Intercâmbio escrita por LaisaMiranda


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo novinho em folha. Espero que leiam até o final, não vão se arrepender...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/607514/chapter/13

 

Um segredo. Era isso o que me afastava de Enzo. E eu precisava saber qual era esse segredo.

No começo era só uma curiosidade que me fez ter aquele sonho, e a partir dali eu fiquei com medo de que aquilo fosse me fazer gostar de Enzo, então parei de correr atrás. Só que agora as coisas eram diferentes. Não importava mais, eu estava me apaixonando por aquele rapaz rude que tratava todo mundo de modo áspero e agressivo, mas que por alguma razão estava se sentindo atraído por mim.

E eu podia usar isso contra ele. Seu desejo contra si mesmo. Eu já tinha tentado de tudo. Com Clayton, que se mostrou um bom amigo e não contou nada. Com Lacey, que não quis se meter, e até com Nico, com que não consegui decifrar uma palavra sequer. Então quem mais podia ser, se não a pessoa com quem aconteceu o tal ocorrido?

Enzo era a única pessoa que podia me dizer o que é que tinha acontecido com ele.

A única pista que eu tinha, era que o grande segredo se tratava de alguma mulher. Antes eu tinha pensado que podia se tratar da mãe de Enzo, mas depois, depois da nossa conversa no London Eye eu imaginei que fosse outra coisa. Ele me disse que não queria reviver uma relação de novo. Pelo menos foi o que eu entendi, o que queria dizer que a mulher por quem ele chamou aquele dia em que estava bêbado, era um ex-namorada. Agora o que ela tinha feito de tão grave para transformá-lo na pessoa que ele é hoje?

Era o que eu descobriria de uma vez por todas.

Eu não sabia como colocaria meu plano em ação, mas quando chegasse a hora certa, saberia o que fazer.

Era uma sexta-feira quando Nico se aproximou de mim, Clayton e Enzo no bar. Ele estava eufórico e trazia consigo uma garrafa. Eu não entendia muito de bebidas, mas sabia que para fazê-las eram necessários ingredientes importantes. E depois que ele falou sobre aquela garrafa de um jeito tão emotivo, soube que aquele líquido era algo de tremenda importância para ele.

— Vocês fazem ideia de como foi difícil conseguir isso? - disse ele, alegre, como se tivesse acabado de segurar o filho recém-chegado nos braços. - Por favor Enzo, guarde com cuidado no estoque. Pois só vamos usá-la numa tremenda necessidade. Ou seja, quando alguém importante vier ao bar.

— Não posso agora, Nico - respondeu Enzo ocupado. Ele não parava de servir a multidão que esperava sua vez pela bebida. O Crazy Joker estava movimentado aquela noite.

— Tudo bem. Então tome aqui Giselle. Leve você. Guarde com cuidado, por favor.

Não gostei de ser responsável por aquela garrafa, mas mesmo assim levei direto para o estoque. Entrei e não sabia onde enfiar aquela bendita garrafa. O estoque estava cheia delas. Algumas empilhadas deitadas, outras em pé. Deixei a garrafa num canto onde tinha espaço. Depois falaria com Enzo para ele dar uma olhada e enfiar esse troço em outro lugar.

Quando estava prestes a sair do estoque, alguém abriu a porta com tudo, quase me fazendo cair. Era Clayton.

— Ei, Giselle - disse ele sorrindo. - Um tal de Adam está chamando por você.

— Quê? - disse surpresa. - Fala que eu não vim hoje. Não! Melhor, fala que eu não trabalho mais aqui.

Mas essa agora! Eu não precisa desse cara chato pegando no meu pé.

— Então... - disse Clayton, quase rindo. - Eu meio que já falei que você estava aqui.

— Droga! - exclamei, chateada. - E agora? Eu não quero falar com ele. Que cara insistente também, viu!

Extravasei minha raiva com o corpo e o pior aconteceu. Ao levantar os braços, derrubei duas garrafas que se partiram no chão e derramaram seus líquidos. E uma delas era a garrafa preciosa de Nico.

— Não! Não! Não! Não! - gritei. - Isso não está acontecendo! - disse, apavorada.

— O que foi? - perguntou Clayton. - É só duas garrafas. Enzo nem vai perceber. Eu vou buscar um pano...

— Não! Clayton - gritei, o puxando para dentro do estoque. - Era a garrafa do Nico - levei as mãos a boca.

— Merda! - gritou ele, em resposta. - Porra, Giselle! Agora fodeu.

— E você acha que eu não sei? - disse, quase chorando. - E agora, o que eu vou fazer? O Nico vai me matar.

Nesse momento Enzo apareceu. Ele abriu a porta, já entrando. Rapidamente coloquei meu corpo na frente, escondendo a bebida no chão.

— Clayton, o que você está fazendo aqui? - perguntou ele desconfiado.

— Nada - respondeu Clayton, com cara de espanto. Ele era tão péssimo quanto eu em mentir. - O que você está fazendo aqui? - fez a pergunta para Enzo.

— Eu vim pegar um garrafa de Vodca, acabou o que tinha no balcão - disse Enzo, e depois olhou para mim com ar desconfiado. - O que você está escondendo aí?

