Intercâmbio escrita por LaisaMiranda


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Quero começar agradecendo a todos que estão comentando, me deixa realmente feliz saber que vocês estão curtindo a história. Quero aproveitar e agradecer mais uma vez a "Lady Darkness", pelo seu texto, ele me tocou, de verdade.

Gostei muito de desenvolver esse capítulo, espero que vocês gostem...



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Eu não conseguia arrancar aquela sensação ruim do meu corpo, da minha cabeça. Estava completamente errada sobre pensar que poderia dormir bem a noite depois que descobrisse o segredo de Enzo, pois agora mesmo que eu não conseguiria dormir, não com minha consciência pesando dessa maneira.

A verdade era que eu estava errada sobre tudo. Sobre o segredo, sobre Enzo, sobre a vida dele toda. Deve ser horrível perder alguém assim, tão importante. E ainda passar pelo o que ele tinha passado, e aprender a viver com a dor pelo resto da vida.

Agora eu conseguia compreender quando ele dizia que estava confuso quanto a mim. Enzo queria preservar a memória da ex-namorada, que nem o nome eu sabia, mas que importância tinha isso agora?

Tudo o que eu queria era conversar com ele, mas também não saberia o que dizer, a não ser pedir desculpas e mais desculpas, pelo o que eu tinha feito.

— Que carinha é essa? - perguntou Lacey, quando me viu sentada comendo (ou melhor, tentando comer) meu café da manhã.

Eu estava tão mal que nem conseguia disfarçar minha tristeza.

— Sabe quando você se arrepende de uma coisa e faria de tudo para voltar atrás, mas sabe que não pode? - perguntei, mas para mim mesma do que para Lacey.

— O que aconteceu? - perguntou ela, se sentando no banco na frente do meu.

Contei para Lacey que já sabia do segredo do irmão dela, mas sem mencionar a parte em que eu e Enzo tínhamos estado "juntos" de uma certa maneira.

— Uau. Fiquei surpresa de ele ter te contado - confessou ela.

— Mas ele não contou porque quis. Eu meio que forcei ele a falar - disse triste.

It's okay! Se tem uma coisa que eu aprendi com o Enzo, é que temos que dar um tempo para ele.

— Não. Seu irmão me odeia - eu disse já conformada. - E agora ele tem um motivo para isso.

***

Tentei conversar com Enzo naquele dia, mas ele não me deu ouvidos. Não insisti, fiz o que Lacey pediu. Ele precisava de tempo, então eu daria isso a ele, só não sei quanto tempo eu era capaz de esperar.

O tempo começou a passar muito mais rápido do que antes. O natal estava próximo e as coisas entre mim e Enzo não tinham melhorado. Ele já não me evitava por completo, mas também não conversávamos mais. Não que eu não tentasse, várias vezes pedi por uma única palavra, mas ele dizia que se fosse sobre aquele assunto não falaria comigo. Eu dei o tempo, mas o tempo estava demorando demais.

A cada dia eu gostava mais dele. Se antes eu me apaixonei por aquele cara rude, agora, sabendo da sua história, o sentimento crescia com força dentro de mim. Eu não queria aquele sentimento, eu não podia amá-lo, pois eu não o teria por inteiro, já que sabia que Enzo nunca esqueceria a outra. E só de pensar numa coisa dessas, eu me sentia egoísta.

Numa manhã de domingo pedi o notebook de Lacey emprestado. Eu precisava falar com Vanessa, mas não queria digitar, além do que, eu precisava vê-la. Liguei a Web Cam, do meu quarto mesmo. Vanessa já sabia sobre tudo o que estava acontecendo. Ela me alertou para esquecer Enzo, mas nós duas sabíamos que não era tão fácil assim.

— Ele não sai da minha cabeça, Vanessa - confessei. - Eu não sei mais o que fazer.

— Ai, amiga. Você sabe que eu sou diferente nessa coisa de amor. Nunca gostei tanto de um cara assim. Do tipo que você sacrifica tudo pela outra pessoa.

