Ação e reação escrita por Florrie


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Finalmente consegui postar esse capitulo.
Espero que gostem



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Uma fina garoa caia sobre Porto Real.

O céu estava nublado com uma promessa de que aquela chuvinha poderia vir a se tornar uma tempestade mais tarde. Ele precisava encontrar um lugar para ficar e então pensar no que fazer. Em como encontrá-la. Sabia que ela estava aqui, esse foi o maior motivo de ter ido contra os bons conselhos de Jon e pego o trem para este lugar. Não restava muito de sua família, ele recuperaria os poucos que sobraram.

O taxi o deixou na frente de um hotelzinho espremido entre dois edifícios antigos. Robb observou o lugar antes de sair do carro, havia dois drogados sentados ao lado dos degraus que levavam para a porta e uma garota bonita vestindo um suéter folgado fumando escorada na parede. Não seria o tipo de hotel que ele gostaria de ficar, provavelmente todo o tipo de gente dormiria entre aquelas paredes. Você é um ex-presidiário, lembrou a si mesmo, não era melhor que qualquer um ali.

– Esse é um dos mais baratos que vai encontrar por aqui. – O taxista informou. – Não é um lugar muito seguro ou mesmo higiênico.

– Agradeço o aviso, mas já vi piores.

Robb pagou ao homem e saiu com sua mochila pendurada nas costas. Correu para dentro evitando não se molhar e percebeu que a parte interna era ainda mais deprimente que a externa. No balcão velho e riscado uma mulher gorda mascava chiclete enquanto assistia a um programa de prêmios na TV. Atrás dela havia um grande mural de madeira com vários ganchos onde diversas chaves numeradas foram penduradas e ele não poderia esquecer a foto sensual de uma mulher que tinha sido colocada em uma moldura e pendurada em lugar de honra perto do quadro de avisos.

Robb se aproximou e precisou tocar o sininho três vezes para ser notado.

– O que é? – A mulher o olhou de cima a baixo. – Onde está a acompanhante?

– Acompanhante?

– Rapazes como você não param aqui sozinhos. – A mulher respondeu calmamente enquanto abria o livro de registros. – Acha que termina em uma hora? Duas é mais caro.

– Eu vou dormir por algum tempo.

Ela novamente o olhou, dessa vez o analisando com mais cuidado, como se procurasse sinal de alguma coisa.

– Algo errado?

– Garotos como você não dormem nessa porcaria.

– Eu não sou um garoto e muito menos sou do tipo que está pensando. Pode me dar logo uma chave ou eu mesmo terei que pegar?

A surpresa pelo seu tom não durou mais do que um segundo, logo a expressão de tédio voltou ao seu rosto. Ela pegou uma das chaves e lhe deu.

– Primeiro andar, terceira porta a esquerda. Esse tem banheiro, mas não espere água quente. – Pegou a caneta e perguntou: - Qual o seu nome?

Ele a olhou desconfiado e ela revirou os olhos como se visse muito daquilo.

– Pode escrever senhor Hill.

– Ótimo senhor Hill, aproveite sua estadia.

– Eu irei.

Ele então se dirigiu para a escada estreita e subiu até chegar ao primeiro andar que se resumia em um corredor apertado com algumas portas pintadas de azul. O lugar o fez lembrar-se de um dos filmes ruins que assistia com Jon e Theon Greyjoy nas tardes em que matavam as aulas extras de física e química. Ele se sentava com os dois garotos no porão da casa dos Greyjoy e assistiam um dos DVDs da coletânea do pai de Theon. Esses filmes eram sempre sobre um cara solitário que tinha algum tipo de passado obscuro, ele passava o filme inteiro matando pessoas em busca de vingança ou redenção e acaba se apaixonando por alguém. Se estivesse em um filme do tipo esta seria a cena em que vários homens sairiam das portas e o seguiriam com facas e revolveres.

Em vez de homens surgiu apenas uma mulher da ultima porta do corredor. Ela tinha o tipo de beleza que chama atenção, seus cabelos castanhos arruivados e olhos azuis formavam uma combinação agradável. Ele soube o que ela era imediatamente, mas se surpreendeu. Aquela mulher parecia diferente de qualquer outra prostituta que já tinha visto, havia um tipo de classe e postura que não se encontrava fácil.

– Boa tarde. – Ela o cumprimentou com um sorriso gentil. – Está sozinho?

