Talvez Seja Mais do Que Isso escrita por HeyNick


Capítulo 9
Capítulo Nove


Notas iniciais do capítulo

Ooooi, gente. Tudo bem?
E vamos de uma pequena dose de Atena não sendo uma completa megera pra vocês a amarem um cadinho.
(vocês não têm noção do quanto eu amo escrever essa Atena fria e esse Poseidon cadelinha).
P.S.: Cecília, aí vai mais um pouquinho de Poseidon fofo pra alimentar sua paixão.



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Capítulo Nove

 

Poseidon

Através da fina camada de vidro que o separava do lado de fora, Poseidon via o vento frio arrastar as folhas das árvores. Do lado de dentro, a ventania lhe trazia as lembranças de quando sua mãe falecera, muitos invernos atrás, de modo que já não sabia mais se o copo de whisky em suas mãos era por conta das memórias ou para aquecê-lo.

O rosto de sua mãe, corado pelo frio, lhe vinha à mente. Mas eram os lábios rachados que sempre lhe roubavam a atenção e apareciam em seus sonhos. Em meio à saudade e à dor, quase conseguia sentir os dedos calejados da mão magra e fraca sobre seus cabelos negros, em um carinho afetuoso e familiar demais.

“Você se parece tanto com seu pai”, ela disse na ocasião.

Poseidon já aceitava melhor o que tinha acontecido com seu pai, mas mesmo assim precisou de um certo esforço para não se ofender com o comentário. Entendia que sua mãe estava falando da semelhança física, quem sabe até mesmo do olhar carinhoso e preocupado que o garotinho de olhos verdes lhe dirigia. Mesmo assim, a comparação doía, porque jamais lhe passaria pela cabeça abandoná-la ou aos seus irmãos.

O whisky em seu copo acabou, e estava pensando se seria muito fora do saudável tomar outro copo sozinho, quando ouviu o grunhido que vinha do quarto de Atena, do outro lado do corredor.

A porta estava aberta, e ele via a loira brava, observando o computador. Os cotovelos estavam apoiados na mesa, e as mãos enraizadas nos fios cacheados.

— Você está bem? – ele perguntou, baixo, com medo de assustá-la.

Com um suspiro, ela o olhou. Uma expressão de derrota estava em seu rosto, misturada com um cansaço notável. Ficou surpreso ao perceber que nenhuma das duas eram por culpa dele, e se permitiu ficar levemente feliz por isso.

— Não muito – respondeu ela.

— O que aconteceu?

— Por que eu te contaria?

— Porque eu sou o único aqui que pode (talvez) te ajudar.

Ela deu de ombros, se virou para o computador e suspirou.

— A criatividade fugiu de mim – respondeu finalmente, no que mais pareceu um murmuro.

Poseidon entrou no quarto e sentou na cama dela, um pouco atrás de sua cadeira, de onde tinha plena vista para o notebook.

Ela o observou através do reflexo da tela, desconfiada, mas nada disse.

— Já tentou reler os últimos capítulos que escreveu? – perguntou Poseidon – Isso me ajudava quando escrevia peças para o teatro do colégio.

Poseidon pode ver, pelo reflexo da tela, que ela franziu o cenho.

— Você quem escrevia as peças?

Poseidon deu de ombros.

— Me deram créditos para a faculdade. Por que a surpresa? Achou que eu não sabia escrever?

— Você fazia parte da equipe de natação, então não vejo porque outra atividade extracurricular, ainda mais uma tão diferente.

— Faz sentido, mas você sabe que eu tinha que fazer mais do que a maioria das outras pessoas.

— Justo – ela respondeu simplesmente, olhando o computador. – Mas já tentei fazer isso. Reli todos os capítulos esta tarde. Foi ótimo para revisar, mas não ajudou muito.

— São quantos capítulos?

— Ainda não sei quantos serão.

— Você não tem um planejamento do que vai acontecer em cada um deles, ou algo assim?

— Costumo ter, mas não para esse livro. A intenção é outra.

— Ah. – Poseidon disse, simplesmente. O tom casual da conversa começando a pesar. Há muito tempo não faziam algo assim. – talvez essa seja parte da sua dificuldade. Você está acostumada a já ter uma noção do que vai escrever, mas agora está fazendo algo novo. É difícil.

— Eu concordo. Faz sentido – ela respondeu, o surpreendendo. Atena nunca concordava com nada que ele dissesse, nem quando eram... bem, quando eram alguma coisa. – Infelizmente, a editora está cagando para isso.

Poseidon riu.

— É. Boa sorte com isso.

— Você sempre me dá concelhos tão úteis. – disse ela, com um leve sorriso no rosto e um revirar de olhos. Um dos antigos, cheio de cumplicidade, e não dos que dizia “alguém tire esse idiota da minha frente”. – É sério, estou preocupada. Tenho que entregar esse capítulo na quarta-feira para revisão.

Poseidon se levantou, sem dizer nada, e a deixou olhando seu computador, frustrada. Ele foi até a pequena adega na cozinha - onde tinham o hábito de reservar as melhores bebidas para tomarem sozinhos – e, com cuidado para escolher a taça certa, serviu o vinho tinto seco que Atena tanto gostava. O pensamento de que provavelmente não deveria estar fazendo nada disso veio-lhe à mente enquanto preparava um pequeno aperitivo com azeitonas e queijo, mas àquele ponto já era inevitável.

Afinal, Poseidon não era o maior fã de vinho seco, e repudiava as amadas azeitonas de Atena. Gabriela que o perdoasse, mas não conseguiria consumir aquilo, e jogar tudo fora seria um desperdício.

Por fim, colocou tudo sobre a mesa de centro da sala. Ligou a lareira do aposento e acendeu o abajur ao lado do sofá. Voltando ao quarto, ele a chamou:

— Anda. Pega sei lá qual calhamaço você está lendo dessa vez e vem logo.

— Oi? – respondeu ela, confusa, virando-se para ele.

— Você entendeu. Pega o livro que você está lendo e vem logo.

— Em primeiro lugar, eu não estou lendo nada. E, depois, eu acabei de dizer que preciso terminar esse capítulo. – Atena começou a dizer, enumerando as coisas com as mãos - É para quarta, e hoje é sábado; amanhã você aparentemente vai me sequestrar; segunda provavelmente não vou conseguir me concentrar porque ainda vou estar muito brava com você; terça vou ter um colapso nervoso por isso ainda não estar pronto e vou parar no hospital. Como pode ver, agenda lotada.

— Atena, – disse Poseidon, com um sorriso nos lábios – seu crime é pensar demais. E, se você não está lendo nada, a coisa é pior do que imaginei. Escolhe um e vem logo. Spoiler: você não tem escolha.

Atena se levantou e foi até a estante de livros de seu quarto, e Poseidon escutou quando ela murmurou para si mesma:

— Novidade você não me dar escolha.

Poseidon engoliu em seco, arrependendo-se de sua escolha de palavras (e, talvez um pouco, das decisões que tomou na vida). Provavelmente merecia que ela lhe gritasse a acusação, mas por algum motivo o murmuro íntimo lhe atingiu muito mais profundamente.

— Bem... – disse ele, hesitante – Eu vou indo. Boa sorte aí.


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Notas finais do capítulo

Uma azeitona, tantas referências... ♥ Eu fico toda boba.



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