República Evans escrita por Carol Lair


Capítulo 22
Ligando o Passado ao Presente




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Capítulo 22 – Ligando o Passado ao Presente

Por algum milagre divino, naquela manhã de sábado, Anita e Lorens se levantaram mais cedo do que Lily. Obviamente, o motivo para tal acontecimento se devia à extrema curiosidade pela qual as duas haviam sido dominadas a respeito do encontro da amiga, na noite anterior.

– Lily! – Lorens a chamou, quando as duas pararam ao lado de sua cama. – Acorda!

Lily abriu apenas uma fresta do olho esquerdo, mas fechou-o instantaneamente por conta da claridade.

Céus. – ela resmungou. – O que deu em vocês?

Anita e Lorens soltaram risadinhas.

– Vamos, Lily, levanta! – Anita exclamou, começando a puxar o cobertor da amiga. – Você nunca dorme até tarde e muito menos fica fazendo preguiça na cama!

Lily não se mexeu, mesmo sem suas cobertas.

– Lily, você realmente quer que a gente pule em cima de você? – Lorens indagou, cruzando os braços.

A ruiva bufou pesarosamente e se sentou na mesma hora, coçando os olhos com uma certa violência.

Digam.

– Queremos saber de tudo! – Anita falou, sentando-se ao pé da cama de Lily animadamente. – Pode começar a contar!

Lorens se sentou do outro lado de Anita, pronta para ouvir.

– Vocês realmente não podiam esperar eu acordar para começarem com o interrogatório? – Lily perguntou, em meio a um suspiro dramático.

– Por acaso nós esperamos? Então não. – Lorens retorquiu. – Agora conta tudo.

A ruiva cruzou as pernas sobre a cama e assumiu uma expressão pensativa, como se estivesse organizando as lembranças para não se esquecer de nada. Durante aquela pausa, Anita começou a roer as cutículas das unhas, ansiosa.

– Certo. – Lily finalmente voltou a falar. – Ele me levou para jantar no restaurante que eu mais gosto, no Soho. Os pratos vegetarianos de lá são maravilhosos, me deu até vontade de tentar fazer aqui em casa. Eu comi gratin dauphinois, estavam maravilhosas e–

– Ok, ok, vamos pular essa parte, Lily. – Lorens a interrompeu. – Não tomei café da manhã ainda, você está me deixando com fome! E eu quero saber sobre o encontro, e não sobre a comida!

Anita proferiu um murmúrio de concordância.

– Desculpem, perdi o foco. Também estou com fome. – Lily sacudiu a cabeça. – Enfim, depois que terminamos de jantar, Louis dirigiu até a Tower Bridge. Chegando lá, ele estacionou e me convidou para dar uma caminhada pela ponte. Vocês já viram o quanto ela fica bonita à noite, não é? As luzes, o rio Tâmisa...

Lily parou de falar, se lembrando.

– Ele realmente sabe te agradar. – Lorens comentou. – Eu mandaria o Christopher para aquele lugar se ele me viesse com passeios românticos assim.

– Continua, Lily! – Anita uniu as palmas das mãos sob o queixo, como se implorasse. – Vocês se beijaram? Vocês assumiram que terminaram por pura besteira? Vocês voltaram?

Lily soltou uma risada, jogando a cabeça para trás.

– Eu não sei responder todas essas perguntas, Anita. – ela respondeu, ainda risonha. Em seguida, seu rosto ruborizou sutilmente. – Mas nós nos beijamos, sim. Conversamos um pouco sobre nós... Ele disse que sentia muito a minha falta, que nunca gostou tanto de alguém como gosta de mim... – Lily corou mais ainda ao notar o olhar derretido que Anita lhe lançava. Lorens revirou os olhos, divertida. – Mas nós não falamos sobre voltar a namorar.

– Ainda é um pouco cedo, mesmo. – Lorens concordou, recebendo uma careta de Anita, que aparentemente discordava de seu ponto de vista. – Vocês ficaram muito tempo separados, precisam descobrir se as coisas realmente podem voltar a ser as mesmas.

Naquele instante, as garotas voltaram suas respectivas atenções para a porta. Havia alguém batendo nela, pelo outro lado, pedindo permissão para entrar. O primeiro palpite de Lily foi que pudesse ser Potter. Mas por que ele apareceria à porta do quarto feminino àquela hora da manhã?

Por fim, elas descobriram que a visitante era Marlene, usando uma camisola preta e curta, de seda.

– Oi, meninas!

– Oi, Lene!

– Acordaram faz tempo? – Marlene perguntou simpaticamente, fechando a porta atrás de si. – Acordei de repente e não consegui mais pegar no sono. Sirius não quis acordar de jeito nenhum.

Anita já havia aprendido a passar por cima de seus sentimentos quando se encontrava naquele tipo de situação com Marlene. Muito embora o fato escancarado de que a amiga havia dormido com Sirius, bem no quarto ao lado, a incomodasse profundamente.

– A Lily tem novidades. – Anita contou, tentando abrir seu melhor sorriso. – Senta aqui!

Marlene se sentou e Lily repetiu toda a narrativa sobre a noite anterior.

– Você não tem ideia do quanto eu torcia por isso, Lily! – ela exclamou. – Eu ainda me sentia super culpada por ter atrapalhado vocês quando apareci na Festa de Halloween.

– As coisas acontecem sempre na hora certa. – Lily respondeu, abaixando o olhar. Ela não tinha muita certeza daquela afirmação.

E então, Lily decidiu preparar algo para comerem. As amigas a apoiaram sem hesitar e Lorens resolveu ajudá-la – após prometer à ruiva que não mexeria no armário da cozinha, o qual fora perfeitamente organizado por Lily naquela mesma semana. As duas saíram do quarto, conversando sobre as opções para o café da manhã, e deixaram Anita e Marlene para trás.

– Eu só vou me trocar e já vou descer, Marlene. – Anita começou, levantando-se da cama. – Mas fique à vontade, se quiser ficar aqui no quarto, ou se quiser descer junto...

– Anita, posso fazer uma pergunta?

Marlene estava séria e Anita não conseguiu esconder sua expressão surpresa. No mesmo instante, milhares de hipóteses referentes à pergunta que a morena tinha a lhe fazer tomaram conta de sua mente.

