Intercâmbio escrita por LaisaMiranda


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Esse capitulo está bem emocionante.
Boa leitura!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/607514/chapter/19

 

O tempo passou e estava tudo indo muito bem, até aquele certo dia. Tudo começou quando eu estava conversando com Lacey na cozinha. Enquanto ela preparava o almoço, Lacey insistia que eu estava saindo com alguém. Mas eu negava, é claro. Eu sabia que alguma hora teria que contar para ela sobre o que realmente estava acontecendo, mas não sabia quanto tempo Enzo queria continuar com o segredo.

— Eu já disse que não tem ninguém. - tentei mais uma vez. Desse jeito eu teria que mentir. E eu não era boa nisso, lembra?

— Como não? Você anda sorrindo sem motivo, para lá e para cá! Me conta, Giselle. Please!! Eu sei que você conheceu alguém!

— Tá! - afirmei, eu precisava ser convincente, ou ela não pararia nunca mais de me perturbar com esse assunto - É um cara.

Really? Eu não fazia ideia! - ela me encarou por alguns segundos e depois sorriu, querendo saber mais - Como é o nome dele? Onde vocês se conheceram?

Enzo, e ele é seu irmão, na verdade. E por uma mera coincidência nos conhecemos na sua casa.

— Giselle? - Lacey chamou minha atenção.

O que eu poderia responder? Tentei lembrar de nomes, nomes internacionais, mas não conseguia me lembrar de nenhum. Era impressionante como nessas horas nada vem na sua mente. Felizmente Enzo me salvou! Ele entrou na cozinha e Lacey não viu outra alternativa, a não ser parar de me atormentar.

— Depois a gente termina essa conversa. - avisou ela, para mim.

Com todo o prazer, pensei.

Enzo se sentou na cadeira de frente para mim, entre a mesa, mas não me olhou. Achei aquilo estranho. Ele sempre tentava encontrar um jeito de me olhar ou sorrir para mim, enquanto ninguém estava observando, mas desta vez não.

— Hoje eu preparei peixe com batata frita, servido com uma rodela de limão. - disse Lacey se aproximando, ela colocou os pratos, já servidos na mesa.

Então o celular de Enzo tocou. Ele observou o número por alguns segundos e depois se levantou, sem me olhar uma vez sequer. O que estava acontecendo?

— Oi Amelia. - disse ele, para a pessoa do telefonema. Ao que tudo indicava; uma mulher.

Quando me virei para encarar Lacey, em busca de respostas, ela tinha uma expressão triste no rosto.

— Quem é Amelia? - perguntei, eu precisava saber.

— É a mãe da Claire.

A mãe da Claire? Mas por que ela estava ligando para Enzo? Eu pensei que ele não tivesse mais contato com nada e com ninguém dessa época da vida dele.

Depois da ligação, Enzo não falou mais comigo. Eu quis chamar por ele no seu quarto, mas por alguma razão achei melhor não. Quando Enzo quisesse conversar, ele viria até mim. Eu não iria pressioná-lo. Não queria repetir o que fiz quando descobri sobre a morte de Claire. E para completar, mais tarde descobri que ele tinha saído.

No Crazy Joker ele estava quieto e também procurava não olhar para mim. Quando o bar estava para fechar, fui até ele, mas recebi um "depois a gente conversa" e tive um mal pressentimento. Como assim, depois a gente conversa? Será que o telefonema da mãe de Claire foi tão sério a ponto de ele querer terminar comigo? Não. Eu não suportaria. Eu precisava dele.

Dormi muito mal naquela noite. Toda hora eu virava para um lado e depois para o outro, com os olhos fechados, mas sem sono nenhum. Parecia que não era possível dormir. A madrugada foi fria e quando acordei, morrendo de cansaço no dia seguinte, o frio estava pior.

Coloquei o máximo de roupa que pude até não sentir mais frio, então desci para tomar meu café da manhã e ir para EIPB. Encontrei com Lacey na cozinha e ela também estava bem agasalhada.

— Bom dia. - disse quando entrei.

Good Morning! Dormiu bem?

— Nem um pouco. Está frio né!

— É, nevou de madrugada.

— O quê? - eu quase gritei. Ela disse nevou? Levantei-me da cadeira de supetão e fui até a janela. Não estava mais nevando, porém consegui ver gelo lá embaixo - Não acredito que perdi isso.

— Não se preocupe, uma hora volta a nevar. Mas já vou dizendo que não tem nada de magico. Na verdade é muitoooo gelado, e muitooooo molhado, e muitoooo frio.

