Já estávamos no fim do mês de fevereiro e o aniversário de Enzo estava chegando. Eu queria lhe fazer uma surpresa (que contaria com a ajuda de Lacey), mas depois disso eu queria lhe dar um presente de verdade. Só que não sabia o que dar. Então achei melhor perguntar, e ver o que ele queria, assim eu não erraria.

Era uma quinta a noite quando Lacey estava pronta para se apresentar no Crazy Joker. Pedi a ela que cantasse uma música para mim. Era essa a surpresa que eu queria dar para Enzo.

Depois que conversamos aquela noite, onde nada aconteceu, decidi que era meu dever fazer Enzo perceber que eu era a mulher certa. E eu tentaria dessa maneira.

Lacey, que não era boba, perguntou se a música era para alguém especial. Ela sabia que eu estava "com alguém", mas eu ainda não tinha contado que esse "alguém" era o irmão dela. Menti dizendo que não era para nenhuma pessoa especifica, só que adoraria ouvir aquela música na voz dela. Porém Lacey não acreditou em mim, mas topou em cantar a música.

Antes de Lacey se apresentar eu dei um jeito de conversar com Enzo à sós. Com a ajuda de Clayton, nos escondemos no estoque enquanto ele vigiava, para avisar se alguém se aproximasse.

— Quero que escute a música que Lacey vai cantar, com atenção. - disse para ele.

— Por quê?

— Se você entender a letra, não precisará que eu responda essa pergunta.

— Tudo bem. - Enzo estava curioso.

— Tem outra coisa. Além dessa surpresa, eu queria que você me dissesse o que quer de presente de aniversário.

— Não precisa me dar nada.

— Não, Enzo. Deve ter alguma coisa que você queira. É só que eu não tenho ideia do que te dar. E não queria entregar qualquer coisa.

Ele pensou um pouco.

— Talvez tenha algo que eu queira. - ele sorriu e esperei para ouvir.

— O quê?

— Eu queria que você dançasse para mim. Igual fez no Halloween.

— Quê? Como assim dançar? É sério?

Ele assentiu.

— Ai, Enzo. Eu morreria de vergonha. - coloquei as mãos na cara.

Só de imaginar ele me observando... Nossa! Voltei a olhar para ele.

— Vergonha? Você dançou para toda aquela gente.

— Eu sei. Mas é diferente. Só você vai estar me olhando.

Ele sorriu, se divertindo com a ideia.

— Você perguntou o que eu queria. Eu quero isso. - ele me olhou com aqueles olhos.

— Não sei. - disse, ainda com vergonha - E também onde vou dançar? Não posso fazer isso no seu quarto!

— Deixa o lugar comigo.

Não consegui pensar muito, eu não tive tempo.

— Tá, eu vou pensar. - respondi, e escutamos Clayton bater na porta. O sinal para sairmos de lá.

***

Lacey terminou de cantar a música de Mariah Carey, e voltou a falar no microfone.

— A próxima música se chama "What is Love" e vou cantar a pedido de minha amiga Giselle. Espero que gostem.

Procurei por Enzo no balcão, de onde eu estava mesmo. Achei melhor não ficar por perto, pois pensei que não conseguiria disfarçar e aí sim Lacey podia desconfiar. Ele me olhou com um meio sorriso na boca e depois voltou a atenção para a irmã no mini-palco.

Lacey começou a cantar a música de Lea Michele. Essa música era tão linda, e com certeza dizia tudo o que eu não conseguia falar em voz alta para Enzo.

"Cansei de perseguir.

Por que está perseguindo algo mais?

Não posso mais aguentar."

"Cansei de mentir,

para que a verdade saía de sua boca.

Quando a resposta está gritando alto."

"Você interpreta o papel,

E eu tomarei a liderança.

Forçamos uma pose,

Eu estava cega demais para ver.

Isso não é o que parece."

Lacey começou a cantar o refrão de um jeito maravilhoso. Ela realmente tinha um dom e transformou a música em uma versão sua. Busquei por Enzo mais uma vez e ele me observava com atenção.

"O que é o amor?

O que é o amor?

Quando você não sabe mais quem está

deitado ao seu lado."

"O que é o amor?

O que é o amor?

Você não sabe o que é o amor

Até que você ame alguém o suficiente."

"O que é o amor? O que é o amor?

O que é o amor para você?"

Escutei a segunda parte da música com o coração apertado. Ela dizia tudo. Tudo mesmo.

"É loucura, como um terremoto.

Que abala sua alma.

Então você é deixado com toda destruição."

"Você está congelado, e não muda.

Quem nos salvará agora?

Porque não posso ficar assim

por muito tempo."