Enquanto ela falava eu pensava se já tinha chegado a esse ponto. Será que a paixão que eu estava sentindo era tão forte assim? Eu não tinha certeza, e como poderia, se Enzo não me dava nenhuma chance para falar sobre isso com ele?

— Planeta terra chamando! Planeta terra chamando! Está me ouvindo Giselle?

— Estou - respondi, prestando atenção no que ela falava.

— Que saco isso. Eu não queria estar no seu lugar - disse ela sinceramente.

Mesmo que aquilo não fosse nada legal de se dizer no momento, eu não fiquei chateada com Vanessa, pois nossa amizade era baseada na confiança e na sinceridade, sempre éramos honestas sobre tudo. Por isso éramos amigas há tanto tempo.

— Eu não queria estar no meu lugar - observei com tristeza.

— É como dizem: Às vezes o homem prefere o sofrimento à paixão - disse ela, imitando um poeta falando. - Eu acho que você devia falar com ele - sugeriu Vanessa.

— Como se eu já não tivesse tentado.

— Não, eu quero dizer, falar mesmo. Contar o que você está sentindo, mesmo que ele não queira ouvir.

Eu entendia o que Vanessa queria dizer. Mas ela não conhecia o Enzo. Ele nunca me daria chance para falar nada.

— Com ele não é tão fácil assim, Vanessa. Eu já tentei...

— Então tenta de novo! E de novo! - exclamou ela, me interrompendo. - Não desiste amiga. Ou você vai se arrepender pelo resto da vida.

Como se eu não soubesse disso. Por mais que eu quisesse fazer tudo isso, pensava em outra coisa também. O quanto egoísta eu estava sendo. Não por querer Enzo, mas por querer ele e saber que em alguns meses voltaria para o Brasil, deixando ele como sua ex fez. É claro que não dava nem para comparar uma coisa com a outra, mas mesmo assim, não deixava de ser uma separação.

Podia eu, correr atrás dessa paixão para depois fazê-lo sofrer de novo?

***

— Giselle? - chamou Lacey, enquanto estávamos na cozinha. Ela preparava o almoço e eu ajudava a lavar a louça. - Pega para mim um jarro no primeiro armário. Aí em cima.

Fiz o que Lacey pediu, mas não imaginei que ao abrir a porta ela quase cairia em cima da minha cabeça.

Oh my God! Você está bem? - perguntou Lacey, vindo me ajudar.

Por sorte não me machuquei, mas tinha acabado de quebrar a porta do armário de cozinha. Lacey estava preocupada agora, mas depois que visse que eu estava bem, ia querer me matar por destruir uma parte da cozinha dela.

— Estou - respondi, já olhando para ela. - Desculpa Lacey. Eu não tive a intenção...

Ela começou a rir e eu fiquei com cara de tacho, sem entender nada.

— Está tudo bem, essa porta vive caindo. Faz um favor para mim? Chama o Enzo, ele sabe arrumar.

Não achei aquilo bom.

— O Nico não sabe mexer nisso? - perguntei, rezando para que ela dissesse que sim.

— Sabe, mas ele foi ao mercado. Chama o Enzo, ele deve estar no quarto dele.

Fiquei parada, Lacey olhou para a minha cara.

— O que foi Giselle?

— Não tem como você ir chamar ele, e eu ficar de olho... Na cozinha? - eu nem sabia mais o que estava falando, só não queria ir lá falar com ele. Enzo devia estar dormindo uma hora dessas.

Ela sorriu, entendendo que eu não queria ir.

— Não seja boba. Achei que você quisesse falar com ele.

— E eu quero, mas não agora!

Lacey riu. E começou a me empurrar porta a fora.

— Anda Giselle. Eu não posso sair da cozinha agora! Preciso terminar de preparar a comida.

Subi as escadas mais devagar do que uma tartaruga. Eu mal tinha chegado na frente do quarto de Enzo, e meu coração já estava acelerado e as pernas, começando a tremer.

