Intercâmbio escrita por LaisaMiranda


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Eu amei desenvolver esse capítulo... E espero que vocês gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/607514/chapter/15

 

Era 25 de dezembro, Natal. O primeiro Natal em Londres. O primeiro Natal longe da minha família. Isso me deixou um pouco triste, não estar perto dos meus pais, mas eu sabia que passaria por isso quando decidi viajar, então disse para mim mesma que não era permitido chorar. Era Natal, o dia em que celebramos o nascimento de Cristo, era um dia feliz.

Alguns dias atrás ajudei Lacey e Nico a montarem a árvore de Natal, assim, como enfeitar o resto do apartamento. No Brasil compramos pinheiros artificiais, feitos de plásticos e com várias cores diferentes, mas em Londres eles compravam pinheiros de verdade, e eu nunca tinha montado uma árvore de Natal de verdade. Nico foi pessoalmente comprá-la e quando terminamos de colocar os enfeites, como bolas de várias cores, pinhos, neve artificial e luzes coloridas, fiquei fascinada, ela estava maravilhosa.

Naquele dia, enquanto montávamos o pinheiro, Nico explicava de onde vinha a origem da árvore de Natal. Ele contou que alguns pesquisadores e estudiosos das tradições cristãs diziam que a árvore de Natal tinha surgido por volta do ano 1530, na Alemanha, com Martinho Lutero.

— De acordo com a lenda, Lutero caminhava pela floresta e ficou encantado com a visão de um pinheiro coberto de neve e sob o brilho das estrelas no céu - disse Nico, enquanto eu e Lacey nos sentamos no chão para escutar a história. - Quando chegou em casa, tentou reproduzir para seus familiares a linda imagem que havia visto, usando galhos de um pinheiro, algodões, para simbolizar a neve, e algumas velas e outros adereços, imitando as estrelas.

Eu nunca tinha escutado aquela estória, e fiquei maravilhada. Nico continuou:

— O pinheiro simboliza a vida, pois é uma das poucas árvores que sempre se mantêm verde, mesmo durante o inverno, quando a maioria das árvores perdem as folhas.

Enquanto Nico continuava a falar, notei Enzo se aproximando. Ele se sentou no braço do sofá. Tentei não olhar para ele, mas era uma coisa que eu não conseguia controlar. Quando eu percebia, já estava olhando para aquele rosto perfeito. E às vezes ele me olhava de volta.

— O Natal é um momento muito bonito. Simboliza várias coisas, mas o mais importante de todas para mim, é a família. A gente não é nada sem uma família.

Nico olhou para o rosto de Lacey, que estava sorrindo. Seus olhos gritavam amor. Então Nico olhou para mim.

— Eu espero que nós sejamos sua família nesse Natal, Giselle. Eu sei que não é igual. Ninguém pode substituir sua família, mas eu espero que você se sinta amada por todos nós.

Lacey me abraçou e não pude deixar de reparar que Enzo olhava para mim, enquanto sua irmã me esmagava com carinho. Ele se levantou e saiu da sala depois disso.

Eu não tive mais contato com ele depois desse dia. Na véspera, Nico passou quase a tarde todinha conversando com Enzo na sala, enquanto Lacey preparava a Ceia de Natal. Eu não sabia o que eles tinham de tão importante para conversar, que durasse tanto tempo. Minha curiosidade foi tanta que não resisti em peguntar para Lacey se ela sabia de alguma coisa.

— Você sabe como o Nico é - respondeu Lacey. - E nesses dias ele gosta de bater um papo sério, ainda mais se perceber algo estranho acontecendo. Então não haja de forma triste, ou você será a próxima. Às vezes me pergunto, como ele não virou psicólogo, porque olha...

Eu não escutei mais nada do que Lacey falava. Só fiquei imaginando o que será que Nico viu de estranho em Enzo. Será que ele percebeu o que estava acontecendo? Descobriu sobre mim e Enzo? Eu rezei para que não, eu morreria de vergonha.

Acabei vendo o final da conversa. Nico deu um abraço em Enzo, que retribuiu de forma ajuizada. Enzo se levantou e subiu as escadas. Não me viu espiando a conversa e fiquei aliviada por isso. Mas a curiosidade me matava por dentro. O que será que Nico disse para Enzo?

Eu ainda estava aprendendo com os costumes dos ingleses. Algumas coisas eram bem semelhantes com o jeito brasileiro de se comemorar o Natal, mas outras eram bem diferentes.