Lacey voltou a cantar o refrão e eu cantei junto com ela. Ela sentia a música com todo o coração. Prestando atenção na sua mensagem. Eu queria que Enzo também sentisse ela assim, e esperei ansiosa até a hora que íamos conversar.

***

— Então? Você gostou? - perguntei, depois que já estávamos em casa, no quarto dele.

— Sim. É uma bela música.

Enzo me observava com cuidado. Estávamos de pé, de mãos dadas. Eu queria tanto dizer que o amava, mas tinha medo, muito medo.

— Sabe, às vezes me pergunto por que você ainda está aqui. Comigo. - disse Enzo, sem desgrudar os olhos do meu - Eu coloquei essa máscara para afastar qualquer sentimento, qualquer pessoa. E mesmo assim você... escolheu... - eu sentia que ele queria dizer algo importante, mas não conseguia. E eu realmente entendia por que - Eu acho que eu não mereço.

Segurei o rosto dele com as mãos.

— Lógico que você merece, Enzo! Todo mundo merece ser feliz.

— Por quê? - ele segurou minhas mãos na suas, e desceu elas de novo - Por que você ficou interessada em mim, sendo que fiz o contrário para que isso não acontecesse?

— Como você se sentiu atraído por mim? - joguei a pergunta para ele, Enzo não respondeu - A gente não manda nessas coisas. Elas simplesmente brotam dentro da gente. Igual o Nico te falou.

— Eu só não consigo acreditar que você está ao meu lado depois de tudo que eu fiz. Eu não entendo como você começou a gostar de mim, sendo que eu te travava com aquela arrogância toda.

— Nem todas às vezes. - fiz ele se lembrar do dia do assalto, onde ele cuidou de mim e me protegeu - Acho que percebi que você se escondia dentro dessa máscara e aí eu comecei a me apaixonar...

Parei de falar quando percebi o que tinha dito. Eu tinha confessado. Meu Deus! Eu não sabia o que esperar, então fiquei surpresa quando ele me beijou.

O que isso queria dizer? Que ele também estava apaixonado, ou que só aceitava o meu amor? Eu não sabia, não sabia. Por que essa relação tinha que ser tão complicada?

***

No dia do seu aniversário, Enzo me levou para o lugar onde eu dançaria para ele. Ainda estava achando aquela ideia absurda, mas eu realmente não tinha um presente ideal e era o que ele queria.

Enzo se aproximou de um prédio fechado.

— Onde estamos?

— Na casa de um amigo.

— Que amigo?

— Um amigo. - ele sorriu, contendo o riso.

Enzo passou pelo segurança do prédio, que o deixou entrar com o carro e lhe deu um "olá" quando o viu. Fiquei preocupada, que amigo era esse afinal?

Quando entramos no apartamento, que era bem pequeno por sinal e bem arrumado, Enzo se aproximou de mim, me abraçando pela cintura e me beijando. Respondi ao seus beijos e ele me empurrou, até que bati em uma cômoda antiga. Começamos a rir e quando me virei para arrumar o que tínhamos bagunçado, vi a fotografia de Clayton.

— Enzo, não me diz que essa casa é do Clayton! - disse mostrando a fotografia.

— Não digo. - ele riu.

— Enzo!

— O quê?

Me afastei dele. Não acreditando que ele pediu o apartamento de Clayton emprestado.

— O que tem de mais?

— Tem que ele pode chegar a qualquer momento! Você disse o viemos fazer aqui?

Fiquei com medo da resposta.

— Lógico que não! E fica tranquila, ele não vai aparecer. Eu pedi para ele ficar a tarde toda fora. É sábado. Ele deve ter arrumado alguma coisa para fazer.

Eu não estava gostando disso.

— Ei, para de besteira. Vá lá se arrumar. Eu vou te esperar aqui.

Entreguei o cd com a música para Enzo e pedi para ele colocar só quando eu mandasse.

Fui até o banheiro com a mochila, onde guardei a roupa e os acessórios. Tentei me vestir rápido. Não fiz a maquiagem tão forte. Só tracei uma linha reta no canto dos olhos para realçá-los.

Comecei a tremer de nervoso. Eu já tinha me apresentado tantas vezes quando mais jovem, mas em nenhuma dessas vezes me senti tão nervosa quanto estava me sentindo agora. Abri a porta do banheiro, como se estivesse com medo de alguém me ver daquele jeito. Fui até o quarto de Clayton e deixei a espada turca na cama. Eu não tinha usado ela na apresentação do Halloween, mas achei legal usar hoje. Assim Enzo não veria a mesma performance que no outro dia.

— Pode colocar a música! - gritei do quarto.

Depois de alguns minutos escutei a música árabe ressoar pela casa, Enzo aumentou ela demais. Ao espiar a sala, vi ele sentado no sofá, Enzo me pegou no flagra, me escondi com vergonha.