Fui para a EIPB e estudei. Porém estudei, até o último minuto, com a cabeça em Enzo. Eu precisava saber por que ele estava agindo daquela maneira estranha.

— ESTÁ NEVANDO! - um aluno gritou, correndo direto para a janela. No momento seguinte estávamos todos lá fora, vendo aquele fenômeno da natureza pela primeira vez. Era tão lindo.

Não resisti e logo estava debaixo da neve, deixando ela cair sobre meu corpo. Lacy tinha razão. Era frio, era gelado, era molhado, mas era lindo. Coloquei a língua para fora e deixei a neve cair sobre ela. Era gelado, era gostoso.

Peguei o celular animada e busquei pelo número de Enzo e depois me lembrei que não estávamos nos falando direito. E ele podia estar dormindo. Mas não me importava eu queria falar com ele.

Enzo atendeu no quinto toque e sua voz saiu baixa, quase num sussurro. Assim como imaginei, ele estava dormindo antes de eu telefonar.

— Alô.

— Desculpa, você estava dormindo?

— Estava, no passado. Não estou mais.— sua voz ainda estava sonolenta - Aconteceu alguma coisa?

— Está nevando. - disse animada.

Enzo soltou uma risada baixa do outro lado da linha.

— Sério?

— Eu nunca vi neve, Enzo. Estou tão feliz! E você foi a primeira pessoa para quem eu quis contar isso.

Por um momento ele não disse nada. Estava começando a achar que fiz mal ligando para ele, quando escutei sua voz de novo:

— A aula já acabou?

Olhei para os alunos espalhados na escada principal.

— Sim.

— Me espera. Estou indo te buscar.

Então ele desligou o telefone. Ele estava vindo me buscar. O que isso queria dizer? Eu não sabia, mas estava contente que ele estava vindo me ver.

Fiquei esperando por Enzo sentada no topo da escada. Todos os alunos e o professor Fernando já tinham ido embora. De repente senti uma bola de neve atingir meu braço. Quando olhei para ver quem tinha feito isso, deparei com Enzo sorrindo.

— Pensei que fosse chegar aqui e você estaria com a língua grudada no gelo.

Meu primeiro pensamento foi de correr até ele e me jogar em seus braços, mas apenas me aproximei civilizadamente.

— Já fiz meu papel de boba mais cedo. Ainda bem que você não estava aqui para ver.

Ele me encarou e já não sorria mais.

— Estamos bem? - perguntei.

— Estamos. - Enzo estendeu a mão - Eu quero te mostrar um lugar.

Não nevava mais quando chegamos no Hyde Park, um parque no centro de Londres. Parecia um jardim botânico, exceto que agora as flores e o jardim estavam cobertos por neve. Enzo disse que estávamos exatamente no Jardins Kensington onde atravessava o Lago Sinuoso. Se não fosse pela neve o lugar lembraria muito o Parque Ibirapuera.

— Eu costumo vir aqui para pensar. - disse Enzo, enquanto caminhávamos de braços dados.

— É muito lindo. - afirmei observando o lugar.

— Eu vim aqui ontem à tarde.

— Sobre isso. O que aconteceu ontem? - perguntei de uma vez, sem mais enrolação.

— A mãe da Claire me ligou. - ele parou de andar e olhou para mim - Ontem ela completaria 27 anos se ainda estivesse aqui.

— Agora entendi.

Eu estava sendo paranoica por nada. Tinha uma razão para tudo aquilo.

— Sabe qual foi a primeira coisa que ela me perguntou?

— Não.

— Perguntou se eu estava bem e eu respondi que sim. Então percebi que, pela primeira vez, não estava mentindo. Acho que me senti mal e por isso evitei você ontem. Não achei certo, pelo menos, não no aniversário dela.

— Eu entendo. - disse com sinceridade. Enzo entrelaçou seus dedos nos meus, e apertou mais a minha mão.

— Me desculpa se eu te magoei. Não foi a minha intensão.

— Ela foi e é uma parte importante da sua vida, Enzo. Eu entendo.

Enzo pois a mão no meu rosto com delicadeza. Quando olhava para aqueles olhos azuis eu me sentia tão feliz. Tão completa. Então não pude mais esperar para beijá-lo. Aquele beijo foi bem quente apesar das nossas bocas estarem geladas com o frio. Foi demorado e envolvente. Nossas línguas se encontraram... Tudo ao redor parou. Pareceu que só existia aquele momento!