– Sim.

– Um rapaz bonito como você não devia estar sozinho.

Ela colocou sua delicada mão no seu braço e seus olhos voaram no decote do vestido azul que não mostrava muita coisa, mas que fez sua mente viajar.

– Estou bem.

– Imagino que sim. – Ela sorriu. – Você não é de Porto Real.

– Perdão?

– Não se zangue, não é uma ofensa, na verdade, está mais para um elogio. – A mulher aproximou os lábios do seu ouvido e disse baixinho. – Tudo aqui fede, até as pessoas daqui fedem. – Ela se afastou rindo. – Você não fede.

– Como pode saber?

– Eu sou boa com essas coisas. – Respondeu. – Me chamo Ross. – Ela estendeu a mão.

– Robb.

– Bem Robb, eu devo partir, mas acho que vamos nos ver de novo.



Quando a noite chegou Robb desceu para o pequeno hall onde um homem magro estava flertando com a mulher do balcão. Os dois nem sequer viraram em sua direção, ele saiu sem ser notado e assim que pisou na calçada recebeu uma brisa gelada contra o seu corpo. Vai chover, notou logo que olhou para o céu. A garoa tinha dado uma trégua, mas algo muito mais forte chegaria em breve.

Sua barriga roncou alto o lembrando do por que estava ali fora.

Pensou em perguntar onde ficava a lanchonete mais próxima, mas a visão de um letreiro de neon na esquina próxima o parou. Robb andou em passos rápidos até lá, atravessou a rua e gritou para um motorista apressado que quase o pegou. Assim que chegou e empurrou à porta de vidro uma chuva torrencial caiu der repente.

Um casal passou por ele trombando em seu ombro.

Robb entrou observando com um breve prazer que o lugar estava quase vazio. Ótimo. Ele andou para o balcão onde pediu um hambúrguer e um refrigerante, assim que chegou ele pegou a bandeja e se sentou na mesa mais distante.

O silencio foi perturbado por duas garotas que entraram gargalhando no lugar. Robb fez seu melhor para ignorá-las, mas no momento em que elas se sentaram na mesa ao lado da sua tudo ficou mais difícil. Elas falavam e falavam sem parar, em determinado momento ele virou a cabeça e observou as duas com atenção. Elas eram tão parecidas que provavelmente deviam ser irmãs, ambas compartilhavam os mesmos olhos verdes e o mesmo cabelo dourado, tinham até o mesmo nariz afilado. Entretanto uma tinha os cabelos lisos enquanto a outra tinha adoráveis cachos adornando seu rosto bonito.

– Você acha que ele gosta de mim? – A de cabelo liso perguntou.

– Claro que sim Rosamund. – A segunda garota respondeu e então as duas caíram no riso. – Estava tão óbvio.

– Pelos Deuses, espero que sua mãe não nos veja nesse estado. – Rosamund mudou de assunto rindo. – Ela vai nos matar se nos vir encharcadas desse jeito.

Não são irmãs, primas talvez.

– Não ligue para minha mãe, ela está ocupada demais com Joff para reparar em uma de nós hoje.

Robb quis pedir para que calassem a boca, mas então desistiu quando percebeu que aquelas meninas lhe lembravam de sua irmã Sansa. Não a garota que o visitou na prisão, mas a menina que costumava ser. Ouvi-las falar não era assim tão irritante. Era melhor parar de encará-las, antes de uma delas o notasse.

Voltou então a comer lentamente, do jeito que fazia antes da prisão.




XXX




O hotel inaugurado há quase duzentos anos tinha cem quartos distribuídos em quatro andares. O prédio ocupava todo um quarteirão e exalava um tipo de refinamento que simplesmente não combinava com Antro Terrível. A cidade não era minúscula como Gendry gostava de dizer, mas também não era a mais encantadora da região. Na verdade, aquele lugar parecia ter se perdido no tempo, como se fosse um tipo de cenário de alguma série ou novela de época.

Alayne enlaçou o seu braço no dele e os dois caminharam até o balcão dourado e lustroso que ficava logo embaixo de um lustre de cristal que deveria valer mais do que ele poderia ganhar em um ano trabalhando como mecânico na oficina que Oberyn indicou. A garota tinha insistido que ele vestisse algo bonito no trem e mesmo sobre protestos ele acatou o pedido. Antro terrível era um fim de mundo e não via necessidade de se preocupar com a aparência.