Enzo veio até mim. Tentei dizer que não era nada, mas ele viu o resto da garrafa no chão. E soube na hora de que garrafa se tratava.

— Eu não acredito! - foi só o que ele disse.

— Foi um acidente - disse baixo, quase choramingando.

— Clayton, vá lá na frente e leva isso com você - Enzo pegou uma garrafa de Vodca e entregou ao Clayton. - Fica no meu lugar enquanto eu dou um jeito nisso. E você - ele olhou para mim. - Também, sai daqui. O Paul não vai dar conta de atender todo mundo sozinho.

— Eu não posso - disse aflita.

— E por que não? - perguntou Enzo impaciente.

— O Adam está lá fora.

Ele me olhou de um jeito, como se estivesse me dizendo que importância tinha aquilo, mas então deixou que eu permanecesse ali.

— Só digo uma coisa - ele olhou para mim, depois que Clayton já não estava mais no estoque. - Você está muito ferrada.

— Eu sei - lamentei. - Onde o Nico está?

— A sua sorte é que ele foi embora.

Minha sorte? Só se fosse de agora, porque infelizmente eu morava com o meu chefe.

— Não se preocupe - disse Enzo me acalmando, talvez vendo a expressão nervosa no meu rosto. - Nico não vai te matar. Ele gosta de você.

— Talvez ele mude de ideia depois de saber que o liquido precioso dele não existe mais - disse quase rindo de nervoso.

Enzo só ficou parado me observando. Notei um leve sorriso, quase se abrindo no seu rosto. E de repente soube que a hora era aquela. Eu tinha que agir, antes que perdesse a oportunidade.

Não sei como, mas avancei para cima dele e lhe dei um beijo na boca. Ele me afastou, como pensei que fosse fazer.

— O que você está fazendo? - perguntou, segurando meus dois braços. Ele respirava alto e me olhava com aquele desejo de quero mais. Eu sabia que ele voltaria a me beijar, então esperei ansiosa.

Não foi como no sonho, e também não como naquela noite na cozinha. Ele me beijou com desejo. Enzo explorava minha boca e língua com rapidez, senti meu corpo tremer e meu coração acelerar, eu sabia que isso aconteceria, mas sua sede de vontade me pegou desprevenida. Ele me encostou na parede com tudo, sem desgrudar sua boca da minha. Nossas respirações estavam ofegantes. Enzo passava suas mãos pelo meu rosto e descia para minha cintura, ele não sabia onde por as mãos, em nenhum lugar era suficiente, ele queria explorar todo meu corpo. Puxei suas pequenas mechas de cabelos. Enzo aproximou seu corpo do meu, e abraçou minha cintura mais ainda, nossos corpos estavam colados como um só.

— Ei, Enzo! - escutei a voz de Clayton, Enzo parou de me beijar no mesmo instante. Nossos corpos ainda colados, e os lábios, também, bem próximos. - É melhor você voltar porque eu não estou dando conta... - então ele parou de falar, provavelmente percebendo o que estava acontecendo ali.

Não consegui ver a reação de Clayton no momento, pois Enzo cobria minha visão da porta. Enzo começou a se afastar bem devagar.

Sabe aquele momento estranho, onde duas pessoas ficam paradas se olhando e pensando como aquilo foi acontecer? Então, foi mais ou menos assim que eu estava me sentindo. É claro que a intensão era essa, que ele me beijasse, mas Enzo realmente me pegou de surpresa, ao me pegar daquele jeito.

— Eu acho melhor eu ir... - disse Clayton com um leve risinho, saindo e batendo a porta do estoque.

Eu olhei para Enzo que pareceu querer me dizer alguma coisa, mas desistiu. Ele finalmente tirou as mãos da minha cintura e saiu do estoque.

Fiquei parada, encostada na parede, imaginando na loucura que eu tinha acabado de passar. Eu sempre imaginei que Enzo tivesse esse fogo, mas isso? Isso foi além das minhas expectativas.

***

Já estava tudo pronto para irmos embora. Will e sua equipe já tinham terminado a cozinha e ido para as suas casas. Clayton estava fechando tudo. Enzo estava limpando o balcão, enquanto eu colocava as cadeiras em cima das mesas.

Para a minha sorte, Adam tinha ido embora sem me ver, torci para que ele fosse inteligente o bastante para perceber que eu não queria nada com ele.

Enzo estava me evitando desde o nosso beijo. Mas eu precisava falar com ele, precisava continuar com o meu plano de descobrir a verdade, e o momento era esse.

— Enzo? - disse, me aproximando do balcão.

— Agora não - respondeu ele, nem olhando para mim.

— Qual é o seu problema? - perguntei, me irritando. - Eu não vou me desculpar pelo o que aconteceu, se é o que você quer.

Ele não me rejeitaria de novo.

— Eu não quero nada - disse ele saindo de trás do balcão, tentando se afastar de mim.

— Porque eu não fiz nada sozinha - continuei, indo atrás dele. - Se você não percebeu!

— Claro! - ele se virou. - Você me provocou! Praticamente se jogou em cima de mim!

