- Mas já?! Senhora Yuuko, achei que demoraria no mínimo uns dois dias antes de partir! – Disse Watanuki ao chegar na loja junto de Doumeki e ver Yuuko já com as malas prontas e algumas caixas e bolsas sob um diagrama desenhado no chão, que provavelmente transportaria Yuuko e o “Jack” até seu destino.
- Não sei porque deduziu isso, eu não te disse nenhuma data. – Ela respondeu entregando uma das malas que segurava para um cara mediano, magro, de cabelos castanhos e compridos presos num rabo de cavalo baixo e uma roupa de mordomo. Mas Watanuki estava atordoado demais para prestar atenção nisso.
- E eu fico como? Quero dizer, a senhor não me disse como devo cuidar da loja ou o que dizer a seus clientes quando vierem aqui! – Escandalizou. – Não sei se vou conseguir cuidar de tudo sozinho!
- Ah, não se preocupe com isso! Doumeki vai te ajudar, não vai? – Ela perguntou sorrindo para o garoto ao lado de Watanuki que mais parecia uma porta de tão alto.
- Sim. – Ele respondeu mantendo a expressão séria de sempre.
- E QUEM DISSE QUE EU QUERO A AJUDA DESSE IDIOTA?! – Watanuki começou a berrar irritado, como sempre ficava quando o assunto era o Doumeki. Dava até pra imaginar fumacinha saindo de seu nariz.
- Como berra. – Constatou Doumeki tapando os ouvidos.
- Quieto e másculo, o tipo de homem perfeito. – Comentou o mordomo analisando Doumeki com um sorrisinho malicioso. – Só falta um pouco daquele sadismo clássico para se tornar como o Sebby-chan. – Seus olhos brilharam e ele se aproximou de Doumeki lentamente.
- Grell, contenha-se. – Ordenou Yuuko. – Agora pegue aquela caixa para mim, por favor. – Ela apontou uma caixa de isopor jogada em um canto com sombra. Ele a obedeceu sem hesitar, indo em direção a caixa e tentando pega-la, mas estava pesada demais. Ou talvez ele fosse fraco demais.
- O que tem aqui?! Tijolos ou bolas de boliche?
- Saquê. – Respondeu com um largo sorriso. – Muito saquê.
- Até para uma viagem de negócios a senhora leva saquê?! – Watanuki perguntou inconformado.
- É claro, Watanuki. Falando assim até parece que não me conhece. – Ela deu de ombros e revirou os olhos. – Doumeki, por favor, ajude-o a levar essa caixa até o centro do diagrama, sim?
- Hai. – Sem pensar duas vezes, ele foi até o mordomo e o ajudou a levantar a caixa sem muita dificuldade.
- Senhora Yuuko. – Sussurrou Watanuki enquanto os outros estavam ocupados.
- Diga.
- Cadê o Jack, O Estripador? Admito que estou curioso para vê-lo. – Ele disse sem graça focando o chão. Ela estranhou a pergunta, mas logo entendeu que realmente as pessoas não esperam que o tão famoso assassino em serie tenha aquela aparência inofensiva e personalidade desastrada.
- Não te apresentei ao Grell? – Perguntou coma intenção de fazê-lo entender.
- É ele?! Aquele homem é um assassino?! – O garoto indagou incrédulo.
- O que esperava? Que ele realmente se chamasse Jack?
- Não, só alguém um pouco mais... Malvado?
- Não se deixe enganar, Watanuki. Grell pode não ser o vilão e assassino perfeito, mas também não é nenhuma garotinha inútil, como pode parecer algumas vezes. É um bom ator.
- Então devia se cuidar enquanto estiver perto dele.
- Já disse para não se preocupar, ficarei bem. Deveria se preocupar consigo mesmo, Watanuki, se preocupa demais com os outros. – Yuuko sorriu e passou a mão pelo rosto do garoto. – Me prometa uma coisa.
- O que?
- Se afaste da Himawari enquanto estou fora. Ela só vai lhe trazer problemas e não terá ninguém para te acudir.
- Tudo bem. – Ele concordou sem resistência. Sabia que Himawari lhe trazia azar e que coisas ruins sempre aconteciam quando ela estava por perto.
- É só isso. – Yuuko pegou uma bolsa que repousava no chão ao ver que Grell voltara e estava pronto para ir. – Vou sentir falta da sua comida, Watanuki.
- Vou sentir sua falta, senhora Yuuko. – O garoto falou com um sorriso discreto.
- Também vou. – Ela foi até o centro do diagrama junto com Grell e acenou para os dois garotos que ficavam por lá. – Logo voltarei, até lá, cuidem-se. Adeus.
Com isso um clarão surgiu do desenho, não permitindo que Doumeki e Watanuki olhassem diretamente para lá por causa da luz e quando conseguiram abrir os olhos, eles já tinham desaparecido. Junto com o desenho, as malas e caixas.


Em um beco sem saída escuro, um lugar que quase ninguém via, surgiu um desenho no chão e com outro clarão, duas pessoas e suas malas.
