrix. Enquanto Lily e Lorens trocavam olhares e alguns sussurros sobre o que deveriam fazer, Marlene tocou no ombro de Anita e murmurou:

— Anita, você se lembra daquela hora na festa do Frank...?

E como, pensou Anita.

— Que hora? - Ela fingiu não lembrar.

— Aquela hora em que você me viu com o Sirius, sabe? – Marlene sussurrou, corando.

— Ah. Sei.

— Sabe, eu sei que você já saiu com Sirius e o conhece melhor do que eu, já que moram juntos. – Anita sentiu o estômago revirar. Não acreditava que ainda teria que ouvir as confissões de Marlene. – Você acha que pode dar em algo? Ele comentou alguma coisa sobre mim durante o final de semana?

Anita hesitou.

— Claro que não, Marlene, o Sirius é o maior galinha que eu conheço. E ele nunca comenta sobre quem ele pega por aí.

O sorriso de Marlene se desfez lentamente e suas bochechas ficaram vermelhas. Anita sentiu-se imediatamente culpada pelo tom de voz, embora não quisesse alimentar esperanças em Marlene, mesmo que fosse por um motivo egoísta. Afinal, era verdade, Sirius não comentara nada sobre Marlene. Não que Anita tenha saído muito de seu quarto para ter ouvido qualquer coisa.

Para ficar em paz com sua consciência, a loira apressou-se a acrescentar:

— Mas eu não ouvi se ele comentou, porque eu passei o final de semana inteiro de ressaca na cama, sabe? Então, eu não sei te responder.

— Entendi. – Marlene falou, sem-graça.

Lily ouvia a conversa enquanto terminava seu suco. Concordou com Anita quando ela dissera que Sirius não havia comentado sobre Marlene, mesmo tendo reprovado a maneira com a qual a amiga dissera aquilo. Mas o curioso era que Sirius comentava sim sobre algumas garotas, principalmente quando eram bonitas como Marlene. Lily soube que aquilo poderia significar algo.

Sirius não estava muito longe das quatro garotas, juntamente com James, Remus e Peter, os quatro rindo e chamando atenção de todos ao redor. Marlene olhou para o grupo distraidamente, atraída pelo barulho.

— Anita... – Marlene retomou, lentamente – Você acha que pelo menos o Sirius se lembra do que aconteceu?

— Mas é claro, Marlene. Ele não é tão insensível assim.

Marlene sorriu de leve.

— Meninas, eu já vou, tenho muito o quê ensaiar! – Lorens se levantou e jogou sua mochila nas costas. – Tchau, até hoje à noite!

A garota saiu correndo para fora do Salão. Lily resolveu se levantar também.

— Eu também vou antes que o Potter resolva vir andando atrás de mim e fique imitando os meus passos como uma sombra. – Lily revirou os olhos, enquanto Marlene ria. – E eu tenho um monte de coisas para fazer no Fórum, então vou chegar mais cedo para ir adiantando.

— Acha que volta antes das nove hoje? – Anita indagou. – Você tem voltado tão tarde do trabalho...

— Não sei. – Lily respondeu com sinceridade. – Tenho muita coisa para fazer. Mas vou tentar jantar em casa hoje.

Lily se despediu das amigas rapidamente e saiu. James a viu se levantar e sair da mesa pelo canto do olho. Queria ir atrás dela para poder ver o seu rosto enfurecido quando ele a alcançasse e passasse a andar ao seu lado sem ser convidado. Porém, quando estava prestes a se levantar, ouviu:

— Oi, Jimmy.

Sarah o abraçou por trás.

— Hey.

Ele a puxou para sua frente e a cumprimentou com um beijo.

— Então, querido, estava pensando em fazer alguma coisa hoje à noite. – Sarah sussurrou em seu ouvido, passando seus dedos pelos cabelos bagunçados de James.

— Hoje? Hm... Não vai dar. – ele respondeu, num tom desanimado.

— Por quê? Já tem planos?

— Eu tenho que... ajudar o pessoal da minha república com a limpeza. Hoje é o dia da faxina. – ele improvisou, lembrando-se de Evans e seu fanatismo pela higiene.