Aparentemente até o fim do mundo tem um circulo de alta sociedade.

– Boa tarde, em que posso ajudá-los? – Uma moça que não devia ter mais do que vinte e cinco anos perguntou com um sorriso agradável. Ela era bonita, mas aparentemente todos no balcão tinham uma aparência agradável. Gendry imaginou que isso devia ser levado em conta na hora da contratação.

– Eu e meu irmão temos reservas em nome de Oberyn Martell.

Alayne respondeu com graça e naturalidade. A recepcionista digitou alguma coisa em seu computador e então voltou à atenção a eles.

– São duas suítes interligadas. – A mulher informou enquanto pegava duas chaves embaixo do balcão. Ambas tinham uma placa dourada, com o emblema do hotel e o numero do quarto gravado, pendurada como chaveiro. – Ficam no terceiro andar, com uma bela vista para a cidade.

– Que maravilhoso! – O jeito doce como Alayne disse aquilo foi tão real que ele quase acreditou. – Eu estou muito ansiosa para conhecer a cidade e todos os lugares assombrados do guia.

– Essa é a baixa temporada de turistas então está com sorte, a casa abandonada na quinta alameda e o bosque sombrio estão praticamente livres de pessoas. – A balconista, Anna, ele leu na plaquinha pendurada em seu peito, respondeu entusiasmada. – Não temos muitos guias trabalhando agora, mas pode perguntar para qualquer nativo da cidade e ele lhe contará todas às historias assustadoras de Antro Terrível.

– Eu e meu irmão estamos ansiosos por isso.

– Pedirei para que alguém leve suas malas. – Anna fez um sinal com os dedos e logo que imediatamente surgiu um rapaz magro que pegou as duas únicas malas que ambos tinham trazido. Alayne sorriu para a mulher e Gendry fez o mesmo.

Quando se afastaram ele sussurrou em seu ouvido.

– Está mesmo querendo visitar todos esses lugares?

– Não é como se eu planejasse uma viagem de volta querido irmão. – Ela sussurrou de volta. – Eu sempre gostei de checar a cultura local.

– Eu ainda me lembro de você me arrastando para todos aqueles castelos em Jardim de Cima.

Naquela época eles eram ainda mais jovens e tinham acabado de chegar à cidade. A garota tinha estado cabisbaixa o tempo inteiro até que avistaram o antigo castelo que ficava no coração da cidade com todos os seus jardins e tocadores de flautas. Foi como se a garota que ela tinha sido antes voltasse. Gendry nunca gostou de castelos ou das historias de amor e tragédia que os circulavam, contudo, ele não se importou em levá-la em todos esses lugares tediosos apenas para fazê-la feliz.

– Terceiro andar, certo?

– Sim. – Ele respondeu entrando no elevador.

Ao chegarem a seus quartos o rapaz que trazia as malas já estava a posto os esperando. Primeiro ele levou a bagagem de Alayne e depois trouxe a dele. Gendry dispensou o rapaz assim que ele colocou a sua mala marrom simples na cama. Deu-lhe uma gorjeta sob o olha atento de Alayne e suspirou quando a porta foi fechada.

– Não é tão ruim. – Ela comentou olhando para as paredes pintadas em um tom claro de azul. – Eu esperava algo mais... Bem, mais rústico.

– Foi por isso que me pediu para vestir isso? – Gendry apontou para o blazer cinza que havia colocado por cima de uma camisa de botão branca.

– Oberyn avisou que devíamos parecer dois irmãos de classe alta. – Ela sentou sobre os lençóis brancos da sua cama e abriu sua mala analisando o que tinha colocado. – Você devia ter trazido um casaco, as noites por aqui tendem a ser frias. Talvez aquela jaqueta de couro bonita que você ganhou no ultimo aniversario, ela sempre te deixa bonito.

Ele a observou por breves segundos antes de lhe perguntar:

– O que importa se eu estou bonito ou não?

Alayne o olhou e então se pôs de pé. Com passos suaves ela se aproximou, parecia uma verdadeira garota da antiga nobreza. Seu vestido azul turquesa combinava com seus olhos e seus cabelos escuros foram cuidadosamente penteados e colocados para trás com a ajuda de um diadema claro. Diferente dele, ela podia exibir classe e refinamento sem precisar se esforçar muito.