– Pode, claro. O que aconteceu?

Marlene pareceu um tanto apreensiva. Continuou sentada sobre a cama de Lily, apertando as mãos nervosamente.

– Um tempo atrás, Sirius me contou que você é a melhor amiga dele. – ela disse, sem perceber que aquela informação era totalmente nova para Anita. – Então acho que você é a melhor pessoa para perguntar isso, entende?

– C-claro. – Anita concordou, afirmando com a cabeça.

– Bom, você deve saber que Sirius tem uma aversão anormal pela palavra namoro. Também estou ciente de que ele nunca vai se declarar para mim ou algo do tipo. E eu posso conviver com isso. – Marlene acrescentou, com firmeza. – Mas isso não significa que eu não fique... um pouco insegura, às vezes. – ela se levantou e andou até a amiga. – Tenho medo de estar perdendo tempo ou de estar investindo em algo que não vai ter futuro. Então, seja sincera, por favor. Você acha que ele gosta de mim, Anita? De verdade?

Anita descobriu que jamais estivera tão sem palavras em toda sua vida. Marlene parecia ter grande confiança na credibilidade daquela resposta. O relacionamento da amiga com o cara de quem ela gostava poderia deixar de seguir em frente, se sua resposta fosse negativa. Bem como poderia se tornar um relacionamento absolutamente duradouro, se sua resposta fosse positiva. O que fazer? E o que ela realmente achava, afinal?

– Eu nunca vi o Sirius há tanto tempo com alguém, Marlene. – Anita começou, abrindo um sorriso fraco. – Mas ele também gosta muito da sensação de ser "livre", então não posso ter certeza do que ele realmente sente em relação ao relacionamento de vocês. Você é a única pessoa que pode descobrir isso.

– Mas você acha que ele gosta de mim? – Marlene insistiu.

Anita se lembrou de Sirius e Marlene no dia da peça de Lorens, trocando flertes e sorrisos. Lembrou-se dos dois juntos pela universidade e do quanto pareciam completar um ao outro, disparando risadas pelos corredores. Mas então as imagens dele na Festa de Halloween e no Três Vassouras com Justine invadiram sua cabeça e se sobrepuseram às primeiras cenas.

E então, Anita se recordou da preocupação assustadora que Sirius apresentou quando imaginou que a amiga pudesse contar para Marlene que o encontrara naquele bar, com outra pessoa. Lembrou-se do medo que ele demonstrou com a possibilidade de perder Marlene.

– Sim, ele gosta. – Anita descobriu que admitir aquilo poderia ser extremamente doloroso. – Mas você precisa conversar com ele sobre o tipo de relacionamento que querem manter. Não sei se já fizeram isso, mas se não fizeram, vocês precisam fazer. E se vocês conseguirem chegar a um acordo, Marlene, eu tenho certeza de que você não vai mais precisar ter qualquer insegurança.

Marlene suspirou aliviada e avançou pela pouca distância que restara entre ela e Anita. Depois, puxou a amiga para um breve abraço agradecido.

– Obrigada, Anita. Vou fazer isso. – sussurrou, satisfeita.

–--

Durante o resto daquele dia, Lily encontrou Potter apenas uma vez e ele não lhe dirigiu o olhar. Depois daquele breve encontro na cozinha, após o almoço, Lily resolveu passar o dia em seu quarto. Não quis arriscar encontrá-lo novamente e confirmar suas suspeitas de que ele ficara magoado.

Naquela noite haveria uma festa na República Whisky de Fogo. Lily propositalmente ficara para trás na hora de se aprontar para o evento, pois não queria ter de ir com Potter. Enrolou o máximo que pôde em seu notebook e, quando todos os amigos estavam saindo de casa, ela finalmente começou a se arrumar.

A principio, Lily não estava realmente animada para ir à festa, mas sabia que se não fosse, Anita, Lorens e Alice iriam enchê-la de perguntas constrangedoras sobre seu grau de satisfação em relação ao encontro. Afinal, as amigas fizeram tudo aquilo apenas porque se importavam com ela. E Lily realmente ficara contente por ter saído com Louis. O fato era que havia algo lá no fundo que a incomodava. Mas Lily rapidamente tratou de deixar aquela questão de lado.

Amos Diggory abriu a porta quando ela tocou a campainha. Por trás da silhueta do rapaz, Lily pôde notar que a casa já estava bem cheia.

– Quanto tempo, Lily! – Amos a cumprimentou. – Entre!

– E aí, tudo bem? – Lily abriu um sorriso rápido.

– Definitivamente, estou muito melhor agora.

Ela fez um gesto sem graça e se afastou em direção às amigas, antes que Amos começasse a puxar papo. Encontrou um lugar vazio no sofá, ao lado de Anita, que conversava com Lorens e Christopher. Ele estava contando alguma coisa às duas quando Lily se aproximou.

– ... E então eu fui convidado para tocar guitarra temporariamente na banda de um amigo meu. Vamos fazer uma turnê pelas cidades vizinhas de Londres a partir do dia dezesseis, depois dos exames finais. O guitarrista oficial deles está com tendinite, não vai poder tocar por alguns meses.

– Isso significa que você vai passar as férias inteiras... fora? – Lorens adivinhou, franzindo as sobrancelhas.

– Bem... – ele coçou a parte de trás da cabeça. – Sim.

– Mas e a minha nova peça? Ela vai passar na temporada de férias. Você não vai conseguir me assistir?

– Acho que não, Lorens. – Christopher tinha um tom de desculpas. – Mas quem sabe? Talvez eu consiga assistir a uma das últimas apresentações. Preciso confirmar as datas dos shows ainda. – em seguida, ele se interrompeu e se colocou de pé. – Vou até a cozinha buscar alguma coisa para beber. Querem que eu traga algo para vocês também?

Lorens e Anita lhe pediram uma cerveja cada uma. Lily sequer escutara a pergunta, pois estava absorta em seus próprios pensamentos. De repente, um movimento brusco a obrigou a retornar à realidade: Violet se sentara no lugar que Christopher havia acabado de desocupar. Ela trazia consigo um olhar malicioso e um sorriso maléfico.

– Que foi, se perdeu? – Lorens perguntou ironicamente à recém-chegada.

Violet riu baixinho.