Quando nos afastamos, nos olhamos. E por aquele segundo, aquele simples momento eu soube que o amava. Mas tive medo de dizer isso a ele. Como então eu poderia dizer que ele era importante para mim, sem medo de assustá-lo ou de perdê-lo?

Em um momento a gente pára e percebe que a pessoa entra na sua vida e é como se ela estivesse na sua vida desde sempre.

— O que foi? - perguntou Enzo me observando com atenção.

— Enzo, estou seriamente gostando de você, então por favor, não se afaste de mim.

— Não tenho muita certeza de como me sentir quanto a isso. Tudo o que eu sei é que já me machuquei bastante e não quero ser puxado de novo. Eu tenho medo de me jogar sem saber onde vou cair.

Abaixei a cabeça sem perceber, até que ele levantou meu rosto novamente me obrigando a encará-lo.

— Eu também gosto de você. Só preciso entender o que está se passando dentro de mim primeiro.

Se os sentimentos dele eram reais ou não, só Enzo poderia entender. Tudo o que eu tinha que fazer era esperar. Esperar ele não ter mais medo, esperar ele entender as coisas que se passavam no coração dele.

Quando voltamos para a casa, Enzo estacionou o carro no estacionamento do prédio que moramos. Tirou o sinto, e quando estava prestes a abrir a porta e sair, senti a mão dele me impedindo. Olhei estranhando para ele, que me deu um beijo inesperado. 

Não afastei,  permiti. 

─  O que foi isso? perguntei, ainda não sabendo a razão para tal ato. 

Não gostou? ele tirou a mão que estava no meu rosto e apoiou a cabeça no seu banco, sorrindo. 

Gostei eu também não consegui conter o sorriso. Nos encaramos por um tempo. – Está tudo bem? perguntei, percebendo que ele estava pensando em alguma coisa. 

Está sim. Eu só quero ficar com você um pouco. 

Ele se aproximou e me deu outro beijo. Um mais ardente dessa vez. Enzo segurou minha nuca com firmeza e moveu os lábios com certa ansiedade. Não consegui deixar de sentir sensações no meu corpo. Desde que estamos juntos, Enzo não me beijava desse jeito. Na verdade, seus beijos eram sempre calmos e rápidos. Muito rápidos. Quando ele parou, eu recuperei o fôlego, assim que abri os olhos, encontrei os seus me encarando. 

Quer ir para o meu quarto? 

Fiquei nervosa enquanto o elevador subia. Eu sabia o que ele queria. Pelo menos eu achava que sabia. Nico e Lacey não estavam em casa. Nico tinha ido para o Crazy Joker e Lacey estava trabalhando na rádio. Então era só eu e Enzo naquela tarde. Subimos as escadas e paramos em frente ao quarto dele. Agora eu, definitivamente, estava tremendo, e torcendo para que ele não estivesse percebendo. 

Enzo abriu a porta do seu quarto e entramos. Me sentei na cama, enquanto ele tirava o casaco e as luvas. 

Calma, Giselle. 

Estava calor ali dentro. Era normal ele tirar o casado. Aproveitei e tirei o meu. Depois Enzo se sentou ao meu lado, esperei até que ele dissesse alguma coisa, mas ele não disse nada. Não sei por quê, mas comecei a rir, sem graça.

— Por que está rindo?

— Não sei. - confessei. Por alguma razão, eu estava nervosa, por isso estava rindo. Mas a pergunta é, por que eu estava tão nervosa? - Por que me chamou aqui?

— Eu fiquei pensando muito no que conversamos hoje.

— Qual parte?

— A parte que você diz gostar de mim e eu de você. - Enzo me olhava com certo anseio.

— Ah, essa parte. - não consegui dizer mais nada depois disso. Eu estava nervosa por um motivo que agora eu sabia.

— Me peguei pensando e... - ele não terminou.

Ao invés disso, Enzo se aproximou devagar e me beijou. Respondi aos seus beijos sentindo meu coração acelerar no peito. Meu corpo já estava quente, eu não queria afastá-lo. Quando o beijo se tornou mais ardente, Enzo se afastou para arrancar a camiseta do corpo. Eu já o tinha visto sem camisa, mas nenhuma das vezes tinha me arrancado tanto o fôlego só de olhar. Minha respiração já estava alta e esperei ansiosa até ele me beijar de novo. Aquilo era tão bom. O que eu podia fazer? Como isso podia acontecer? Meu corpo estava quente só porque ele estava me beijando.

Enzo me deitou na cama com cuidado, sem desgrudar os lábios dos meus. Uma onda percorreu todo o meu corpo ao sentir a pressão do peso dele. Ele apertou minha cintura com força, enquanto eu traçava uma linha reta por seus braços fortes, sentindo um pouco dos desenhos das tatuagens.