Como por exemplo; a Ceia. A única diferença era que a família se reúne no almoço no dia do Natal, o que também costumamos fazer, mas na Inglaterra, os familiares não ficam acordados até tarde do dia vinte e quatro e nem devoram a ceia na virada para o dia vinte e cinco, como fazem os brasileiros. A comida era quase a mesma. Percebi isso ao ver o que Lacey havia preparado na véspera, como peru, saladas, arroz festivo e legumes.

Na véspera liguei para a minha mãe e desejei Feliz Natal. Ela chorava tanto no telefone que eu não consegui segurar as minhas lágrimas. Era um choro de saudade, eu nunca tinha ficado tanto tempo fora de casa. Mas depois da ligação fiquei feliz por ter conversado com ela.

Os pais de Lacey e Enzo viriam para a ceia natalina, e eu estava excitada e nervosa, por conhecer eles. Não sabia se gostariam de mim, eu esperava que sim. Quando eles finalmente chegaram, todos já estavam esperando ansiosos na sala de estar. Enzo parecia nervoso, Lacey tinha me contado que fazia tempo que eles não se viam, devia ser por isso.

A primeira pessoa que avistei foi a mãe de Lacey. Ela era baixa, os cabelos eram curtos e brancos. Seu sorriso era enorme, e só por ele percebi como ela podia ser carinhosa. Ela abriu os braços e Lacey a abraçou com força. As duas eram quase do mesmo tamanho.

— Como você está querida? - perguntou a mãe, se afastando para olhar para a filha. - Cadê, me mostre! - disse ela animada, procurando a aliança na mão de Lacey.

It's beautiful, isn't?— contentou-se Lacey.

— Eu não me lembro de você me pedir a mão da minha filha, Sr. Miller! - contestou o pai de Lacey para Nico.

O Senhor usava um terno preto. Aparentava ser um homem muito elegante. Ele era alto, e tinha os cabelos brancos, assim como os da mãe. Seus olhos eram azuis fortes. Ao olhar para ele, vi a imagem de Enzo quando estivesse mais velho.

Nico deu um abraço formal no sogro.

— Me desculpe por isso Max - respondeu Nico rindo e se afastando. - Mas achei que não fosse necessário. Achei que já tivesse sua permissão.

Max riu e depois olhou para o filho mais novo. Seu sorriso desapareceu do rosto.

— Não vai dar um abraço no seu pai, filho? - perguntou ele de um jeito seco.

Pelo visto não era só a boa aparência que Enzo puxara do pai. Enzo se arrastou e deu um abraço desengonçado em Max.

— Está tudo bem? - perguntou Max. - Você nem telefona mais.

— Está sim. Só estou trabalhando muito - respondeu Enzo e depois foi abraçar a mãe. Lacey trocou de lugar com ele e deu um abraço em Max.

A mãe de Enzo o abraçou e depois passou a mão por sua bochecha de forma carinhosa. Em seu olhar eu vi preocupação.

— Você está comendo direito? - perguntou ela, preocupada.

Enzo se afastou com vergonha.

— Mãe, estou bem. Menos.

Ela sorriu, achando aquilo engraçado.

— Ele não muda, não é? - indagou Max, depois de abraçar Lacey. - Se ele estiver passando dos limites pode mandá-lo de volta para a casa.

Enzo ficou bravo. Percebi que Max fazia aquilo de propósito para incomodar o filho.

— E essa quem é? - perguntou a mãe, de repente, olhando para mim. Na hora me bateu uma timidez e me encolhi com vergonha. Lacey veio ao meu encontro.

— Esta é Giselle. Ela está morando aqui. Está fazendo um intercâmbio.

— Intercâmbio? - perguntou Max interessado, se aproximando de mim. Ele estendeu a mão para que eu apertasse. - De onde você é?

— Brasil.

— Brasil? - a mãe de Lacey quase gritou. - Eu acho tão bonito esse pais. As pessoas são bem animadas.

Então ela se aproximou e me deu um abraço, que eu não esperava.

— Eu sou Helena. É um prazer conhecer você querida.

— Digo o mesmo - sorri contente.

— Então, o que foi que você preparou para nós, filha. Estou faminta - disse Helena. - A viagem de Manchester para cá foi cansativa.