– Não, querida! Por que a pergunta? Não posso querer me sentar um pouco ao lado de minhas grandes amigas?

Lily, Anita e Lorens trocaram um olhar desconfiado. Desde quando elas eram grandes amigas de Violet Brown?

– Diga logo o que você quer. – Lorens disse, num tom hostil.

– Com você, nada. – Violet piscou-lhe com um olho só e virou-se para o outro lado. – Então, Anita, é verdade que você deu um beijo a três com o Sirius e a Marlene numa festa, semana passada?

Anita e Lorens caíram na gargalhada. Lily arregalou os olhos, incerta se ouvira bem.

– Mas é claro que não! – respondeu a loira. – De onde você tirou isso?

– Bem, não me leve a mal. – Violet voltou a falar. – Mas você mora com Sirius Black e todo mundo já viu vocês se agarrando por aí. Hogwarts inteira gostaria de saber o que acontece entre você e ele entre quatro paredes...

– E vão continuar querendo saber, eu suponho.

– Acho melhor ir atrás do Christopher. – Lorens decidiu, levantando-se. Aquela conversa estava começando a irritá-la. Virando-se para Lily e Anita, acrescentou: – Boa sorte para vocês.

Mas Violet não se deixou abalar. Deslizou pelo sofá, avançando pela nova lacuna deixada por Lorens, e se aproximou ainda mais de Lily e Anita.

– Então, me contem. – começou, em voz baixa. – É verdade que o James gosta de andar pelado pela república?

Lily ficou de queixo caído.

– Ele não se atreveria!

– Bom, eu não iria reclamar. – Violet comentou. – Aliás, Lily, ele ainda está investindo em você? Vocês estão juntos? Faz um bom tempo que o James não sai com alguém, sabe...

Lily não soube o que responder. Acabou optando por se esquivar:

– Violet, qual seu interesse nisso tudo? Sair espalhando por aí?

– Meninas, não sou eu quem espalha! Eu juro! – ela assumiu uma postura realmente ofendida. – Eu só conto para minhas melhores amigas, Pamela e Sarah, e incrivelmente sempre tem alguém nos ouvindo! Não é nossa culpa se somos muito populares, entendem? Os bisbilhoteiros que nos perseguem são os verdadeiros culpados.

– Oh, mas é claro. – Lily rolou os olhos. – Faz muito sentido.

Violet murchou os ombros e soltou um muxoxo.

– Acho que vou dar uma circulada pela festa, queridas. – ela decidiu, finalmente aceitando o fato de que Lily e Anita não iriam lhe contar nada. Levantou-se, acenando. – Nos vemos mais tarde!

Assim que Violet se afastou o suficiente, Anita virou-se para Lily com uma expressão indignada.

– Qual o problema dessa garota? Será que ela acha que nós somos idiotas? Não é possível que...

Mas Lily não conseguiu prestar muita atenção no discurso revoltado da amiga. Seus olhos encontraram Potter do outro lado da sala, cercado de pessoas, encostado à uma parede, aparentemente absorto na conversa. Uma de suas mãos segurava um copo de whisky quase vazio. Ao seu lado, uma garota atraente lhe dirigia um olhar definitivamente interessado.

Lily sacudiu a cabeça e voltou a encarar Anita, que ainda tagarelava sem parar. Mas novamente não conseguiu se concentrar no que ela dizia. Por que aquela cena a incomodara tanto? Não. Não estou incomodada, pensou ela repetidamente. Afinal, por que a incomodaria?

Dentro de sua bolsa, seu celular vibrava ao receber outra mensagem de Louis. Mas ela tampouco reparou.

–--

Alice chegou, acompanhada de Gideon, num horário no qual a casa certamente estaria cheia o suficiente para que entrassem sem serem notados. Mas, do mesmo modo como todos seus planos anteriores para evitar Frank Longbottom fracassaram, aquele também não foi diferente. Frank estava muito próximo à porta quando eles entraram e seria impossível fingir que não o tinham visto. Gideon o cumprimentou normalmente, mas Alice apenas acenou.

– Legal vocês terem vindo... – Frank achou que precisava dizer alguma coisa para interromper o silêncio incômodo.

– Fazia tempo que eu não vinha em uma das suas festas. Acho que a última vez foi no seu aniversário. – Gideon comentou, casualmente.

– Bom, fiquem à vontade. – Frank pigarreou. Lembrar-se de seu último aniversário era o mesmo que lembrar-se do breve relacionamento que tivera com Alice. – Se precisarem de alguma coisa, é só me chamar.

Alice forçou um sorriso e puxou Gideon pelo braço. Os dois se afastaram de Frank e caminharam na direção de Lily e Anita, que ainda conversavam no sofá.

Após terem se cumprimentado, Alice se sentou entre Anita e Gideon. Ao encarar Lily, Alice se deu conta de que estava esperando que Louis estivesse com a amiga. Depois de olhar em volta para procurá-lo, indagou:

– O Louis está por aqui, Lily? – Alice arregalou os olhos. – Você não me disse que ontem foi ótimo?

– D-disse. – Lily respondeu, corando.

– Então por que ele não veio? Vocês não se acertaram?

Naquele momento, Lily se fez a mesma pergunta. Por que não o convidara quando haviam se falado por mensagens, mais cedo?

– Eu me esqueci de convidar. – ela respondeu, com sinceridade.

Como assim, Lily? – Anita cruzou os braços. – Eu achei que ele não pudesse ter vindo, por isso nem te questionei! Como você se esqueceu de convidar seu peguete para uma festa tão chata como essa?

Violet surgiu atrás do sofá no qual estavam acomodados, inclinando uma orelha na direção do grupo. Anita se calou na mesma hora.

– O quê? Eu ouvi direito? Lily, você tem um peguete?

Lily lançou um olhar severo para Anita, que se encolheu e abaixou a cabeça.

– Anita, você precisava falar alto desse jeito?

– Desculpe, Lily! – Anita murmurou, encabulada. – Eu não sabia que era segredo!

– LILY! – Violet não pôde mais se conter. Agarrou o encosto do sofá e se inclinou ainda mais sobre a cabeça de Lily. – Por favor, me conta! É o James? Você está com ele?

Não.

– Então quem é? Eu juro que não vou contar para ninguém, pode confiar na minha palavra! Sério!

Lily revirou os olhos.