— Já te vi Giselle! Vem! Estou esperando!

— Enzo, abaixa um pouco essa música. Assim o condominio todo vai ouvir.

Ele riu e abaixou um pouco.

— Pronto!

Respirei fundo e abri os braços com o véu na mão, então comecei a dançar. Entrei na sala girando até chegar na frente dele. Com as mãos, já o encarando, balancei o véu, subindo-o com o braço esquerdo, tampando meu rosto por alguns segundos. Então o joguei para trás e segurei ele com a outra ponta. Enzo sorria e não consegui ficar séria. Balancei meus quadris enquanto girava, depois movimentei o véu usando os braços de novo.

Enzo se ajeitou no sofá, sentando-se mais próximo da beirada. Seu sorriso tinha saído da boca e ele me olhava com desejo. Lhe enviei um olhar, como se mandasse ele olhar para a minha cintura, ele obedeceu e eu mexi meus quadris, e não parei enquanto girava mais uma vez, abrindo o véu nas duas mãos. Então comecei a girar mais rápido e mais rápido, até que não conseguia mais vê-lo direito. Parei, olhando de volta para ele, segurando o cabelo para cima e me aproximando mais de Enzo. Chacoalhei os ombros, fazendo as pedras do tope se baterem formando um som. Cheguei perto o suficiente do rosto dele para bater meu peito contra seu corpo e depois voltei para trás, mas sem antes jogar o véu para ele.

Continuei indo para trás, sem parar de mover os quadris, levantei os braços fazendo um X com as mãos ao desce-lo novamente, parei aos mãos do lado da cintura e rodei, tentando não parar de olhá-lo. Enzo agora, respirava com força, seus olhos gritavam por prazer. Não deixei de me sentir poderosa. Era bom se sentir desejada. Era o que a dança provocava nos homens.

Levantei as duas mãos e mexi o quadril para o lado, dando pequeno passos, abri os braços e joguei meus cabelos longos com leveza para o lado e depois voltei a requebrar os quadris. Segurei o cabelo que estava na minha cara e balancei mais a cintura, coloquei o pé na frente e travei o quadril, uma vez para baixo, uma vez para cima. Estiquei meu braço direito para que Enzo pegasse minha mão e levantasse.

Depois que ele se levantou, afastei minha mão da dele, levantando-a e balançando o quadril, dessa vez mais devagar. Como estava sem o véu fiz movimentos suavez com as mãos enquanto dançava. Enzo sorria para mim de novo. Eu queria saber o que ele estava pensando. Dançei em torno dele, dando voltas, então parei mais uma vez na sua frente. O chamei, com as mãos dançantes, para se aproximar mais. Ele obedeceu.

Quando parou na minha frente, a centímetros do meu rosto, coloquei os dois braços dobrados na frente de nós, deixando um espaço onde podia ver seus olhos e ele os meus. Movimentei minhas mãos e a cabeça sem desgrudar do olhar dele, passei as mãos devagar por seu rosto e depois me virei de costas, ainda bem próxima. Então continuei dançando suave, olhando para ele, uma vez ou outra. Me virei novamente e passei as mãos pelo corpo dele, sem tocá-lo de fato.

Ainda mexendo as mãos o chamei mais uma vez e ele me seguiu até o quarto de Clayton. Girei dançando, até a cama e peguei a espada. Prendi Enzo com ela, entre minhas mãos, o girei e o empurrei na cama. Voltei a mexer os quadris rapidamente, girei segurando a espada, descendo-a logo depois, sobre meu corpo. Enzo me observava de cima à baixo. Ele me queria, eu sabia disso. Me curvei um pouco para trás e coloquei a espada sob meu peito e soltei as mãos, girei, mexendo os quadris, sem deixar a espada cair de onde estava. Depois a coloquei na cabeça e soltei as mãos de novo. Balançando meu corpo com equilíbrio.

Girei mais algumas vezes e depois me virei de costas para ele, descendo as costas para trás com apenas o apoio das pernas na frente. Coloquei a espada na minha barriga e estiquei os braços até alcançar o rosto de Enzo. Voltei a ficar reta e me aproximei dele, já ofegante demais. Permiti que ele me desse um beijo, e soltei a espada na cama, mas quando ele começou a segurar minha cintura, me afastei, o bastante para que pudesse empurrar seu corpo com meu pé, o fazendo deitar-se na cama.

Subi na mesma e mexi o corpo enquanto ele me olhava de baixo. Abri os braços e desci mexendo os ombros e foi aí que ele pegou meu rosto e me beijou novamente. Permiti dessa vez que ele continuasse, e quando dei por mim já estava deitada na cama, com seu corpo sobre o meu.

Enzo parou de me beijar e olhou para mim com a respiração alta.

— Você tem certeza? - perguntei.

— Tenho.