Eu quase ri.

— Você é um covarde, sabia? - extravasei na cara dele. - O que você quer? Quer que eu me desculpe por ser tão atraente para você? - indaguei ironizando.

Enzo respirou fundo, sem paciência. Eu estava farta daquilo, não deixaria ele pisar em mim e nem me descartar como seu eu fosse nada. Eu queria que ele admitisse logo que estava sentindo algo por mim, ou a verdade do porque ele era assim.

— Eu já disse que não posso fazer isso, então para de tentar - retrucou ele. - Você não sabe o que é um não, quando escuta um?

— Deve ser fácil para você, né? - joguei na cara dele. - Não está nem aí para ninguém. Não se importa, não se magoa. Quando foi a última vez que você arriscou alguma coisa?

— Você não sabe nada sobre mim! - avisou ele.

— Ahh, é verdade. E isso por quê? Porque não falamos nada sobre você. É um grande segredo - disse, começando a falar o que já estava engasgado na minha garganta. - Vai Enzo! Vamos fazer um jogo. Eu vou adivinhar por que você não quer ter nenhum tipo de relação com ninguém.

Enzo me olhou com fúria e medo ao mesmo tempo.

— Quer saber? Deixa pra lá! - disse ele, subindo as escadas. Eu o segui. Não ia parar agora que comecei. Subi as escadas atrás dele, desabafando tudo o que estava plantado na minha cabeça.

— O que ela fez? Ela terminou com você? - perguntei em tom de sarcasmo. - Não, não é isso!

Enzo entrou na gerência e foi até o armário onde ele guardava a mochila.

— Ela te traiu? - continuei, ele não olhava para mim, estava com o corpo virado para o armário.

— Cala a boca - disse ele baixinho, como se tivesse se controlando, mas eu não me intimidaria com isso.

— Ou pior ainda, ela fugiu com outro cara! Está esquentando? - indaguei gritando. - Fala logo, eu não tenho a noite toda. O que foi que ela...

— ELA MORREU! - gritou Enzo, se virando para me encarar. - Era o que você queria ouvir? Ela morreu. Esse é o grande segredo, está contente? - Enzo se aproximou de mim. Eu mal conseguia respirar. Não podia acreditar no que ele tinha acabado de me falar. - O quê? Vai ter pena de mim agora? Vai me abraçar, me ouvindo dizer que eu passei os últimos meses com ela num hospital, porque ela estava morrendo de câncer?

Enzo cuspia as palavras na minha cara, de um jeito ríspido. E eu não o culpava. Eu merecia aquilo, merecia tudo aquilo por ter me metido nessa história. Mas como eu imaginaria que a mulher, a mulher por quem ele chamava aquele dia, tinha morrido?

— É, eu não tive sorte com minha "ex-namorada", mas e daí? Eu não preciso que tenha pena! Eu vivo assim, eu me tornei isso que você está vendo. Era esse meu grande segredo.

Então ele me deu as costas e saiu pela porta. Minhas mãos tremiam tanto que eu não conseguia controlá-las. Meus olhos ardiam, com lágrimas que estavam querendo sair. Eu nunca tinha me arrependido de algo tão grande na minha vida.

***

Desci alguns minutos depois e fiquei aliviada em encontrar com Clayton. Meu estomago doía. Eu sentia como se fosse vomitar a qualquer momento.

— Clayton? - o chamei. - Tem como você me dar uma carona hoje?

— Eu pensei que o Enzo fosse te levar - ele sorriu malicioso. Respirei fundo, me lembrando que ele tinha visto a cena do beijo entre mim e Enzo.

— Eu acho que ele não quer falar comigo no momento - desabafei.

— Eu pensei que falar, era a última coisa que vocês gostassem de fazer - ele riu.

— Por favor, Clayton. Só me leva para casa - pedi, ainda estava muito abalada com tudo o que Enzo tinha me dito. Clayton percebeu meu estado e não perguntou nada.

Saímos do bar e ele trancou a porta. Então quando andamos até onde Clayton havia estacionado o carro, eu vi uma silhueta de um homem, encostado no carro. Quando nos aproximamos mais, vi que era Enzo. Ele estava me esperando, mas por quê?

— Parece que ele quer falar com você - disse Clayton.

Dei alguns passos para frente, em direção ao Enzo. Com certo medo. Eu não sabia o que dizer para ele.

— Eu pensei que você não tivesse como voltar para casa - disse Enzo, de modo social, não olhando para mim. - Mas parece que você encontrou alguém - ele se desencostou e deu a volta no carro.

— Enzo? Por favor... - chamei, ele me olhou pela primeira vez. - Me desc....

Ele entrou no carro, nem me dando chances de se desculpar e bateu a porta com tudo. Não demorou para ligar o carro e fugir com ele. Fiquei parada, quase soltando o choro que eu estava segurando, e a ânsia que estava querendo sair.

— Vocês brigaram? - perguntou Clayton, se preocupando.

— É, foi mais ou menos isso - respondi, sentindo uma lágrima escorrer pelo meu rosto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Por favor, comentem. Quero saber o que estão achando.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Intercâmbio" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.