– Não, Violet. Esse é um assunto meu e eu não quero ninguém espalhando boatos por aí.

Violet bufou impacientemente.

– Ok, Lily. Eu achava que éramos amigas. – Violet falou, num tom dramático. Depois, virou-se para Alice. – Então, Alice e Gideon. Queridos. – ela deixou um risinho escapar pelo nariz adunco. – Vocês estão namorando?

Naquele momento, Gideon subitamente engasgou-se com sua própria saliva. Alice apressou-se em acudi-lo, dando-lhe tapinhas nas costas e tentando disfarçar a vermelhidão que dominara seu rosto.

– E então? – Violet esticou o pescoço na direção do casal, ignorando o constrangimento que os dominara e insistindo em obter uma resposta.

– Violet. – Alice voltou-se para a colega, irritada. – Nosso relacionamento não é–

– Tudo bem. – Violet a interrompeu, sorrindo. – A palavra relacionamento já diz tudo. Podem ficar tranquilos, eu não vou contar para ninguém, confiem em mim. – ela se esquivou e começou a se afastar do grupo. – Parabéns pelo namoro!

Violet desapareceu por entre um grupo de pessoas, deixando Lily, Alice, Anita e Gideon sem palavras para trás.

–--

Após Marlene ter se afastado dele para ir ficar um pouco com as amigas, Sirius decidiu se dirigir até onde James estava. Assim que se infiltrou na pequena rodinha de conversa, ele percebeu que o amigo estava consideravelmente embriagado.

– Liverpool pode até estar entre os primeiros times da tabela. – James falava, com a voz perceptivelmente arrastada. – Mas as chances de ganharem a Premier League são as mesmas dos últimos vinte anos... nenhuma!

A aproximação de Sirius não fez com que o assunto da roda se alterasse. Ele rapidamente entrou no debate a respeito dos jogos da última rodada do campeonato inglês e só teve a atenção roubada quando viu James, pelo canto do olho, se servir de mais uma dose de Whisky de Fogo.

– Tudo bem aí? – ele perguntou, em voz baixa, olhando para o copo nas mãos do amigo.

– Tudo. – James chacoalhou os ombros e voltou a fitar o rapaz que estava falando sobre o técnico novo do Leicester City.

– Tem planos para essa noite? – Sirius continuou. – Acho que a Marlene vai dormir em casa de novo, então... você e o Remus vão ter que dormir na sala.

– Ainda não tenho planos. – James fez uma pausa para saborear a bebida. – Mas isso não vai ser difícil. Naquele sofá eu não durmo hoje.

James riu brevemente e finalizou o restava em seu copo. Sirius estranhou aquela resposta tão determinada, mas achou mais sensato não trazer a questão à tona. Àquela altura, a roda que anteriormente estava discutindo futebol já havia se desfeito. Uma das garotas que participara da discussão se aproximou dos dois e continuou a falar sobre o Liverpool com James.

– Sirius? – chamou uma voz conhecida.

Sirius se virou e reconheceu o rapaz de cabelos castanhos que o havia chamado. Era um dos zagueiros do time oficial de Hogwarts.

– Hey, David. Tudo bem aí?

– Tudo ótimo! – David respondeu, olhando para os lados, como se estivesse conferindo se alguém estava ouvindo. Certificando-se de que James estava compenetrado na conversa com a garota, ele continuou: – Sirius, você se lembra que uma vez eu comentei com você sobre aquela sua amiga loira, da sua república?

Sirius alisou o maxilar anguloso, lembrando-se da ocasião.

– Ah, sim! – ele exclamou, levantando o dedo indicador. – Sim, eu me lembro! Acho que até cheguei a comentar com ela.

– E você sabe se ela ainda está solteira?

– Está, sim. – Sirius abriu um sorriso malicioso. – Você está pensando em tentar algo hoje?

David arqueou as sobrancelhas e confirmou com um aceno ansioso. Sirius possuía uma certa afinidade com David; muitas vezes, depois dos treinos, ele e o rapaz saíam do vestiário entretidos em assuntos mirabolantes sobre futebol. No ano anterior, juntamente com Remus, os dois chegaram a assistir a algumas partidas do Manchester United no estádio e frequentemente se encontravam em festas como aquela, devido à grande quantidade de amigos que haviam em comum.

– Você acha que eu tenho chances? – David quis saber, olhando para o outro lado da sala. Sirius seguiu seu olhar e encontrou Anita conversando com Lily e Lorens. – Seja sincero, cara.

– Por que não teria? – Sirius devolveu-lhe a pergunta, segurando uma risada. Definitivamente, ele não era capaz de entender aquele tipo de insegurança. – Anita é uma garota legal, não vai te dispensar logo de cara se você não disser uma merda muito grande.

David estava sério. Parecia realmente preocupado.

– Certo. – disse ele, respirando fundo. – Então eu vou lá.

Sirius tornou a olhar para Anita. Exatamente naquele instante, ela se levantou, ainda rindo de algo que Lorens lhe dissera, e começou a contornar o sofá, aparentemente a caminho da cozinha.

– É sua chance, Dave. – Sirius concluiu, seguindo-a com os olhos. – É bem menos constrangedor quando as amigas não estão por perto. – ele se virou para o amigo e deu-lhe um tapinha incentivador nas costas. – Anda, cara. Boa sorte.

David abriu um sorrisinho inseguro e começou a andar na direção de Anita. Ele parou diante dela, fazendo-a parar também. Por meio de uma leitura labial, Sirius viu David perguntar à loira se ela sabia onde é que estavam as bebidas. E viu Anita simpaticamente se oferecer para levá-lo até a cozinha, pois era exatamente para lá aonde ela estava indo.

–--

Antes da meia-noite, James já se encontrava completamente ébrio. Fazia meses desde a última vez em que alcançara aquele mesmo grau alcoólico, afinal, fazia meses em que a necessidade de beber daquele jeito em toda festa perdera totalmente o sentido. Dar-se conta daquele fato, porém, só fizera com que ele quisesse beber mais.

– ... Eu estou muito ansioso para os testes, de verdade. – Bill Jones estava falando com ele, mas sua voz parecia terrivelmente distante.

– Quando você vai marcar os testes, James? – perguntou Amos. James acabara de descobrir que ele estava ali. Sobre o que estariam falando?