Sarah o olhou atentamente e seus olhos cor de avelã brilharam.

— Ah, entendo. Eu conheço o pessoal da sua república há muito mais tempo que você e sei muito bem que a Evans é uma neurótica com limpeza. – ela disse, num tom frívolo. – Mas é realmente uma pena você ter de perder a noite por isso. Será que vai acabar muito tarde?

O fato era que James não queria mais sair com Sarah. Primeiro que, em poucos dias, ela já praticamente se comportava como se fosse sua namorada, segundo que James jamais se prendia por muito tempo a alguém e Sarah seguramente não era o tipo de mulher que o faria mudar de ideia.

— Não sei, Sarah.

— Então eu vou dar uma passadinha na sua casa mesmo assim. - Sarah envolveu o rosto de James em suas mãos. – Somos vizinhos e é impossível passar na frente da sua casa e não querer dar uma paradinha lá!

— Er... ok.

Ela subiu na ponta dos pés para reivindicar mais um beijo antes de se virar e sair. James a observou sumir entre as pessoas, sem manifestar qualquer reação.

— Acho que alguém aqui já se cansou da Sarah. – Sirius concluiu, assim que James se virou novamente para os amigos.

— Você acha? Depois dessa desculpa da "limpeza", eu tenho certeza! – Peter adicionou e suas bochechas salientes coraram.

James revirou os olhos e fez um gesto impaciente. Sem rodeios, resolveu confessar:

— Ela está levando isso a sério demais.

— Avise-a disso o quanto antes, então. – Remus sugeriu, em tom de obviedade.

James soltou uma risada sem humor.

— Acha que nunca tentei? – rebateu, desanimado. Em seguida, apanhou a mochila do chão e lançou-a sobre o ombro esquerdo. – Agora eu tenho que ir. Meu chefe pediu para eu chegar um pouco mais cedo hoje para conversar com ele.

— Sobre o que você acha que é? – Sirius estranhou.

— Não tenho ideia. - James rapidamente cogitou a possibilidade de Evans ter reclamado dele para algum superior. – Bom, vejo vocês à noite. Até!

—--

— Boa tarde, Sr. Potter – doutor Dumbledore o cumprimentou polidamente. – Sente-se, por favor.

James se sentou na luxuosa cadeira do enorme escritório do doutor Dumbledore, observando-o. Era um homem já idoso, mas seu rosto não demonstrava velhice, era corado e forte, apesar de um pouco enrugado. Possuía olhos azuis bem claros e uma barba branca que quase chegava a esconder sua boca.

— Boa tarde.

— Então, eu lhe pedi para que viesse à minha sala hoje para lhe propor um novo cargo no Fórum St. Mungus. Precisamos urgente de alguém na área trabalhista. - Dumbledore se moveu em sua cadeira, apoiou os cotovelos sobre a mesa e o olhou por cima dos óculos de meia-lua. - Você ganharia um aumento e seria promovido a estagiário-assistente. Você aceita?

James sorriu, orgulhoso. Era exatamente o mesmo cargo que Evans tinha e que a fazia se sentir superior a ele. Que ótima novidade.

— É claro, doutor Dumbledore.

— Vejo que Hogwarts permanece lecionando muito bem, Sr. Potter. Deixemos o estágio comum para os estudantes do primeiro ano.

James sorriu, satisfeito consigo mesmo.

— E onde vou trabalhar agora?

— Só um minutinho, Sr. Potter. – O juiz disse, virando-se para o telefone, onde apertou um botão, dizendo: - Mande-a entrar, Minerva.

Em apenas dez segundos, a porta atrás de James se abriu. Ele se virou e assistiu à Lily Evans entrar. Ela trajava uma calça social preta e uma camisa de botões cinza escura. Seus cabelos ruivos estavam espalhados charmosamente sobre os ombros e os olhos verdes não demonstravam nenhuma expressão. Naquele momento, ela parecia uma mulher de negócios e não uma jovem estudante de dezenove anos.

— Mandou me chamar, doutor Dumbledore? – Ela perguntou, educadamente.