Bati uma vez, tão baixo, que eu quase não escutei. Então bati outra vez, mais alto. Nada. Ele estava dormindo. Eu não iria incomodá-lo mais.

Virei-me para ir embora, e me lembrei de que Lacey ficaria zangada se eu descesse sem o Enzo. Bati mais uma vez na porta. Se ele não atendesse eu desceria e diria que tinha tentado, mas que ele não me ouviu.

E não tinha escutado mesmo. Já estava agradecendo a Deus, quando escutei a porta se abrir.

Quando voltei a olhar, vi Enzo de pé. Ele só vestia uma calça moletom. Seu peito e abdômen estavam totalmente expostos. Não pude deixar de encará-los com certo prazer. Por sorte, Enzo não me viu visualizando seu material, já que estava coçando os olhos, pois havia acabado de acordar. Ele me olhou confuso.

— Desculpa, eu não - comecei, me atrapalhando toda. - Você estava dormindo...

— O que você quer? - perguntou ele, impaciente.

— Sua irmã, precisa de ajuda na cozinha - disse, olhando para ele. Já tinha me esquecido de como era essa sensação. Ele era tão lindo. - A porta do armário caiu.

— Diz que eu já estou descendo - disse ele, ainda sonolento e entrou no quarto, fechando a porta na minha cara.

Avisei para Lacey que ele desceria e depois subi correndo para o meu quarto. De repente tinha surgido uma ideia. Talvez eu não tivesse outra chance como essa de conversar com Enzo direito. Eu precisava dizer para ele como estava me sentindo culpada e queria que ele tivesse confiança em mim, para me contar o que tinha acontecido com sua ex-namorada. Querendo ou não eu precisava saber da história toda.

Entrei no meu quarto e peguei o desenho que fiz há algumas semanas. Eu ainda não sabia o que dizer, mas com certeza saberia na hora em que estivesse frente a frente com ele.

Quando voltei para o corredor ele já tinha descido, descobri isso porque Enzo deixou a porta meio aberta e vi que ele não estava no quarto.

Esperei por ele por ali mesmo, mas Enzo demorou para voltar. Devia estar arrumando o armário, não deve ser uma coisa rápida de se fazer. E também tinha acabado de acordar, é certo que ele estava comendo alguma coisa.

Cansei de esperar em pé, então me sentei na escada. Já estava me achando uma idiota por ficar plantada esperando, se nem ao menos saber se ele me atenderia. Depois de alguns minutos ouvi passos subindo as escadas e esperei ansiosa. Levantei-me quando vi que era ele.

Enzo me olhou, mas não disse nada.

— Posso falar com você? - perguntei, tremendo.

— Sobre? - ele passou por mim, indo até seu quarto. Eu o segui depressa.

— Eu queria te entregar uma coisa - disse, esticando o desenho para ele. De tanto esperar, eu tinha enrolado a folha sulfite nas mãos.

Enzo se virou e encarou o papel na minha mão.

— O que é isso? - indagou, com certo interesse.

— Veja você mesmo.

Ele pegou o papel, virou e reconheceu o desenho. Enzo olhou para mim confuso.

— Um dia você me perguntou por que eu tinha um desenho seu - comecei, e fiquei surpresa que ele olhava para mim, sem desviar os olhos. - Fui eu que fiz.

— Eu sei que foi você - ele olhou para o desenho. - Mas por que está me dando isso?

Abaixei a cabeça e só disse o que veio da minha cabeça e do meu coração.

— Na época eu não sabia por que eu tinha te desenhado, mas agora, pensando em tudo o que aconteceu, eu acho que sei a resposta - voltei a olhar para ele, mas Enzo não me encarava. Ele parecia querer olhar para qualquer coisa, menos para a minha cara.

— Você não desiste? - perguntou Enzo, ainda encarando o nada. - Por que está insistindo numa coisa que não vai acontecer? - ele finalmente olhou para mim.

— Eu não sei. É mais forte que eu - dei um passo para frente. - Enzo eu... Eu gosto de você.