Testes?

– Sim, os testes para o novo zagueiro do time. – Bill lembrou-o, ajeitando pomposamente a gola da camisa polo.

James não pôde segurar uma risada sarcástica.

– Eu já tinha até me esquecido de que você se inscreveu, Bill. – James ria sozinho, sendo observado pelos demais como se fosse um estranho. – Eu nunca imaginei que você jogasse, para falar a verdade. Talvez só nos seus videogames.

Bill amarrou a cara e cruzou os braços.

– Eu jogo futebol.

– Ok, ok, qualquer um joga. Mas você entende do esporte? Você consegue correr por noventa minutos? – James continuou com o tom zombeteiro. – Conhece todas as regras?

James. – disse uma voz feminina ao seu lado.

Ele virou o rosto na direção da voz e encontrou Sarah. Ela tinha um ar reprovador, fazendo com que James parasse de rir e sentisse um pequeno remorso pelo que estava dizendo. Bill estava vermelho de raiva. E James precisava de mais uma dose de whisky urgente.

– Bom, vamos começar com o campeonato de poker? – Amos indagou, a fim de amenizar o clima. – Todo mundo que disse que iria jogar já chegou, pelo que eu vi.

Bill começou a dizer que passara a semana lendo um livro sobre estratégias para vencer partidas de poker.

– Eu não vou jogar agora. – respondeu James, sem quebrar o contato visual com Sarah. – Talvez eu apareça mais tarde.

Sarah abriu-lhe um enorme sorriso e apoiou uma das mãos em seu peito. James rapidamente descobriu que, na verdade, não jogaria poker algum naquela noite.

– Quando quiser jogar, estaremos na mesa da cozinha. – Amos avisou, antes de sair.

–--

Remus estava observando distraidamente as pessoas à sua volta, pensando na decisão que estava prestes a tomar. Ao seu lado, Helena o encarava de braços cruzados, com os olhos cheios de lágrimas, como se esperasse ele dizer alguma coisa.

Ainda refletindo sobre sua decisão, Remus pousou seus olhos em Lily, que estava sozinha no sofá, segurando o celular nas mãos, embora seu rosto não estivesse voltado para o aparelho. Ela tinha um olhar firme na direção oposta da sala, parecendo quase inconformada. Remus seguiu seus olhos e encontrou James aos beijos com Sarah, contra uma parede. O casal estava atraindo a atenção de muitas pessoas.

Depois viu Frank e Bellatrix, fumando junto com Christopher, enquanto Lorens fazia questão de demonstrar, por meio de sua expressão facial, que estava detestando estar na companhia daquele casal. Em seguida, ele também reparou que Bill estava mirando Lorens penosamente e Remus concluiu que ele muito possivelmente estivesse pensando que poderia ser um namorado melhor do que Christopher.

– E aí, Remus? – Helena o trouxe de volta à realidade. – Vai continuar em silêncio mesmo? Prefere continuar me ignorando do que resolver nosso problema?

Mas antes que Remus pudesse lhe responder, Peter surgiu diante dos dois, carregando uma aparência doente.

– R-Remus, eu... acho que vou vomitar. – ele disse, segurando a boca. – Banheiro...

Remus se adiantou para ampará-lo e levá-lo dali, mas Helena se postou na frente dos dois.

– Não ajude-o, Remus! – ela ordenou. – Quem mandou ele encher a cara? Agora deixe ele arcar com as consequências sozinho!

– Você ficou maluca, Helena? – Remus perguntou, inconformado. – Ele está passando mal!

– Remus, eu preciso ir rápido. – Peter murmurou, mal conseguindo manter-se em pé.

Remus passou o braço de Peter por cima de seus ombros. Mas Helena não se mexeu.

– Remus, ajudar é a mesma coisa que incentivar ele a continuar com essa vida! Ele tem que aprender que o álcool vai acabar com ele!

– Helena, você pode nos dar licença? – Remus perguntou, educadamente, fingindo não tê-la ouvido.

– Não! – Helena quase berrou. – Se você o ajudar, ele nunca vai aprender!

– Nossa, Remus, sua namorada é louca. – Peter comentou, com a voz arrastada. Seu rosto estava contorcido de enjoo.

Remus respirou fundo, tentando manter-se calmo.

– Helena, se você não nos der licença, eu vou ter de passar por cima de você.

Helena bateu um pé no chão e deu um passo para o lado, fulminando o namorado com o olhar. Remus passou por ela sem dizer mais nada e levou o amigo para o banheiro do andar de cima.

Não fora nada agradável presenciar a situação de Peter diante do vaso sanitário, mas Remus não reclamou. Peter foi direto para o seu quarto depois de terminar, ainda totalmente trôpego. Remus decidiu retornar à festa, embora não estivesse nada entusiasmado com a ideia de ter de continuar a discussão com Helena.

Ele a encontrou com uma expressão completamente emburrada, encostada à parede diante das escadas, esperando por ele.

– Remus, quando é que você vai entender que quem se afoga no álcool não merece nossa consideração? – Helena começou, com a voz trêmula de raiva. – Até parece que o Pettigrew faria o mesmo por você, se a situação fosse o contrário! Se ele quer ficar enchendo a cara, então–

– Olha, Helena, eu não quero mais discutir com você. – Remus a interrompeu antes que o discurso dela se tornasse um de seus típicos chiliques. E ele sabia que não conseguiria suportar mais nenhum. – Para mim não dá mais.

Helena estacou. Abriu e fechou a boca diversas vezes, sem conseguir dizer qualquer coisa. Após quase um minuto de silêncio, ela finalmente conseguiu formular:

– C-co-como assim, Re-Remus?

– Exatamente o que você ouviu. Para mim acabou, Helena. – Remus declarou, passando as mãos pelo rosto, num gesto de cansaço. – Eu estou exausto das nossas brigas. Não tenho mais forças para aguentar mais nada disso. Sinto muito, mas não dá mais.

Helena enterrou o rosto nas mãos e começou a chorar copiosamente. Remus se segurou para não abraçá-la e tentar acalmá-la. Era preciso que se mantivesse distante, pois não queria que ela criasse qualquer esperança. Ele permaneceu fitando-a, aguardando pacientemente.

– R-remus! Não diga isso, por favor! – pediu ela, entre os soluços. – Eu não posso ficar sem você!