— Srta. Evans, James Potter foi promovido e eu gostaria de lhe pedir para auxiliá-lo com seus pertences. O doutor Moody me contou que seu trabalho está sobrecarregado demais para apenas uma pessoa e creio que o sr. Potter poderá ajudá-la com isso a partir de agora.

— Ok. Mas, de qualquer maneira, não acredito que meu trabalho esteja sobrecarregado.

— Srta. Evans, o doutor Moody me informou que você tem ficado por aqui todos os dias até mais tarde e sempre chega mais cedo. Sabemos que você ainda é uma universitária e precisa de muita disposição para poder concluir a graduação, algo que talvez você poderá não ter se continuar a trabalhar tanto. Os promotores gostam muito do seu trabalho, portanto, Potter irá ajudá-la com ele.

Obviamente, Evans não iria contestar. Ela olhou para James e seu olhar era distante.

— Como quiser, doutor Dumbledore.

— Acompanhe o Sr. Potter até sua sala, acredito que à esta altura já instalaram uma mesa para ele.

James se levantou e agradeceu. Ao entrarem no elevador, que estava vazio, James interrompeu o silêncio:

— Evans, não é culpa minha.

— Eu sei que não é.

— Acho que o Dumbledore está preocupado com você. E realmente você deve ter muito trabalho para fazer, porque sempre chega bem mais tarde do que eu em casa.

Evans assentiu, mirando os próprios sapatos. Parecia profundamente decepcionada. James perguntou-se o que havia feito a ela para tê-la chateado tanto, a ponto do fato de trabalharem juntos a entristecesse tanto.

A porta voltou a se abrir. Os dois caminharam em silêncio até uma pequena sala, a qual agora abrigava outra mesa com uma caixa de papelão com o nome de James na lateral. Evans suspirou antes de se sentar em sua própria cadeira e voltar a digitar no computador. Durante o resto da tarde, eles apenas trocaram palavras sobre questões profissionais, como se fossem apenas colegas de trabalho recém-conhecidos.

—--

— Remus! Tive uma ideia!

Remus havia acabado de abrir a porta da república às seis horas da tarde. Lorens estava sentada no sofá, esperando por ele. Ele olhou pra ela e largou suas coisas sobre uma almofada, ao lado da amiga.

— Sobre o quê?

— Uma ideia que poderá resolver a implicância entre a Lily e o James. Eu acho que o problema só existe porque eles simplesmente não se conhecem direito. Então, eu comecei a refletir sobre como eles poderiam se conhecer melhor. - Lorens contava, animada. - Então eu tive uma ideia e você tem que concordar em participar!

— Veremos. No que consiste a sua ideia?

— Num jogo de verdade ou desafio! - Ela anunciou como se fosse a melhor ideia do mundo.

Após um momento de silêncio, no qual Remus esperou que ela anunciasse que estava brincando, ele perguntou:

— Você está falando sério?

— É claro, Remus. O que mais pode ser feito? Eu quero resolver isso para ontem.

— Mas, Lorens, eu não brinco disse desde a sexta série. E duvido que a Lily aceite participar. Não me olhe assim. - Ele suspirou, cedendo. - Ok. Quando e como você pretende fazer isso?

— Hoje mesmo, é claro. O que você acha? Sentamos aqui no meio da sala e começamos. Com as perguntas que nós fizermos, a Lily vai ver que o James não é o idiota que ela pensa que é, e ele vai perceber que a Lily não é tão neurótica quanto parece. Ou seja, precisamos fazer as perguntas certas.

— Entendi. Espero que dê certo. - Remus concordou lentamente, enquanto aceitava a ideia.

Poucos instantes depois de Remus ter dito aquilo, a porta da casa foi escancarada e uma Anita extremamente furiosa passou por ela. Empurrou a porta de qualquer maneira para cerrá-la, fazendo um grande barulho.

— Anita? Está tudo bem? – Lorens questionou, a fim de entender o chilique.

Anita jogou todas as suas coisas no chão e bufou. Olhou para os amigos com o olhar de não-me-pergunte-nada. Seus olhos estavam cheios de lágrimas.