– Você sabe o que pode ganhar se tudo der certo?

– A satisfação de ver todos aqueles ricos idiotas caírem.

– Não só isso. – Ela colocou a mão no seu ombro esquerdo e voltou a falar com a voz baixa. – Os Lannister vão perder muita coisa, mas os Baratheon têm uma chance de continuar de pé. Era Stannis Baratheon quem controlava boa tarde da companhia quando Robert ainda era vivo, ele é conhecido por um código moral impecável e eu tenho certeza que jamais se envolveria em algum esquema sujo.

Ele já tinha uma ideia do que ela estava pensando.

– Você está louca se acha que vão permitir que o filho de uma garçonete assuma qualquer coisa. Eu posso conseguir uma parte na herança, mas minha pretensão não deve ser maior que essa.

– Oberyn diz que os acionistas não gostam muito de Stannis. – Ela respondeu. – Você sabia que meu pai era advogado antes de assumir a construtora da família com a morte do meu tio Brandon?

– Você comentou.

– Ele foi o responsável pelo o ultimo testamento de Robert Baratheon.

Gendry afastou-se dela irritado. Aquela conversa de novo.

– Isso é fantasia sua e de Oberyn. Robert Baratheon nunca deu a mínima para mim ou para qualquer um dos filhos que ele fez por Westeros.

– Talvez não, mas eu tenho certeza que ele ficou furioso quando descobriu que os filhos de Cersei não eram dele e nunca foi segredo que seu relacionamento com os irmãos nunca foi muito bom. Eu lembro que em Winterfell eu gostava de ficar ouvindo as conversas dos adultos escondido com Jeyne, como se isso fosse me fazer mais velha, – Ela sorriu com alguma memória que lhe passou pela a cabeça, mas o sorriso se foi tão rápido quanto veio – eu me lembro do meu pai falar para minha mãe sobre Robert, sobre testamento e sobre filhos de sangue. Oberyn também acha que possa existir outro testamento feito antes de Robert morrer, um que desconsidera os filhos bastardos da Lannister e que cita você.

Ele deixou o corpo cair na cadeira de veludo escura. Não era a primeira vez que aquela historia de testamento surgia entre os dois. Primeiro havia sido Oberyn a levantar a suspeita, logo depois de Alayne confidenciar a lembrança de uma conversa dos pais que havia escutado. Depois a garota ficou com aquilo fixado na mente. Gendry tinha sonhado, quando menino, que um dia seu pai o reconheceria, que se lembraria dele e que o levaria junto com sua mãe para morar em uma casa enorme com piscina e quem sabe uma quadra de futebol. Gendry bem sabia que sua mãe tinha fantasias parecidas.

Acontece que Robert Baratheon nunca sequer apareceu para dizer um oi, mesmo depois da morte da sua mãe. Aquele filho da puta não lembrava nem do próprio nome depois de uma bebedeira, por que se lembraria de alguns erros que cometeu por ai?

– Sansa, – ele se surpreendeu por usar o verdadeiro nome dela. A regra era apenas usar Alayne, mas agora ele abriria exceção. – ele nunca se importou comigo, não é agora, depois de morto, que vai começar.

– Acho que vamos descobrir isso com o tempo, certo?

– Certo.



Quando a noite caiu eles foram encontrar Oberyn no restaurante do hotel. Alayne insistiu novamente que ele colocasse uma roupa bonita, Gendry esforçou-se um pouquinho, mas percebeu que tudo foi em vão quando viu o que a garota tinha vestido. Um belo vestido verde com um cinto fino dourado preso na cintura. Ela teria toda a atenção enquanto ele seria esquecido ao seu lado, ótimo, preferia desse jeito.

Ao ultrapassarem as portas de madeira escura ele rapidamente olhou para os retratos a tinta a óleo que embelezavam as paredes junto com o arranjo de flores perfumadas em diferentes tons de rosa. Varias mesas cobertas por seda dourada foram postas pelo o salão, mas apenas metade estava ocupada. Todos conversavam ou apenas ouviam o pianista que tocava nesta noite.

Gendry foi o primeiro a avistar o Martell sentado em uma mesa no centro. Ele e Alayne andaram até lá ignorando os olhares que recebiam de algumas pessoas. Ao chegarem à mesa Oberyn se levantou, abraçou Alayne e apertou sua mão.