Remus baixou o olhar e expirou todo o ar de seus pulmões.

– Eu não quero mais continuar com isso, Helena. Sinto muito.

– Não! – Helena saltou sobre ele, agarrando-o pela camisa. – Por favor, não! Eu juro que vou mudar, Remus! Por favor!

– Você já disse isso mil vezes. – ele falou, sem manifestar nenhuma alteração por ter sido agarrado com tanta veemência. – Eu já sei que não adianta.

Ao ouvir aquele ultimato, Helena apoiou a testa no peito de Remus e voltou a soluçar desesperadamente. Algumas pessoas que estavam ao redor do casal já esticavam os pescoços para tentarem entender o que estava acontecendo. Remus inevitavelmente sentiu-se constrangido sob tantos olhares. Ele deveria ter imaginado que terminar seu namoro com Helena num lugar público não seria uma boa ideia.

– Não faça isso comigo, Remus! – Helena continuou seu lamento, soluçando incontrolavelmente. – Você é a única pessoa que eu tenho, você não pode me abandonar!

Remus segurou o rosto dela com as duas mãos e levantou-o para que pudesse olhá-la nos olhos.

– Eu não vou abandonar você. – ele afirmou, com carinho na voz. Levou uma das mãos até o alto da cabeça dela e a afagou. – Continuaremos amigos e você poderá contar comigo sempre que precisar.

– Não! – ela berrou. – Eu quero você, Remus! Eu preciso de você!

Houve mais um silêncio, durante o qual Remus tentou raciocinar ao mesmo tempo em que tentava ignorar os olhares curiosos voltados para ele. Helena soltou sua camisa e deu um passo para trás. Enxugou as lágrimas e olhou no fundo dos olhos dele.

– Ouça, Remm. – Helena voltou a falar, mais calma. – Vamos tentar mais uma vez. Por favor! Não me olhe assim! Eu prometo que vou me esforçar de verdade para mudar, prometo que não vou mais falar mal dos seus amigos, nem reclamar mais quando você sair com eles para beber–

– Não, Helena.

– REMUS! – ela o chamou em voz alta, num tom de súplica. Mais lágrimas escorreram pelos cantos de seus olhos. – Por favor, eu te peço!

Mesmo sem quebrar o contato visual com Helena, Remus viu duas garotas apontarem para os dois, aos cochichos. Helena continuou implorando, voltou a puxar sua camisa, com as sobrancelhas franzidas em arrependimento.

– Helena...

– Remus, eu juro, Remus! JURO! Eu–

Remus jamais esteve em uma situação na qual se sentisse tão embaraçado. O número de observadores ao seu redor crescera consideravelmente e muitos deles lhes lançavam olhares indignados, como se questionassem "por que você está fazendo essa garota chorar desse jeito?". Aliás, por que Helena estava chorando tanto? Como ele poderia fazê-la parar?

– Helena. – Remus resolvera interromper o acesso de promessas dela. Quando ela se calou, seus ouvidos ficaram aliviados. – Pare.

– Mas você...

– Ok, nós podemos tentar mais uma vez. – ele falou, antes que se arrependesse. Precisava fazê-la se calar. – Agora pare de chorar. Por favor.

Helena balançou a cabeça positivamente repetidas vezes, enquanto tentava recuperar o fôlego. O cessar de seu choro fizera muita diferença para sonoridade do ambiente; havia uma música tocando, Remus pôde reparar.

– Obrigada, Remus. Não vou te decepcionar.

Ao terminar de falar, Helena o abraçou com força. Remus demorou alguns segundos para retribuir o abraço. Muito embora sua vontade fosse a de simplesmente se soltar dela e ir embora dali.

–--

– James, eu acho que já chega de whisky para você. – Sarah declarou, tomando de suas mãos o copo que ele acabara de reabastecer. – Você já bebeu o suficiente.

James fez um movimento com a cabeça para afastar alguns fios negros dos olhos e fitou-a com um ar entediado.

– Sou eu quem decide se já bebi o suficiente. Agora me devolva esse copo.

– Não, James. – Sarah largou o copo numa mesa a alguns passos de distância. Quando retornou, continuou: – E sabe por quê? Porque eu definitivamente não vou ficar carregando macho bêbado por aí. E você está a um passo de precisar ser carregado.

– Como você é exagerada, Sarah...

Sarah riu com gosto. Estava prestes a dizer que ela não estava exagerando de modo algum, uma vez que James estava apoiado contra a mesma parede havia quase uma hora – ele simplesmente não conseguia se manter em pé por muito tempo sem se desequilibrar. Mas Sarah esqueceu-se do que ia dizer ao se dar conta de que James, pela terceira vez nos últimos dez minutos, estava olhando para Lily Evans, do outro lado da sala.

– Você é patético. – ela disse, de repente. – Não faz nem questão de disfarçar! Se quer ir lá ficar com ela, então vá, mas não fique aqui me fazendo perder tempo!

Ela deu-lhe as costas, mas James a segurou pelo braço.

– Espera, Sarah.

Sarah tornou a se virar para ele.

– Por que você está bebendo desse jeito? – ela se sentiu no direito de perguntar. – Eu sei que você gosta de apreciar um bom whisky, James, mas você já ultrapassou os limites da apreciação faz muito tempo.

– Foda-se.

– É por causa dela? – Sarah ergueu a cabeça e se aproximou perigosamente. – Tudo isso é por causa da Evans?

A expressão contrariada de James lhe serviu como resposta.

– Minha amiga Violet jura que vocês têm alguma coisa. – continuou Sarah, ainda muito aborrecida. James abaixou um pouco a cabeça, cansado, e segurou a parte superior do nariz com o dedo indicador e o polegar. – E eu nunca pensei que ela tivesse razão, mas agora eu entendo os motivos dela para pensar isso. Então quer dizer que aquela falsa santa já está investindo em você, James? Bom, eu deveria imaginar que ela fosse fazer isso. Eu só não achava que você fosse o tipo de cara que cairia na conversa dela.

Pela primeira vez desde que começaram a conversar, James se mostrou realmente interessado por algo que Sarah lhe dissera. Depois que ela terminou seu desabafo, ele voltou a levantar o rosto e a encarou com um decidido fascínio.