Ajudei Lacey e Helena a terminarem a mesa e logo estávamos todos comendo na mesa da sala. Enzo não abria a boca, só quando seus pais perguntavam alguma coisa. Nico não parava de falar, como de costume. Ele filosofava, contava sobre o ataque que sofreu há alguns meses atrás e entre outras coisas.

— Então filho - perguntou Max para Enzo. - O que anda fazendo?

— Nada demais - respondeu ele, sem emoção. - Trabalhando, como já disse.

— Trabalhando - Max repetiu a palavra como se fosse um insulto. - Não sei para quê eu paguei a sua faculdade se agora você trabalha... de quê mesmo?

Enzo não respondeu e não parecia querer fazer isso.

— Ele é bartender - Nico respondeu. - E é um dos melhores que já vi.

— Fico feliz por você ter ajudado meu filho com isso, Nico - replicou imediatamente Max. - Mas Enzo se formou. E devia estar trabalhando comigo, ao invés de passar as noite num bar. Com todo o respeito, é claro. Eu sei que você tem seus negócios, mas não é esse o futuro que eu imagino para o meu filho.

Enzo estava cada vez mais nervoso.

— Está namorando? - da forma como Max perguntou, senti que aquilo era mais uma sentença do que uma simples curiosidade.

Enzo parou de comer e respirou fundo. Pelo o que dava para notar o clima entre os dois não estava nada bom.

— Não pai. Não estou - respondeu Enzo, encarando o pai com desgosto.

— E por que não? Você precisa aprender a....

— Querido! - interrompeu Helena rapidamente. Senti que Enzo fosse levantar da mesa a qualquer momento. - Por favor, isso não tem importância agora - ela então olhou para mim. - E você Giselle?

— Eu? - indaguei nervosa.

— Já conheceu alguém? - perguntou Helena sorrindo. Percebi que ela queria tirar as atenções do filho dela, mas mal sabia que estava fazendo o contrário disso.

Eu ri nervosa. Não era boa em mentir, mas tentaria.

— Estou focada nos estudos no momento - respondi timidamente.

— Uma garota bonita como você - começou Max me observando. - Tenho certeza que não faltaram pretendentes. Afinal os ingleses adoram um estrangeiro.

Sorri forçado e voltei a comer o peru, que estava delicioso por sinal. Lacey realmente nunca errava. A pressão de ar ali na mesa parecia ter subido. Ninguém disse mais nada, estava aquele silêncio estranho, onde ninguém sabe o que dizer.

— Acho que a melhor mensagem de Natal é aquela que sai em silêncio de nossos corações - filosofou Nico, depois de uns instantes. - E aquece com ternura os corações daqueles que nos acompanham em nossa caminhada pela vida.

Comemos uma sobremesa típica de ceia de Natal. Se chamava Christmas pudding. Era uma delicia, nunca tinha provado nada igual. Sua cor era escura, poderia ser facilmente confundida com um pedaço de bolo de chocolate. Era cremoso e doce, muito doce. Depois disso, Lacey sugeriu que abríssemos os presentes.

Nos reunimos perto da árvore de Natal e pegamos os presentes com os nossos nomes escritos. Cada um vinha com o nome da pessoa que comprou o presente. Como era organizada, Lacey havia separado tudo por nomes. Reparei que no meu haviam três. Fiquei surpresa, pois não imaginei que Enzo fosse comprar nada para mim.

Abri o presente de Lacey primeiro. Fiquei com medo de parecer desesperada demais ao abrir o de Enzo e ele perceber. Eu já sabia o que Lacey tinha me dado. Era um vestido azul que batia à cima do joelho. Tínhamos visto esse vestido numa loja no shopping, e como tínhamos achado perfeito decidimos nos dar de presente no Natal. Eu nunca tinha compartilhado do mesmo modelo de vestido com ninguém. E Lacey disse que era uma linda maneira de lembrarmos uma da outra quando eu voltasse para o meu país.

Desembrulhei o presente de Nico com curiosidade. Era uma caixa e grande. Quando tirei o papel já percebi que era algum calçado, então quando finalmente abri a caixa vi uma sandália preta, com pedras na parte de cima, era linda. Lacey com certeza o ajudou a escolher. De repente me senti sem graça, pois não sabia o que comprar para ele e acabei lhe dando uma camiseta comum.