– Sentem-se. – Eles o fizeram. – Eu me adiantei e pedi a especialidade da casa. Vocês vão gostar.

– Não sabia que Antro Terrível estava no seu itinerário de férias. – Seu comentário irônico o fez rir.

– Eu gosto de conhecer novos lugares e a Ponta da Garra Rachada sempre foi um lugar fascinante. Amanhã posso lhes apresentar os murmúrios. Fica do outro lado da floresta, mas há um trem que pode nos levar e lhe garanto que vale a pena.

– Eu adoraria.

Alayne respondeu honesta.

– Aposto que sim minha querida. – Ele respondeu. – Eu sinto muito por não ter lhes buscado na estação, inesperadamente encontrei um velho amigo.

– Alguém importante? – Pergunto.

– Alguém que não deve saber sobre nós.

Aquilo o sobressaltou e causou mais risos em Oberyn.

– Não se preocupe rapaz, não é alguém perigoso ou cruel. – Nesse momento o um garçom chegou trazendo três pratos com uma pequena quantidade de comida. Gendry odiava restaurantes chiques e suas ridículas porções. Como esperavam que ele ficasse satisfeito com aquilo?

– Algo para beber senhor? – O garçom perguntou.

– Traga o catalogo de vinhos, espero que tenha algum dornês.

– Sim, senhor.

E então o homem se afastou depressa.

– Que amigo era esse? – Gendry perguntou voltando ao assunto.

– Vocês sabem quem são os Tyrell. – Aquilo não tinha sido uma pergunta, mas Alayne afirmou com a cabeça do mesmo jeito. – E vocês sabem como eu acabei me tornando uma pessoa não tão querida por eles.

Aquela era uma historia recente que ocorrei há quase dois anos. Eles já moravam em Vilavelha e ainda planejavam seus passos para Porto Real quando Oberyn apareceu com o semblante abalado. Naquela noite ele contou sobre o ataque que sofreu enquanto estava em Ponta Tempestade junto com Willas Tyrell e Renly Baratheon. Aquele ataque matou Renly e aleijou Willas. Oberyn foi o que menos se machucou ganhando apenas muitos hematomas pelo o corpo. No fim a policia culpou uma gangue local e como causa ficou esclarecido que foi vingança. O líder acusava Oberyn de ter roubado sua esposa, o ataque tinha sido para ele e Willas e Renly só foram envolvidos por estarem no lugar errado na hora errada.

Obviamente havia muitas coisas erradas nessa historia, mas os Tyrell não pareceram pensar muito nisso.

– O que tem os Tyrell?

– Willas Tyrell esteve por aqui. – O garçom voltou com o catalogo de vinho e não demorou mais do que cinco segundos para o Martell escolher o único vinho dornês disponível. – Vinhos da arvore, todos dizem que é o melhor vinho de Westeros, pois bem, eu digo que nunca provaram um autentico dornês.

– Você viu Willas Tyrell! – Alayne disse sem se importar com a reclamação sobre vinhos do homem. – Você acha que ele continua por aqui?

– Não. Partiu para a Ilha da Garra.

Gendry pegou os talheres e começou a comer sem esperar pelo vinho. Aquela poção minúscula acabaria em segundos.

– Ainda bem.

– Não sabia que era amigo de Willas. Ele não te culpa pela a perna ou algo assim?

– Não. Willas sempre foi mais racional que seus familiares. – O vinho finalmente chegou e foi servido em uma quantidade generosa nas três taças postas na mesa. – Devemos brindar?

– Ao que? – Gendry perguntou.

– Ao que eu vou lhes mostrar logo que acabarmos de comer.



Mais tarde, quando os três foram para o quarto de Alayne, ela tirou o notebook de sua mala e colocou na mesa de madeira ao lado do guarda roupa. Gendry riu quando Oberyn abriu o vídeo que tinha conseguido. Deuses, aquilo era melhor do que comedia. O modo como Cersei Lannister fingia que o velho barrigudo era o homem mais viril do planeta era simplesmente hilário. Enquanto bebia o resto da garrafa de vinho do jantar ele fazia comentários maldosos junto com Alayne.

– Isso vai ser impagável. – Comentou assim que o vídeo acabou.