— Anita, o que houve? – Era a vez de Remus se aproximar.

— NADA!

Ela foi em direção das escadas, mas Remus a segurou pelo braço. Anita agora chorava, as lágrimas brotavam de seus olhos sem parar.

— Anita, o que há com você?

Anita parou de tentar se soltar e despencou no sofá. Tampou o rosto com as mãos e chorou. Remus e Lorens sentaram-se ao lado dela.

— Anita, fale o que aconteceu. – Lorens pediu, sua voz era preocupada.

— Eu... eu estou morrendo de vergonha. – ela enxugou as lágrimas com as costas das mãos e fitou o chão, tentando se acalmar. Ela inspirou profundamente e desabafou: - Okay. Eu fui despedida.

Remus e Lorens trocaram olhares e se voltaram para a amiga, que ainda chorava como uma criança.

— Mas por quê? – Lorens quis saber.

— O... o meu gerente disse que... – ela fez uma pausa para respirar fundo. – que não precisava mais de mim e que os meus modelos não estavam mais atendendo à loja. Eu não esperava por essa! O que eu vou fazer agora?

Lorens afagou os cabelos da amiga.

— Calma, Anita, você vai arranjar outro emprego.

— Como eu vou poder ajudar vocês nas despesas? Eu não quero pedir dinheiro para os meus pais. Minha mãe sempre reclamou de Moda: "Moda não dá dinheiro e nem emprego! Você vai mudar de ideia rapidinho!" - Anita tentou imitar a voz da mãe, em meio aos soluços.

— Anita, você estuda o que gosta e está certa por isso. – Lorens interveio. – Não desista, existem várias marcas procurando futuros estilistas, você tem que seguir em frente! Você vai ver, você nem vai precisar contar para sua mãe que foi demitida porque logo já vai estar trabalhando em outro lugar.

Anita não ouvia mais nada. Estava sentindo uma grande raiva dentro do seu peito. Os dias de azar não acabavam nunca, e ela sentia uma imensa vontade de simplesmente fazer suas malas, desistir de tudo e voltar para Nova York, onde sua família morava e onde nascera, longe de todos os problemas que ela estava, aparentemente, atraindo para si mesma.

—--

Às sete horas da noite, todos os seis universitários já estavam em casa. Jantavam, todos à mesa. Tudo estranhamente diferente da semana anterior, na qual estavam rindo, conversando, contando sobre o dia. Agora, reinava um silêncio absoluto. Lily estava de mau humor pois considerava que seu dia fora um enorme desastre, já que tivera de ensinar todo o serviço a Potter e, para seu desgosto, ele aprendera tudo facilmente.

James estava sério, sempre se sentindo incomodado com os olhares de censura vindos de Evans. Anita não comia, estava com a cabeça apoiada em uma das mãos, olhando para o prato tristemente. No entanto, Sirius se sentia um pouco perdido com aquele clima. Lorens estava se irritando com a desarmonia que reinava sobre a república e fazia planos e mais planos para fazer tudo voltar ao normal e Remus, por fim, tentava analisar cada um para poder dizer algo realmente interessante, sem sucesso.

Após o jantar, Lorens resolveu quebrar o silêncio:

— Gente, hoje à noite quero todos vocês na sala. – Não parecia um pedido. - Às nove horas, todo mundo lá. – Foi a última coisa que a morena dissera antes de sair da cozinha.

—--

Às sete e quarenta, a campainha começou a soar incessantemente. Lily era a única que se encontrava na sala e teve de atender a porta, perguntando-se quem seria o mal-educado que pressionava o botão a cada meio segundo.

— Oi, Evans.

Era Sarah Adams. Lily nem respondera, somente a fitou, momentaneamente. Quase perguntara se a outra havia errado de porta.

— Evans, chame o James para mim? Na verdade, posso entrar?

Lily nem pôde responder, pois a garota já havia passado por ela e já se encontrava parada no meio da sala.

— JAMES! – Sarah gritou. Lily revirou os olhos: ótimo, ela não precisaria gastar sua saliva.

James apareceu nas escadas e tentou sorrir quando a viu.

— Oi, Sarah.