Escolher um presente para o Enzo foi o pior de todos. Eu tinha pensado e pensado e não conseguia chegar a nenhuma conclusão. Eu não o conhecia direito para saber o que dar de presente para ele. Foi então que me lembrei do dia em que entrei em seu quarto. Tentei me lembrar dos objetos que ele tinha, qualquer coisa que me desse alguma ideia de presente ideal. Enquanto eu caminhava pelo shopping tentando encontrar o presente, deparei com uma loja de relógios e eu soube na hora o que dar de Natal para Enzo. Eu não o tinha visto com nenhum relógio desde o assalto, então achei que ele fosse gostar.

E ele tinha comprado algo para mim, eu mal podia acreditar.

Abri com cuidado a caixinha. Era pequena, bem menor do que as outras, fiquei me perguntando o que será que era, e fiquei surpresa quando vi a pulseira dourada delicada. Era perfeita. Tirei ela da caixinha e ao fazer isso notei um pingente com a bandeira de Londres. Sorri e percebi que ele estava me observando, vendo como eu estava encantada com o seu presente. Enzo abaixou a cabeça e pegou o relógio na mão, o levantando para mostrar que já tinha visto o meu presente. Ele não sorria para mim, mas mesmo assim não deixei de me sentir contente. Era o primeiro contato que estávamos tendo depois daquela nossa conversa.

Quando eu ia guardar de volta a pulseira na caixinha, percebi um minúsculo papel enrolado no canto. Me encolhi para que ninguém percebesse e desdobrei o papel. Estava escrito algo.

"Me encontra no meu quarto depois das 4hrs.

Eu preciso falar com você."

Meu coração batia tanto que fiquei com medo de que alguém pudesse ouvir. O que era aquilo? Ele estava me chamando para o quarto dele. Mas para quê? Fiquei com vergonha de olhar para o rosto de Enzo, pois não sabia a cara que eu devia estar fazendo.

Quatro horas. Seria depois da saudação Natalina na televisão. Nico tinha me avisado sobre isso. Disse que às três horas todos ligavam a televisão para assistirem o tradicional discurso (gravado) de natal da Rainha Elizabeth à nação.

Eu nem consegui prestar a atenção no que a Rainha falava. Tudo o que eu conseguia pensar era em Enzo e no bilhete. O que ele queria comigo? Eu precisava saber!

Depois que a transmissão acabou Enzo subiu as escadas, sem nem ao menos dar tchau para os seus pais. Eu não me atrevia a sair da sala sem falar com eles.

Então uma hora se passou e depois duas. Eles não iam embora nunca. Max já estava chateado por Enzo estar trancado no quarto de vez estar com a família no andar de baixo. Lacey conversava sobre os preparativos do casamento, que por incrível que pareça, seria numa data bem próxima. E eu fingia escutar o que elas diziam nos mínimos detalhes, enquanto pensava em Enzo me esperando no quarto dele.

Finalmente Max e Helena se despediram. Enzo desceu para dar tchau, pois Nico subiu para chamá-lo.

— A gente nunca se vê, e quando vê você não fica conosco - escutei Max dizendo para Enzo, então Max deu um longo suspiro e apertou o ombro do filho. - Você está bem mesmo?

— Estou. Fica tranquilo - respondeu Enzo e os dois deram um abraço.

Depois de muito abraços entre os familiares, eles foram embora. Enzo passou por mim, mas não olhou para mim. O que isso queria dizer? Que ele não queria mais falar comigo? Estava bravo por ter deixado ele esperando esse tempo todo?

Ele subiu de novo e eu tentei arranjar uma desculpa para ir para o meu quarto, sem que Nico e Lacey desconfiassem de nada.

— Acho que vou ligar para os meus pais de novo - menti, mas Lacey e Nico não pareceram perceber, eles ainda estavam discutindo sobre o que tinha acontecido no almoço.

Cheguei em frente a porta do quarto de Enzo e simplesmente fiquei parada, com a respiração oscilante. Eu estava morrendo de medo, mas precisava bater naquela porta. Respirei fundo duas vezes e bati. Enzo apareceu e me fitou sério. Não consegui ler sua expressão. Então ele só deu um passo para trás e abriu mais a porta para que eu entrasse em seu quarto.

Por que eu não conseguia fazer meu coração parar de bater tão forte? Estava com medo de ele perceber o quanto eu estava nervosa e por esse motivo tentei não encará-lo.

— Eu pensei que você não tivesse visto o bilhete - disse ele por fim, acabando com o silêncio, depois de fechar a porta do quarto.

Então ele achava que eu não tivesse visto o recado. Porque a opção de não querer ir era bem menos possível. Isso me deixou mais nervosa. Ele saber o quanto eu queria estar ali.