– Por que você está dizendo isso, Sarah?

– Porque eu a conheço, James.

James rolou os olhos, descrente.

– Conhece, é? Curioso, eu nunca vi vocês conversando.

A risada escandalosa de Sarah cortou o ambiente.

– Às vezes eu me esqueço de que você é novo na turma. – ela balançou a cabeça, tentando parar de rir. – Eu conheço a Evans desde o ensino fundamental. Estudávamos na mesma escola, ela era da mesma sala da minha prima, Alice. Ela chegou a frequentar muitas festas da minha família naquela época. – Sarah fez uma pausa para suspirar. – Mas ela nunca foi com a minha cara, desde o começo. Sempre ficava me olhando feio, independente do que eu dissesse, sabe? No início, eu achei que fosse por ciúmes, já que eu e a Alice ainda éramos bem próximas. Mas depois eu entendi que, na verdade, ela tinha inveja de mim.

James cruzou os braços e abriu um sorriso sarcástico pelo canto da boca.

– Acho que já ouvi você falar o mesmo sobre outras pessoas, Sarah. Será que todas as mulheres que você conhece têm mesmo inveja de você? Não é um pouco coincidência demais?

– Não, James! – Sarah protestou, voltando a se irritar com ele. – A Evans realmente foi uma pedra no meu sapato um tempo atrás! E eu estava achando que ela finalmente tinha se cansado dessa vida, mas agora que descobri que vocês andam estão se pegando, percebi que me enganei! Ela continua me perseguindo!

– Eu não estou me pegando com a Evans. – James voltou a parecer mal-humorado. – E o que foi que ela te fez no passado?

– Muitas coisas.

– Que coisas?

Após dois segundos de silêncio, Sarah respondeu:

– Certo. Eu te conto tudo se você me contar o que é que você tem com ela.

Ele sequer precisou pensar.

– Fechado. – James sorriu. – Primeiro as damas.

Sarah o encarou por um momento, como se estivesse avaliando seu grau de embriaguez para saber o quanto poderia contar. Constatou que James estava definitivamente alcoolizado, pois piscava repetidamente por atrás das lentes dos óculos: seus olhos dourados pareciam tentar focalizá-la. Diante daquela observação, Sarah tomou sua decisão. Contaria tudo.

– Ok. – a morena começou, aproximando-se dele e encurralando-o contra a parede. – Vou resumir a novela porque eu realmente detesto falar do assunto. Durante os três anos do ensino médio, Evans teve dois pseudo-namorados. E os dois foram ex-namorados meus, antes de se envolverem com ela. – Sarah sacudiu a cabeça, pensativa. – Ok, um deles não foi bem um namorado meu, mas nós já tínhamos saído algumas vezes, até que, um mês depois, ele e Evans surgiram namorando. Para confirmar minhas suspeitas de que ela só fazia aquilo para se provar melhor do que eu, o namoro não durou nada. E, claro, ele veio correndo pedir para voltar comigo quando ela o dispensou.

Por favor, Sarah...

– Não a defenda, James! Não venha falar que foi coincidência, porque não foi! – ela franziu o cenho. – Se você precisa de outra prova de que ela só se envolve com homens que se envolveram comigo, então aqui vai outra história: ano passado, eu estava saindo com o cara mais gato que já saí na vida. Eu já estava morando na minha república, fazia um ano que não ouvia falar da Evans e eu realmente achei que tinha me livrado dela para sempre. Doce engano. De repente, ela se muda para a república ao lado da minha e–

– Sarah, não foi coincidência. Foi por causa da Alice.

– Espere eu terminar essa história, James! – Sarah parou para respirar. – Bom, o fato é que a Evans ressurgiu na minha vida. E, naquela época, ela vivia enfurnada dentro da minha casa, com o pretexto de ajudar Alice com a mudança. Numa dessas visitas insistentes, ela acabou conhecendo o Louis, o cara maravilhoso com quem eu estava saindo. Você sabe quem é ele? É um francês, loiro, alto, gostoso. – Sarah tinha um ar saudoso. – Lógico que ela se encantou com ele. Principalmente porque, além de super bonito e educado, Louis estava comigo. Então, toda vez que os dois se encontravam em casa, ela vinha com um assunto. Primeiro, os professores de Direito. Depois, algo sobre o Fórum. E adivinha só? Isso mesmo, James, eles viraram amiguinhos, eu fui deixada de lado e os dois começaram a namorar em pouquíssimo tempo. Dá para acreditar na cara de pau dessa garota?

Definitivamente, James não estava esperando ouvir aquele desfecho. Ele entreabriu a boca, como se estivesse prestes a perguntar algo, mas não emitiu som algum. Resolveu, portanto, arriscar outra espiada na direção de Evans. Amos Diggory havia acabado de se sentar ao lado dela e provavelmente estava enchendo-a de elogios galantes, como de costume. Lily o ouvia com atenção, enquanto passava os dedos pelos cabelos acaju.

– Não. – ele negou com a cabeça. – Não faz sentido.

– Faz sim. – Sarah confirmou. – E agora ela quer fazer o mesmo com você, só porque você teve um caso comigo recentemente. Aliás, agora é sua vez de contar tudo, James. Por que você está olhando para ela a cada cinco minutos? O que vocês têm?

James desviou o olhar de Evans e encontrou Sarah encarando-o muito séria. Perguntou-se por que ninguém nunca lhe contara que o francês tivera um término conturbado com Sarah antes de começar a namorar Evans. Perguntou-se até que ponto houvera coincidência nos relacionamentos anteriores de Evans em relação à Sarah. Sua mente, cuja rapidez em processar dados já estava afetada pelo álcool, foi mergulhada em uma enorme confusão.

– Bom. – James começou. – Eu e Evans não temos nada, nem nunca tivemos. É isso.

– Mas Violet me disse que–

– Violet não sabe de nada, Sarah. – ele a cortou, fechando a cara. – Evans não me dá a menor bola. Aliás, ontem mesmo ela saiu com esse francês aí.

O queixo de Sarah simplesmente despencou.