A morena o abraçou e o beijou. Lily achou absolutamente desnecessária a questão que Sarah fizera ao beijá-lo tão fervorosamente com ela ainda presente. Na verdade, Lily imaginava o motivo, mas quase rira da possibilidade. Pode ficar com ele, querida, e pode levá-lo para morar com você também, ela pensou, ao subir as escadas, deixando-os sozinhos na sala.

— Estou te atrapalhando, querido? – Sarah perguntou, com sua voz sensualmente falsa, quando já se encontravam a sós.

— Não, mas eu ainda não acabei a faxina do meu quarto. - mentiu ele, prontamente.

— Manda aquela chata da Evans ir limpar, já que parece que ela nasceu para isso.

James forçou uma risada. Após alguns segundos de um silêncio que poderiam durar horas, ele disse:

— Bem, acho que é melhor eu voltar à arrumação. Amanhã conversamos.

— Tudo bem, não quero te atrapalhar. Só queria te dizer boa noite. - ela sorriu.

Ele a levou até a porta e ela se foi, não sem antes exigir mais um beijo. Ao cerrar a porta, tudo o que James sentiu foi um alívio imensurável. Sentia-se completamente sufocado por Sarah, mesmo quando dividiam o ambiente por poucos minutos. Não podia adiar mais a conversa com ela.

—--

Pontualmente às nove horas da noite, todos estavam sentados no sofá, um ao lado do outro, curiosos. Lorens era a única que estava em pé, de frente para os outros cinco.

— Não me olhem com essas caras, pessoal. – ela começou, em tom de súplica. – O que eu proponho será divertido!

— Fala logo, Lorens... – Anita pediu, com a voz cansada.

— Vamos voltar aos velhos tempos e brincar de "verdade ou desafio". Assim, nós todos desabafamos o que sentimos. Que tal?

Ninguém respondeu. Todos a olhavam, perplexos.

— Não compreendo a relação desta brincadeira infantil com a palavra desabafar. - Lily disse, cruzando os braços, reprovando a ideia.

— Você verá, Lily. Nós temos que voltar ao que éramos antes. Não tinha um só dia aqui em que não tivéssemos ataques de risos, que não nos reuníamos nessa sala para ver um filme, beber alguma coisa ou jogar conversa fora...

— É nítido que foi o Potter quem nos trouxe esse mau agouro. – Lily respondeu.

— Ok, ok, ok. – Lorens recomeçou antes que uma discussão começasse. Ela mostrou-lhes uma velha garrafa de vinho vazia e ordenou: – Agora, todo mundo vai sentar aqui no chão, em forma de roda.

Todos obedeceram-na, ainda que um tanto relutantes.

— Eu acho que estou gostando da ideia. – Sirius ponderou, abrindo um sorriso.

— Sirius, nem adianta começar a pensar besteira para colocar como desafio, o objetivo disso tudo é simplesmente conversar. – Lorens adiantou. - Aliás, vamos excluir a opção "desafio".

— Então, qual é a graça? – ele perguntou. - Só fazer perguntas?

Exatamente.

Sirius se calou, decepcionado.

— Vou girar a garrafa. – Lorens anunciou e todos concordaram com a cabeça. Após alguns segundos de rodopios, a garrafa parou indicando que Lorens fizesse uma pergunta para Lily. Perfeito, ela pensou.

— Lily, todos nós sabemos o quanto você lutou para conseguir entrar no Fórum ano passado. Mas só depois de mil entrevistas e testes, você conseguiu. A minha pergunta é: você ama o seu emprego? – Lorens não estava sabendo das últimas novidades e, até então, sabia que a amiga adorava o seu emprego. Assim, James entenderia o por quê ela ficara tão brava por ele tê-la atrasado na primeira semana e, sobretudo, perceberia que Lily era uma moça trabalhadora e honesta. Perfeito.

— De que adianta amar o que faço se não sou suficientemente boa para fazê-lo? – Lily respondeu, num tom de desabafo.

— Como assim? – Lorens desmanchou seu largo sorriso, confusa.

— Potter vai trabalhar comigo agora. Aparentemente, eu não estava dando conta.