– Certamente. – Oberyn então tratou de abrir outro arquivo com documentos e fotos. – Aqui estão as provas de corrupção em Paloferro. Superfaturamento, propina, chantagem... Uma verdadeira festa.

– Eu queria muito saber como você consegue essas coisas.

– Eu tenho amigos em muitos lugares Gendry.

Foi sua resposta, mas ele não estava satisfeito.

– E por que não conhecemos nenhum desses amigos?

Sentiu a mão de Alayne em seu peito e seus olhos brilhavam em advertência.

– Alguns vocês poderão vir a conhecer, outros não são confiáveis.

– Como podem ser amigos se não são confiáveis?

– Às vezes nós precisamos de algumas pessoas traiçoeiras para atingir nossos objetivos.




XXX




O trem atravessou a floresta e o pântano.

Diferente dos trens sofisticados que cortavam Westeros, aquele era antigo e tinha um ar de século passado. Entretanto era bonito, confortável e a fez pensar que estava em uma novela de época em que a mocinha partia em um trem exatamente como aquele para encontrar sua alma gêmea na próxima estação.

Ela escolheu cuidadosamente sua roupa. Teria posto um vestido se não soubesse para onde estava indo, uma calça escura combinava melhor com os murmúrios. A blusa cor de rosa e o cardigã vermelho completavam o seu visual de garota boa e surpreendentemente combinaram com a bota negra que tinha calçado.

Quando passou por um espelho no corredor onde ficavam as cabines, ela se olhou por alguns instantes e sussurrou mentalmente. Sansa Stark, aquela menina se parecia muito com Sansa. Era bom ser ela novamente, mesmo que por alguns segundos.

– Chegamos. – Oberyn anunciou quase meia hora depois que entraram no trem.

Os três desceram e deram de cara com uma estação estranhamente movimentada. O dornês havia explicado que havia um resort nas margens da mata que tinha sido recentemente adicionado entre os melhores do país em uma importante revista de viagens. O lugar, que era cheio de lendas e historias, atraia todo o tipo de pessoas e os nativos sabiam se aproveitar disso.

Antes de saírem da estação ela podia contar seis placas espalhadas pelas paredes oferecendo um tour pelos lugares mais aterrorizantes.

– Vai chover. – Gendry observou assim que olhou para o céu.

– Não, é só o clima que é uma droga. – Oberyn respondeu enquanto procurava por um taxi. – Em Dorne estaríamos pegando sol em alguma praia e observando o mar azul.

Finalmente um taxi parou diante deles. Gendry abriu a porta para que ela entrasse e então os dois se acomodaram no banco de trás enquanto Oberyn se sentava no passageiro.

– Para os murmúrios.

A antiga fortaleza hoje se reduzia a ruínas na beira de uma falésia. Não lembrava em nada o antigo castelo de Jardim de cima com todo o seu esplendor de jardins, pátios e arte. Em Jardim de cima o castelo era aberto para visitação e ela tinha convencido Gendry a levava para um passeio. Não soube o que havia lhe fascinado mais, as historias de amor e devoção que a guia contava ou os retratos a óleo dos antigos moradores. Alayne tinha adorado cada momento daquele passeio e imaginado que a vida em castelos devia ser fascinante, mas agora se perguntava como alguém pode ter sido feliz morando no que quer que aquela fortaleza tenha sido no passado.

– Vocês sabem a historia desse lugar?

Oberyn sorriu.

O mar bateu nos buracos na falésia produzindo uma serie de ruídos estranhos.

– Murmúrios dos mortos. – O mais velho disse. – Sabia que aqui foi à casa de Sor Clarence Crabb? Diz às historias que ele era um incrível cavaleiro, o tipo de inspirava canções e historias com seus feitos. Ele tinha o habito de corta a cabeça de todos os homens que matava e trazê-las para sua casa. Sua esposa as beijava na boca e elas voltavam à vida.

– Que iria querer ter a cabeça de um inimigo viva? – Gendry riu escorando-se em uma parede de pedra que continuava de pé.

– Elas lhe davam bons conselhos e faziam companhia a sua esposa quando ele estava longe.

– Pegar conselhos de cabeças de inimigos mortos e deixar sua esposa com elas, muito esperto da parte dele. – Gendry riu de novo.

Novamente o mar bateu contra os buracos da falésia e novamente os murmúrios encheram as ruínas.

– Nossos inimigos sempre têm muito a nos ensinar.