Esperei que ele dissesse alguma coisa. Qualquer coisa. Que me xingasse, que dissesse que me odiava. Qualquer coisa era melhor que nada, melhor do que uma porta batida na minha cara.

— Por quê? - ele perguntou, e eu realmente senti que ele não entendia. - Depois de tudo o que eu fiz, depois da maneira como te tratei. Por que você ainda está aqui me dizendo isso?

Eu não sabia o que responder. Apenas estava ali e pronto. A gente não manda no coração. É simples assim.

Dessa vez fui eu quem não conseguiu encará-lo.

— Eu entendo que pessoas às vezes sentem atração pela carne, pela pele, mas eu te tratei mal. Eu te odiei - ele quase riu. - E mesmo assim você está aqui. Na minha frente. Dizendo... - ele não terminou.

Eu respirava forte, estava muito nervosa para que qualquer palavra pudesse sair da minha boca.

— Eu queria mesmo entender. Mas parece que nem você sabe, não é? - indagou Enzo, suave. Eu olhei para ele, seu olhar era calmo, mas não compassivo. - Me desculpa por ter te beijado, eu que comecei isso. Eu não devia. Eu fui fraco. Deixei me envolver pelo momento e agora deu nisso.

— Então é isso? - perguntei enfim, sem alterar minha voz. - Você vai passar sua vida sem conhecer mais ninguém, sem se envolver com outra pessoa?

— O que faço, ou o que eu deixo de fazer, é problema meu - disse, num tom de voz nitidamente agressivo. - Se eu escolhi viver assim, você não tem o direito de opinar em nada.

— Eu sei disso. Não precisa falar comigo assim - disse com a voz tremula, a única coisa que eu não queria era chorar na frente dele.

— Você me deixa nervoso - disse Enzo, mais calmo, puxando o cabelo para trás. - Não sei por quê.

— É eu notei - tomei coragem e continuei: - E por alguma razão eu desperto outro sentimento também, você não pode negar.

— E não estou negando - ele me fitava sério. - Mas o que eu não posso é deixar essa atração virar outra coisa.

— Ninguém deve se culpar pelo que sente, Enzo. Não somos responsáveis pelo que nosso corpo deseja.

— Mas somos pelo que fazemos com ele.

Eu juro que estava tentando, mas com ele era assim. Enzo sempre tinha uma resposta para me dar.

— Eu olho para você e tento te entender, mas não consigo - disse devagar.

— Então não tente mais. Deixe as coisas do jeito que estavam. É só o que eu estou lhe pedindo.

Por que com ele as coisas eram tão difíceis? Quanto mais eu tentava conversar, fazer ele se abrir, mais Enzo se mostrava fechado.

— Enzo, eu entendo que você não quer substituir ela. Não é isso o que eu quero. Eu sei que ninguém pode...

— Não tem nada a ver com isso! – interrompeu-me ele, controlando a voz que queria sair num ruído forte. - Você não entende. Ninguém nunca entendeu, nem a Lacey, nem o Nico. O que eu sinto pela Claire vai muito além disso.

Claire. Então esse era o nome dela. Me senti tão egoísta por um momento. Claire foi uma parte importante na vida dele, mas eu não queria apagá-la da memória de Enzo, eu só queria que ele me desse uma chance.

— Por que você não me conta o que aconteceu com ela? - pedi, depois de alguns segundos.

— Você é a última pessoa com quem eu conversaria sobre isso, no momento - disse ele, esticando o braço com o desenho na mão. - Toma. Guarda para você se quiser, eu acho que não preciso disso.

Peguei o desenho das mãos dele com um nó na garganta. Enzo entrou no quarto e fechou a porta. Minha vontade era de chorar, mas tentei me controlar.

Era isso. Eu não tinha chances, ele deixou bem claro. Enzo devia ter amado muito essa Claire, para não querer se envolver com mais nenhuma mulher. E talvez eu devesse respeitar isso, afinal eu não podia competir com uma pessoa que vai viver para sempre no coração dele.


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Notas finais do capítulo

Comentem, quero saber o que estão achando.



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