Todos olharam de Lily para James. Ele apenas concordou com a cabeça, olhando para Lily com um ar de súbita compreensão. Mais do que nunca, Lorens soube que os dois tinham de se entender. A garrafa fora rodada mais uma vez, resultando em pergunta para Remus e reposta para Sirius.

— Sirius, você acredita que a forma com a qual você lida com as mulheres seja o resultado da relação conflituosa que você tem com a sua mãe desde a infância?

Todos encararam Sirius, pensativos. Anita repetira a pergunta de Remus mentalmente, a fim de memorizá-la, ansiosa pela resposta. Antes de responder, Sirius desmanchou-se a rir.

— Na verdade, eu nunca liguei uma coisa à outra. Não faço ideia. Mas que pergunta é essa?

— Eu não tinha o que te perguntar. Foi mal. – Remus se justificou, desconcertado. Fizera a pergunta meio sem pensar e sentia-se aliviado por não ter ofendido o amigo.

A garrafa fora rodada mais uma vez, indicando pergunta de James para Lily. Lorens abriu um sorriso interno. Finalmente!

— Potter, se você fizer alguma pergunta indecente, já vou avisando que eu não vou responder. – Lily achou melhor adiantar ao perceber aquele olhar cínico brilhando nos olhos dele.:

James passou a mão pelos cabelos rebeldes e a olhou por um momento. Resolveu descontrair o ambiente:

— Evans, como você convive com seu mau humor diário? Você não se irrita consigo mesma?

Os outros não puderam deixar de rir com a pergunta e Lorens percebeu que seu objetivo tinha ido por água abaixo quando vira o rosto de Lily ficar vermelho de raiva.

— Você se acha muito engraçado, não é, Potter?

— Só responda à pergunta, Evans. – James disse, num tom categórico. – Eu realmente gostaria de saber a resposta.

— Olha aqui, eu–

— Rodem a garrafa! – Lorens os interrompeu, suspirando.

—--

Lily fechou a cara e desviou o olhar dos amigos. Sirius, Anita, Lorens e Remus nunca a tinham visto irritada daquela maneira. Era sempre gentil, às vezes um pouco exigente, mas nunca fora tão rude com alguém.

A garrafa rodou por vários segundos e finalmente parou, indicando que Lorens fizesse uma pergunta para Potter, que ainda mantinha aquele sorriso arrogante nos lábios.

— James, qual é o seu problema com a Lily? – Lorens não se importava em ser direta.

Lily virou o rosto na mesma hora, para observá-lo responder. Vamos ver se ele vai ter coragem de dizer na frente de todo mundo que não consegue aceitar que exista alguém que não o veja como o cara mais cool daquela faculdade.

— É ela que tem algum problema comigo. – Ele respondeu.

— Essa não é uma resposta válida. – Lorens interveio rapidamente, antes que Lily pudesse retrucar.

Potter pareceu pensativo por alguns instantes.

— Não tenho um problema específico com ela. Tenho vários. - ele alargou seu sorriso arrogante e cínico antes de continuar, ainda usando a terceira pessoa, como se Lily não estivesse presente: - Mas digamos que o fato dela não ter ido com a minha cara desde o primeiro dia, sem que eu tenha feito qualquer coisa para isso, seja o maior deles.

Por alguns segundos, todos esperaram Lily explodir em argumentações, mas a ruiva fechou os olhos com força, respirando fundo, procurando se acalmar. Potter pareceu um pouco preocupado quando ela reabriu os olhos e o encarou.

— Hum... Rodem a garrafa! – Lorens pediu, um pouco incerta se deveriam continuar ou não. Mas Lily não se manifestou.

Pergunta para Sirius e resposta de Lorens.

— Lorens, como andam as coisas com o Bill? - Sirius queria nitidamente descontrair o clima pesado. - vai virar namoro ou permanecer uma amizade colorida?

Lorens riu.

— Eu e o Bill estamos bem e, da minha parte, prefiro as coisas como estão.

Remus apressou-se em girar a garrafa, resultando em Lily tendo de responder uma pergunta de Sirius.