Alayne desligou-se dos diálogos dos dois homens e começou a caminhar pela a vegetação. Não é um lugar bonito, mas era interessante. De longe viu uma construção de madeira e algumas pessoas sentadas em mesas rústicas, provavelmente turistas. Um restaurante, o pensamento fez sua barrica tremer. Ela não comia desde o café da manhã.

Olhou para trás e viu Gendry e Oberyn em algum tipo de discussão inútil. Ela ainda decidia se deveria ir até lá quando ouviu uma voz masculina atrás de si.

– Desculpe, mas a senhorita poderia me ajudar?

Ela virou-se com um pulo.

– Sinto muito, não pretendia assustá-la.

Como ele tinha chegado tão furtivamente? Ela estava assim tão distraída?

– Não se preocupe, eu que estava com a cabeça nas nuvens.

Ele riu. Ele tem uma risada bonita, pensou, e uma aparência agradável. Os cabelos escuros eram sedosos e caiam pela sua testa, os olhos pareciam presos entre o dourado e o verde e seu sorriso era gentil e caloroso. Mas Alayne havia aprendido que o caráter de uma pessoa estava além de um rosto e sorriso bonito. Ela sorriu polidamente sem se deixar afetar.

– Disse que precisava de ajuda?

– Sim, eu... – Ele pareceu um tanto constrangido. – Como pode ver eu tenho um problema na perna. – O homem apontou para a perna que recebia o apoio de uma bengala. – Ela não costuma doer muito, mas hoje tive um pequeno incidente ao acordar. É um tanto embaraçoso pedir isso, mas é que quando verificava minha carteira eu deixei a identidade cair na cama e não estou conseguindo me abaixar para procurar apropriadamente.

Ele realmente parecia envergonhado.

Alayne sorriu. Ela não tinha se esquecido de como ser gentil.

– Claro. Por onde caiu?

– Ali. – Ele apontou para uma área um pouco a frente. Antes de se dirigir até lá a garota olhou para Gendry e Oberyn, ainda conversando, nem a tinham notado afastada.

Ela foi até onde o homem a indicou e deu uma boa olhada antes de se abaixar e tatear a terra. Dentro de alguns instantes sentiu os dedos encostarem em algo plastificado. Com um sorriso Alayne puxou a carteira e antes de se levantar ela deu uma rápida olhada.

Willas Tyrell.

Deuses.

– Obrigado. – Willas agradeceu. – E novamente eu sinto muito.

– Não tem problema.

Observando agora ela conseguiu notar algumas semelhanças com os irmãos Tyrell que havia conhecido anteriormente. Mas o sorriso dele é ainda mais bonito e seus modos mais encantadores. Alayne imaginou que Sansa Stark se apaixonaria por esse homem em questão de segundos.

– Alayne! – Gendry surgiu ao seu lado rapidamente e lançou um olhar desconfiado para Willas. – Está tudo bem irmã?

Ela respondeu com um sorriso.

– Desculpe o meu irmão, ele pode ser um pouco protetor.

– Naturalmente. Eu tenho uma irmã mais nova e compreendo o sentimento. – Ele respondeu de maneira simpática. – Creio que não me apresentei, me chamo Willas Tyrell.

– Sou Alayne Stone e esse é meu irmão Gendry.

– Foi um prazer.

Ele se despediu e saiu andando, antes de entrar em um carro prata estacionado na beira da estrada olhou um par de vezes para trás e a encontrou sorrindo em sua direção.

Apenas depois de Willas desaparecer com seu carro foi que Oberyn voltou a ser visto.

– Essa foi por muito pouco. Ele deveria estar na Ilha da Garra. – Comentou. – Acho que Joffrey não é o único encantado pela sua beleza Alayne. Tome cuidado, Willas é irmão de Margaery.

– Eu sei. – Respondeu.

– Todos os Tyrell são gentis e amigáveis? – Gendry perguntou.

Oberyn riu antes de responder.

– Eles são como rosas, bonitos e perfumados, mas assim que se aproxima você pode notar seus espinhos escondidos.

Alayne pensou em Willas e no seu olhar gentil.

Ela não conseguia imaginá-lo tendo nenhum espinho.



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Notas finais do capítulo

Comentários são sempre bem vindos e apreciados - também muito inspiradores.
Desculpem os possíveis erros que passaram por mim.
Bjs



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