– Eu não posso acreditar, James! – ela levou as mãos à boca e seus olhos ficaram inquietos. – Aí está a prova de que ela faz tudo de propósito! Durante a semana, eu e Louis voltamos a nos falar, depois de muito tempo. Sério, fazia meses desde a última vez em que conversamos. Na quarta-feira, nós meio que combinamos de sair um dia desses e eu jurei que dessa vez faria de tudo para dar certo. Não é possível que, coincidentemente, eles tenham voltado a sair bem agora que nos reaproximamos! Agora você consegue ver quem é a Evans de verdade, James?

– Não, Sarah. – James respondeu, categoricamente. – Quem arranjou o encontro para a Evans e o francês foram as amigas dela, Anita e Lorens. Ela mesma me disse isso.

– Exato, isso foi o que ela te contou. – Sarah virou a cabeça para lançar um olhar fulminante para Evans, por cima do ombro. – Pois fique sabendo que as amiguinhas dela chegaram exatamente quando eu e o Louis estávamos conversando. Bem que eu estranhei elas surgirem naquela hora. A Evans não é nenhuma estúpida, aposto que ela está por trás de tudo e não quer que ninguém desconfie!

Permaneceram um tempo assistindo Lily Evans rir da piada de Amos Diggory, que parecia encantado com sua risada. De repente, a ruiva se virou e encontrou os olhos dos dois. O contato visual durou poucos segundos, Evans se esquivou e voltou a olhar Amos. Sem tirar os olhos daquela direção, James tentou assimilar todas as informações, mas não quis acreditar que Sarah tivesse razão em sua teoria. Afinal, ele e Evans haviam se tornado amigos nas últimas semanas. Ele a conhecera o suficiente para saber que ela jamais agiria premeditadamente daquela forma.

– Acho que preciso de um whisky. – James concluiu, por fim.

– Eu também. – Sarah concordou, tornando a se virar para ele.

Mas antes que os dois começassem a se locomover em busca de mais uma dose, Sarah o agarrou pela nuca e o beijou. James a puxou para si no mesmo instante, apertando-a com força.

– James... – ela sussurrou, trazendo a cabeça para trás.

– Sim?

– O que acha de passar noite na minha casa hoje?

Ele sorriu, com os olhos voltados para a boca dela.

– Eu não pretendia passar a noite em nenhum outro lugar.

–--

No fim da festa, Sirius e Remus ainda tomavam uma cerveja, enquanto conversavam num canto da sala.

– Remus, você fica bem melhor quando a Helena não está. – Sirius comentou, ao vê-lo abrir outra garrafa. Coisa que ele jamais faria sob os olhares reprovadores de Helena, se ela estivesse presente. – Aliás, onde ela está?

– Ela foi embora depois que brigamos. – Remus contou, desanimado. – Eu quis terminar, mas decidimos tentar mais uma vez.

O quê? Mas por que não terminou com ela logo?

– Ela pediu para não terminar sem termos uma última chance. Achei justo.

– Cara, você realmente vai para o céu. – Sirius balançou a cabeça, desacreditado. – E antes que eu me esqueça, você não liga de dormir na sala hoje? Marlene vai dormir comigo.

Remus bebeu um gole da garrafa.

– Tudo bem, então. Que opção eu tenho? Já avisou o James?

James surgiu naquele exato momento, ainda um tanto cambaleante. Apoiou-se no ombro de Sirius para conseguir manter-se em pé sem titubear.

– Vou dormir fora hoje.

– Onde? – perguntou Remus.

– Onde, não! – Sirius exclamou, estreitando os olhos para James. – A pergunta correta é: com quem?

– Com a Sarah. – James contou, sem demonstrar qualquer animação. – E depois eu gostaria que vocês me tirassem algumas dúvidas sobre... o ano passado. Agora eu tenho que ir, a Sarah ficou me esperando, mas amanhã vou precisar perguntar algumas coisas para vocês dois.

– Perguntar sobre o ano passado? – Sirius repetiu, sem entender.

– Sim... e sobre a Evans.

Sirius e Remus se entreolharam, confusos. Sobre o que James poderia estar falando?

– James, esqueça a Lily. – Sirius o aconselhou, subitamente assumindo um semblante sério. Colocou uma mão sobre o ombro do amigo e o olhou nos olhos. – Marlene me contou que ela saiu com o ex ontem, cara, então esqueça de uma vez.

– Eu sei, Sirius... – James murmurou. – Mas eu gosto dela, cara.

Mais uma vez, Sirius e Remus se entreolharam. No entanto, a expressão dos dois diante daquela nova revelação era de pura surpresa.

– Não fala besteira, cara! – Sirius resolveu melhorar o clima, mesmo que ainda estivesse absolutamente sem reação. – Você só está um pouco bêbado. Agora vai logo, a Sarah está esperando por você lá na porta.

– Eu já vou. – James deu uma olhada por cima do ombro. Sarah acenou. Ele tornou a se virar para os amigos. – Olha, eu só preciso saber uma coisa. É verdade que a Sarah saía com aquele francês otário, antes de ele começar a sair com a Evans?

Sirius rolou os olhos e cruzou os braços, recusando-se a responder.

– Sim. – foi Remus quem confirmou.

James pareceu transtornado com os próprios pensamentos. A uma certa distância, por entre muitas cabeças, Sarah esticava o pescoço para tentar compreender a demora de James.

– Sarah está quase vindo para cá para te buscar. – Sirius avisou-o. Mas antes de deixar o amigo se afastar, resolveu acrescentar: – E tome cuidado para não confundir o nome dela com o da Lily.

– Eu gosto da Evans, Sirius, mas não vou confundir a duas. – James resmungou. Voltou a se equilibrar nos próprios pés, esforçando-se para aparentar mais sobriedade. – Vejo vocês amanhã. Até.

James deu meia volta e apressou-se em atravessar o ambiente para ir ao encontro de Sarah. O casal deixou a festa sendo observado não apenas por Sirius e Remus, mas também por Lily.

E enquanto assistia aos dois desaparecerem pela porta, Lily só tinha um desejo: esquecer.


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Notas finais do capítulo

Olha quem ressuscitou! Isso mesmo, eu! :) ♥

Bom, o capítulo contém um pouco da backstory que eu estava segurando desde o início da história. Finalmente chegou a hora de falar um pouco sobre esse passado que ainda atormenta a relação entre Lily e Sarah. Mas e aí, vocês acham que ela estava falando a verdade? Me contem!! ♥

Beijos,
Carol Lair (@carollairr)