— Lá vem. - Lily soltou todo o ar de seus pulmões com força.

— Bom, Lily, eu vou aproveitar a oportunidade e te perguntar uma coisa que sempre tive curiosidade. - Sirius começou, a fim de provocar um suspense, mas Lily ainda se encontrava um tanto atordoada com a resposta de Potter e sabia que não havia uma pergunta tão horrível quanto àquela resposta. - Então. - ele pigarreou. - Desde quando você não sai com alguém, hein?

Pois havia. Lily sentiu suas bochechas começarem a esquentar gradativamente. A questão era que Sirius mal conseguia se lembrar da última vez em vira Lily com alguém e constantemente se questionava se a amiga estava sempre sozinha ou se só não comentava sobre o assunto.

— Bom, pelas minhas contas... – Lily a contar nos dedos, em silêncio, deixando todos da roda incrivelmente curiosos. – Cincomeseseonzedias!

— Oi? Fale mais devagar! – Lorens pediu.

— Ok. Sem piadas. - Lily respirou fundo. - Cinco. Meses. E. Onze. Dias.

— Mas já faz tudo isso, Lily? - Anita parecia não acreditar.

Todos os amigos se entreolharam, intrigados. Lily girou a garrafa com toda sua força, num gesto desesperado para que esquecessem sua resposta e prosseguissem com o maldito jogo. Ninguém comentou nada sobre o assunto. A garrafa parou indicando que Lily respondesse outra pergunta de Potter.

— E então, Evans, quem era ele?

— Ele quem, Potter?

— O último com quem você saiu.

Lily franziu as sobrancelhas. Ora, mas que cara mais inconveniente!

— Isso não é da sua conta. – Ela respondeu, sentindo um desconforto absurdamente incomum dominar-lhe. Quanta prepotência, pensou, uma vez que não havia nem cinco minutos que ele a havia ridicularizado perante todos os seus amigos.

— É obrigatório responder... – Lorens sussurrou.

— Mas todo mundo aqui sabe!

Eu não sei. – Potter objetou.

— Lily, responde logo e vamos prosseguir! – Anita pediu, começando a se irritar com as discussões repetitivas entre os dois.

— Você não o conhece, Potter. – Lily revirou os olhos. – Mas o nome dele é Louis Renoir.

— Nossa, o Renoir foi o último? Sério? - Sirius deixou escapar. Lily simplesmente suspirou, imaginando quando fora a última vez pela qual passara por uma situação mais desconfortável do que aquela.

Potter a fitou por um momento e repetiu aquele nome sem emitir som algum, como se quisesse gravá-lo em sua memória. Sua atenção só foi desviada quando percebera que já haviam rodado a garrafa e que esta indicava que Remus fizesse uma pergunta para Lily.

— Chega! Por que essa garrafa só cai virada para mim? Eu não quero mais continuar com essa brincadeira. - Lily explodiu, sem esconder uma certa chateação em seu tom.

— Mas, Lily-

Lily se levantou da roda e Lorens resolveu não insistir.

— A Lily e o James vão brigar o tempo todo mesmo. – Anita concluiu, também se levantando.

Por fim, todos se entreolharam. Sirius balançou a cabeça, divertido. Estavam mesmo brincando daquilo? Lorens tentou conter o riso, mas não resistiu por muito tempo e, assim, todos, um por um, se juntaram a ela na risada. Depois, se jogaram no sofá, ligaram a televisão e assistiram a um filme, todos juntos, comentando as melhores cenas e caçoando do sotaque americano dos atores, como sempre faziam, apenas para irritar Anita. Mas Lily ainda podia sentir o olhar de Potter sobre ela. Ele ainda possuía o mesmo olhar intrigado desde a sua resposta sobre Louis Renoir. Por Deus, qual é o problema desse idiota?


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Notas finais do capítulo

E aí, gente, o que acharam? Será que o James foi sincero na resposta dele? :D

Por que será que a Lily está há tanto tempo sem sair com alguém? :D
Espero que tenham gostado do capítulo! Obrigada a todos os que estão comentando! Adoro saber o que vocês pensam!

Beijos,
Carol Lair



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