— Seus pais ainda estavam aqui, eu não quis ser mal educada - respondi, sentindo minhas mãos tremerem. Escondi elas na minhas costas para que Enzo não percebesse.

Ficamos parados em pé por alguns segundos, sem dizer mais nada.

— Quer sentar? - perguntou ele, gentilmente.

— Não eu... - disse, mas acabei me sentando mesmo assim. Era melhor eu ficar sentada. Enzo se aproximou e se sentou do meu lado. Por alguma razão eu não conseguia olhar para o rosto dele.

— Você está nervosa? - observou num tom de brincadeira.

— O que você quer? - perguntei, olhando para os meus joelhos e apertando as mãos com força na minhas pernas.

— Eu quero falar com você. Acho que deixei isso bem claro no bilhete.

Me levantei nervosa. Eu não conseguia ficar tão perto dele assim.

— Sobre o que? - perguntei, já encarando ele do outro lado. De longe eu conseguia.

— O Nico conversou comigo ontem. Eu acho que você viu, não é? - começou Enzo, sem rodeios. - Você quer saber o que conversamos?

— Quero - disse um pouco rápido demais. Enzo abriu um leve sorriso que se fechou de imediato.

— Foi sobre você.

O quê? Como assim sobre mim? Eu não consegui entender.

— Na verdade, foi sobre mim, mas sobre você também - corrigiu-se Enzo, eu estava ficando cada vez mais confusa. - Nico descobriu sobre... Você sabe.

Enzo abaixou a cabeça envergonhado e eu soube exatamente o que ele quis dizer. Meu Deus, O Nico sabe. Mas como?

— Como? Eu não...

— Eu sei. Foi o Clayton que abriu a boca.

Enzo se levantou. Ele parecia agitado também. Não queria ficar sentado.

— O Clayton? - perguntei, mas é claro que tinha sido ele. Porém nenhum de nós tinha exigido segredo sobre o que ele viu.

— O caso é que... - continuou Enzo. - Faz três meses que você mora aqui. Você sabe como o Nico é. Ele não cansa de se intrometer onde não deve. Ele é um tremendo chato, para se falar a verdade, mas, tudo o que ele diz faz um pouco de sentido.

Enzo estava enrolando para dizer o mais importante. O que raios Nico tinha dito para ele!

— O que ele disse? - perguntei curiosa, mas cautelosa. Minha respiração ainda estava forte.

Enzo respirou fundo e olhou para mim.

— Você gostou do presente? - perguntou.

Por que ele estava mudando de assunto? Será que tinha se arrependido por querer me contar? Ou estava querendo fazer suspense?

Assenti para a pergunta dele. Era só o que eu pude fazer.

— Foi só uma lembrancinha. Eu não sabia o que dar para você. Fico feliz que tenha gostado.

Fiquei olhando para aquele rosto perfeito, esperando ele começar falar o que eu queria ouvir. Ao ver a minha expressão ele soube de imediato o que eu estava realmente esperando.

— Para contar tudo o que o Nico me disse... - começou Enzo de novo. – Eu vou ter que te contar sobre mim.

Contar sobre ele. Isso queria dizer contar sobre Claire. Por mais que eu quisesse saber sobre ela, eu não achava que aquilo fosse uma boa ideia. Enzo não parecia querer contar, era como se Nico tivesse o obrigado. E eu não queria que ele me contasse nada se não quisesse de verdade.

— Enzo, você não precisa...

— Eu quero - disse ele me fitando sério. - Foi uma das coisas que Nico me disse, e que eu estou tentando fazer - ele se aproximou um pouco de onde eu estava. - Eu nunca contei sobre ela para ninguém. E acho que eu preciso.

— E por que você me escolheu? - perguntei, sem conseguir me conter.

— Porque foi uma das coisas que Nico sugeriu também - ele me observou com seriedade. - Contei para ele sobre a atração que sinto por você e ele me disse que isso pode significar algo.

Droga, coração! Para de acelerar! Tentei dizer qualquer coisa, mas as palavras simplesmente não saíam. Eu estava gostando de Enzo, e isso queria dizer que eu queria saber mais sobre ele, mesmo se fosse só um pouco. Enzo percebeu que eu não ia dizer nada e continuou. Ele me contou toda a história.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então?? Gostaram?? Deixem os comentários...
Prometo que não vou demorar para postar.