Tentei lutar contra o desejo que começava a tomar conta da minha mente. Meu coração acelerava cada vez mais que daqui a pouco eu não teria mais controle de nada. Meu corpo seria dele. Enzo parou de beijar minha boca, porém moveu o rosto para explorar meu pescoço. A essa altura eu já não conseguia controlar o som que saía da minha boca. Apertei suas costas, quando senti seus lábios no meu pescoço. Eu queria o que ele estava oferecendo, queria muito, mas por algum motivo não achava aquilo certo no momento.

Enzo voltou a tomar minha boca e os últimos pensamentos, de repente, sumiram da minha mente. Eu precisava dele e precisava agora! Tudo o que eu conseguia ouvir era as nossas respirações e aquilo me deixou mais ouriçada. Então senti ele se afastar devagar. Enzo me observou por alguns segundos, com a respiração alta. Passei minha mão por seu rosto. Eu quis perguntar se ele estava bem, mas não encontrei as palavras.

Ele se afastou de vez, sentando-se na cama, de costas para mim.

— Enzo? - chamei uma vez,mas ele não respondeu - Eu fiz alguma coisa errada?

— Não, você não fez nada. Sou eu.

— Como assim? - me aproximei dele, colocando as mãos na suas costas.

— Me desculpa fazer você passar por isso. Eu pensei... - ele não terminou a frase.

— O quê? Seja qual for o motivo, eu vou entender.

Enzo voltou a falar depois de alguns segundos, mas ainda não olhava para mim.

— Já faz um tempo que eu não tenho esse tipo de relação.

— Tudo bem. Eu também. - disse a verdade. Afinal faria quatro meses que eu estava em Londres e, antes de viajar já fazia alguns meses que eu não tinha relação com ninguém.

Eu não fazia ideia de quanto tempo ele estava falando, mas tinha certeza de que não era um ano. Não podia ser. Apesar de tudo, Enzo era homem e não aguentaria tanto tempo sem sexo. Pelo menos eu achava que não.

— Você quer falar sobre isso? - perguntei e enfim ele se virou para me encarar.

— Se lembra quando eu te disse que não gostava de beber porque sempre fazia coisas que me arrependia depois? - assenti e ele continuou.

Enzo abaixou a cabeça com vergonha, ele não conseguia olhar nos meus olhos.

— Depois que Claire morreu eu surtei e comecei a beber feito louco. E em uma dessas vezes... eu dormi com uma garota. Eu nem sei o nome dela, e nem me lembro direito do seu rosto, mas... A questão não essa. A questão é que eu me arrependi muito e depois desse episodio, eu não quis mais beber.

Não consegui responder. Não sabia o que falar para ele. Quer dizer, eu não sabia o que ele queria que eu dissesse. Para mim estava tudo bem. Ele não tinha traído a Claire. Foi um momento de fraqueza, só isso!

— E depois disso eu prometi para mim mesmo uma coisa. - Enzo voltou a me encarar.

— O quê? - perguntei nervosa.

— Prometi que só voltaria a dormir com alguém de novo, se não fosse só por puro prazer.

Senti um aperto no coração. O que isso queria dizer afinal? Que eu só era um puro prazer?

Enzo colocou a mão no meu rosto.

— Não quero que fique chateada. Porque como eu disse, sou eu. Você é uma pessoa maravilhosa, e eu realmente pensei que conseguiria. Talvez seja o momento, eu não sei. Só não senti que era para ser.

Ele me convenceu com suas palavras, mas isso não apagaria a dor da rejeição.

— Eu entendo. - menti.

— Não, não entende. E está tudo bem. Mas estou tentando ser sincero. As vezes eu sinto que você pode ser a pessoa certa, mas eu não tenho certeza. Talvez eu tenha medo ainda.

Dessa vez fui eu que coloquei as mãos no rosto dele. Eu já sabia que os meus sentimentos eram fortes, e tive certeza disso hoje quando conversamos. E de alguma maneira, Enzo disse que gostava de mim, talvez ele só precisasse de tempo para entender as coisas do seu jeito, no seu tempo.

— Eu vou esperar. Não vou a lugar nenhum, por enquanto, mesmo.

Nos abraçamos forte e eu percebi que tinha que fazê-lo enxergar o que eu era. Fazer ele ter certeza de que não se arrependeria se me desse amor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Galeraaaaaaa!!!! Comentem, sério!
Quero saber muito a opiniao de voces depois desse capitulo!!