- Que lugar é esse? Tão escuro e nojento! – Reclamou Grell fazendo uma cara de nojo. Geralmente quem seqüestrava as mulheres e as levava para lugares assim era sua finada cúmplice, Madame Red.
- É um beco em um canto mais desabitado da cidade. Obviamente seria escuro ou alguém poderia nos ver brotar do chão... – Yuuko respondeu sem muita paciência. Sua cota de perguntas já tinha sido esgotada com o Watanuki.
- Certo, mas onde estamos exatamente? Isso é muito diferente do que estou acostumado. – Ele disse saindo do beco e olhando em volta.
- É claro, isso aqui é Japão e não Inglaterra. Mais especificamente, cidade de Karakura. – Yuuko pegou duas bolsas, uma com cada mão e saiu do beco. – Vamos, Grell, ajude-me a levar a bagagem até algum hotel próximo.
- QUER QUE EU CARREGUE TODO O RESTO SOZINHO? – Gritou ao ver ela se afastando como uma dama apenas com as duas bolsas. – Isso é fisicamente impossível! Hey, hey, não me deixe falando sozinho! – Ela continuou a andar, o ignorando. – ME ESPERAAA! YUUKOOO! – Ele pegou todas as malas que conseguiu e saiu correndo atrás dela. Quando a alcançou, tudo que ela lhe disse foi:
- Memorize o nome da rua, por favor. – Sem entender muito bem, ele a obedeceu. Era difícil memorizar um nome em japonês, mas não tinha outra escolha, dessa vez não era ele quem tinha o controle da situação. Não, ele havia dado sua liberdade temporariamente para pagar o seu desejo.
Os dois andaram (Certo, Grell basicamente se arrastou.) por algumas ruas até chegar a uma pequena instalação. Um hotel barato que fez Grell se arrepiar só de pensar em dormir naquele lugar, mas já estava extremamente cansado de ficar vagando por aquela cidade e aceitou de imediato quando ela lhe propôs passar a noite lá.
- E o resto das coisas, Yuuko? – Ele perguntou ao deixar as malas no quarto e se jogar em cima de uma das camas, esgotado.
- Memorizou o nome da rua, né? – Ele assentiu com a cabeça. – Agora é só deixar comigo e com meu amigo.
- Ah, ótimo! – Grell murmurou com um sorriso de alivio pensando que poderia ficar deitado lá até o fim do dia.
- Bom, ainda temos mais uma bela caminhada até a loja! – Yuuko exclamou com um de seus sorrisos inspiradores no rosto. - E temos que comprar saquê no caminho! GO, GO, Grell! – Ela o puxou pelo braço e saiu arrastando-o por metade do caminho até que ele percebesse que não tinha outra opção e resolvesse andar por conta própria.
- Por que não trouxe aquele seu empregadozinho ao invés de mim? – Grell perguntou claramente irritado com as condições que estava tendo que se acostumar.
- Porque eu precisava de um shinigami comigo. – Yuuko Respondeu sem muito interesse. Sem duvida as perguntas de Watanuki eram mais divertidas de se responder.
- Isso significa que eu vou ter que matar alguém, não é mesmo? – Um sorriso maldoso e divertido abriu-se em seu rosto.
- Talvez, eu não sei. Conhecendo o meu cliente provavelmente você terá que exorcizar alguns fantasmas e não criar mais almas penadas.
- Exorcismo? Escolheu a pessoa errada, não sei nada sobre isso. – Ele disse tentando se livrar do trabalho.
- Vai ter que aprender. Quero dizer, dependendo do que ele pedir...
- Ai, já to vendo que isso vai me dar muita dor de cabeça! – Lamentou enquanto esfregava as têmporas. – E nem vai ter a vermelhidão do sangue para me acalmar. Oh, minha arte jogada no lixo! – Ele se referia as pinturas que fazia nos rostos das mulheres que matava com o sangue que jorrava delas.
- Dá próxima vez pense melhor antes de aceitar pagar um preço. Eu pergunto varias e varias vezes se a pessoa tem certeza de que aceita o preço e ainda tem varias que se arrependem depois...
- Eu não sabia que você ia me arrastar pra fora do meu país! – Choramingou. – PARA LONGE DO SEBBY! SUA BRUXA! Como pôde fazer isso, ein?!
- Você é realmente muito parecido com o Watanuki quando o assunto é escândalo e paixão impossível! – Grell preferiu não responder. Já tinha Willian para lhe informar que era escandaloso e quanto a sua paixão por Sebastian... É, ele mesmo sabia que era impossível.
Continuaram caminhando, Yuuko parou em um bar e comprou o saquê como tinha dito, Grell por sua vez só observava, de canto de olho, algumas mulheres que lhe pareciam vadias com vontade de pegar sua serra elétrica e se divertir com o sangue delas. Mas era só olhar para Yuuko que já desistia da idéia, afinal, ela nunca se distrairia tempo o suficiente para que ele voltasse a sua forma de shinigami.

- Chegamos, Grell! – Yuuko informou com alegria ao ver a loja. – Loja Urahara!